sábado, 20 de outubro de 2018

Plutôt, puerilmente incorrecto


O seguinte texto duma estudante de 22 anos, Teresa Cunha Pinto - «POLITICAMENTE CORRETO: Muitos beijinhos à avozinha e ao avozinho» - publicado no OBSERVADOR, foi motivo de chacota de alguém de idade superior à sua, certamente, dada a forma doutoral com que condenou a argumentação correcta da jovem, que provavelmente até pertence à sua própria linha política, apoiante que se afirma do movimento MeToo - e tão só porque considerou estapafúrdia a intervenção de um participante do “Prós e Contras”, no despropósito de alargar a questão dos direitos das mulheres aos da escala juvenil, confundindo princípios de educação com personalidade em formação, que o beijo à avozinha parece destruir. Já num texto anterior sobre o “Prós e Contras” eu também vincara essa exibição “educacional” não só desligada do contexto temático do programa, como reveladora de um pretensiosismo pedagógico fundado em posições de radicalismo progressista para amesquinhar os constrangidos parolos, que somos quase todos, alheios a esses efeitos do beijo como manipulador das personalidades e condicionante dos afectos genuínos. Uma pessoa destas provavelmente não deixa que os seus pais ou os seus sogros reafirmem o carinho com que beijaram os seus filhos pequenos, de que esse também dever ter feito parte, beijando os filhos deles, seus netos, com o afecto de que o beijo é manifestação suprema, como se verifica no resto da fauna terrestre, talvez com excepção dos peixes. Vale a pena ler o comentário maldoso desse defensor do carácter não apoiado em afectos mas em altivez e desprezo, a merecer palmatoadas, revelador que é de penúria moral e masturbação mental de todo o tamanho:


Paulo Alexandre: Aqui está um texto de uma estudante que ainda tem muito que estudar para ser capaz de raciocinar fora das gavetinhas onde lhe enfiaram o cérebro. Não só revela um tremenda incapacidade para entender aquilo que foi dito, como demonstra estar a anos-luz de todo e qualquer pensamento crítico para reflectir adequadamente sobre o assunto.
A pessoa em causa nunca disse que as criancinhas não deviam beijar avós ou que avós não deviam beijar netos. O que ele disse é muito claro: que as crianças NÃO DEVEM ser sujeitas a mecanismos de coação, mais ou menos violentos, onde as fronteiras da sua intimidade são ultrapassadas. Trata-se de ensinar as crianças a manifestar afecto porque de facto o sentem e não porque o devem fazer em nome de uma qualquer lógica de poder.
O autor só quis expressar uma ideia simples: que o condicionamento para a posse, por parte de terceiros, começa cedo; procedimentos que forçam as crianças a manifestar um afecto que não é genuíno, que não é sentido, que lhes é imposto, é meio caminho andado para formatarmos crianças que, mais tarde ou mais cedo, acreditam que podem socorrer-se dos mesmos mecanismos de constrangimento das pessoas com quem mantêm relações afectivas (por exemplo, namorados/as).
Não é por mero acaso que vivemos numa sociedade onde imperam lógicas de "propriedade" sobre os parceiros/as das relações afectivas. É de pequenino que se torce o pepino.
A autora deste texto devia meter a mão na consciência e recordar-se dos tempos em que a avó dela não podia atravessar a fronteira sozinha sem ter um papelinho do pai ou do marido a autorizá-la. As mulheres que se submetiam a esse tipo de tratamento pertenciam às tais que passavam a vida a falar nos grandes valores. Devem ser esses os valores desta estudante.

É claro que tal comentário mereceu inúmeros protestos – 163 - em dialogação as mais das vezes afrontosa, de indignação, embora PA também tenha tido adeptos laborando nos mesmos esquemas mentais de uma filosofice alinhavada de pedantismo pueril e vão.

Eis a crónica de Teresa Cunha Pinto:
POLITICAMENTE CORRETO        
Muitos beijinhos à avozinha e ao avozinho
TERESA CUNHA PINTO
OBSERVADOR,18/10/2018
Deparamo-nos com uma sociedade que vê desaparecer, a cada dia, aquilo que construiu ao longo de muitos anos, a inversão dos valores é avassaladora o que só acontece porque se coloca tudo no mesmo saco.
A propósito do beijinho à avozinha e ao avozinho pouco ou nada há a dizer mas a verdade é que este desastre de ideia me deixou — e a muitas pessoas mais, felizmente — incomodada. Verdadeiramente incomodada tal é o disparate que corre no cérebro das pessoas que em tudo pensam, mas em nada acertam, tal é a perversidade das ideias.
A verdade é mesmo esta: num mundo onde tudo corre, onde as ideias se multiplicam, onde a sua proliferação é incontrolável e ilimitada, onde a desinformação nos invade de dia e de noite e onde os radicalismos surgem por falta de bom senso, tudo é possível!
Deparamo-nos com uma sociedade que vê desaparecer, a cada dia, aquilo que construiu ao longo de muitos anos, a inversão dos valores é avassaladora e assustadora e só acontece porque há confusão de conceitos, há falta de informação rigorosa e há a desastrosa tendência de se colocar tudo no mesmo saco, acabando por se perverter a realidade. Dizer que obrigar uma criança a dar um beijinho à avozinha e ao avozinho é educar para a violência sobre o corpo é o exemplo mais actual da perversidade que o pensamento da sociedade atingiu. Na sequência do movimento #MeToo, porque foi num debate centrado neste tema que surgiu esta frase, é ofensivo para todos os que disseram que se identificaram com os testemunhos e que contaram a sua história. Esta comparação estapafúrdia que nada traz de bom para Portugal e para o mundo foi colocada lado a lado com um tema tão sério como o assédio e a violação. Comparar estas duas situações é ridicularizar aquela que está na base do movimento, uma vez mais, é perverter tudo o que foi construído e pensado para um bem comum.
Falar disto sem falar nos radicalismos é impossível porque eles surgem quando a afirmação pessoal, política ou mesmo a afirmação da sociedade se sente ameaçada. Aqui reside a fonte dos radicalismos que têm proliferado actualmente, a necessidade primária de marcar território, a sede de poder e de auto-afirmação.
Actualmente estes pensamentos extremados, que nada de bom nos trazem, têm a sorte de conseguirem chegar aos quatro cantos do mundo pelas facilidades que a internet e as redes sociais proporcionam. Como em tudo, podem ser usadas para o bem ou para o mal. A verdade é que as posições extremadas polarizam a sociedade e não dão espaço para que se construa uma linha de pensamento e de actuação que seja benéfica para todos. Resta-me perguntar: no meio de tudo isto onde está o bom senso?
Estudante, 22 anos

Apenas mais um comentário de quem se sente agredido, e foram inúmeros esses:
frederico fragoso: Cara Teresa, infelizmente hoje em dia tudo se resume a ser de direita ou de esquerda...de preferência RADICAL...por isso, e para se conseguir os  tais 5 minutos de fama, vale tudo!!! O problema é que muitas pessoas esquecem-se de usar o cérebro para esgrimir uma ideia...o que resulta infelizmente no tema que estamos a debater, entre tantos outros. Tenho deveras muita pena dos Avós deste...(vou lhe chamar ser para não descer o nível)...Ser...porque provavelmente vão morrer abandonados, porque sua Exª. não terá tempo para os visitar. Enfim, na procura da felicidade...fica contente em agredir quem lhe apareça pela frente. Infeliz...

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