O seguinte texto duma
estudante de 22 anos, POLITICAMENTE
CORRETO: Muitos beijinhos à avozinha e ao avozinho» - publicado
no OBSERVADOR, foi motivo de chacota de alguém de idade superior à sua,
certamente, dada a forma doutoral com que condenou a argumentação correcta da
jovem, que provavelmente até pertence à sua própria linha política, apoiante que
se afirma do movimento MeToo - e tão só
porque considerou estapafúrdia a intervenção de um participante do “Prós e
Contras”, no despropósito de alargar a questão dos direitos das mulheres aos da
escala juvenil, confundindo princípios de educação com personalidade em
formação, que o beijo à avozinha parece destruir. Já num texto anterior sobre o
“Prós e Contras” eu também vincara essa exibição “educacional” não só desligada
do contexto temático do programa, como reveladora de um pretensiosismo pedagógico
fundado em posições de radicalismo progressista para amesquinhar os constrangidos
parolos, que somos quase todos, alheios a esses efeitos do beijo como
manipulador das personalidades e condicionante dos afectos genuínos. Uma pessoa
destas provavelmente não deixa que os seus pais ou os seus sogros reafirmem o
carinho com que beijaram os seus filhos pequenos, de que esse também dever ter
feito parte, beijando os filhos deles, seus netos, com o afecto de que o beijo
é manifestação suprema, como se verifica no resto da fauna terrestre, talvez
com excepção dos peixes. Vale a pena ler o comentário maldoso desse defensor do
carácter não apoiado em afectos mas em altivez e desprezo, a merecer
palmatoadas, revelador que é de penúria moral e masturbação mental de todo o
tamanho:
Paulo Alexandre: Aqui está um texto de uma estudante que ainda tem
muito que estudar para ser capaz de raciocinar fora das gavetinhas onde lhe
enfiaram o cérebro. Não só revela um tremenda incapacidade para entender aquilo
que foi dito, como demonstra estar a anos-luz de todo e qualquer pensamento
crítico para reflectir adequadamente sobre o assunto.
A pessoa em causa nunca disse
que as criancinhas não deviam beijar avós ou que avós não deviam beijar netos.
O que ele disse é muito claro: que as crianças NÃO DEVEM ser sujeitas a
mecanismos de coação, mais ou menos violentos, onde as fronteiras da sua
intimidade são ultrapassadas. Trata-se de ensinar as crianças a manifestar
afecto porque de facto o sentem e não porque o devem fazer em nome de uma
qualquer lógica de poder.
O autor só quis expressar uma
ideia simples: que o condicionamento para a posse, por parte de terceiros,
começa cedo; procedimentos que forçam as crianças a manifestar um afecto que
não é genuíno, que não é sentido, que lhes é imposto, é meio caminho andado
para formatarmos crianças que, mais tarde ou mais cedo, acreditam que podem
socorrer-se dos mesmos mecanismos de constrangimento das pessoas com quem
mantêm relações afectivas (por exemplo, namorados/as).
Não é por mero acaso que
vivemos numa sociedade onde imperam lógicas de "propriedade" sobre os
parceiros/as das relações afectivas. É de pequenino que se torce o pepino.
A autora deste texto devia
meter a mão na consciência e recordar-se dos tempos em que a avó dela não podia
atravessar a fronteira sozinha sem ter um papelinho do pai ou do marido a
autorizá-la. As mulheres que se submetiam a esse tipo de tratamento pertenciam
às tais que passavam a vida a falar nos grandes valores. Devem ser esses os
valores desta estudante.
É
claro que tal comentário mereceu inúmeros protestos – 163 - em dialogação as
mais das vezes afrontosa, de indignação, embora PA também tenha tido adeptos laborando nos mesmos esquemas mentais
de uma filosofice alinhavada de pedantismo pueril e vão.
Eis a crónica de Teresa
Cunha Pinto:
Muitos
beijinhos à avozinha e ao avozinho
OBSERVADOR,18/10/2018
Deparamo-nos com uma sociedade que vê
desaparecer, a cada dia, aquilo que construiu ao longo de muitos anos, a
inversão dos valores é avassaladora o que só acontece porque se coloca tudo no
mesmo saco.
A propósito do beijinho à avozinha e ao avozinho pouco ou nada há a
dizer mas a verdade é que este desastre de ideia me deixou — e a muitas
pessoas mais, felizmente — incomodada. Verdadeiramente incomodada tal é o
disparate que corre no cérebro das pessoas que em tudo pensam, mas em nada
acertam, tal é a perversidade das ideias.
A verdade é mesmo esta: num mundo onde tudo corre, onde as ideias se
multiplicam, onde a sua proliferação é incontrolável e ilimitada, onde a
desinformação nos invade de dia e de noite e onde os radicalismos surgem por
falta de bom senso, tudo é possível!
Deparamo-nos com uma sociedade que vê desaparecer, a cada dia,
aquilo que construiu ao longo de muitos anos, a inversão dos valores é
avassaladora e assustadora e só acontece porque há confusão de conceitos, há
falta de informação rigorosa e há a desastrosa tendência de se colocar tudo no
mesmo saco, acabando por se perverter a realidade. Dizer que obrigar uma criança a dar um beijinho à avozinha e ao
avozinho é educar para a violência sobre o corpo é o exemplo mais actual da
perversidade que o pensamento da sociedade atingiu. Na sequência do
movimento #MeToo, porque foi num debate centrado neste tema que surgiu esta
frase, é ofensivo para todos os que disseram que se identificaram com os
testemunhos e que contaram a sua história. Esta comparação estapafúrdia que nada traz de bom para Portugal e para
o mundo foi colocada lado a lado com
um tema tão sério como o assédio e a violação. Comparar estas duas
situações é ridicularizar aquela que está na base do movimento, uma vez mais, é
perverter tudo o que foi construído e pensado para um bem comum.
Falar disto sem falar nos
radicalismos é impossível porque eles surgem quando a afirmação pessoal,
política ou mesmo a afirmação da sociedade se sente ameaçada. Aqui reside a
fonte dos radicalismos que têm proliferado actualmente, a necessidade primária
de marcar território, a sede de poder e de auto-afirmação.
Actualmente estes pensamentos
extremados, que nada de bom nos trazem, têm a sorte de conseguirem chegar aos
quatro cantos do mundo pelas facilidades que a internet e as redes sociais
proporcionam. Como em tudo, podem ser usadas para o bem ou para o mal. A
verdade é que as posições extremadas polarizam a sociedade e não dão espaço
para que se construa uma linha de pensamento e de actuação que seja benéfica
para todos. Resta-me
perguntar: no meio de tudo isto onde está o bom senso?
Estudante, 22 anos
Apenas
mais um comentário de quem se sente agredido, e foram inúmeros esses:
frederico fragoso: Cara Teresa, infelizmente hoje em dia tudo se resume a
ser de direita ou de esquerda...de preferência RADICAL...por isso, e para se
conseguir os tais 5 minutos de fama, vale tudo!!! O problema é que muitas
pessoas esquecem-se de usar o cérebro para esgrimir uma ideia...o que resulta
infelizmente no tema que estamos a debater, entre tantos outros. Tenho deveras
muita pena dos Avós deste...(vou lhe chamar ser para não descer o
nível)...Ser...porque provavelmente vão morrer abandonados, porque
sua Exª. não terá tempo para os visitar. Enfim, na procura da felicidade...fica
contente em agredir quem lhe apareça pela frente. Infeliz...
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