Os dirigentes de uma Universidade
nipónica, por terem deliberadamente inflacionado as notas dos candidatos machos
em detrimento das candidatas fêmeas. Nestes casos, a vénia foi factor de
importância fulcral para o prosseguimento da cordialidade da parte dos
superiores e da resignação dos inferiores, que parece que los hay também lá, pelo menos
no sector feminino. As candidatas aceitaram a vénia e tudo prosseguirá sobre
rodas num país tão desenvolvido e desenvolto, como é o Japão, que a gente tanto
admira, já dos tempos do nosso Fernão Mendes Pinto, que por ali peregrinou e até
vendeu espingardas e foi troçado, tal como os companheiros, por comerem com as
mãos, numa corte de requintes, como ele descreve. Por isso até custa a crer uma
tal manobra de escândalo machista, mas a desculpa
com vénia foi suficiente para eliminar o pesar e a revolta femininos. Nós, é mais o bacalhau com todos que nos doma as
ânsias de desenvoltura ou de revolta. Sem pruridos nem distinções, homens e mulheres irmanados intelectualmente nos prazeres gastronómicos da nossa galhofa vital.
Discriminação
ELAINE LIES
PÚBLICO, 9/8/18
Universidade japonesa inflacionava notas
dos homens para ter menos mulheres como alunas
Escândalo
nas admissões a prestigiada universidade de Tóquio revela os profundos
problemas de desigualdade na sociedade nipónica
Uma faculdade de medicina
japonesa prejudicou deliberadamente as pontuações das mulheres no exame de
admissão, durante pelo menos uma década, concluiu um painel de investigação,
classificando a situação como um caso “muito sério” de discriminação.
O primeiro-ministro, Shinzo Abe,
fez sua prioridade criar uma sociedade “onde as mulheres possam brilhar”. Mas
as mulheres no Japão ainda enfrentam penosas batalhas a nível laboral e no
regresso ao trabalho depois de terem filhos — um factor importante para a
decrescente taxa de natalidade.
A manipulação das notas dos
exames foi descoberta numa investigação interna, depois de uma acusação de
corrupção na Primavera, referente ao exame de admissão na Universidade de
Medicina de Tóquio.
Advogados que investigavam a
acusação de subornos na admissão do filho de um alto funcionário do Ministério
da Educação concluíram que a sua pontuação, e de outros homens, tinham sido
inflacionadas “injustamente” — num caso chegou a 49 pontos.
Concluíram também que as
pontuações foram manipuladas para dar aos homens mais pontos do que às mulheres
e assim diminuir o número de candidaturas femininas aceites. A faculdade
justificava esta actuação com o raciocínio de que seria mais provável que as
mulheres abandonassem a profissão depois de serem mães.
“É lamentável — através de
processos de admissão fraudulentos, pretendiam enganar os candidatos, as suas
famílias, funcionários da escola e a sociedade,” disse o advogado Kenji Nakai,
da equipa contratada para investigar a situação. “Existem factores que indicam
uma forte discriminação das mulheres.”
A auditoria mostrou que as
pontuações dos homens, incluindo os que iam repetir o exame depois de chumbar
uma ou duas vezes, subiram. Tal não aconteceu em nenhuma das pontuações das
mulheres.
Os advogados afirmaram não
saber o número de mulheres afectadas, mas tudo indica que a manipulação tenha
começado há mais de uma década. Numa conferência de imprensa, dirigentes da
universidade fizeram uma profunda vénia e pediram desculpa.
Discriminação contra as mulheres
no exame de admissão é “completamente inaceitável”, disse o ministro da
Educação, Yoshimasa Hayashi.
A revelação do caso gerou uma
grande indignação no Japão, com mulheres a contar as suas próprias experiências
de discriminação nas redes sociais, usando a hashtag ”É normal sentires-te
zangada com o sexismo.”
Algumas referiram o potencial
preço a pagar de uma sociedade que envelhece rapidamente. “Tenho 29 anos e
provavelmente nunca irei casar”, dizia uma. “Tem-se pena das mulheres que não
se casam, mas as japonesas que são casadas, trabalham e têm filhos acabam por
dormir menos do que qualquer outra pessoa no mundo”, diz outra
Outra comentou: “Ignorei os
meus pais, que diziam que o lugar das mulheres não é na academia, e entrei na
melhor universidade do Japão. Mas nas entrevistas de emprego dizem-me: ‘Se
fosse um homem, estava já contratada’. Os meus pais não eram o inimigo, mas sim
a própria sociedade.” Reuters
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