Ambos intrépidos, no desmontar
dos factos, sem receio dos comentários negativos dos que se pautam por
ideologias mais convictas dos seus valores iluministas assentes num
progressismo humanitário de encomenda,
raivoso, afinal, dos que se destacam, e visando uma massificação pela mediania,
que não engana ninguém. É assim a maioria dos comentadores de João Miguel
Tavares, que o ironizam em diálogos entre si, mas de que destaco um
racional, que o aplaude e confirma. É também, geralmente, dessa casta de
descortesia grosseira, grande parte dos comentadores de Maria João Avillez,
que desta vez, todavia, devido a uma ausência por todos, afinal, sentida,
merece só apoios de entusiasmo, de que escolho dois, fazendo minhas as suas
palavras de apreço, incluindo as referências a Passos Coelho. Daí que
não me alargue no meu próprio comentário, preferindo saborear os textos - mais
subjectivo o de MJA, impregnado de desencanto e raiva, mais objectivo o de JMT,
na sua juvenilidade a parecer estouvada e, afinal, fruto de um pensamento elaborado
e honesto, e de uma raiva sã, que nos encanta, por nos indicar que, com jovens
destes, podemos ter esperança ainda.
I
GOVERNO Poder e manipulação /premium
O mais interessante é que não estou a brincar. Pelo contrário: tamanhas
tentações de poder, controlo e manipulação preparam para a guerra.
Preparam-nos.
1. É como os sissós, uns sobem, outros descem:
num banco deste sissó os impostos (os mais altos desde há vinte anos) estão
em ascensão implacável, desencorajando o mérito e proibindo a ambição, enquanto
no outro assento, as responsabilidades do Estado se somem a olho nu. Dupla
perversidade: era à conta desses impostos e em nome deles, que teríamos acesso
a um mundo justo e mais civilizado, mas a disparidade entre o muito que pagamos
e o pouquíssimo que nos oferecem é afinal a melhor radiografia de uma
geringonça a fazer de conta; na Educação parece que só contam os
professores, os seus direitos e os seus estados de alma, (os alunos são um
estorvo e as famílias, descartáveis); a Saúde oferecida aos de menores
recursos, definha como eles; a ausência de investimento público (cativações oblige)
começa a ser perigosa, veja-se a deficiente manutenção de alguma obra pública a
carecer de intervenção antes que; a Justiça é uma tartaruga, a Defesa,
um manancial de histórias obscuras que ninguém quer aclarar, a Administração
Interna uma morada onde se cumpre pouco e pouco se serve.
Não me consta
que isto impressione por aí além as boas almas, a natureza humana socialista vê
o que quer. “Vê” que Portugal cresce sem
nunca se interrogar porque é que na Europa dos 28, há quase vinte países
que crescem mais ou bastante mais que nós, (a começar pela vizinha do lado); vê
que o desemprego desce sem cuidar de que quanto mais ele desce (desculpem, outra vez o sissó) mais sobem os
salários magros e pior é a qualidade do emprego. Exalta o turismo (olhe-se a convicção com que Jorge Coelho nos garante que “isto há seis anos era um deserto…”) mas não encara que
o fenómeno dificilmente voltará a galopar desta
maneira. Foi até pena que antes da
galinha deixar de pôr ovos de ouro não se tivesse aproveitado este instante
também de oiro para mudar ou sequer melhorar
aquilo que naturalmente reclamava a “ocupação” turística. Mas não estão afinal os portugueses felizes, dos governantes aos
governados? Há que festejar nem que seja
os equívocos.
2. E agora acabamos de
ouvir o nosso comunicativo Chefe de Estado a dizer-nos sobre os incêndios que “cada
um está a fazer a sua parte”. Não é verdade. O que vimos no sector ou
sectores com as maiores, mais directas — e por isso insubstituíveis —
responsabilidades nesta questão é uma exposição pública de inoperância: desorganização,
ordens e contra ordens, demissões em catadupa, intriga, imposições de partidarite,
más escolhas, atrasos. Fica-se arrepiado com a última “novidade” achada
por Eduardo Cabrita, para o (bom) combate aos fogos: “o envio de sms” a
anunciar o fogo, que afinal logo se descobriu que fora má ideia do governante…
Os sms nunca viriam a funcionar caso se viesse a contar com eles, infeliz
Eduardo Cabrita, inútil ministro.
O Presidente
da República tem de saber tudo isto melhor que nós, tanto que fez um aviso ao
país onde era questão de relacionar a sua recandidatura com a ocorrência de futuras
tragédias.
3. Julgava eu que já vira muito sentada como
estou há décadas, na primeira fila da actualidade, mas não: politicamente
talvez nunca tenha assistido a nada como a encenação com que há dias o PS nos
brindou tratando-nos como uma plateia de imbecis desmemoriados ou de gente que
tivesse toda nascido ontem . Numa manipulação bem oleada, trucidou-se Manuel
Pinho — como se nunca o tivessem visto e nada tivesse ocorrido num governo
socialista — e a seguir, cavalgando o balanço aberto por Pinho, matou-se
o fantasma: o assassínio de José Sócrates em directo foi rico de
efeitos visuais e passível de recomendação para futuros actores. A semana
gravou uma mancha irremovível na história do PS mas conseguiu pior ao deixar um
embaraçante amargo de boca face ao espectáculo: gente supostamente responsável
a portar-se tão mal ao mesmo tempo, com a hipocrisia a correr como um rio
apressado para o mar. E no entanto… poderia — deveria –. ter sido de outra
maneira não fora a direcção socialista ter sempre pensado – como pensam os
“donos” das coisas — que controlaria os danos da saga Sócrates, passando
incólume e inocentemente por eles. Afinal desaguaram no pretexto do espantoso
Manuel Pinho, á época, ministro de alto sucesso e grande á vontade, movendo-se
sob a asa protectora do ex-dono disto tudo, que também á época se achava
que era de aço.
4. Talvez porém que a
mais risível tentativa de fazer de nós idiotas embora suspeito que idiotas
inúteis, foi aquela de atirar com o mesmo tipo de culpa para cima “da direita”.
Ou -. nuance — “do PSD”, ou — variante — “do bloco central”. Como se pela sua
natureza, objectivos, montagem, oficina, amplitude, controle (e indecência)
houvesse sombra de comparação. Ou equivalência, mesmo modesta, com os casos de
corrupção de má memória praticados pela “direita” (como as esquerdas julgam que
ela é: uma organização lamentavelmente sem direito de cidade).
Mas enquanto a
esquerda socialista se entretém a difamar todo o espaço a sua direita,
revelando quem são os adversários e onde estão os inimigos — e aprendamos
a lidar com este PS que não conhecíamos de lado nenhum e em nenhum lado o
víramos nos últimos quarenta anos –, eu entretenho-me com um mistério: onde
ir buscar razões ou argumentos para a indiferença portuguesa face á corrupção?
Que alheamento é este, não se interessam, não se importam, não se indignam?
Será a carteira supostamente mais folgada? Um ar do tempo supostamente sem
“austeridade”? Uma governação supostamente exitosa? Não sei. Mas sei que mesmo
com o PS cada vez mais enredado numa invulgar soma de indignos comportamentos
políticos — passa culpas, disfarces, vergonhas, hipocrisias — as suas intenções
de voto não abanaram.
Ou então talvez
estejamos enganados e o país que não “passa” na televisão, que é menos ouvido e
menos procurado estará, quem sabe? silenciosamente de costas voltadas para o
PS.
5. Mesmo vindo eu agora aqui mais
espaçadamente, admito o seu cansaço, caro leitor: há muito que escrevo o mesmo
artigo, textos monótonos de tão parecidos uns aos outros, uma maçada. Mas… não
vislumbro outra saída para não me tomarem por parva senão assinalar uma e outra
vez estas, como dizer?, discrepâncias entre a realidade como ela é,
e aquilo que nos servem: um país com economia sustentável, dizem eles,
bom emprego, crescimento significativo, educação que se recomenda, saúde para
quem menos lhe acede. Um Estado para todos mesmo os que não são da função
pública. (Sem esquecer que uma eficiente e unida organização nacional de
combate aos fogos, já está em marcha, com todos os meios operacionais prontos e
reunidos.) Mundo perfeito, azul.
O PS precisa
da ficção, o fazer de conta é o seu alimento, o seu amparo e o seu refúgio. No
mundo perfeito dos novos proprietários não há lugar para destoantes e
detestam-se os outsiders, obsessivamente combatidos como cavalos de Troia
de outros e não como seres pensantes que simplesmente discordam. Nunca convencerei habitante algum do mundo da geringonça de que não sou
o objecto de uma súbita esperança no PSD, a vítima de uma indomável saudade de Passos
Coelho, ou uma miserável reacionária a quem se deveria vetar não apenas o
direito de cidade mas o acesso à pena.
O mais
interessante é que não estou a brincar. Pelo contrário: tamanhas tentações de
poder, controlo e manipulação, preparam para a guerra. Preparam-nos.
Todos não somos demais nesta
guerra contra o "Poder e manipulação" deste PS da Geringonça. Até
porque são muitos (ao que parece a maioria) os que apoiam esta farsa
política, destinada a tomar o poder, não a governar Portugal, para melhor
manipularem essa "maioria", e assim poderem ganhar eleições que não
conseguiram, como esperavam, em 2015. Situação que não garante nada de diferente,
se tal acontecesse. Pela simples razão de que com a mesma gente que apoiou o
Governo de Sócrates, não se pode fazer algo de muito diferente.
Faço parte dos que têm saudade
de Pedro Passos Coelho. Da sua determinação em tomar as rédeas do poder, não
para salvar a sua carreira política, mas para salvar o país, que deixou a
crescer de tal maneira que até foi possível esta Geringonça durar quatro anos.
Que o Impediu de acabar o projecto que iniciou em 2011, mas que só a partir de
2015 poderia levar a cabo depois da "austeridade" a que foi obrigado.
Mas também e sobretudo das suas qualidades de liderança que muito contribuíram
para dar uma forte machadada na corrupção e nas condições para a tentar evitar.
Enquanto que agora estão a ser criadas as condições de regresso, pelas razões
que esta crónica muito bem explica e justifica.
Dois
Comentários:
JOAQUIM MOREIRA: Todos não somos demais nesta guerra contra o
"Poder e manipulação" deste PS da Geringonça. Até porque são muitos
(ao que parece a maioria) os que apoiam esta farsa política, destinada a tomar
o poder, não a governar Portugal, para melhor manipularem essa
"maioria", e assim poderem ganhar eleições que não conseguiram, como
esperavam, em 2015. Situação que não garante nada de diferente, se tal
acontecesse. Pela simples razão de que com a mesma gente que apoiou o Governo de
Sócrates, não se pode fazer algo de muito diferente. Faço parte dos que têm saudade de Pedro Passos
Coelho. Da sua determinação em tomar as rédeas do poder, não para salvar a sua
carreira política, mas para salvar o país, que deixou a crescer de tal maneira
que até foi possível esta Geringonça durar quatro anos. Que o Impediu de acabar
o projecto que iniciou em 2011, mas que só a partir de 2015 poderia levar a
cabo depois da "austeridade" a que foi obrigado. Mas também e
sobretudo das suas qualidades de liderança que muito contribuíram para dar uma
forte machadada na corrupção e nas condições para a tentar evitar. Enquanto que
agora estão a ser criadas as condições de regresso, pelas razões que esta
crónica muito bem explica e justifica.
2- MARIA JOÃO LEANDRO: Grande Maria João. Subscrevo, palavra a palavra, letra a letra. Tenho
pena de viver num país cujo povo, apesar de ser martirizado, anda tão distraído
que não repara que os governantes (não eleitos) que nos (des)governa são os
mesmos que nos trouxeram a troika. Lamentável!
II
E os submarinos? E o BPN? E Dias Loureiro?
Sejamos justos para com a
singularidade de José Sócrates: ele é um caso absolutamente único na política
portuguesa, e nada se lhe pode comparar.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO, 10 de Maio de 2018
Uma das reacções mais
estupidamente pavlovianas à invocação do nome de José Sócrates, e à sua
cumplicidade com tantos socialistas, consiste em elencar de imediato todos os
casos de Justiça envolvendo figuras da direita – e lá vem Dias Loureiro,
Oliveira e Costa, Duarte Lima, o BPN, os submarinos, Paulo Portas, Miguel
Relvas, a Tecnoforma, e o mais que der jeito e assomar à memória. É uma
espécie de troca de cromos duvidosos: tu apresentas um de esquerda, eu
apresento um de direita, e assim demonstramos muito democraticamente que os
partidos, no fundo, no fundo, são todos iguais, e que a corrupção é um mal
transversal, que não olha a ideologias. Sim, é verdade que a corrupção é
um mal transversal, que não olha a ideologias. Mas não, não é verdade que seja
tudo igual. Sejamos justos para com a singularidade de José Sócrates: ele é um
caso absolutamente único na política portuguesa, e nada se lhe pode comparar. Muita
gente tem dificuldade em perceber isto – e daí a obsessão por tentar encontrar
exemplos idênticos no partido ao lado. Não vale a pena. José Sócrates não é um
caso de corrupção no sentido convencional do termo. Ele não foi apenas um
político que utilizou a sua posição de poder para promover de forma ilícita o
enriquecimento pessoal. Isso seria uma simplificação inaceitável, e
profundamente errada, do seu percurso e da sua ambição.
O corrupto convencional,
que quer encher os seus bolsos e os bolsos dos que lhe são próximos, é uma
figura banal e bastante disseminada; tal como é a empresa ou o banco que se
encosta às encomendas do Estado para conseguir proliferar numa economia anémica
em termos de investimento privado. Por aí, nada de original. E, de
facto, para preencher estas categorias podemos ir buscar os Oliveiras e Costas,
os BPN, os submarinos e tudo o resto. Contudo, aquilo que Sócrates
procurou fazer nunca ninguém tentou antes: uma colonização feroz e
autoritária de todos os ramos do poder – político, económico, financeiro,
judicial e mediático.
Esta ideia que os seus
antigos amigos nos querem agora impingir – como poderíamos saber dos negócios
com Carlos Santos Silva? – esquece estrategicamente que o grande problema não
foram os negócios com Santos Silva. Sócrates tomou conta da CGD e
do BCP e toda a gente soube. Sócrates tinha uma enorme influência na PT
e na EDP e toda a gente sabia. Sócrates pressionou jornalistas e
conseguiu correr com Manuela Moura Guedes e toda a gente viu. Pinto
Monteiro e Noronha de Nascimento impediram a investigação a Sócrates na
tentativa de comprar a TVI e toda a gente foi informada. Nada disto foi
secreto, ou sequer discreto. Tudo o que fez de José Sócrates uma
personalidade singularmente perigosa esteve à vista de todos. Aconteceu à luz
do dia, à frente da nossa cara.
Nenhum Dias Loureiro,
nenhum Paulo Portas, nenhum Duarte Lima, nenhum político da direita com
suspeitas no currículo alguma vez foi acusado de tentar algo semelhante.
Suspeitas de dinheiros escuros, dinheiros para o partido ou para si próprio,
sempre houve, com certeza. Mas a tentativa megalómana de controlar um
país inteiro? Jamais. Estou convencido, aliás, que para Sócrates o dinheiro foi
apenas um instrumento de poder – se o enriquecimento pessoal fosse o seu
primeiro objectivo, não teria ido estudar para Paris. Sócrates é único, e o
primeiro passo para evitar que a História se repita é admitir que ele não se
parece com nenhum outro político. Paremos de comparar o incomparável.
Um Comentário de JOSÉ
MANUEL MARTINS, Évora 11.05.2018: acho que a maior satisfação de JMT não
é escrever artigos definitivos e irrespondíveis: é o efeito de desnorteado
esperneamento que provoca no formigueiro desbaratado (sem querer misturar essas
duas formosas espécies). Caramba, acumular 160 comentários e tréplicas, todos
da mesma espécie ululante, é incomodar profundamente os supramencionados
viveiros! De muito longe o mais comentado, popular, controverso, vivo,
estimulante - e devastadoramente certeiro - articulista do Público, é de rebolar
a rir ler os guinchos patéticos dos que se roem todos com esse sucesso
inigualado, aumentando-o gloriosamente com as suas próprias centenas de
vociferações energúmenas. É cá de uma inteligência, contribuir com tiros no pé
para os números astronómicos de popularidade que o JMT atinge... Parabéns a
ambos
Parabéns a ambos, pois, ao
articulista e à multiplicidade de criaturas que tentam ser seus detractores
(mas não conseguem senão atingir-se pela culatra a si próprios, tadinhos). E
nada temam: não é apenas o efeito magnético e polarizador, mas também a
qualidade intrínseca da coluna, que são devidamente tidos em consideração pelas
pessoas responsáveis que sabem ler, sabem pensar, e que produzem este jornal.
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