segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O nuclear nas redes sociais


Ciclones, sismos, incêndios, tsunamis…  não serão as experiências nucleares que perturbam tão espectacularmente o mundo terreno? Sempre houve convulsões na Terra, mas falava-se em milhões ou milhares de anos antes, uma Terra a formar-se, as placas tectónicas a entrechocarem-se, a criar fissuras, a fazerem desligar a tal Pangeia em sucessivos continentes, e pouco a pouco fomos ganhando confiança, a ponto de ocuparmos ilhas e istmos e penínsulas sem medos, de pés bem assentes na Terra. Mas a criação de bombas sucessivamente mais potentes torna os homens mais “bravos”, como se vê lá pelo oriente, com tantos ensaios dos orgulhos nacionais que a riqueza proporciona, em que as provocações de um demente à solta apenas fazem ranger os dentes humanos, mas talvez irrite a Terra, em termos de ela própria alargar a sua fúria cada vez com maior espectacularidade, como se tem visto. E ninguém põe cobro àquilo, àquele riso demente, que parece impor um jugo tirânico no seu país e se propõe divertir-se a lançar mísseis nucleares que atingem terrenos alheios, como o Japão, que barafusta e se assusta, controlado por uma China potente e protectora do demente, sabendo talvez que o que ela esconde seria pior para a Terra do que as brincadeiras alvares do seu protegido. Ocidente e Oriente, gigantes à espreita, no controlo ainda, mas quem garante que os acordos de contenção do nuclear são para se cumprir? Afinal, há tantas potências a espreitar, tantas demências à solta a exibir e a ameaçar…
 Leiamos antes Teresa de Sousa, no seu historial sobre as actuações políticas, sobretudo americanas, nas suas relações com as potências asiáticas, e no que poderá seguir-se que todos receiam e ninguém previne, talvez:

Pode ser que Trump desista de rasgar o acordo nuclear com o Irão

A única boa notícia é que, neste clima, é muito pouco provável que Trump volte a ameaçar o acordo com o Irão. Seria dizer a Pyongyang e ao mundo que os acordos americanos não são para cumprir.
Teresa de Sousa
Público, 5 de setembro de 2017
1. Angela Merkel já deixou três coisas perfeitamente claras sobre crise nuclear da Coreia do Norte. A primeira é que não há soluções militares para resolver o problema. A segunda é que ninguém pode conter esta ameaça a não ser os EUA. E, em terceiro lugar, que a Europa já deixou de poder dar-se ao luxo de ficar quieta à espera que alguém resolva os problemas por ela. “Independentemente de quem ganhe as eleições, o próximo governo alemão continuará a cooperar com Trump, mesmo que de uma forma mais selectiva,” escrevem Erik Brettberg e Viola Meyerweissflog, no site da Carnegie Europe. O que recomenda não diabolizar o Presidente americano. Emmanuel Macron não anda longe desta orientação, como se viu durante a visita de Trump a Paris. Mas a chanceler acrescentou outra coisa: mesmo que em condições diferentes, foi possível negociar um tratado nuclear com o regime de Teerão que parecia quase impossível e no qual a Europa desempenhou bem o seu papel, ao lado dos Estados Unidos. Ontem, Merkel e Emmanuel Macron apoiaram o endurecimento severo das sanções. A questão é saber qual é o caminho a tomar daqui para a frente. Com um dado novo que pode vir a revelar-se fundamental: a explosão nuclear de Pyongyang não é apenas um desafio aos EUA. É uma humilhação da China, precisamente quando XI Jinping quer afirmá-la como um parceiro responsável da ordem internacional. As consequências podem revelar-se um pesadelo: um Japão nuclear ou o aumento da presença americana na Ásia-Pacífico é tudo aquilo que a China não quer.
2. A política norte-americana perante um problema da maior gravidade para a segurança internacional que já se arrasta há mais de 20 anos, tem sido errática e não levou a qualquer resultado. Bill Clinton, em 1994, iniciou um processo negocial que acabou num “Acordo Quadro” no qual Pyongyang renunciava ao seu programa nuclear a troco do levantamento das sanções e da garantia de fornecimento de energia. Um ano antes, o Presidente americano esteve fortemente inclinado para um ataque cirúrgico contra os locais onde o programa estava a ser desenvolvido. Seria uma operação relativamente fácil, embora de consequências difíceis de prever em matéria de custos humanos. Já tinha sido testada na década de 1980, quando a aviação israelita (com o beneplácito americano) destruir o ainda incipiente programa nuclear iraquiano e, uns anos mais tarde, fez o mesmo na Síria. A total oposição da China levou Clinton a voltar à mesa das negociações. No fim do seu segundo mandato, a evidência de que Pyongyang não cumpria o acordo já era demasiado visível. George W. Bush endureceu a posição americana, o que levou a Coreia do Norte a rasgar oficialmente o acordo. Não definiu uma nova estratégia. Depois do 11 de Setembro, o seu interesse esteve sempre virado para o Médio Oriente, com a guerra no Iraque e o endurecimento das relações com o Irão. Obama tinha uma estratégia para a China da qual a Coreia do Norte fazia parte. Queria libertar-se do Médio Oriente, mas faltava a resolução do programa nuclear iraniano. Pequim desconfiava do pivô para a Ásia, anunciado pela sua administração. Trump é outra coisa, completamente diferente. O instinto político do Presidente é ignorar o mundo e os seus problemas. O nacionalismo e o isolacionismo de Steve Bannon convinham-lhe perfeitamente. A realidade e a influência de James Mattis ou de Rex Tillerson têm conseguido conter, em parte, o radicalismo isolacionista de Trump, como se viu recentemente no Afeganistão. Mas não o suficiente para abrir caminho a uma nova estratégia, boa ou má, para a política externa americana. É esta ausência de clareza entre as diferentes visões do papel dos EUA no mundo, que torna a crise actual dramaticamente perigosa.
3. Merkel criticou a linguagem belicista utilizada pelo Presidente e apoiou publicamente Mattis, quando o chefe do Pentágono o “corrigiu”, lembrando que a via diplomática estava sempre em cima da mesa.A retórica de Trump afectou o debate político, sobretudo na Alemanha”, escreve Janka Oertel do German Marshall Fund. O seu conselho é simples: “devemos iniciar conversações similares às que tivemos com o Irão”. São diferentes os dois países em causa. O Irão tem a ambição de ser uma potência regional e, enquanto os “duros” dominaram o regime, servia-lhes a estratégia de confronto de Washington, com a sua política de terra queimada, que ignorava os reformadores do regime. Obama seguiu a via contrária, começando por criar condições para provar que o seu objectivo não era o da “mudança de regime”. Teve êxito. Trump classificou-o como o pior acordo que alguma vez foi feito na História dos EUA. Prometeu rasgá-lo. Também não tem uma estratégia para a China, o país que mais diabolizou na campanha eleitoral. Mas criou uma relação inesperada com o Presidente chinês, depois do seu encontro na Flórida, em Março passado, que pode ser útil para evitar más interpretações. Trump confessou que  Xi o convenceu de que a sua capacidade para influenciar Pyongyang era bastante limitada. Mas era a única estratégia da Casa Branca. A única boa notícia é que, neste clima, é muito pouco provável que Trump volte a ameaçar o acordo com o Irão. Seria dizer a Pyongyang e ao mundo que os acordos americanos não são para cumprir.


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