Mais uma informação que nos
aquece a alma – a diminuição do desemprego no nosso país, ainda assim tão
excessivo, – feita por um analista
optimista, que desta maneira confirma dados antes transmitidos, mas que Bagão
Félix, ao confirmá-los, logo exerce o seu direito de censor cônscio da
importância desse dado para exprobar o posicionamento dos políticos, que, em
vez de se unirem em regozijo, ainda que ansioso, (pois que a meta a alcançar
seria o zero da percentagem, para uma visão mais ridente do futuro, por utópico
que isso seja), preferem digladiar-se em flechas de ironias ou ataques
mesquinhos, sem se reconhecerem mútuas responsabilidades ou habilidades no fenómeno,
parcos no desportivismo da isenção partidária: “E daqui parto para uma
constatação que não enobrece a politics. De um lado, a oposição que não é
capaz de saudar o essencial destes dados sem quaisquer reticências; de outro
lado, o governo e os partidos apoiantes que ignoram injustamente o quinhão da
responsabilidade do anterior Executivo na diminuição acentuada da taxa de
desemprego.»
Contrariamente, pois, a uma anterior
vaga de exprobação do trabalho, no excessivo da sua carga horária, impeditiva
de uma maior concentração nas coisas aprazíveis de se viver, verificou-se que a
falta de trabalho, conducente à inacção e ao receio do futuro pelo desamparo material,
é bem responsável por tantos traumas no nosso país, que outras estatísticas nos
dizem ser o país que consome mais barbitúricos e que assinala mais depressões
na sua população, a nível mundial, muitas criancinhas desde cedo atalhadas no seu
proceder irreflexivo pelo auxílio de drogas, mas isso é outra conversa.
O certo é que a inacção tem
efeitos psicológicos bem graves. Em contrapartida, há por cá os que açambarcam
os “tachos” e redobram, sem pudor, os risos do seu poder.
Desemprego a descer e a política a desmerecer
Público, 14 de Agosto de 2017
Há dias, foram conhecidos
os resultados do inquérito trimestral ao emprego do INE, relativo ao 2º
trimestre de 2017. Verifica-se uma sensível melhoria no mercado de
trabalho, em praticamente todos os índices. Em termos homólogos comparando
o 2º trimestre de 2017 face ao 2º trimestre de 2016 (assim se evitando desvios
de sazonalidade), podemos constatar que:
– A população empregada
cresceu 3,4% (+158 mil), o que permitiu diminuir a taxa de desemprego em 2
pontos percentuais (de 10,8% para 8,8%) correspondente a menos 98 mil
desempregados e aumentar a taxa de actividade de 50,1% para 50,8%.
– As duas expressões de
desemprego mais gravosas também tiveram uma assinalável quebra: desemprego
de longa duração, DLD, de 6,9% para 5,2% e desemprego juvenil de 26,9% para
22,7%. Os DLD representam agora 59% do total contra 64% há um ano.
– Ainda que com valor mais
reduzido, assinalam-se o número de desempregados que têm formação superior
(87 mil) e os jovens à procura do primeiro emprego (54 mil).
– Vista do lado do emprego,
a evolução foi também positiva. Para o já citado aumento do volume de emprego
de 158.000 trabalhadores contribuíram fundamentalmente os trabalhadores por
conta de outrem com contrato sem termo (142.000), já que os contratados com
termo tiveram um ligeiríssimo aumento (16.000). Excelente resultado que se
deve às empresas, não havendo dados para se saber qual o impacto do aumento do
emprego público pago pelos contribuintes.
– A população
tecnicamente inactiva, mas desencorajada para voltar ao mercado de trabalho (os
chamados inactivos disponíveis, mas que não procuram emprego), reduziu-se em
14,5% (de 239 mil para 205 mil). Igualmente o trabalho a tempo parcial
subutilizado diminuiu 6,7%, mantendo, todavia, um valor elevado de 210 mil
pessoas. Se considerarmos a taxa de subutilização do trabalho, que é o
indicador que agrega a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a
tempo parcial, os inactivos à procura de emprego, mas não disponíveis e os
inactivos disponíveis, mas que não procuram emprego, todos em relação à
população activa alargada temos, ainda, a elevada e indesejável taxa de 16,6%,
correspondentes a 904 mil pessoas.
Em suma, dados
globalmente positivos, ainda que longe do início do século. E
daqui parto para uma constatação que não enobrece a politics. De um lado,
a oposição que não é capaz de saudar o essencial destes dados sem quaisquer
reticências; de outro lado, o governo e os partidos apoiantes que ignoram
injustamente o quinhão da responsabilidade do anterior Executivo na diminuição
acentuada da taxa de desemprego (por exemplo, é bom recordar que a maior
descida se verificou entre o 2º trimestre de 2013 e de 2014, de 16,4% para
13,9%, isto é 2,5 pontos percentuais) e, também, em algumas medidas políticas
que, seguramente, contribuíram para a melhoria da evolução do emprego. De ambos
os lados, silêncios parciais, ensurdecedores e comprometidos. Será que em
Portugal temos de aturar sempre governos e maiorias (ainda que circunstanciais
e tácticas) que, relativamente a governos anteriores, ignoram o que é positivo
e os responsabilizam por tudo o que é negativo, bem como oposições que não são
capazes de reconhecer mérito a governos em funções? Que pobreza!
Também no contexto
europeu, o desemprego é totalmente ignorado nos tratados (em 410 páginas dos
tratados e da carta dos direitos fundamentais não se encontra uma vez sequer a
palavra “desemprego”), sendo encarado como uma mera resultante das outras
variáveis macroeconómicas.
A verdade é que a mais
personalizada avaliação ético-social da política está sempre relacionada com a
criação ou destruição de emprego. Porque se trata de pessoas, não apenas de frios
números.
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