Gente de quem muito se falou
hoje, porque justos Prémios Nobel da Paz
os galardoaram, gente que amanhã será esquecida, na profusão dos horrores que
somam e seguem na nossa Terra, de destruição contínua, de estruturas, de
valores, de inocências. De paz, afinal, que parece apostada em se insurgir
contra os desígnios do Bem, da súplica do pequeno “ bicho da Terra”, a um “céu
sereno” espantosamente vingativo, da meditação camoniana. Mas continuarão
heróis, como esse médico da RDC, Denis
Mukwege salvando vidas, tratando as almas, apelando contra as crueldades
praticadas no seu país, de riqueza mineira inspiradora de violências
indescritíveis – referidas, neste caso, as sobre o sexo feminino. Um herói que
irá continuar a sê-lo, ele e a sua equipa, se lho permitirem os fautores da
guerra, no seu país. Como essa pobre rapariga Nadia
Murad, “a
jovem Yazidi que partilhou a sua dor com o mundo”, recontando a
sua história macabra, de fugitiva de uma situação de indescritível barbárie, e
que heroicamente se tornou de vítima em corajosa activista, desmontando a
sordidez desses tais adeptos de uma religião tirânica, pretexto para o seu
comportamento criminoso, a que o mundo parece fechar timoratamente os olhos, permitindo,
democraticamente, a sua proliferação.
Não, estes heróis “não se servem mortos”, como aquele que
Reinaldo Ferreira descreve na sua “Receita para fazer um herói”. Permanecerão vivos, porque reconhecidos socialmente e
economicamente, irão continuar no seu repúdio do Mal, no seu apelo do Bem.
Ainda bem que a dinamite da descoberta de Alfred Nobel possibilita tais
recompensas a tantos valores que, sem ela, morreriam, talvez, na indiferença
universal. Ainda bem que países benfeitores abriram os braços a Nadia
Murad, ainda bem que Denis Mukwege estudou e tirou cursos
para a sua participação benfeitora no seu mundo.
TEXTOS do OBSERVADOR:
“Este não é um
problema só das mulheres, é um problema da humanidade.” Denis Mukwege, o médico
que sara os corpos e tenta aliviar as almas
Há 10 anos que era considerado, mas só agora recebeu o Nobel. O
ginecologista da RDC não salvou apenas vidas, como denunciou o uso da violência
sexual como arma de guerra dos grupos armados.
Denis Mukwege abriu o Hospital Panzi em 1999
“Os corpos das mulheres
tornaram-se verdadeiros campos de batalha e a violação está a ser usada como
arma de guerra.” A frase, pronunciada por Denis Mukwege aquando da entrega do Prémio
Sakharov em 2014, resume todo o programa deste médico
ginecologista, que é mais do que um clínico — é um verdadeiro activista.
Nasceu em 1955 na República
Democrática do Congo (RDC), o terceiro de nove filhos de um pastor Pentecostal.
Em criança, Denis acompanhava várias vezes o pai em visitas a membros da
comunidade — o que, segundo conta, o inspirou a enveredar pela Medicina. Especializou-se
em pediatria e assim continuaria a cuidar de crianças vida fora, não fosse uma
experiência ter-lhe mudado a vida: no Hospital Lemera, na sua terra natal de
Bukavu, como pediatra teve contacto
de perto com muitas mães que, por falta de tratamento e acompanhamento devido,
sofriam de profundas lesões genitais após o parto. Foi aí que tomou a decisão
de ir estudar ginecologia e obstetrícia para a
Universidade de Angers, na esperança de poder ajudar outras como elas.
A experiência em França foi
transformadora, como o próprio Mukwege reconheceu à revista Lancet,
anos depois: “Os professores que me deixaram uma marca maior foram os que
combinavam humanidade e profissionalismo, com um foco nos valores humanos”,
contou.
A medicina puramente mecânica assusta-me. Quando vejo médicos que
combinam o profissionalismo com o humanismo, esses sim, são os que estão a
fazer bem o seu trabalho.”
De regresso à RDC, Mukwege
abriu a sua própria clínica, o Hospital Panzi. O
objectivo inicial era o de contribuir para reduzir a taxa de mortalidade
materna, ou seja, o número de mulheres que morrem por complicações na gravidez
ou no parto — causa de morte de 35%
das mulheres no país. Mas a primeira paciente a chegar à clínica, em
setembro de 1999, alteraria o rumo do próprio Hospital: “Era uma mulher que
tinha sido violada por várias pessoas, e os seus genitais estavam dilacerados.
Ela chegou com ferimentos muito, muito graves”, recordou à News Deeply o
cirurgião.
Desde aí, só nos primeiros
três meses, 45 mulheres foram operadas por Mukwege por problemas semelhantes. E
foi então que o médico percebeu que estava perante um problema grave da
RDC. “Ao
fim de seis meses percebi que muitas das pacientes vinham ter comigo com a
mesma história: ‘Fui violada e eles depois atingiram-me com uma baioneta’ ou
‘fui violada e eles depois queimaram borracha nos meus genitais’”, explicou o médico. Foi aí que Mukwege entendeu que a violência
sexual estava a ser aplicada não apenas por motivações pessoais, mas usada como
arma de guerra nos conflitos que opõem variadas milícias na RDC.
A RDC (antigo Zaire) está mergulhada num conflito sangrento que se
arrasta há mais de 20 anos pelo controlo de um dos países do mundo mais rico em
minerais. A Segunda Guerra do Congo terminou oficialmente em 2003, mas o país
continua mergulhado em instabilidade política e os vários conflitos internos
têm sido usados como desculpa pelo Presidente Joseph Kabila para se manter no
poder — adiando eleições desde dezembro de 2016, altura em que deveria
abandonar o cargo.
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Denis Mukwege é cirurgião ginecológico. O seu hospital, abe desde 1999, já tratou 50 mil mulheres
(SAFIN HAMED/AFP/Getty Images)
A RDC é um dos países mais perigosos para se
ser mulher em todo o mundo, tendo sido apelidada pelas Nações Unidas de
“capital da violação”. Os dados mais recentes sobre a
violência sexual no país, de 2011, dão conta de uma média de 48 mulheres violadas por hora.
Ao todo,quase dois milhões de mulheres congolesas dizem
já ter sido violadas pelo menos uma vez na vida. Num
país em guerra há muitos anos, onde as mulheres assumem posições de charneira
na economia familiar pela falta de homens e onde os grupos armados proliferam,
são muitas as situações em que uma mulher se vê vulnerável fora de casa, à
mercê de grupos de homens. Em 2013 um soldado de 16 anos, Noel Rwabirinba,
resumiu a visão destas milícias face às mulheres: “Se vemos raparigas, é nosso
direito podermos violá-las”, disse o adolescente, que admitiu ter violado 53 mulheres
até então.
São estas mulheres que acabam muitas
vezes por bater à porta do Hospital Panzi, feridas e mutiladas. Segundo o Hospital de
Mukwege, 12% das suas pacientes sofrem de sífilis e
6% tem o vírus do HIV. Ao todo, mais de 50 mil mulheres já foram tratadas por
Mukwege e a sua equipa desde 1999. E o médico faz questão de incluir também
apoio mental no tratamento destas vítimas: “Muitas
vezes é muito importante ajudá-las a sarar psicologicamente e dizer-lhes ‘tu
não estás destruída. Eles querem destruir-te, mas tu continuas a ser uma
mulher. És uma mulher e tens de ser forte’”, recorda Mukwege.
Para além do seu trabalho como
médico, o ginecologista assume também uma postura de activista, denunciando a
violência que se vive no seu país.
Vemos mais e mais mulheres a
chegar do centro do país, onde antes não havia conflito. Isso é resultado de
uma metástase da violência e dos acordos de paz que não se respeitam. Na
verdade, é preciso que estes grupos sejam desarmados mentalmente, no plano
psicológico, o que não está a ser feito”, declarou Mukwege à Agência Lusa, em
julho de 2017.
A sua postura politizada, defendendo as vítimas que trata, trouxe-lhe
reconhecimento internacional, mas também sérios problemas na RDC. Em outubro de
2012, Mukwege e a sua família foram violentamente atacados na sua casa. Cinco homens, armados com Kalashnikovs,
entraram na residência do médico, em Bukavu, e fizeram reféns as suas duas
filhas até
Mukwege chegar a casa. Quando isso aconteceu, o guarda-costas do médico tentou
intervir para proteger a família e acabou por morrer, atingido a tiro. Mukwege
e a família conseguiram fugir para a Bélgica.
O médico, contudo, não conseguiu ficar longe de Bukavu durante muito
tempo e, no ano seguinte, regressou à sua clínica. A motivação dos atacantes
nunca foi oficialmente apurada, mas muitos apontaram o facto de, semanas antes
do sequestro, Mukwege ter feito um discurso nas Nações Unidas onde
responsabilizou directamente o Governo da RDC pela proliferação de conflitos no
país e pela violência sexual a que milhares de mulheres estão sujeitas.
O desconforto da liderança política de Kabila perante este
ginecologista de 63 anos é tal que, esta sexta-feira, em reacção à atribuição
do Nobel a um dos seus cidadãos, o ministro das Comunicações Lambert Mende
tenha reagido à Associated Press reconhecendo o “trabalho tremendo” realizado
por Mukwege na Medicina, mas sublinhando que o clínico tem tendência a
“politizar” o seu trabalho humanitário.
O Comité de Oslo concordou com
essa definição, mas, ao contrário do regime de Kabila, vê-la como sendo
positiva: “Denis Mukwege é o símbolo
mais destacado e unificador, tanto nacional como internacionalmente, da luta
para acabar com a violência sexual na guerra e nos conflitos armados”, declarou
o painel do Nobel da Paz. Segundo os rumores, o Comité tem nomeado Mukwege para
a short-list nos últimos anos, mas nunca antes o tinha selecionado para receber
o Prémio. Jan Egeland, presidente do Conselho para os Refugiados da
Noruega, declarou no Twitter que há dez anos indicou pela primeira vez ao
Comité o nome do médico, classificando esta escolha para o Nobel da Paz como a
“melhor em muito tempo”.
A filosofia de Mukwege é simples: o papel da violência sexual nos
conflitos é tão grave como a violência armada e este é um problema de todos,
que tem de ser combatido por todos. “Este não é um problema só
das mulheres, é um problema da humanidade e os homens têm de assumir
responsabilidades para acabar com ele”, declarou o médico em 2013 numa entrevista. “Não é um problema de África. Na Bósnia, na
Síria, na Libéria, na Colômbia, temos a mesma coisa.”
Quando a atribuição do Nobel
foi anunciada, Mukwege estava no meio de uma operação, tendo sido interrompido
por um grupo entusiasmado: “De repente, as pessoas entraram e contaram-me as
notícias”, disse mais tarde, já no meio dos festejos. O maior reconhecimento
vindo da comunidade internacional interrompeu-o a fazer o trabalho que faz
todos os dias, há quase 20 anos: sarar os corpos, tentar aliviar as almas e
relembrar ao mundo o que tem de ser feito.
“Se
receber o Nobel, recebê-lo-ei com o coração partido.” Nadia Murad, a jovem
Yazidi que partilhou a sua dor com o mundo
5/10/2018
Foi sequestrada pelo Estado Islâmico e usada como escrava sexual, como
muitas outras mulheres da mesma minoria religiosa. Desde a sua fuga, usou todos
os momentos para denunciar o que lhes aconteceu.
2014, era verão, e Nadia Murad era apenas uma jovem Yazidi de 21 anos
que sonhava ser cabeleireira, quando toda a sua vida mudou. Num dia quente de
agosto, a sua aldeia de Kojo, no Iraque, foi invadida por um grupo armado, que
trazia bandeiras negras com letras brancas. Os soldados do Estado Islâmico não
tiveram piedade perante as aldeias onde viviam os Yazidis, considerados
“infiéis” pelo grupo terrorista: mataram os homens e as mulheres mais velhas e
tornaram os rapazes crianças-soldado e as mulheres e raparigas jovens em
escravas sexuais. Nadia foi uma delas.
Seis membros da sua família foram executados, incluindo a mãe — cujo
corpo acabaria por ser encontrado mais tarde numa vala comum. Nadia foi levada
num autocarro juntamente com mais de outras 100 jovens para Mossul, onde foram
fechadas num edifício com outras centenas de mulheres Yazidi, trazidas de
outras aldeias. Na noite seguinte, teria início o terror.
“Na noite seguinte um grupo
de militantes do Daesh veio à casa. As mulheres começaram a gritar
desesperadas. Algumas desmaiaram. Cada guerrilheiro
escolheu uma rapariga. Algumas eram bem mais novas do que eu, tinham entre dez
e 12 anos. As raparigas tentaram resistir, mas foram obrigadas a ir com os
homens. As mais novas agarravam-se às mais velhas a chorar. O
homem que me escolheu era enorme, um monstro. Estava petrificada de medo.
Levou-me para o andar de baixo. Eu não parava de chorar. Disse-lhe que era
demasiado jovem para ele, mas pegou em mim. Deu-me pontapés e espancou-me.”
O relato dessa primeira de
muitas noites de terror foi feito pela própria ao jornal Expresso,
em 2016 — ano
em que Nadia recebeu o Prémio Sakharov de direitos humanos, entregue pelo
Parlamento Europeu, a par de Lamiya Aji Bashar. A decisão foi tomada para homenagear as duas Yazidis por terem
denunciado publicamente a violência sexual a que foram sujeitas por membros do
Estado Islâmico.
Agora, dois anos mais tarde,
Nadia é escolhida para receber o Prémio Nobel da Paz, tornando-se a segunda
laureada mais jovem de sempre, aos 25 anos (Malala Yousafzai foi a mais nova,
com 17 anos). A denúncia sistemática que tem feito dos abusos a que a minoria
Yazidi, uma das mais antigas do Iraque, foi sujeita pelo Estado Islâmico
valeu-lhe várias distinções, como a nomeação de Embaixadora da Boa-Vontade da
ONU para a Dignidade das Pessoas Vítimas de Tráfico. A sua campanha incessante,
alertando para o calvário daquela minoria religiosa, contou com a ajuda da advogada
Amal Clooney, o que lhe deu ainda mais visibilidade, e
trouxe frutos: as Nações Unidas acabaram por pedir
à comunidade internacional que “reconheça o
genocídio cometido pelo EI contra os Yazidis e que adote as medidas necessárias
para levar o caso à Justiça”. Nadia gostaria de ver esse crime julgado no
Tribunal Penal Internacional, por considerar — como a ONU — que há provas
suficientes para sustentar a acusação de genocídio.
Mas foi o relato cru e duro de Nadia, de rosto descoberto, sobre a
violência sexual a que foi sujeita, que lhe valeu o galardão de Oslo. Na
sua nota a propósito da atribuição do prémio, o Comité do Nobel destacou as
cerca de três mil mulheres que terão sido violadas repetidamente por membros do
Estado Islâmico, num tipo de abuso “sistemático” e parte
de “uma estratégia militar”, tornando
estas mulheres numa “arma usada na luta contra os Yazidis e outras minorias
religiosas”. Actualmente, mais de 100 mil Yazidis vivem
fora do Iraque e muitos outros são deslocados internos no
Curdistão iraquiano.
Nadia Murad tem contado e recontado a tortura de que foi vítima em
várias entrevistas, bem como no seu livro “Eu Serei a Última”
Objectiva). As filas de mulheres, alinhadas, para serem vendidas como
mercadoria. Os homens que esfregavam as suas longas barbas nos rostos das
raparigas — muitas delas crianças — enquanto as seleccionavam como carne no
talho, para lhes servirem de escravas sexuais. As queimaduras de cigarro que
lhes deixavam na pele, para as torturar. As violações sexuais, diárias. Foram
semanas de cativeiro em que Nadia esteve sujeita a estas e outras humilhações.
Tentou fugir uma primeira vez, mas foi recapturada. O castigo foi ser fechada
numa sala, despida e violada em grupo, por vários homens, até desmaiar. Os
membros do EI chamaram à prática “Jihad sexual”.
Algum tempo depois, Nadia tentou fugir uma segunda vez. O homem com
quem tinha sido forçada a viver saiu de casa, para ir comprar roupa e
maquilhagem para Nadia já que, como lhe disse, ele a tinha vendido a outro
homem. A jovem aproveitou o momento: fugiu e bateu à porta dos vizinhos,
habitantes de Mossul sem ligações ao Daesh. A família ajudou-a, escondendo-a em
casa durante 17 dias e depois ajudando-a a fugir para se reunir com o irmão do
outro lado da fronteira, em Kirkuk.
No dia seguinte, já num campo de refugiados, conheceu a jornalista da BBC Nafiseh Kohnavard, e deu-lhe uma
entrevista, contando-lhe o horror a que tinha sido sujeita. Esse momento foi
recordado pela jornalista esta sexta-feira, pouco depois do anúncio da
atribuição do Nobel: “Conheci Nadia Murad um dia depois de ela ter conseguido
fugir de Mosul. Disse-lhe
que podíamos fazer a entrevista mantendo-a anónima, mas ela recusou. ‘Não,
deixem que o mundo veja o que nos aconteceu’,
disse ela. Agora, é galardoada com o Nobel da Paz.”
Do campo de refugiados, Nadia conseguiu chegar à Alemanha, através
de um programa de asilo para Yazidis. Desde então, tornou-se porta-voz da
minoria religiosa, dando discurso atrás de discurso e entrevista atrás de
entrevista, recontando tudo a que foi sujeita, sempre de rosto descoberto — uma
atitude “de grande coragem” para o Comité de Oslo, já que provou que Nadia
sempre se recusou “a aceitar os códigos sociais que exigem às mulheres que
fiquem em silêncio e envergonhadas pelos abusos a que foram sujeitas”. “É claro
que não estou confortável quando falo destas coisas”, admitiu a própria numa
entrevista no ano passado, ao Christian Science Monitor.
Não estou feliz por ter de falar todos os dias em frente às câmaras
e ter jornalistas a perguntarem-me sobre como fui violada. A violação no Médio
Oriente é uma coisa que traz muita vergonha. Penso nisto à noite, em tudo o que
disse e em como me senti.”
É o preço que Nadia decidiu pagar ao tornar-se porta-voz das denúncias
do massacre religioso a que os Yazidis foram sujeitos. Na sua comunidade, é
vista como uma estrela: “Adoro-a tanto, espero que ela um dia se torne
Presidente do Iraque”, declarou, por exemplo, um deslocado Yazidi à Economist,
num campo de refugiados, em março do ano passado.
O terror pelo qual Nadia teve de passar, contudo, pesa-lhe sobre os
ombros, como uma assombração. “Sinto que cada parte de mim mudou nas mãos
deles: cada meada de cabelo na minha cabeça, cada parte do meu sangue, ficaram
velhos. Fiquei gasta graças ao que eles me fizeram e agora sou completamente
diferente do que era”, partilhou numa entrevista à Vice,
em 2016. Talvez por isso, questionada sobre a possibilidade de vir a
receber o Prémio Nobel da Paz — já nesse ano corria o rumor de que poderia
estar na short-list —, Nadia foi absolutamente
sincera: “Sei que para muita gente, ser nomeada para o
Nobel da Paz seria uma coisa muito boa. E é claro que ajudaria a minha causa, a
de conseguir libertar aqueles que ainda estão em cativeiro”, reconheceu. “Mas
mesmo que eu eu receba o Nobel, recebê-lo-ei com o coração partido.” Por
ela, por todos os Yazidis e por todas as mulheres violadas, violentadas e
humilhadas, usadas como peões nas guerras dos homens.
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