terça-feira, 15 de abril de 2025

Policiais de bolso

 

As leituras da nossa competência ledora, justificativas da nossa participação bota-abaixística, do domínio das oposições ao governo, neste “struggle for life” constante dos partidos, que mais não desejam que entrar no esquema da perversão com que pretendemos, acima de tudo, gerir o nosso tachozito, e daí o pontapear constante ao tacho alheio, que cheira sempre a esturro, segundo os narizes sensíveis dos aspirantes ao próprio. E assim vamos vivendo, ocasionalmente manifestando também o nosso altruísmo piedoso, pelos que lá fora vão lutando, contra as maroteiras dos  ambiciosos de outros refogados, evidentemente mais requintados no alto calibre do dirigismo pessoal de amplitude universal.

As incertezas e o paradoxo destas eleições

Em que áreas – justiça, habitação, saúde, sistema eleitoral, etc. – estarão os líderes partidários dispostos a dialogar para efectivar verdadeiras reformas? A estas perguntas duvido que algum responda.

PAULO TRIGO PEREIRA Professor Catedrático do ISEG e Presidente do Institute of Public Policy. Colunista do Observador

OBSERVADOR, 14 abr. 2025, 00:175

Os portugueses estão a ser fustigados com mais esta campanha eleitoral. Os líderes partidários vão ficando exaustos com esta maratona de intervenções públicas, nomeadamente nos canais televisivos. Em vez de liderarem os respetivos partidos e tentarem fazer passar na assembleia da república as suas propostas para o país, prevê-se que passem estes dias a prepararem-se para os debates bilaterais, a que seguirá mais uma campanha de rua. Os portugueses não queriam estas eleições. Muitos ficarão em casa no dia das eleições, outros votarão em branco ou anularão o boletim de voto. Há sempre os que votam no seu partido de sempre numa adesão de tipo clubística. Mas haverá muitos que votarão sem grande convicção. Não me parece existir outra interpretação para a significativa proporção de indecisos.

Faz pouco mais de um ano, escrevi aqui uma carta aberta a Pedro Nuno Santos e a Luís Montenegro. No essencial argumentei que, não havendo perspectiva de uma maioria absoluta parlamentar, fosse esta de um só partido ou duma coligação, quem perdesse as eleições deveria dar a possibilidade ao partido vencedor de governar com um mínimo de estabilidade política que considero ser de dois anos. Uma legislatura é o ideal para se perceber o impacto das políticas de um governo e premiá-lo ou puni-lo eleitoralmente. Mas dois anos parece-me o mínimo num miniciclo político. Passou-se apenas um ano das últimas eleições e o governo caiu.

O PS não está, obviamente, preparado para governar. Havia a intenção de realizar uns estados gerais que não foram feitos. Este continua a ser o método para ir buscar alguns independentes qualificados para depois assumirem com credibilidade algumas pastas governativas no caso de o partido ganhar eleições. Que governo-sombra tem o PS para apresentar ao país? Por ora não existe. Pedro Nuno Santos tem de entender que a sua principal missão, se quiser manter o PS como um grande partido nacional, é refundar o partido nomeadamente ao nível da formação de quadros, o que leva o seu tempo. Há por aí algumas propostas, poucas, de como isso poderia ser feito.

O PSD também não está particularmente preparado. Fez o seu longo caminho de oposição, criou e pôs a funcionar um conselho estratégico nacional, liderado por Miranda Sarmento. Porém, no PSD também não há formação de quadros. Esta, tenho-o dito várias vezes, é indispensável ao exercício, com qualidade, de funções políticas ou administrativas de relevo. Para Luís Montenegro, estas eleições serão, caso as ganhe, sobretudo uma oportunidade de remodelação governamental e uma tentativa de apagar através do voto aquilo que são actos exclusivamente seus e, no mínimo, eticamente reprováveis.

Nestas eleições não me parece que vá haver grandes surpresas. Com elevada probabilidade PSD/CDS ganharão e com maior margem do que nas anteriores, pois isso é o corolário lógico das pessoas não quererem nem eleições, nem micro ciclos políticos. Haverá, provavelmente, uma maioria de direita parlamentar, se incluirmos a Iniciativa Liberal e o Chega. Dada a manutenção do “não é não”, de Montenegro, as condições de (in)governabilidade do país não se alterarão. Há, porém, algumas incertezas. À direita, a dimensão da votação na Iniciativa Liberal e a provável descida do Chega. Será que depois de todos os escândalos com políticos deste partido, desde o caso patológico do roubo de malas à pedofilia, os eleitores seus eleitores continuam a acreditar que André Ventura é o salvador da Pátria? Será que não percebem que não há partidos de um homem só? À esquerda, as incertezas são quais os partidos que vão capitalizar algum descontentamento de eleitores de PS e PSD e mesmo do Chega, bem como os que não são sensíveis ao “voto útil” no PS.

Há, porém, um essencial paradoxo nesta campanha eleitoral. Todos os partidos exacerbam as suas divergências com os restantes, mesmo quando são menores, para cativar os eleitores, como se pudessem impor, sozinhos, as suas propostas. Porém, como nenhum terá uma maioria absoluta, o que interessa não são as divergências mas as possíveis convergências. É inevitável a negociação pós-eleitoral entre governo e oposições. Assim, o que verdadeiramente deveria ser perguntado aos líderes partidários são duas coisas. O que farão na presença de um governo minoritário caso percam as eleições? Em que áreas justiça, habitação, saúde, sistema eleitoral, etc. – estarão dispostos a dialogar com os restantes partidos para efectivar verdadeiras reformas? Estas são as perguntas que mereceriam ser feitas, embora duvide que algum lhes responda.

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COMENTÁRIOS (de 5)

maria santos: Caríssimo, a essas matérias o seu querido PS também nunca respondeu, a não ser com três bancarrotas, duas de Mário Soares e a terceira de Sócrates, seguidas peladescapitalização e desinvestimento de toda a Função Pública nos governos de António Costa e o seu querido Mário Centeno. A Justiça, SNS, Ensino, Habitação, Economia, Segurança Interna, Transportes, Segurança Social ... miserável gestão pública dos governos socialistas, gente incompetente à procura de emprego na política, salvo as raríssimas excepções. A competência profissional adquire-se no ensino geral, seguida nas escolas profissionais das áreas específicas e consolidada pela experiência e investimento ao longo da vida no activo. A política governativa não é profissão, o ministro não é um posto de trabalho que o PS arranja aos seus agremiados. É preciso trabalhar na vida empresarial e institucional do País para saber o que se "ministra" e para trabalhar é preciso, nas idades próprias, frequentar as Escolas e adquirir as bases teórico-práticas de uma profissão. Depois, é fazer-se à vida e não, como o PS e demais, andar pelas infra-estruturas rodoviárias dos Partidos, daqui para ali a arranjar uns "poisos" de ministro, vereador, presidente de câmara e etc.

Francisco Ramos: Formação de quadros nos partidos, é assim uma coisa parecida com a continuação das juventudes partidárias. Uma brincadeira para crianças. Este senhor não deve ir além da teoria. Quem prepara quadros são as empresas. É lá a trabalhar no duro, com objectivos precisos e a ter de prestar contas a outrem, que não aos governos, a quem pouco importa o rigor e a clareza, apenas importa a fidelidade.

Nas empresas, onde não se brinca em serviço, onde há esforço, onde há competição, onde há uma realidade a que os nossos políticos da actualidade não se querem sujeitar, porque temem o confronto, onde eventualmente podem ser perdedores.

E depois é criar condições para que esses quadros aceitem colaborar na administração pública.

Esse é o drama da atualidade, ninguém está disposto a colaborar num governo onde sabe que a sua vida pessoal vai ser devassada por uma CS inapta e desonesta.

 

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