segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O esplendor do terror, a petulância progressista



Não há dúvida de que a violência proliferou, o que não admira, com a democratização que grande parte do mundo sofre. Dantes, eram mais as chefias invasoras dos povos, na sua ambição e desejo de conquista que invadiam os territórios e semeavam o terror. Gente de alto gabarito, vivia-se em aristocracia, com os poderes concentrados nela, os seus poderes que até, por vezes, se chamavam de origem divina. Mas a aristocracia e o clero afinal constituíam uma ínfima parte das populações, o povo era altamente maioritário e isso viu-se por alturas das grandes revoluções, a francesa e a russa, esta já nos nossos tempos, ou seja no dos nossos pais ou avós, ínfima parte que teve como consequência a prepotência dos defensores do proletariado, de que é exemplo o texto de Salles da Fonseca, sobre os crimes praticados na Rússia revolucionária dos autocratas por “amor pátrio”, a que o extraordinário Gorbatchov pretendeu pôr freio.
Por seu turno, o proletariado ganhou cada vez mais força, de mistura com a expansão da droga e dos ideais de liberdade, e agora é o que se vê, a instabilidade tornou-se uma constante, a presumível fraternidade ou solidariedade, são inspiradoras do crime generalizado e divulgado mediaticamente, mas têm defensores. Hoje, por cá, na vulgarização massificadora de todas as camadas sociais, feita em nome da fraternidade, deixou de existir controlo, a própria escola se alargou a agrupamento escolar, que baniu distinções etárias ou formativas, o termo “liceu” desapareceu da nossa nomenclatura, após o 25 de Abril, como designação distintiva humilhante dos não seguidores dele, a perversão tornou-se uma constante, o medo apoderou-se de toda a gente consciente. Dantes brincava-se livremente, o medo dos raptos e de outras insânias faz que as crianças vivam cada vez mais estranguladas nos espaços fechados, etc., etc.
Concretizo o tema, extraindo um excurso irónico do blog A Bem da Nação, 28.10.18, por Henrique Salles da Fonseca, sobre o papel libertador de Gorbatchov nas perfídias dos gulags russos, seguido de um trecho da Internet sobre o livro de que trata o blog, que bem descreve tais monstruosidades do poder soviético. Concluo com um editorial do Público, de Manuel Carvalho, que finge rever-se nas doutrinas de esquerda, para se indignar com a eleição de Bolsonaro para o governo brasileiro. Não resisto a transcrever alguns comentários discordantes do editorialista, fazendo-me deles eco, pelo pretensiosismo fútil que nele sobressai:
Gorbatchov desligou o KGB da corrente eléctrica obrigando o seu pessoal a frequentar cursos de reciclagem acelerados transformando o canibalismo em jardinagem.
Trecho da apresentação em 1989 do livro O TCHEKISTA escrito em 1923 por Vladímir Zazúbrin (fuzilado em 1938) e, entretanto, proibido pelos soviéticos.
II - O TCHEKISTA
Em 1987, um manuscrito perdido datado de 1923 era descoberto na Biblioteca Lenine, em Moscovo. Folheá-lo era assistir ao terror e à violência de um dos períodos mais sangrentos da história russa. Lembrando a obra Na Colónia Penal, de Kafka, O Tchekista é um dos primeiros testemunhos literários sobre a natureza do poder soviético e um relato atroz de uma máquina de terror oleada pelo sangue humano. No rescaldo da guerra civil, Srúbov, um agente da Tcheka, cumpre o seu ofício de carrasco na Sibéria. Em nome da revolução, participa nos atrozes procedimentos quotidianos, em cruéis interrogatórios e em execuções sumárias. Porém, a sua consciência impede-o de desempenhar o seu ofício e o matadouro sangrento em que se move assola-o eternamente. Texto de uma violência asfixiante e com um assombroso poder de evocação, O Tchekista é considerada uma obra inconveniente por descrever de forma supremamente realista os crimes soviéticos. Foi publicada em 1989.
III- EDITORIAL - Um dia negro para a democracia
Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça.
PÚBLICO, 28 de Outubro de 2018
A eleição de Jair Bolsonaro aconteceu sem surpresa e não apenas por causa da sua vitória categórica na primeira volta ou devido às sondagens que o colocavam a grande distância de Fernando Haddad. Depois de tantos escândalos, da espiral de violência, de crises que foram da economia à ética, de uma destituição (a de Dilma Rousseff) aprovada por um congresso minado pela corrupção, não surpreende que os brasileiros elejam um Presidente que não resiste sequer ao teste da decência mínima que se exige a qualquer cidadão. Bolsonaro é o derradeiro capítulo de um processo de autodestruição das elites políticas brasileiras. Como todos os outros capítulos, é uma vergonha e uma desgraça.
Se o novo Presidente do Brasil tem um mérito é o de não esconder a sua homofobia, o seu racismo, ou a sua propensão para a arruaça e para a violência. Não sabemos o que ele pensa sobre a educação ou as finanças públicas (recusou todos os debates), mas sabemos sim o que ele gostava de fazer aos negros, aos gays ou aos militantes do PT. E é por conhecermos essas misérias que vai ser fundamental saber se as instituições incumbidas de defender os valores que ele ataca serão capazes de o travar. Sem uma maioria no Congresso, Bolsonaro vai ter de negociar todas as leis espúrias que lhe passam pela cabeça. Mesmo que as consiga aprovar, terão se passar pelo crivo do Supremo Tribunal Federal que zela pela Constituição. Mesmo que se esvazie a Constituição, há no Brasil organizações sociais, sindicatos e a imprensa para escrutinar os seus delírios.
Talvez Bolsonaro tenha de renunciar a parte do seu programa, indo ao encontro das expectativas de uma certa direita inorgânica de Portugal que, de tanto se deleitar com a apologia da liberdade, esqueceu que a liberdade só existe onde existe decência e respeito pelos outros. Ou talvez o seu temperamento agressivo se exalte com esta extraordinária vitória e o leve a desafiar os mais básicos alicerces do sistema. Aconteça o que acontecer, hoje é um dia mau para a liberdade, para a tolerância ou para a devoção ao pluralismo e à diversidade humana. A democracia no Brasil não morreu. Mas com o PT condenado pela sua própria venalidade, arrogância e cegueira, o PSDB destruído pela sua inconsistência, o MDB minado ainda mais do que todos pelo flagelo da corrupção, a justiça politizada e a sociedade descrente, Bolsonaro pode estar a um passo de a querer matar. Pobre querido Brasil.
COMENTÁRIOS:
Nuno Silva: Os brasileiros nem sabem no que se estão a meter com o fascista Bolsonaro (devem pensar que o Brasil são os EUA)...
Jocelia Martins: Quem és tu caríssimo para falar de um político eleito pela maioria do povo brasileiro, que como dizeis faz parte da elite política? A elite política é aquela que ele combate descendente das capitanias hereditárias distribuídas pelo rei D. João, combate igualmente o comunismo de Cuba, as dádivas doadas por Lula e Dilma a países ditatoriais. VC sabe que Lula estava para formar uma nova União Soviética na América do Sul? Alienado, estude antes de escrever.
Wladia Mamede: Negro? PQ? Concordo com Leandro Teixeira "público sofre da mesma arrogância e cegueira que a esquerda brasileira. Conheça melhor o Brasil !" Quem é você para dizer que temos um dia negro? Vive aqui? passou por tudo que passamos com o PT? Então fique calado, não se meta em assunto que não lhe diz respeito. E mais importante, RESPEITE a vontade soberana do POVO BRASILEIRO, que nada pede a vocês.
Alvaro C. Pereira: Não entendi o propósito! Se queremos paz e democracia no Brasil, textos como este devem ser bem pensados! Eu nunca votaria em Bolsonaro, mas o povo brasileiro votou! Exige-se respeito! Ou isso só vale para um lado? Nos próximos anos, em vez de desclassificar quem votou, o melhor seria 'entender' a razão e arrepiar caminho numa certa maneira de fazer política, convencidos que são donos da verdade! O que mais espero, neste momento, é que os outros poderes (nomeadamente o judicial e o militar) estejam bem fortes para vigiar e defender a democracia e a justiça social!
Alforreca Passista, Anti-liberal fascistas : Quando os próprios neoliberais já não são suficientemente extremistas e são chamados de comunistas, como é o caso aqui do nosso querido editor neoliberal Manuel Carvalho, nós sabemos que estamos a atravessar momentos extremos!
Ricardo Bugalho, Lisboa : Comentário ao caro editor: textos como este só pregam aos convertidos e criam mais polarização. Se pretende escrever em favor da Democracia, é preciso ser mais imaginativo e dizer as verdades sem alienar.

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