segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Pediram desculpa com vénia



Os dirigentes de uma Universidade nipónica, por terem deliberadamente inflacionado as notas dos candidatos machos em detrimento das candidatas fêmeas. Nestes casos, a vénia foi factor de importância fulcral para o prosseguimento da cordialidade da parte dos superiores e da resignação dos inferiores, que parece que los hay também lá, pelo menos no sector feminino. As candidatas aceitaram a vénia e tudo prosseguirá sobre rodas num país tão desenvolvido e desenvolto, como é o Japão, que a gente tanto admira, já dos tempos do nosso Fernão Mendes Pinto, que por ali peregrinou e até vendeu espingardas e foi troçado, tal como os companheiros, por comerem com as mãos, numa corte de requintes, como ele descreve. Por isso até custa a crer uma tal manobra de escândalo machista, mas a desculpa com vénia foi suficiente para eliminar o pesar e a revolta femininos. Nós, é mais o bacalhau com todos que nos doma as ânsias de desenvoltura ou de revolta. Sem pruridos nem distinções, homens e mulheres irmanados intelectualmente nos prazeres gastronómicos da nossa galhofa vital.
Discriminação
 ELAINE LIES
PÚBLICO, 9/8/18
Universidade japonesa inflacionava notas dos homens para ter menos mulheres como alunas
Escândalo nas admissões a prestigiada universidade de Tóquio revela os profundos problemas de desigualdade na sociedade nipónica
Uma faculdade de medicina japonesa prejudicou deliberadamente as pontuações das mulheres no exame de admissão, durante pelo menos uma década, concluiu um painel de investigação, classificando a situação como um caso “muito sério” de discriminação.
O primeiro-ministro, Shinzo Abe, fez sua prioridade criar uma sociedade “onde as mulheres possam brilhar”. Mas as mulheres no Japão ainda enfrentam penosas batalhas a nível laboral e no regresso ao trabalho depois de terem filhos — um factor importante para a decrescente taxa de natalidade.
A manipulação das notas dos exames foi descoberta numa investigação interna, depois de uma acusação de corrupção na Primavera, referente ao exame de admissão na Universidade de Medicina de Tóquio.
Advogados que investigavam a acusação de subornos na admissão do filho de um alto funcionário do Ministério da Educação concluíram que a sua pontuação, e de outros homens, tinham sido inflacionadas “injustamente” — num caso chegou a 49 pontos.
Concluíram também que as pontuações foram manipuladas para dar aos homens mais pontos do que às mulheres e assim diminuir o número de candidaturas femininas aceites. A faculdade justificava esta actuação com o raciocínio de que seria mais provável que as mulheres abandonassem a profissão depois de serem mães.
“É lamentável — através de processos de admissão fraudulentos, pretendiam enganar os candidatos, as suas famílias, funcionários da escola e a sociedade,” disse o advogado Kenji Nakai, da equipa contratada para investigar a situação. “Existem factores que indicam uma forte discriminação das mulheres.”
A auditoria mostrou que as pontuações dos homens, incluindo os que iam repetir o exame depois de chumbar uma ou duas vezes, subiram. Tal não aconteceu em nenhuma das pontuações das mulheres.
Os advogados afirmaram não saber o número de mulheres afectadas, mas tudo indica que a manipulação tenha começado há mais de uma década. Numa conferência de imprensa, dirigentes da universidade fizeram uma profunda vénia e pediram desculpa.
Discriminação contra as mulheres no exame de admissão é “completamente inaceitável”, disse o ministro da Educação, Yoshimasa Hayashi.
A revelação do caso gerou uma grande indignação no Japão, com mulheres a contar as suas próprias experiências de discriminação nas redes sociais, usando a hashtag ”É normal sentires-te zangada com o sexismo.”
Algumas referiram o potencial preço a pagar de uma sociedade que envelhece rapidamente. “Tenho 29 anos e provavelmente nunca irei casar”, dizia uma. “Tem-se pena das mulheres que não se casam, mas as japonesas que são casadas, trabalham e têm filhos acabam por dormir menos do que qualquer outra pessoa no mundo”, diz outra
Outra comentou: “Ignorei os meus pais, que diziam que o lugar das mulheres não é na academia, e entrei na melhor universidade do Japão. Mas nas entrevistas de emprego dizem-me: ‘Se fosse um homem, estava já contratada’. Os meus pais não eram o inimigo, mas sim a própria sociedade.” Reuters


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