Não havia necessidade… A corrente que
pretendeu modelar figuras humanas, como se fossem, tais modeladore/a/s,
criadore/a/s de uma nova humanidade – (julgo que não se imiscuiram na vida das
vacas e dos demais animais domésticos ou selvagens deste mundo, deixando em paz
o resto da animalidade para mais tarde ou mais cedo poderem praticar nessa, a sua
normalidade sexual talvez sedenta, própria da criação ditada por divindades
mais sapientes e sérias, quais foram os deuses da Antiguidade, ou o Deus criador,
em que alguns crêem, tirantes os tais da tal teoria do género que despreza o
sexo, de uma forma orgiacamente presunçosa. Mas leiamos, sim, o excelente
trabalho da Professora
Patrícia Fernandes, porque tudo o que nos acode à cabeça é descomedida
indignação, por uma sociedade que de vez em quando se deixa manipular por
idiotias a merecer, apenas, varapau. Ou mesmo cadeira eléctrica.
A politização do género
É possível que as académicas que
desenvolveram a teoria do género queiram tanto ter impacto que caiam na ilusão
de que as suas ideias serão imortalizadas. Mas trata-se de habitual arrogância
académica
PATRÍCIA FERNANDES Professora na Escola
de Economia e Gestão da Universidade do Minho
OBSERVADOR, 21 abr.
2025, 00:2023
1Tudo é político
Da mesma forma que muitas pessoas se
sentem atraídas por acidentes de carro, eu resisto dificilmente a livros
radicais e argumentos aparentemente absurdos. Um bom exemplo aconteceu-me com o
livro O direito ao sexo, de Amia Srinivasan, uma
colecção de ensaios construídos em torno da seguinte premissa: “O sexo é uma coisa cultural que se faz passar por uma
natural.”
Há
um duplo sentido nesta ideia que decorre do duplo sentido permitido pela
palavra “sexo”: não só não existe algo como o sexo biológico, uma vez que “o
sexo é já em si o próprio género camuflado”, como também “o sexo, que
consideramos um dos actos mais privados é, na realidade, uma coisa pública.”
O subtítulo do livro é Feminismo no século XXI e isso
ajuda-nos a enquadrar esta forma de pensar: o que uma certa corrente do feminismo
fez nas últimas décadas foi uma radicalização dos dois princípios consagrados
pela revolução feminista da década de 1960. Por um lado, absolutizar o conceito de género ao ponto de considerar que todos os aspectos que
decorrem da pertença a um dos sexos estão culturalmente carregados (o mesmo é
dizer, servem um propósito político): falar em sexo feminino significaria já a
indicação de que esse grupo tem como função servir os homens.
Por outro lado, a autora
considera que o próprio acto sexual é político: as emoções que sentimos, quem
desejamos e quem é desejado são aspetos culturais e políticos – de acordo com
“regras que se aplicam a tudo isto [e que] foram estabelecidas muito antes de
termos chegado a este mundo”. E não, a autora não está a falar do
Criador ou da Natureza, mas da “patriarquia”, que define as regras que
determinam as dinâmicas de poder e exploração na sociedade. E se tudo é
político, tudo pode ser reformulado, nomeadamente as nossas preferências
sexuais, para atender a “um dever de transfigurar, o melhor que pudermos, os
nossos desejos”.
É desejável reformular o
desejo para termos uma sociedade com menos discriminação, pelo que a
ideia de “body positivity” se revela fundamental: “Black is
beautiful e Big is beautiful não são apenas slogans de emancipação, mas
sim propostas de reavaliação dos nossos valores.” Recusar o desejo por estes corpos ou por
corpos deficientes ou trans é, nesta medida, uma escolha política e que deve
merecer a nossa autocrítica.
2O regresso da realidade
Amia Srinivasan assume as
consequências do seu argumento: sabe que a luta pelos direitos LGB assentou na
ideia de que se trata de uma condição natural – e não de uma preferência sexual
– pelo que não faria sentido discriminar
um homossexual por algo de que não era responsável. O
mesmo valeria para o argumento trans, que
veicula a ideia de que não foi uma escolha ter nascido no corpo errado.
Mas, para a autora, se este tipo de
argumentação teve utilidade política, ele deve agora ser abandonado no contexto
das tendências construtivistas e antiessencialistas do feminismo. Afinal,
não há nada de inato ou natural…
Como Srinivasan reconhece, recorrer
ao factor natural é colocar-nos no domínio da argumentação liberal. Já o reconhecimento de que tudo é político coloca-nos
no plano da permanente modificação do mundo: se não há nada de natural ou inato
e tudo é maleável, então tudo pode ser reconstruído. A heteronormatividade poderia ser
afastada se escolhermos sentir atracção por outros corpos e a normatividade
binária desaparece se deixarmos de olhar para o mundo como se só existissem
dois sexos. É neste sentido que
Judith/Jack Halberstam e Judith Butler, em conversa, chamam a atenção para o facto de a “direita” ter
razão quando considera que a teoria do género está a transformar o mundo: a
teoria do género tem realmente esse objectivo.
A honestidade de Halberstam e
Butler transporta-nos para o domínio das lutas culturais: se tudo é maleável e
se tudo é político, então tudo se resume a uma luta pelo poder. Mas a consequência deste argumento é que
deixa de ser possível levantar objecções sensatas e racionais ao comportamento
do outro lado. Se tudo é política e luta pelo poder, como denunciar como
abusivas as decisões de Trump?
Uma forma de sair deste paradigma de
conflito permanente é reintroduzir a natureza e a realidade e consagrar
direitos a partir delas. Este mecanismo liberal não elimina a luta política,
mas garante que os direitos individuais não se tornam o alvo da disputa
política.
É
claro que a linguagem importa, o vocabulário que usamos condiciona a forma como
pensamos e não há consciência do mundo sem conceitos e os conceitos exigem
palavras. Mas, como seres vivos, fazemos parte de um mundo material que
contextualiza a nossa linguagem, o nosso vocabulário, os nossos conceitos e as
nossas palavras. “Reality matters, sex matters”, como tem dito
repetidamente Helen Joyce. E foi precisamente
o que os juízes do Supreme Court of the United Kingdom reconheceram no dia 16
de abril, quando estipularam que há “caraterísticas biológicas que fazem de um
indivíduo um homem ou uma mulher” e que tal não resulta de autodeterminação ou
de uma qualquer declaração emitida por serviços públicos. Esta é a única forma
de garantir os direitos individuais conquistados nas últimas décadas por
mulheres e homossexuais.
Embora
a decisão tenha sido recebida em êxtase por tantas pessoas, Brendan O’Neill captou bem a ambiguidade dessa recepção:
“Estou encantado com o facto de o Supremo
Tribunal ter decidido que uma mulher é legalmente definida como uma pessoa com
caraterísticas biológicas femininas. Mas estou chocado com o facto de,
aparentemente, termos precisado de cinco juízes para nos dizerem algo que a
nossa espécie sabe desde que descemos das árvores.”
3As vítimas do género
Regressemos a Judith Butler. Naquela
conversa, Butler afirma: “O
género binário nunca mais será o mesmo.” É
possível que as académicas que desenvolvem o seu trabalho em torno da teoria do
género queiram de tal forma ter um impacto relevante no mundo que lhes seja
fácil cair na ilusão de que as suas ideias serão imortalizadas. Mas
trata-se da habitual arrogância académica, particularmente engraçada por conter
laivos da arrogância “ocidental” que as teorias críticas tanto gostam de denunciar:
na verdade, a ideia de que o sexo é
não binário é não só profundamente excêntrica no mundo ocidental, como tem um
impacto quase nulo nas restantes partes do mundo.
Mas também se trata de um sintoma curioso da doença provocada pela
torre de marfim: a que leva a que uma minoria intelectual que desenvolve ideias
completamente afastadas da realidade e das quais a vasta maioria das pessoas
discorda reclame para si a posição de defensores da democracia (mais sobre isto
em breve).
Curioso, mas não divertido uma vez que toda esta insanidade provocada por
excentricidades académicas tem deixado atrás de si um lastro de vítimas,
apanhadas no meio desta loucura. Em novembro, Louise
Perry defendeu, a partir da notícia de que Alexandria
Ocasio-Cortez tinha eliminado a indicação dos pronomes da sua biografia no X,
que a “onda trans” estaria a perder força. O problema é que esta não foi uma
tendência política qualquer:
“ao contrário de uma tendência
de moda tola, o movimento trans infligiu um custo humano terrível. As pessoas
que fizeram a transição médica – muitas delas jovens mulheres muito vulneráveis
– ficarão permanentemente desfiguradas e, provavelmente, não chegarão a envelhecer.
Neste momento, a maioria delas não tem consciência de que está prestes a ser
abandonada pelos seus aliados progressistas [que avançarão] para outra
tendência, e não haverá qualquer pedido de desculpas. As vítimas do
transgenderismo nunca serão curadas, serão apenas esquecidas.”
Afinal, talvez seja verdade que ideias académicas desenvolvidas em
gabinetes das Humanidades podem mudar o mundo. Mas dificilmente isso acontecerá
com um sentido positivo.
PS: Mais informações sobre o
curso Wokismo: Teoria e Prática e o lançamento do curso Introdução à Cultura
Ocidental (para jovens) aqui: https://pensamentolento.com/.
IDENTIDADE DE GÉNERO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 23)
João Carlos: Finalmente vejo o princípio do
fim desta loucura. Ficaram bastantes vítimas de uma moda que apareceu e vai
desaparecer como tantas outras. Agora devíamos responsabilizar não digo
criminalmente mas a nível académico os promotores, influencers e outros que
tais que levaram milhares de pessoas a darem cabo da vida. Mas não vai
acontecer nada. Estes pensadores vão continuar nas suas vidas a afirmarem que
eles é que estão certos e o resto do mundo está errado. É triste. Rui Lima: Como escreve com dimensão e
conhecimento e coragem para afrontar com saber os radicais do género! Mas fiquei
deliciado com este parágrafo: ““Estou encantado com o facto de o Supremo
Tribunal ter decidido que uma mulher é legalmente definida como uma pessoa com
caraterísticas biológicas femininas. Mas estou chocado com o facto de,
aparentemente, termos precisado de cinco juízes para nos dizerem algo que a
nossa espécie sabe desde que descemos das árvores.” Glorioso SLB: Só existem dois sexos ou
géneros. O normal é um homem ter relações c/ uma mulher. Tudo o contrário leva
ao fim da espécie humana logo ñ é normal. É como um cancro. Mudar de sexo? Pq ñ
mudar de espécie? Ñ faz sentido. Futari Gake: Pois, ainda há pouco Sanchez
colocou um "trans", com ar de mulher e voz de homem, a anunciar o
árabe como língua oficial em Espanha. Alguém me enviou o vídeo e ficava admirado como era
possível e logo ser anunciado por um representante LGBT que seguindo as regras
de alguns ditos aliados do Ocidente, (não digo os nomes para não ser
censurado), a primeira coisa que farão será a lapidação ou apedrejamento desta
pobre gente até à morte, coisa que muitas vezes não é instantânea tal a nobreza
de tal gente. Tim
do A > Futari
Gake: Sanchez é um nojento socialista.
Tim do A: Muito bom artigo. Felizmente Trump está a atacar essa religião decadente e
está a fazer o mundo voltar à normalidade e à realidade. Futari Gake: Alexandria Ocasio-Cortez ou
Mortágua abandonarão tudo o que lhes retira o poder sobre gente de cabeça tonta
e fraca e muito está explicado nesta frase que explica bem as consequências
desta nova orientação dos neo-comunistas: “ao contrário de uma tendência de moda tola, o
movimento trans infligiu um custo humano terrível. As pessoas que fizeram a
transição médica – muitas delas jovens mulheres muito vulneráveis – ficarão
permanentemente desfiguradas e, provavelmente, não chegarão a envelhecer. Neste
momento, a maioria delas não tem consciência de que está prestes a ser
abandonada pelos seus aliados progressistas [que avançarão] para outra
tendência, e não haverá qualquer pedido de desculpas. As vítimas do
transgenderismo nunca serão curadas, serão apenas esquecidas.” Maria Alva: Bom artigo. Bem podemos
agradecer ao Trump o início do fim da teoria de género, materializada na directiva
presidencial de que só há 2 géneros, o masculino e o feminino. Coxinho: Mais um belíssimo artigo da
Patrícia. Proponho que estes académicos (?) idiotas que -- muito provavelmente
-- defendem a sua própria condição de LGBs sem o confessarem sejam convidados a
viver na floresta. Veremos então se a espécie se multiplica e sobrevive. Sergio Alves: Mais um texto brilhante,
obrigado Futari
Gake > Tim
do A: Pois é, mas é PM de Espanha e conta com o apoio de Bruxelas, ao contrário
do que sucede com o PM da Hungria, de Itália ou Suécia ou de quem se opõe à
agenda globalista que é alimentada e subornada pelo PCC e RPC e pelos Soros
deste mundo. Ab