O Luís está a atravessar uma
fase má na sua vida. Foi-lhe diagnosticada uma depressão, perdeu o emprego,
está ligado a um hospital que lhe prescreve a medicação adequada – ou não - num
país de depressivos e de desistentes, ligado a um subsídio temporário. Está assustado,
o futuro parece-lhe sombrio, envia currículos mas não é chamado, frequenta um
curso numa escola de Informática.
Lembro o Luís de outrora, quando
éramos sete à mesa e as refeições seguiam o decurso natural, numa vasta família
que brincava e ria e às vezes também tinha desavenças. Éramos francos e
alegres, creio que medianamente saudáveis, os pais trabalhando, os filhos
cumprindo em liberdade, por isso nem sempre de harmonia com as ambições de quem
os trouxe ao mundo. E foram saindo,
criando outros laços. Mas a amizade entre os irmãos permaneceu, e há festas em
que nos reunimos todos em almoços familiares de alegria e disparate às vezes,
adultos todos – (as crianças procurando os refúgios dos seus interesses
próprios, com as tablets ou a internet das suas diversões) - lembrando coisas, contando coisas, talvez
disfarçando ansiedades, na ficção ou na realidade da harmonia, os filhos e
netos – estes do Ricardo e da Paula – contribuindo para o calor e a alegria
gerais, mostrando que a vida é uma continuidade de momentos que se reproduzem
na sucessão dos tempos, as tristezas sendo abafadas pelo gosto de viver, até
sempre, desde que não haja sofrimentos graves.
Ontem o Luís teve que fazer um
spot publicitário para uma das suas aulas, que hoje me mostrou. E gostei do seu
spot simples:
Goze as suas férias
Na linha de Cascais:
Na praia, piscinas,
Nos jardins ou em
monumentos,
Faça sol ou chuva,
Nunca por demais.
Cascais é loucura
Em todos os seus momentos.
O Luís, alma boa e doce que eu costumava
dizer, a brincar, que seria um dia padre. Mas pelos vistos, tem boas
recordações de Cascais, o que eu desconhecia.
Não foi padre, foi um ser
insatisfeito, introvertido, em busca sempre de outra coisa, que chegou agora a
um sentimento de frustração e derrota que não posso aceitar. Porque me lembro
do passado feliz - ou menos - mas de amor sempre, e crença na felicidade dos
filhos que os “parabéns a você” das festas de anos frisavam.
Afinal, o Luís fez o seu spot
muito rapidamente, prova que tem capacidades, não pode desistir de lutar, à
mercê do coitadinho, ou do refúgio orgulhoso em si próprio, que um dia rasgou
versos seus, torrenciais, próprios da sua alma amarfanhada já então, e tenho
pena que os tivesse rasgado.
Há sempre uma janela que se
abre, quando a porta nos bate na cara.
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