terça-feira, 30 de outubro de 2018

Histórias económicas europeias objectivas, histórias sul-americanas sob o signo da subjectividade lusíada



Teresa de Sousa correcta, informada, preocupada com o rumo europeu, com os casos da Itália que, segura de si, não se sujeita aos padrões orçamentais propostos por Bruxelas, entre outros problemas que atravessam o mundo. José Pacheco Pereira dando o seu parecer de DDT, num saber premonitório arrogante, coado por uma subjectividade sem o equilíbrio preciso, que um ou outro comentarista lhe aponta. Bolsonaro foi, entretanto, eleito, veremos se as suas previsões baterão certo. Fica-nos a informação de que JPP é descendente de Duarte Pacheco Pereira, que conhecíamos como autor do Tratado “Esmeraldo de Situ Orbis”, para além das outras patentes de que PP não deixa de nos informar e que encontramos historiadas na Internet.
I -  Um texto de  TERESA DE SOUSA, PÚBLICO, 24 de Outubro de 2018:
Ninguém quer partir a corda, nem em Bruxelas nem em Roma
1. O mergulho das bolsas no vermelho que ontem se verificou da Ásia aos EUA, passando pela Europa, não pode ser apenas atribuído ao braço-de-ferro entre Bruxelas e Roma por causa da proposta de orçamento que o Governo italiano enviou para a Comissão e que a Comissão recusou. Os analistas referem uma série de efeitos conjugados, que passam por Itália mas também pelo cenário, que deixou de ser impossível para passar a ser apenas improvável, de um Brexit sem acordo, até ao efeito nos mercados petrolíferos do escândalo do assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que está a tomar proporções dramáticas.
A Arábia Saudita, que produz um em cada 10 barris de crude no mundo, tem o papel de “estabilizador” dos preços do petróleo. As reacções ocidentais, exigindo um total esclarecimento do que se passou no consulado saudita em Istambul, podem vir a desestabilizar os mercados. Matteo Salvini não é, portanto, o único “culpado”.
2. Mas o braço-de-ferro entre a Comissão e o Governo italiano é um sinal de perturbação que não pode ser ignorado, embora fosse largamente antecipado. Roma enviou para Bruxelas uma proposta de Orçamento prevendo um défice que não está em linha com as recomendações da Comissão nem com as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, implicando uma subida de 1,9 por cento para 2,4 por cento.
Não foi fácil ao Governo de Roma, fruto de uma coligação entre o movimento populista Cinco Estrelas e a Liga nacionalista de Matteo Salvini, encontrar ele próprio um entendimento sobre as grandes prioridades orçamentais. Luigi Di Maio, o vice-primeiro-ministro do Cinco Estrelas, insistiu no “rendimento cidadão” de 780 euros  – um rendimento mínimo atribuído a todos os italianos, que prometera na campanha eleitoral –, mesmo que de forma faseada. Di Maio recolheu a maioria dos votos no Sul da Itália, a região com níveis de pobreza mais elevados. Salvini prometeu uma baixa generalizada dos impostos sobre as pessoas e as empresas. Os seus votos vieram do Norte rico e desenvolvido.
A conjugação das duas promessas fez disparar o défice. A reacção de Bruxelas foi declará-lo inaceitável e devolvê-lo à precedência: uma estreia. Roma respondeu que não tencionava alterá-lo. Salvini recorreu à sua habitual retórica: “É bom que os senhores da especulação saibam que isso não muda nada, não faremos marcha atrás. (…) Eles [a Comissão] não estão a atacar um governo, mas um povo. São estas coisas que enfurecem os italianos.” O primeiro-ministro Giuseppi Conte, independente, pôs alguma água na fervura:  “Read my lips: não há a mínima hipótese de um Italexit, de Itália sair da Europa ou da zona euro”.
3. Como se pode sair daqui? É altamente improvável que qualquer dos lados esteja disposto a quebrar a corda, mesmo que tencione esticá-la o mais possível. Por razões facilmente entendíveis. A Itália não é um país que possa ser resgatado como foram Portugal, a Grécia ou a Irlanda. É a terceira economia do euro e uma das maiores do mundo.
Em Bruxelas e nas capitais europeias, há perfeita consciência do que significaria a insolvência de um país com esta dimensão. Os efeitos políticos, como se viu na crise anterior, seriam igualmente devastadores. “A Itália é demasiado grande para falhar, económica e politicamente”, escreve o diário alemão Handelsblatt. Do seu lado, Salvini, cuja popularidade não pára de aumentar, sabe que há limites para a sua retórica antieuropeia.
A banca italiana já recuperou, em boa medida, da crise que alastrou por toda a zona euro, a partir de 2009, mas ainda tem fragilidades. Precisa de financiamento externo e possui activos que não pode ver desvalorizados subitamente.
Salvini mantém um discurso que não é pura e simplesmente antieuropeu, mas apenas contra “esta Europa”. A sua força está na crescente popularidade do governo do qual ele é a figura principal, que atinge hoje os 60 por cento. A sua fraqueza advém da persistente estagnação da economia italiana, que se mantém há quase duas décadas – os sinais de retoma são incipientes e esta é também a justificação apresentada em Bruxelas para a dimensão do défice.
Cairá na tentação da chantagem, sabendo até que ponto a Europa teme uma crise italiana? Pode ser, mas dificilmente irá ao ponto de quebrar a corda. A outra boa notícia é que, até agora, o contágio italiano ainda não se propagou a nenhum das economias do Sul.
COMENTÁRIOS:
 às armas, às armas, pela Pátria lutar, contra os LADRÕES marchar, marchar 24.10.2018: Esta posição do governo italiano é próxima do que defendia a esquerda portuguesa para Portugal. Suponho que o BE e o PCP não deixarão de vir anunciar apoio a esta medida do governo italiano.
António C. Rocha, 24.10.2018: Creio que a corda 'já partiu' … agora resta apenas saber quem cede. E se ninguém ceder, a UE estilhaça-se. Portugal, profundamente dependente da UE será dos países mais afectados da Europa e nada nos salvará no futuro mais próximo. Adivinham-se tempos extremamente difíceis para os portugueses … mas o nosso governo e o presidente dormem sossegadamente na forma!
II -OPINIÃO - A perda do Brasil por alguns (espero que poucos...) anos
Vão ser anos terríveis para quem, como eu, admira o Brasil e muitas vezes o dei como exemplo de uma vitalidade que há muito já não temos.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 27 de Outubro de 2018
Existe uma tese de que um antepassado meu, Duarte Pacheco Pereira, teria sido o descobridor do Brasil e não Pedro Alvares Cabral. Essa descoberta teria sido mantida sigilosa para que, na competição com Castela, fosse possível deslocar a divisão do Tratado de Tordesilhas de modo a incluir o “desconhecido” Brasil, sendo Duarte Pacheco Pereira um dos signatários do tratado. Camões gostava tanto da personagem que lhe dedicou quase um canto como “Aquiles Lusitano”. O seu retrato austero e guerreiro, de espada e armadura, dominou sempre aquilo que antes era a “sala de visitas” de casa dos meus pais e está hoje perto de mim, numa “sala de retratos”, junto dos Pachecos antigos, sombras da minha sombra.
Digo isto porque vamos perder o Brasil por alguns anos de ferro e fogo, se Bolsonaro ganhar as eleições, processo em que se sabe como vamos entrar, mas não se sabe como vamos sair. Vão ser anos terríveis para quem, como eu, admira o Brasil e muitas vezes o dei como exemplo de uma vitalidade que há muito, pelo menos desde o 25 de Abril, já não temos. Um país em que a língua portuguesa explodiu em criatividade e diversidade, cheia de expressividade e alegria, para desgosto dos puristas, e não foi a ortografia, em nome da qual nos mutilaram o português das suas raízes latinas e por isso nos empobreceram, que nos afastou do português do Brasil, porque este será sempre outra coisa. E será outra coisa, porque o povo, os artistas, desde os autores de literatura de cordel aos grandes cantores, a esse fabuloso João Guimarães Rosa, não param quietos. Beberam, como estava escrito numa legenda Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, que ardeu, “água que passarinho não bebe”, ou seja, cachaça.
Apesar de Salazar e os seus “lusotropicalistas”, apoiados por uma colónia portuguesa cujas figuras gradas eram próximas da nossa ditadura, foi no Brasil que os professores universitários perseguidos, como os matemáticos expulsos à volta de Rui Luís Gomes, e muitos exilados encontraram solidariedade e recursos para poderem trabalhar com uma liberdade que não tinham cá. E foi vindas do Brasil que coisas tão improváveis como as telenovelas ajudaram a mudar os costumes no Portugal profundo, trazendo mulheres que falavam com normalidade do sexo, criando preocupação à nossa Igreja, porque chegavam a sítios onde só se ouvia a voz do padre. Ainda hoje uma manifestação em Portugal, muito antes do Bolsonaro, se tiver brasileiros e em particular brasileiras, os nossos amigos e amigas que para cá vieram trabalhar e estudar, é uma coisa diferente. Onde estão varrem tudo. Não sei se isso vai acabar, porque vamos perder o Brasil por alguns anos, e porque a alegria do seu português vai ter de endurecer, enraivar, servir para lutar.
Algumas dessas qualidades, como sempre acontece, são também defeitos. É difícil encontrar, em todo o mundo, país mais mal governado do que o Brasil, classe política mais corrupta, exclusão, racismo e guetização dos pobres, violência dos pobres e dos ricos. E não estou a falar da ditadura militar, estou a falar da democracia, estou a falar do PT, de Lula e Dilma. E milhões de brasileiros votaram nesta gente. Bolsonaro emergiu deste magma para lhe dar uma expressão ainda mais perigosa e continuar a mesma tradição de mau governo e violência. Chamar-lhe fascista não é rigoroso, é apenas um epíteto negativo. Aliás, é quase um elogio, porque Mussolini sabia escrever e fez os comboios chegar a tempo e nem isso Bolsonaro vai conseguir.
Bolsonaro vai estragar o Brasil, mais do que ele já está. Vai deixar um rastro de mortos, bandidos e inocentes, porque é de sua natureza fazê-lo. Se acreditasse em milagres, punha cem velinhas a uma santa de adoração dos brasileiros, mas não acredito. Mas, se ele perder, eu ponho as velas na mesma e compro um boi para a festa. Falta a bala e a bíblia pra junto com o boi fazer os três B, mas disso prescindo, do boi não. Mas, sem milagre, vai ser precisa muita coragem, muita cara fechada, muita falta de complacência para com aqueles que o poder sempre alicia e compra, muita reflexão sobre o passado e o presente, muita vassoura para varrer quem fez a cama ao monstro, e muita solidariedade para com os brasileiros e todos os que amam a democracia.
COMENTÁRIOS:
Nunes José, 27.10.2018: Como português tenho cada vez mais vergonha dos nossos comentaristas. Temos de aturar opiniões absurdas sem sentido. Julgam que o seu pensamento é o melhor e mais correcto mas não só sabem opinar sobre o que ouviram dizer não sabem sequer ter o discernimento de estudar ou tentar saber por si mesmos quem realmente são as pessoas e o que querem para o seu país. Fazem muita falta Bolsonaros em Portugal, eu gostava de ver o meu país defensor da família, da justiça, do trabalho honesto, das empresas, da ordem e do progresso da nação. Só existe pouca vergonha nas escolas, não há dinheiro na saúde, querem ensinar as crianças que não existe homem e mulher e temos esses comentaristas de esquerda, sim de esquerda a tentar influenciar as pessoas. Tenham vergonha!!!
eng jorge moreira, Viana do Castelo 27.10.2018: Cansei deste tipo de comentário político. Diz o autor, “ .... vão ser anos terríveis. ....”, se Bolsonaro ganhar. E agora? São anos de quê. ??? Com um Senado corrupto, uma câmara corrupta, um STF corrupto, que já nem atua de forma colegial e todos acham normal. Bilhões e bilhões atribuídos pelo PT a regime ditatoriais ( Bolívia, Venezuela, Cuba etc), a Petrobrás sugada para manter o regime, 14 milhões de desempregados, 60 mil homicídios em 2017, 56 000 em 2016, 35 partidos no parlamento , deputados com salários milionários, num país que conquistou,só em 2 anos. 6 milhões de novos pobres. Concluído , vão ser anos terríveis se Bolsonaro ganhar, o presente está bom demais. Melhor não mexer.
amora.bruegas,Tomar 27.10.2018: PPereira, um formando do maoísmo, deslumbrado com factos de antepassados, apelidados pelos maoistas de "fascistas"? As voltas que o mundo dá. Não entendo como pode falar em vitalidade, quando se refere a um regime socialista, símbolo de estagnação..., ou a respectiva imagem não é a Venezuela, Cuba ou CNorte?
José Sousa, 27.10.2018: O homem nem foi eleito e já está ao nível de hitler? Não se preocupe com os Brasileiros. Eles sabem se safar sozinhos e viver com suas escolhas. Não ao contrário de Portugal que viveu séculos à custa do dinheiro das colónias e depois dos biliões da união europeia. E como não se sabe governar, de tempos a tempos tem o FMI a mandar no seus pais. O Brasil com os seus muitos problemas ainda é uma das grandes potências económicas e tem potencial de ser tornar um país de primeiro mundo e fazer concorrência com potencias estabelecidas. Em vários domínios. Portugal não. É o mais pobre da Europa ocidental e quase todos os países da UE já o ultrapassaram. E está velho. Não f* nem sai de cima. E vem dar lições e julgar uma nação soberana. Falta de vergonha na cara.
José Cruz Magalhaes, Lisboa 27.10.2018 10:58: A única realidade que se pode antecipar é que na segunda-feira,dia 28,estará eleito um presidente que não será de todos os brasileiros .Quer ganhe Bolsonaro, como tudo indica, quer seja outro o vencedor, a sociedade brasileira exibe uma fractura exposta, que não tem condições para melhorar. A divisão entre os brasileiros, o ódio visceral e o desprezo a que largas camadas da população votam aos restantes, são o drama que presidente algum irá resolver.

Nenhum comentário: