sexta-feira, 25 de maio de 2018

Povo errante



É claro que as opiniões divergem, mas, porque não hão-de os israelitas ter direito a uma pátria? Afinal eles até são um povo de eleição, que Deus amou, diz-se, mas que condenou simultaneamente a uma errância, que se traduziu, entre nós, portugueses, em personalidades da cultura que tanto contribuíram para a nossa valorização cultural como povo, pese embora perseguições que alguns sofreram, judeus que eram. O seu sofrimento atroz na segunda guerra, e como consequência a criação do Estado de Israel, por comiseração, talvez envergonhada pela hediondez do crime, parece-me das coisas mais justas que se fizeram, e lembro a garra da ministra Golda Meir, no orgulho e desenvolvimento que deu ao seu país. Outros movimentos se sucederam, o povo israelita, na sua superioridade orgulhosa, despreza e mata e esfola e arrasa, o povo palestiniano lesado, que teve que aceitar a sua redução territorial. Francisco Assis descreve os factos últimos, a seguir comentados, positivamente pelos da mesma facção política, que se sentiam defraudados pelas suas anteriores “fugas” de gentleman, ao espírito do partido. José Manuel Fernandes explica, em texto antigo, o tal conflito. Outros dados foram procurados na Internet, a tentar entender, lá das histórias do passado, também. Mas o mundo dá muita volta, não ficamos por aqui. “Vou continuar a procurar”, tal como fez António Variações, embora não durante muito tempo. Infelizmente para nós, pois foi um génio de todo o tamanho. O que virá a seguir? Que o Deus de Israel nos valha, e sobretudo aos palestinianos humilhados.

I - A tragédia de Israel
Com a cumplicidade dos Estados Unidos, Israel leva hoje a cabo uma política que ofende princípios fundamentais dos Direitos Humanos e contraria tudo o que de melhor o pensamento Ocidental se pode reclamar.
17 de Maio de 2018
Em 1963, a propósito de uma viagem ao Líbano, o então Presidente francês, Charles De Gaulle, terá confidenciado ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Couve de Murville, que voava “para o complexo Oriente com ideias simples”. Esta frase tornou-se célebre e foi várias vezes invocada ao longo das últimas décadas. De Gaulle era não só um génio militar e político como também um homem dotado de uma prodigiosa imaginação literária, que favorecia o culto do paradoxo. Com tal afirmação procurava certamente salientar simultaneamente a força e os limites da razão cartesiana — tipicamente francesa — aplicada à singularidade de um espaço mental, cultural e político profundamente diferenciado das referências canónicas ocidentais. De certa forma, esta afirmação revela uma grande incompreensão da especificidade do mundo oriental. Na verdade, não é possível compreender esse mundo com base num modelo interpretativo de natureza estritamente europeia.
Edward Said, provavelmente o intelectual palestiniano de maior projecção internacional, que viveu grande parte da sua existência em Nova Iorque, chama precisamente a atenção para a forma deturpada como o Ocidente percebeu historicamente o Oriente naquela que será a sua obra mais importante, Orientalism. Tudo isto vem a propósito dos últimos acontecimentos ocorridos em Israel.
Durante muitos anos obstinei-me em recusar a pertinência da tese de Said que assenta na ideia de que a instauração de um Estado judaico na Palestina comporta uma dimensão de natureza colonialista. Essa recusa mental radicava na adesão a uma certa apologética israelita associada à utopia da acção pioneira dos Kibutz, da reparação das injustiças historicamente cometidas sobre o povo judaico e do reconhecimento da singularidade regional da democracia israelita. Admitamos que estas razões não são de somenos importância e não devem ser levianamente espezinhadas.
David Grossman, um dos grandes escritores israelitas, lembrava recentemente duas coisas aparentemente contraditórias e, contudo, absolutamente respeitáveis: por um lado, o milagre que representava a criação de Israel; por outro, a circunstância de que a ocupação de um território habitado por outro povo conduz inevitavelmente à interiorização da ideia de que há dois tipos de Humanidade, uma representada por seres superiores e outra representada por seres inferiores. Essa é a tragédia genésica do Estado israelita. Ao aceder à condição de Estado-Nação, um povo que, como nenhum outro, foi objecto das mais ignóbeis perseguições históricas, metamorfoseou-se numa entidade política de natureza opressiva e mesmo, contra a sua vontade original, tendencialmente colonialista. Como se não bastasse, já pouco resta da fase inicial do Estado israelita. O actual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, descende ideológica e politicamente das correntes mais reaccionárias do movimento sionista, que tiveram na sinistra figura de Vladimir Jabotinsky a sua expressão mais conhecida. Infelizmente, Israel evoluiu historicamente num sentido profundamente negativo. Essa transformação, curiosamente, não obedece a um modelo facilmente inteligível. A extrema-direita israelita chegou ao poder - primeiro com Menachem Begin e mais tarde com o muito mais radical Netanyahu - devido ao apoio dos judeus da comunidade sefardita, que se considerava legitimamente vítima da discriminação imposta pela comunidade asquenaze, que teve grande preponderância na formação do Estado judaico. Os asquenazes são os judeus de origem centro-europeia, enquanto os sefarditas, provenientes, em épocas mais recentes, do mundo árabe, descendem das comunidades judaicas da Península Ibérica. A direita e a extrema-direita israelitas perceberam inteligentemente que os sefarditas estavam condenados a um estatuto de subalternidade na sociedade israelita e valorizaram a especificidade das suas práticas religiosas de modo a suscitar a respectiva adesão eleitoral. De certa maneira, a esquerda trabalhista representava uma elite incapaz de compreender os anseios de sectores religiosamente mais integristas, mas social e economicamente muito mais frágeis.
O resultado de tudo isto foi absolutamente deplorável. Israel, um Estado que é a vários títulos admirável, transporta consigo uma mancha verdadeiramente criminosa. Não tenhamos medo das palavras, por mais duras que elas sejam e por mais difíceis que se revelem de proferir em relação a um povo que suportou ignomínias históricas sem paralelo. Com a cumplicidade dos Estados Unidos, Israel leva hoje a cabo uma política que ofende princípios fundamentais dos Direitos Humanos e contraria tudo o que de melhor o pensamento Ocidental se pode reclamar. O primeiro-ministro israelita comporta-se como um serôdio líder colonialista. Nada justifica a sua acção, o seu estilo e o seu discurso. É um fanático que tem concorrido fortemente para a degradação política em todo o Médio-Oriente. É natural que encontre no narcisismo infantil do actual Presidente norte-americano um aliado para a sua tenebrosa causa. Lamentavelmente, esta associação de extremistas não augura nada de bom para o futuro do Estado israelita.
A União Europeia tem a obrigação histórica de prestar mais apoio às legítimas aspirações dos palestinianos. Por muito irónico que isso possa parecer, são essas aspirações que melhor correspondem ao espírito de uma Europa inspirada nos valores iluministas. Tal ocorre por uma simples razão: os palestinianos são vítimas de uma acção colonialista que ofende o que de melhor existe na cultura europeia.
Eurodeputado do PS
II - 5 COMENTÁRIOS
José Carvalho, 21.05.2018: Finalmente e sem reservas lhe dou os parabéns. Este artigo é exemplar.
Indalécio Avelino NascimentoMem Martins, 17.05.2018: Israel e o Sr. Netanyahu, só com sanções internacionais é que podem conter o seu ódio para com o Povo Palestiniano. Foram expulsos do seu território. Assassinados pelo exército e serviços secretos israelitas. Não contentes, ainda hoje, a sua aviação voltou a alvejar posições do Hamas, sem que se perceba a razão. Estou convencido que só terão algum juízo quando os seus aviões e drones começarem a ser abatidos. Espero que não venham depois com a tese de que estão a ser vítimas de ataque, deixando para trás todos os seus actos provocatórios. Haja alguém que forneça alguns mísseis terra-ar aos Palestinianos para se defenderem da impunidade que Israel goza, ou pensa gozar. Há momentos que os povos têm de resistir ao seu extermínio. Hitler foi-se, agora temos o Netanyahu.
JoaoPortugal 17.05.2018: Bom texto que resumidamente (e suavemente) relembra a sebentice criminosa dos colonialistas exterminadores judeus e a cumplicidade criminosa dos seus serviçais apoiantes… trauliteiros apoiantes incondicionais de todas as guerras e bombardeamentos e massacres da aliança saudita/USA/israelita pelo mundo fora.
Ontem lembrei-me da semelhança deste extermínio dos palestinianos com o extermínio dos índios americanos, enfim, o incumprimento de acordos, o terror, os massacres, o extermínio, e, claro, o roubo da terra e do sustento, confinando uma "sample" de indígenas que misericordiosamente foram poupados a um gueto ou jardim zoológico.
bento guerra, 17.05.2018: Presunção e ignorância da "esquerda". Preferem o medievalismo da barbárie islâmica
III- O essencial para entender o conflito israelo-palestiniano
OBSERVADOR, 13/6/2014
JOSÉ MANUEL FERNANDES
Como é que tudo começou?
Quase se pode dizer: no princípio era o verbo.
Os territórios reivindicados por israelitas e palestinianos encontram-se entre os que, historicamente, mais disputados foram. A isso não é indiferente o facto de no seu centro se encontrar Jerusalém, cidade-santa para três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
É em Jerusalém que está aquele que é actualmente o lugar mais sagrado para os judeus, o muro das lamentações, um troço do antigo Templo de Herodes. O muro delimita uma das faces da elevação a que os judeus chamam Monte do Templo, por aí se ter erguido o templo original, construído por Salomão e destruído por Nabucodonosor, e depois o Segundo Templo, erguido por Herodes e destruído durante a ocupação romana, no ano 70. O pequeno planalto no topo de Monte do Templo é, para os muçulmanos, a Esplanada das Mesquitas, onde se situa A Cúpula da Rocha, ou Mesquita de Omar, o santuário que foi erguido no local onde se acredita ter existido o altar de sacrifícios utilizado por Abraão, o profeta que o cristianismo e o islão partilham com o judaismo. Ao lado fica a mesquita de al-Aqsa, do século VIII, mandada construir pelo segundo califa, Omar. Este é o terceiro lugar sagrado do Islão, depois de Meca e Medina.
A proximidade destes dois lugares de culto é tão grande que houve alturas em que, do alto do Monte do Templo, palestinianos atiravam pedras ao judeus que rezavam junto à base do Muro das Lamentações. E foi quando Ariel Sharon, então líder da oposição, resolveu visitar a Esplanada das Mesquitas que, em reacção a um gesto que foi visto como uma provocação, se iniciou a revolta que viria a ser conhecida como “segunda Intifada”. A impossibilidade de se entenderem sobre este pedaço de Jerusalém, que não é maior do que um campo de futebol, foi um dos problemas que levou Ehud Barak, então primeiro-ministro de Israel, e Yasser Arafat, o histórico líder palestiniano, a falharem em 2000 um acordo de paz que Bill Clinton tinha laboriosamente promovido.
A poucas centenas de metros destes locais fica, por sua vez, um dos lugares mais sagrados para os cristãos, a Basílica do Santo Sepulcro, construída no local onde se pensa que Jesus Cristo foi crucificado e, depois, sepultado, para ressuscitar ao terceiro dia. Esta concentração de lugares sagrados para várias religiões ajuda a explicar tensões que não nasceram apenas com o actual conflito, antes atravessaram os séculos e, a par com as ambições dos mais diferentes impérios, fizeram com que Jerusalém fosse inúmeras vezes cercada, ocupada, saqueada e incendiada, uma história trágica que está no centro dos dramas da Terra Prometida – uma terra que, afinal, foi demasiado prometida.
Mas se este é o pano de fundo de uma história agitada, o actual conflito tem as suas raízes no século XIX, altura em que surgiu o movimento sionista a reivindicar o direito do povo judeu a uma pátria, e no início do século XX, quando o desmoronar do Império Otomano criou um vazio de poder que levaria ao redesenhar das fronteiras de todo o Médio Oriente. Quando, no final desse processo, emergiu o Estado de Israel, nunca a sua simples existência foi aceite pelos estados árabes da região. Passou a viver-se num clima de guerra permanente.
IV -Acessórios culturais (Via Internet):
Pergunta: "O que é Sião? O que é o Monte Sião? Qual o significado Bíblico de Sião?"
Resposta: Salmo 87:2-3 diz: "o SENHOR ama as portas de Sião mais do que as habitações todas de Jacó. Gloriosas coisas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!" Sendo citada mais de 150 vezes na Bíblia, a palavra “Sião” essencialmente significa “fortificação”. Na Bíblia, Sião é a cidade de Davi e a cidade de Deus. À medida que a Bíblia progride, a palavra Sião deixa de se referir à cidade física e passa a assumir um contexto espiritual.
A palavra “Sião” é mencionada pela primeira vez na Bíblia em 2 Samuel 5:7: "Porém Davi tomou a fortaleza de Sião; esta é a Cidade de Davi." Sião, portanto, era originalmente o nome da fortaleza jebusita na cidade de Jerusalém. Sião passou a significar não só a fortaleza, mas também a cidade onde a fortaleza se encontrava. Depois que Davi capturou "a fortaleza de Sião", Sião passou a ser chamada de "a Cidade de Davi" (1 Reis 8:1; 1 Crônicas 11:5; 2 Crônicas 5:2).
Quando Salomão construiu o Templo de Jerusalém, a palavra Sião expandiu o seu significado para incluir também o Templo e a área ao seu redor (Salmo 2:6; 48:2,11-12; 132:13). Sião foi eventualmente usado como um nome para a cidade de Jerusalém, a terra de Judá e o povo de Israel como um todo (Isaías 40:9; Jeremias 31:12; Zacarias 9:13).
O uso mais importante da palavra Sião é em seu sentido teológico. Sião é usada figurativamente de Israel como o povo de Deus (Isaías 60:14). O significado espiritual de Sião continua pelo Novo Testamento, onde recebe o significado Cristão do reino espiritual de Deus, a Jerusalém celestial (Hebreus 12:22; Apocalipse 14:1). Primeiro Pedro 2:6: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado."
Outras definições: Monte Sião é o nome de uma das colinas de Jerusalém e que por extensão se tornou sinónimo da Terra de Israel[1] e que pela definição bíblica é a Cidade de David. Após a morte do rei David, o termo Sião passou a se referir ao monte em Jerusalém, o Monte Sião, onde se encontrava o Templo de Salomão. Mais tarde, Sião passou a se referir ao próprio templo e aos terrenos do templo. Depois disso, Sião foi usado para simbolizar Jerusalém e a Terra Prometida. Sião seria uma adequação geofónica, do idioma hebraico para o Português, referente ao nome de um acidente geográfico mencionado na Bíblia que ficava no centro de Jerusalém.Sião, para algumas denominações cristãs, será a última cidade possível de viver depois do Armagedom.
V - Como aconteceu?
Na época, a Palestina era concessão britânica e, portanto, os ingleses tentaram de muitas formas barrar o desembarque dos refugiados que precisavam de ajuda, o que sensibilizou a opinião pública mundial. A terra passou a ser chamada, para os judeus, como a Terra Prometida, para onde levaram todo seu potencial financeiro e tecnológico e passaram a construir seu país.
A terra, no entanto, já era habitada, e a partir disso, foi então revigorada a criação de um Estado judeu na Palestina e, durante uma assembleia da ONU, no ano de 1947, foi decretado que a Palestina seria dividida em dois estados, sendo que um seria Judeu e outro Árabe. Em 1948, foi, finalmente, fundado o Estado de Israel de forma oficial. O Estado árabe, também determinado pela ONU nesta reunião, no entanto, não foi criado até os dias atuais, o que torna essa luta presente até os dias atuais.

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