Quando o Bruno nasceu, o Fox já
tinha cinco meses e onze dias, podia considerar-se um cãozinho mimado, que fora
oferecido ao Luís e à Ângela, logo adaptado ao colo meigo do dono, que nele
escondia as próprias fragilidades de sonhador, num mundo que o não compreendia.
Mas o Bruno nasceu e o Fox passou a ocupar um espaço incompatível com as exigências
requeridas por um bebé. O Fox veio para nossa casa, cãozinho livre de trela,
habituado a ir logo de manhã com o meu marido, à papelaria comprar o jornal, e
ao café, esperar que o novo dono o lesse. Foi um cão vivo e feliz, habituado
aos espaços e correrias da casa antiga, mas facilmente se adaptando aos espaços
mais exíguos desta, a idade ganhando em discrição e sossego. Julgo que nunca se
esqueceu de que o Luís fora o primeiro a dar-lhe mimo, mas com o meu marido ia
várias vezes lá fora, satisfazer os seus desejos de ar e movimento. Fazia dezasseis
anos em Outubro, mas não chegou lá, ultimamente tendo de tomar os remédios para
um corpo velho e umas pernas frágeis. Não é fácil assistir ao envelhecimento de
um companheiro da nossa vida, sempre meigo e inteligente, correspondendo ao
aforismo tantas vezes ouvido, de que aos animais “só lhes falta falar”. Do Fox
bom e meigo que respondia também ao assobio do Bruno, ficam só recordações de
companheirismo e dedicação. O final, de sofrimento e aflição, é para esquecer.
Morreu ontem, 27/9, fazia 16 anos em 19 de Outubro.
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
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Um comentário:
Fox, companheiro do Luís e de todos os seus irmãos por igual. Completava o seu aniversário no dia do meu aniversário natalício. E era normalmente nas festas de aniversário de todos nós que nos encontrávamos. E ele estava sempre à espera dos retardatários, à porta do respetivo carro, para os cumprimentar, pois conhecia as viaturas pelas peculiaridades do motor. De quando em vez trazíamos um brinquedo que ele aceitava com alegria mas que logo punha de parte para se dedicar à paixão pelas bolinhas. Nunca tinha visto outro cão fazer o que ele conseguia. Ora saltava para o murete da floreira, de meio metro de altura por quarenta centímetros de largura, e depois para o relvado, num plano de três degraus abaixo do varandim, ora o fazia de apenas um salto, quando a ânsia de apanhar a bola que todos atirávamos à vez era grande. Mas, de brincadeiras com bola, a que mais me espantava era quando lha escondíamos por entre a vegetação do jardim. Invariavelmente no-la trazia, sempre de cauda a abanar de felicidade. Não desdenhava, porém, uma sessão de carícias e, se a bola se perdeu no tempo substituída pelas dores que lhe atormentavam os ossos, as festas de todos nós acompanharam-no até ao fim...
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