quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Fox



Quando o Bruno nasceu, o Fox já tinha cinco meses e onze dias, podia considerar-se um cãozinho mimado, que fora oferecido ao Luís e à Ângela, logo adaptado ao colo meigo do dono, que nele escondia as próprias fragilidades de sonhador, num mundo que o não compreendia. Mas o Bruno nasceu e o Fox passou a ocupar um espaço incompatível com as exigências requeridas por um bebé. O Fox veio para nossa casa, cãozinho livre de trela, habituado a ir logo de manhã com o meu marido, à papelaria comprar o jornal, e ao café, esperar que o novo dono o lesse. Foi um cão vivo e feliz, habituado aos espaços e correrias da casa antiga, mas facilmente se adaptando aos espaços mais exíguos desta, a idade ganhando em discrição e sossego. Julgo que nunca se esqueceu de que o Luís fora o primeiro a dar-lhe mimo, mas com o meu marido ia várias vezes lá fora, satisfazer os seus desejos de ar e movimento. Fazia dezasseis anos em Outubro, mas não chegou lá, ultimamente tendo de tomar os remédios para um corpo velho e umas pernas frágeis. Não é fácil assistir ao envelhecimento de um companheiro da nossa vida, sempre meigo e inteligente, correspondendo ao aforismo tantas vezes ouvido, de que aos animais “só lhes falta falar”. Do Fox bom e meigo que respondia também ao assobio do Bruno, ficam só recordações de companheirismo e dedicação. O final, de sofrimento e aflição, é para esquecer. Morreu ontem, 27/9, fazia 16 anos em 19 de Outubro.

Um comentário:

Ricardo disse...

Fox, companheiro do Luís e de todos os seus irmãos por igual. Completava o seu aniversário no dia do meu aniversário natalício. E era normalmente nas festas de aniversário de todos nós que nos encontrávamos. E ele estava sempre à espera dos retardatários, à porta do respetivo carro, para os cumprimentar, pois conhecia as viaturas pelas peculiaridades do motor. De quando em vez trazíamos um brinquedo que ele aceitava com alegria mas que logo punha de parte para se dedicar à paixão pelas bolinhas. Nunca tinha visto outro cão fazer o que ele conseguia. Ora saltava para o murete da floreira, de meio metro de altura por quarenta centímetros de largura, e depois para o relvado, num plano de três degraus abaixo do varandim, ora o fazia de apenas um salto, quando a ânsia de apanhar a bola que todos atirávamos à vez era grande. Mas, de brincadeiras com bola, a que mais me espantava era quando lha escondíamos por entre a vegetação do jardim. Invariavelmente no-la trazia, sempre de cauda a abanar de felicidade. Não desdenhava, porém, uma sessão de carícias e, se a bola se perdeu no tempo substituída pelas dores que lhe atormentavam os ossos, as festas de todos nós acompanharam-no até ao fim...