E Donald Trump explora essa propriedade
com bastante afinco, quer produzindo o riso, quer provocando-o, feliz num
bem-estar de Providência e de Previdência, para todos os efeitos, ambas a ele,
riso, favoráveis. Quem nos dera, “Quem me dera”, diz a Mariza num
outro contexto, o que me leva a reproduzir-lhe o poema, que escuto na Internet,
deixando de lado o “Quem me dera ter outra vez vinte anos”, da Cidália Moreira, ciente
da impossibilidade, ao contrário do poema da Mariza, com o destinatário
perfeitamente substituível pela hipótese das massas pródigas de DT.
Também o ouvi, o DT,
gabando-se e rindo-se, com ar bonacheirão, mostrando diferenças entre o seu
governo e os anteriores. Sem medo, e sem respeito pelos povos da Europa Unida,
e pelos governos anteriores na sua América. Fez o que prometera durante as
eleições, e gabou-se disso, amante do rincão que os antepassados conquistaram e
muito amaram também, amor que ele pode propalar aos quatro ventos, pela terra
onde cresceu em prendas de envergadura. O povo americano também aprecia essas
prendas, “quem lhes dera”, e por isso o escolheu como representante máximo dos
valores que realmente contam no mundo. Por isso DT fala alto e do alto, e não
importa o riso dos outros, basta-lhe o seu, expressivo de eficácia, motivadora
de desprezo. Teresa de Sousa
comenta, condena ou absolve, e o mesmo, fazem alguns seus comentadores. O certo
é que transformou inimigos em aparentes amigos e a guerra nuclear ameaçada pelo
norte-coreano se transformou numa pacífica troca de galhardetes e num amor do
peito que DT não receia propalar, poderoso que se sente. Mais desvios se
seguirão, numa boa, que DT é perito em ameaças, como em adorações, não sabemos
se sinceras se destemidas, se brincalhonas, se mentecaptas. Leiamos antes Teresa de Sousa e alguns seus comentadores atentos.
Se se riram, foi talvez do nervoso
O discurso de
Trump foi o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação
das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos.
PÚBLICO, 30 de
Setembro de 2018
1. Alguns
dos presentes na Assembleia Geral da ONU, em reunião plenária desde o dia 25
até hoje, ter-se-ão rido abertamente em alguns momentos do discurso do
Presidente norte-americano, proferido na passada
terça-feira. A incivilidade está, no geral, afastada destas missas solenes em
que o mundo se reúne em Nova Iorque. Rir do Presidente dos EUA é uma prática inédita. Protestos de
algumas delegações, é habitual. O incidente, que ainda hoje faz manchetes,
(quase) apagou o conteúdo da intervenção de Donald Trump. Não é uma boa
notícia, sobretudo para quem ainda presa o multilateralismo e os valores
universais que a Carta das Nações Unidas consagra. Há que admitir que pelo
menos numa passagem, logo no início, teria sido difícil conter um sorriso. Foi
quando o Presidente anunciou que “em menos de dois anos (…) tinha conseguido
mais do que quase todas as administração da História” do seu país. Ficamos
sem saber se o “quase” se referia a Lincoln ou Roosevelt, os dois mais fortes
candidatos que nos vêem à cabeça, para além de George Washington. Depois, passou
em revista todas as suas extraordinárias realizações, desde o maior corte de
impostos da história da América até à construção do muro na fronteira com o
México. Mais tarde, explicou aos jornalistas que se tratava de “fake
news”, que a Assembleia riu com ele e não dele. Para encerrar a questão
vale a pena recordar o que disse em 2014, referindo-se a Obama: “Precisamos
de um Presidente que não seja motivo para riso no mundo inteiro.” “O riso
figurativo de 2014 tornou-se no riso literal de 2018”, escreve a Atlantic.
“O soft power americano está no seu nível mais baixo
desde a II Guerra”. Não é um conceito pelo qual Trump tenha qualquer interesse.
2. O
conteúdo da sua intervenção, lida em tom monocórdico, sem qualquer capacidade
de entusiasmar ou emocionar, foi o mais completo resumo de uma visão do mundo
que estava anunciada em quase todas as suas decisões de política externa,
transmitidas na maioria da vezes em meia dúzia de palavras, mas agora
transformadas numa longa peça escrita que constituiu o mais completo ataque à
ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa
americana nos últimos 100 anos. Fosse qual fosse a cor política do seu
Presidente. Trump rejeita o
“globalismo” e uma “burocracia global, não eleita nem susceptível de ser
responsabilizada”, como descreveu, por exemplo, a Comissão dos Direitos Humanos
da ONU, da qual anunciou que se retirava. Quase no final, deu a sua visão
da ordem que defende: “Nações soberanas
e independentes são o único veículo onde a liberdade sempre sobreviveu, a
democracia sempre foi garantida ou a paz sempre prosperou. Por isso devemos
proteger a nossa soberania e a nossa adorada independência acima de tudo”. À
cooperação internacional assente em regras, Trump contrapõe a soberania
nacional, que todas as nações têm o direito de defender por todos os meios.
Faltou-lhe apenas acrescentar que as soberanias não são todas iguais e que, como
foi demonstrando ao longo da sua intervenção, a relação de forças acaba por ser o critério fundamental. “Ele
é um activista da frente soberanista Xi-Putin-Orbán, essa impossível
internacional dos nacionalismos e um inimigo jurado da ordem liberal”, escreve
sem meias palavras Timothy Garton Ash no Guardian. Elegeu o Irão como o novo “inimigo número um” dos EUA, ameaçando
veladamente a sua soberania, apontando-o como o único responsável pelas
calamidades cometidas pelo regime de Damasco (a Rússia nunca existiu),
incentivando o seu povo à revolta contra um regime “sangrento” que rouba o povo
e que o oprime. A decisão de aplicar sanções secundárias a todas as
empresas que mantenham negócios com o Irão, depois de ter retirado o seu apoio
ao acordo nuclear de 2015 e ter reposto uma primeira leva de sanções, interfere
directamente com as decisões “soberanas” dos países europeus subscritores do
acordo. Pode fazê-lo porque o mercado americano é suficientemente forte
e o dólar suficientemente omnipresente para não lhes deixar outra alternativa
senão saírem. “Foi um momento excepcional nos hábitos dos 73 anos da ONU”,
escreve o Financial Times em editorial. “A Europa, incluindo o Reino Unido,
normalmente um fiel aliado dos EUA, alinhar publicamente com Moscovo e com Pequim
contra Washington numa questão que está no centro da política externa
americana”. Tratou dois ditadores
como amigos, mesmo que lhes tenha lembrado que os negócios ficam à parte. O
seu amigo Xi Jinping vai continuar a sofrer os efeitos da “guerra comercial”
que decretou contra a China. “Durante décadas, os EUA abriram a sua
economia – de muito longe a maior à face da Terra – com poucas condições”.
Resultado: "Os EUA perderam mais de 3 milhões de empregos na
manufactura, quase um quarto dos empregos na indústria do aço, e 60 mil
fábricas depois de a China ter aderido à OMC. E acumulámos mais de 13 triliões
de dólares em défices comerciais nas duas últimas décadas”. O outro é Kim Jong-un, que representa até agora o único meio-sucesso diplomático
que pode apresentar: há uma abertura do regime e prossegue uma aproximação com
Seul.
3. Pela
primeira vez de há muitas décadas, um discurso de um Presidente americano não
tem qualquer referência aos aliados europeus e à aliança transatlântica. Mais uma vez, a Alemanha foi apontada a
dedo como o seu mais sério “inimigo”, desta vez porque escolheu o caminho da
dependência energética (não disse relação a quem), correndo o risco de se
tornar “vulnerável à extorsão e à intimidação”. Berlim tornou-se o alvo
privilegiado de Trump na Europa, desde o início do seu mandato. Por causa do
seu excedente comercial gigantesco mas também porque olha para a Alemanha como
a “força” por trás da integração europeia, cuja utilidade não entende nem fará
nada para preservar. Outra estreia absoluta. Os seus amigos estão em
Budapeste, em Roma ou na Polónia, eleita um dos quatro países do mundo que
elegeu como “faróis” que iluminam as respectivas regiões, numa passagem tão
preocupante como irresistível. “Há a Índia, uma sociedade livre de mil milhões
de pessoas, que conseguiu com sucesso tirar milhões da pobreza (…). Há a Arábia
Saudita, onde o Rei Salman e o Príncipe herdeiro estão a levar a cabo grandes e
ambiciosas reformas. Há Israel, que celebra com orgulho os seus 70 anos como
uma democracia dinâmica na Terra Santa. Na Polónia, um grande povo ergue-se
pela sua independência, a sua segurança e a sua soberania. O mundo é mais rico,
a humanidade é melhor, por causa desta bela constelação de nações.” A Polónia está em conflito com a União Europeia
por violar as regras do Estado de Direito. Mas é um exemplo perfeito daquilo
que Trump entende como país aliado: Varsóvia pediu aos EUA para instalarem uma
base militar na Polónia, pela qual está disposta a pagar e que promete chamar
de “Fort Trump”. Garton Ash, no mesmo texto, avisa que não é apenas um problema
de Trump e que basta que saia da Casa Branca para que a velha relação
transatlântica volte ao que sempre foi. “Grande parte da América voltou as
costas à Europa”. E o historiador britânico não fala apenas da metade
“ignorante”. Fala das elites. “Trump é horrível mas, neste aspecto, é tanto um
sintoma como uma causa”.
4.
Aquilo que achamos bizarro ou ameaçador ou que nos faz encolher os ombros - “de que é que se estava à espera?” –,
pode fazer perfeitamente sentido para muitos americanos mas também para muitos
europeus que rejeitam internacionalismo e aceitam o nacionalismo por razões
parecidas com as dos americanos que elegeram Trump. “A América é governada pelos americanos. Rejeitamos a ideologia do
globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”. A ideia de que não há
uma sociedade global e que o único valor que deve reger as relações
internacionais é a soberania de cada Estado e o seu direito a defender os seus
interesses faz sentido também para um número crescente de europeus. O controlo das fronteiras para impedir a
entrada de imigrantes é visto como prioridade para cada vez mais gente. As
mudanças na Europa são mais subtis, mas o sentimento de que a globalização
criou mais perdedores nas economias desenvolvidas do que nas outras está hoje
generalizado – porventura, mais do que gostaríamos de admitir, com os nossos
óculos elitistas, sempre que olhamos para a América, quando já temos a nossa
casa a começar a arder. Vontade de rir? Nenhuma. Ou então, apenas algumas
gargalhadas nervosas.
COMENTÁRIOS:
Wheeler Catarina, 30.09.2018 : O discurso de Trump foi exactamente o contrário. Foi o maior ataque ao Unilateralismo (nascido no «Pós-guerra 39-45»). O discurso de Marcelo/Guterres (moralismo cristão e pastoral laica) foram um ataque ao Multiculturalismo. Querer o Globalismo Internacionalista (como fizeram Marcelo e Guterres) em vez da «Cooperação e Interdependência entre as Diversidades» é o aCtual status quo esquerdista apadrinhado pelo Liberalismo Selvagem (a defesa do Consumidor Universal, a defesa do Unionismo e Miscigenação Global, o ataque ao Proteccionismo das Nacionalidades e ao direito à Diferença). Trump propõe um EUA que troquem numa base não-assimétrica, protegida pela reciprocidade e proporção do lucro. Isso é defender as Diferenças e as Diversidades. São cada vez mais milhões a prefirem o caminho de Trump.
Wheeler Catarina, 30.09.2018 : O discurso de Trump foi exactamente o contrário. Foi o maior ataque ao Unilateralismo (nascido no «Pós-guerra 39-45»). O discurso de Marcelo/Guterres (moralismo cristão e pastoral laica) foram um ataque ao Multiculturalismo. Querer o Globalismo Internacionalista (como fizeram Marcelo e Guterres) em vez da «Cooperação e Interdependência entre as Diversidades» é o aCtual status quo esquerdista apadrinhado pelo Liberalismo Selvagem (a defesa do Consumidor Universal, a defesa do Unionismo e Miscigenação Global, o ataque ao Proteccionismo das Nacionalidades e ao direito à Diferença). Trump propõe um EUA que troquem numa base não-assimétrica, protegida pela reciprocidade e proporção do lucro. Isso é defender as Diferenças e as Diversidades. São cada vez mais milhões a prefirem o caminho de Trump.
Holstein Moscovo 30.09.2018:
Subscrevo. Completamente. Que pena não haver um aqui na Europa. No
mínimo para encerrar fronteiras. A livre circulação de pessoas não obriga a que
as portas estejam abertas para todos. Mais. Nem se saiba quem passe. É o
excesso de medidas esquerdistas e sensacionalistas que vai incentivando o
nacionalismo.
Tiago,
01.10.2018: Quando
um militar diz, por conta do roubo de Tancos, que os interesses nacionais estão
acima dos individuais, dos próprios indivíduos que constituem a Nação, ao invés
de os colocarem ao mesmo nível, por mim já muito está dito. As próprias Forças
Armadas na sua mentalidade colectivista aceitaram, fosse por cumplicidade ou
simples obediência a chefes de Estado e sucessivos governos, a progressiva
entrega da soberania nacional ao globalismo da União. A classe governante assim
o escolheu. Afundados em dívida, com o aparelho de Estado já desmantelado e
vendido e cada vez mais dependentes de importações para alimentar a população,
não vejo muita saída agora senão engolir a seco e, no máximo, lutar por alguma
autonomia de governo local. Uma saída da UE à RU não seria 'hard', mas
'extremely hard'. Globalmente, a humanidade atravessa um momento muito crítico
também, onde se faz necessário pesar interesses individuais versus nacionais
versus mundiais. Sim, estamos vivendo, em certa medida, uma espécie de
"eco-fascismo" moderado disfarçado de democracia, onde interesses
individuais e vidas são sacrificados por um bem maior. Isso vem muito de trás,
desde pelo menos o Malthusianismo, que continua bem vivo. A mim, o que incomoda
mais é todo o processo muito pouco transparente, a falta de verdade, confiança
e união entre classe governante e governada e mesmo entre as pessoas de modo
geral, na certeza que esta desunião se deve em grande parte à velha táctica de
dividir para conquistar ou, no caso, para implementar medidas que a classe
governante entende urgentes para evitar uma catástrofe.
Quem Me Dera!
Cifra: Principal (violão e guitarra)
Que mais tem de
acontecer no mundo Para inverter o teu coração pra mim Que quantidade de
lágrimas devo deixar cair Que Flor tem que nascer Para ganhar o teu amor
Por esse amor meu Deus Eu faço tudo Declamo
os poemas mais lindos do universo A ver se te convenço Que a minha alma nasceu
para ti
Será preciso um milagre Para que o meu
coração se alegre Juro não vou desistir Faça chuva faça sol Porque eu preciso
de ti para seguir
Quem me dera Abraçar-te no outono verão e
primavera Quiçá viver além uma quimera Herdar a sorte e ganhar teu coração
Quem me dera Abraçar-te no outono verão e
primavera Quiçá viver além uma quimera Herdar a sorte e ganhar teu coração
Será preciso uma tempestade Para perceberes
que o meu amor é de verdade Te procuro nos outdoors da cidade, nas luzes dos
faróis Nos meros mortais como nós
O meu amor é puro É tão grande e resistente
como embondeiro Por ti eu vou onde nunca iria Por ti eu sou o que nunca seria
Quem me dera Abraçar-te no outono verão e
primavera Quiçá viver além uma quimera Herdar a sorte e ganhar teu coração
Quem me dera Abraçar-te no outono verão e
primavera Quiçá viver além uma quimera Herdar a sorte e ganhar teu coração
[Solo] Quem
me dera Abraçar-te no outono verão e primavera Quiçá viver além uma quimera Herdar
a sorte e ganhar teu coração Quem me dera
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