Um texto de marca
Inútil
comentar.
Leio
os comentários de professores seus admiradores e transcrevo o de Carlos
Silva:
Carlos Silva
Óbidos 20.09.2017
«Cada professor devia ser reconhecido
não pelo seu trabalho burocrático, quantas vezes sem saber conduzir reuniões de
trabalho, alimentando a burocracia, a rotina, o veicular da informação, o
desvio em relação aos assuntos da competência dos órgãos, que tornam essas
reuniões enfadonhas e pouco inovadoras, criativas e interessantes. Os
professores burocráticos foram promovidos a "titulares" ao contrário
dos "professores-pirilampos" (que os outros não suportam ver
"brilhar"), mais criativos e inovadores sobrevivem nas
"zonas-sombra" da periferia. Por isso, os "critérios de
promoção" e a "avaliação entre pares" deviam ser revistos em
nome de maior equidade, justiça, bem-estar e de uma verdadeira autonomia (e
convicção que dela emana) valorizando (pela confiança) a experiência e idade.»
À consideração dos professores do meu país
Público, 20 de Setembro de 2017
Santana Castilho*
“Quando eu tinha cinco
anos, a minha mãe dizia-me que a felicidade era a chave da vida. Quando fui
para a escola, perguntaram-me o que queria ser quando fosse grande. Escrevi
feliz. Então eles disseram-me que eu não tinha entendido o exercício. E eu
disse-lhes que eles não entendiam a vida.” John Lennon.
Como qualquer humano
explicado por Freud, somos o resultado da disputa entre o nosso “id”, vertente
primária subjugada pelo instinto, o nosso “ego”, bússola de navegação pela
realidade externa, e o nosso “superego”, o árbitro implacável que vigia e
obriga os outros dois estádios a permanecerem entre os limites da moral vigente
e a considerar os seus dilemas.
Poderemos falar de um “superego pedagógico”, que obrigue os que têm por missão orientar os seres em crescimento a não lhes dar o que não lhes deve ser dado, mesmo que imposto pelos normativos modernistas dos que mandam, prolongando a abulia e subjugando as vontades? Deverá esse “superego” atípico impedir que os professores empurrem as crianças pelos corredores da pressa e do utilitarismo, quando as deviam guiar pelos trilhos calmos do personalismo e dar-lhes tempo para terem tempo? Trilhos onde os livros tradicionais ganhem aos meios electrónicos, a memória seja uma qualidade intelectual respeitada e o silêncio cultivado como meio para nos encontrarmos connosco próprios, aprendendo que até um cabelo projecta a sua sombra.
A missão de um professor
é também impulsionar e acelerar a evolução da humanidade dos seus alunos,
tornando-os mais sensíveis, ensinando-os a distinguir a verdade da mentira, a
justiça da injustiça, a humildade da vaidade, a bondade da inveja. O desiderato
de um professor é também ter alunos que prefiram uma derrota com honra a uma
vitória com trapaça, que escolham a gentileza à brutalidade, que prefiram ouvir
a gritar, que saibam que chorar é próprio de quem sofre, não diminui e, quando
acontece, só engrandece. A obrigação de um professor é também ensinar aos seus
alunos que só aquece aquilo que se consome, que a falta de uma só trave pode
tombar todo um sistema, que é mais difícil fazer o que o coração dita que o que
os outros esperam, que é impossível tocar uma nuvem mantendo os pés no chão,
que são os erros e as esperanças desfeitas que ajudam a crescer e que, citando
Confúcio, “não poderão mudar o vento mas poderão ajustar as velas do barco para
chegarem onde quiserem”.
Na Escola não vivemos
ao Deus-dará. Vivemos ao Governo-dará, em situação de permanente experiência,
conforme o lado donde sopra o vento, sem ponderar impactos, sem avaliar as
políticas ou com avaliações pré-ordenadas para que os resultados sejam os
pré-decididos. Na Escola permitimos que as teorias sobre a formação de “capital
humano” capturem as teorias sobre o funcionamento da educação integral,
expulsando as artes e as humanidades. Na Escola vivemos obrigados por leis
verga-carácter, constantemente alteradas e interpretadas segundo a conveniência
do legislador, esquecendo o dever que nos assiste: não calar! E calamos. E
desistimos. E pactuamos. Pactuamos com insanos que se julgam profetas e tomam
decisões em nosso nome.
Eu sei que a
complacência produz amigos e a franqueza pode gerar ódios. Mas exponho-me, com
o que sinto. Se queremos resolver e não apenas discutir os problemas da nossa
profissão, temos que começar por tomar consciência de que fomos convertidos em
proletários mal pagos, ao serviço de senhores que não têm que fazer prova nem
de saber, nem de coerência, muito menos de ética, para mandar. Quando a nossa
indignação for maior que o nosso medo, então sim, discutiremos razões em vezes
de colocações. E viveremos, como os outros portugueses, sem pânico de nos
desmembrarem a família em cada ano que começa.
Aldous Huxley escreveu
algures que a ditadura perfeita teria a aparência da democracia. Que seria um
sistema de escravatura onde os escravos teriam amor à sua escravidão. No início
deste ano escolar, abraço os professores do meu país e ouso sugerir-lhes que pensem
no que acabo de escrever.
Professor do ensino
superior (s.castilho@netcabo.pt)
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