terça-feira, 9 de outubro de 2018

“Não vamos atrasar a missa”


Trata-se de uma frase pronunciada por Salazar – António de Oliveira – num domingo, 4 de Julho de 1937, (“cinco anos após tomar posse”), aquando dum atentado à bomba, por um grupo de militantes da CGT (Confederação Geral do Trabalho), quando ia assistir à missa dominical, na capela de um amigo, na Avenida Barbosa du Bocage: “Ninguém fica ferido. Salazar e o seu chefe de gabinete saíram pela porta de trás do lado direito do carro – e o efeito da explosão exerceu-se no sentido oposto: o “Buick” fica à beira duma cratera com uns 25 metros de diâmetro. Salazar sacode o fato escuro coberto de poeira – e volta-se para Leal Marques: “Não vamos atrasar a missa”.
Uma frase, aliada a uma sacudidela de poeira, que dão bem a dimensão do Homem que ocupou o poder, em Portugal, de 1926 a 1968, sob o lema “Deus, Pátria e Família”. Lemos o livro de Manuel Catarino “SALAZAR – Só a cadeira o derrubou” – e encantamo-nos com a forma simples, directa e objectiva com que Manuel Catarino conta, sem “parti pris” e buscando apenas a “clara certidom da verdade”, documentando-se, tal como o fizera uns séculos antes um seu antecessor, por sinal, guarda-mor da Torre do Tombo, mas por vezes mais acalorado como homem de paixões e amor pátrio, cartas que Manuel Catarino não deseja lançar na mesa da sua probidade isenta, sabendo, de resto, quanto, vivendo numa democracia apostada em malquistar o homem para sempre apodado de odiado ditador, que manchara tenebrosamente os céus do seu país, por lhe defender a independência económica e a paz social, com a rigidez que isso impunha num país sem norte ou de pretensão doutrinária em moda, uma história mais marcada por qualquer sectarismo obsoleto, não lhe traria a aceitação que, suponho, o seu livro irá ter, e que o “Correio da Manhã” não se coibiu de enaltecer.
É, pois, um livro que se lê com extremo prazer, desde o Prefácio de Francisco Moita Flores, crítico ideal e igualmente isento, de que retiro as frases finais: «É a singularidade que dá brilho a esta obra. Acessível a qualquer leitor, escorreito, competente. Li com prazer. Espero que quem o ler, retire dele a mesma satisfação.»
Não, nenhum dos dois escritores enferma de hipocrisia laudatória, mas também não de falta de coragem em assumir a sua seriedade e competência analista, neste país de um modo geral irascível e ingrato contra quem não podia deixar de ser quem foi, num país afundado em instabilidade civil e económica, na sucessão de governos trazidos pela primeira República, para mais atravessada por uma guerra, na qual foi obrigado a participar, em condições precárias, para defender o seu Ultramar e a sua História. Para mim, que pouco li acerca de Salazar, aceitando-o como chefe da nação, homem certo no momento certo de um país insubordinado, endividado e trapalhão, facilmente aderi à opinião do meu amigo Juiz Brites Ribas, que conheci cá, em longo dia de bicha circundando a antiga FIL, em Alcântara, onde íamos receber os nossos vencimentos Ultramarinos, nos idos de 74, episódio que relato em “The longest day” de «Cravos Roxos» (1981) e que termina epicamente: “O regresso a casa faz-se numa sensação de frustração e revolta por um dia inútil de horas infindáveis e mal-estar total. Mas, habituada a disfarçar, é com a alegria espantada de um Solnado jocoso que exclamo ao chegar: “Meu filho, como tu cresceste!...” Nesse longo dia da bicha, e noutros subsequentes, a amizade entre nós surgiu, em passeios por Lisboa e conversas politiqueiras , que estavam então na berra, por conta dos acontecimentos que apanharam de surpresa os ultramarinos descuidados, nas suas rotinas e nos seus trabalhos em defesa do que julgavam ser pátria sua. E não esquecerei nunca a frase de Brites Ribas, considerando Salazar a maior figura portuguesa do século XX, quer intelectualmente, quer nos sentimentos que definem o ser humano – o respeito por valores básicos, de que a Pátria foi degrau, embora segundo, e a Família também, embora terceiro – os valores clericais ocupando, como nos tempos monárquicos da pirâmide diferenciadora, a posição cimeira.
E, deste Livro de Manuel Catarino, publicado em 2018, pela COFINA Media Books, extraio a apresentação, que encontro na Internet, do CORREIO DA MANHÃ, quer sobre o AUTOR, quer sobre o HERÓI do seu Livro:
«A HISTÓRIA DE SALAZAR SEM CRÍTICAS OU APLAUSOS
50 anos de memórias de uma história incontornável: Um livro de jornalismo de investigação, de 262 páginas, escrito de forma isenta, imparcial e sem rodeios. Perceba ao pormenor um importante período da História de Portugal e as nuances da figura política que marcou o país:
As raízes  -  O assassínio de Humberto Delgado  -    Guerra em África   -   O escândalo sexual dos “ballets rose”  -  A queda   -  Morte
Salazar
Chegou a ministro das Finanças em 1926, ascendeu à presidência do Governo em 1932.   Manteve-se durante 42 anos no poder.   Escapou a um atentado à bomba, resistiu a tentativas de golpe, a conspirações militares, a acções revolucionárias.   Caiu, por fim, traído por uma velha cadeira desengonçada.
As raízes     O seminário     Horror à I República     Luxo em Coimbra     Deputado por um dia     O regime é ele     Atentado à bomba     A vida secreta nos amores     O namoro com Christine Garnier     Traição dos ingleses     O assassínio de Humberto Delgado     A PIDE     Guerra em África   Ordem para resistirem na Índia até ao último homem     Henrique Galvão e Palma Inácio – os mais perigosos inimigo     O escândalo sexual dos ‘ballets rose’     A queda      Morte
Todavia, para um registo mais completo da história contada por Manuel Catarino, copio o seu Índice, para registar passos que encontrei na leitura desta biografia isenta, de 262 páginas, que contém, no seu final, ainda, uma CRONOLOGIA com os dados históricos para uma visualização sinóptica rememorativa.
ÍNDICE
PREFÁCIO DE FRANCISCO MOITA FLORES
1 - UMA VIDA PROMETIDA À IGREJA: O mito de que nasceu numa família pobre. Os rigores do seminário. Lágrimas pelo rei. O flagelo da “peste branca” (tuberculose).A caminho de Coimbra. | 15
2 – HORROR À I REPÚBLICA: Os primeiros tempos de Coimbra. Militância no Centro Académico da Democracia Cristã. O poder da “rua” republicana. Doutrinador católico. A Europa em Guerra.| 31
3 – A AGONIA DA I REPÚBLICA: Dedicado à carreira académica em busca de prestígio. Portugal entra na guerra, País à fome. O golpe de Sidónio. A noite sangrenta. O princípio do fim da I República.| 51
4 - ASCENSÃO AO PODER: O golpe militar do 28 de Maio. Aceita ser ministro das Finanças. Desconfiado das intenções da tropa, demite-se e regressa a Coimbra. Volta ao Ministério das Finanças. É o doutrinador do regime. | 91
5 - OS AMORES DE SALAZAR: O namoro, ainda seminarista, com Felismina Oliveira. A paixão pela filha da madrinha. Um elegante e sedutor passeia-se por Coimbra. A lucrativa actividade de jurisconsulto. A intimidade com a pianista Glória Castanheira. O anunciado casamento com Júlia Moreira. Os encontros com Maria Laura no Hotel Borges. O doce namoro com Christine Garnier.| 103
6 – FUNDADOR DO REGIME: A obra financeira. Internado no Hospital da Ordem Terceira. Cai o Governo, mas Salazar mantém o estatuto de indispensável. É por fim chefe do Governo. Atentado à bomba. O terror da polícia política. As farsas eleitorais. Salazar gozado na capa da “Time”. Humberto Delgado faz tremer o regime. O assassínio do “General Sem Medo”. |119
7 – REVOLTAS CONTRA SALAZAR: Revolta da Madeira. O movimento de 18 de Janeiro. Revolta dos Marinheiros. Greves e agitação social. Junta Militar de Libertação Nacional. A Revolta da Sé. Henrique Galvão e Humberto Delgado juntos no exílio. Operação Dulcineia. Operação Vagô. O Golpe de Beja. Revolta estudantil. Operação Mondego. | 151
8 – 1961: O ANO DA GUERRA: Salazar cego e surdo aos novos ventos da independência das colónias. Isolamento internacional. Revolta em Luanda. Chacina na Baixa de Cassange. Massacres no Norte de Angola. O início da guerra. Ministro da Defesa (General Júlio Botelho Moniz) tenta golpe para depor Salazar. “Rapidamente e em força para Angola”. Cai o Estado Português da Índia. Guerra colonial estende-se à Guiné e a Moçambique. |179
9 – AS ÚLTIMAS FÉRIAS NO FORTE: O escândalo dos “ballet rose”. As taras sexuais de pias figuras do regime nas páginas da imprensa estrangeira. Salazar cai por duas vezes da cadeira. Operado à cabeça. Trombose deixa-o em coma. Afastado do poder, Governo nomeia “comissão de enterro”, mas Salazar resiste à morte. Recupera do coma e vai para a residência oficial. Ninguém lhe diz que já não governa. A morte, em 27 de Julho de 1970. |197
Eis, pois, uma breve biografia de um Homem que soube responder sempre às provocações quer internas quer da ONU e dos países poderosos que, porque das colónias que possuíam, mais recentes, apenas lhes interessando o que delas extraíam, facilmente seguiram as novéis doutrinações descolonizadoras, ironizando contra as caturrices de um patriota prezador da sua história antiga, e que lhes fez frente, mau grado a sua inferioridade nacional e o cinismo desses, esquecidos de que eles próprios foram usurpadores e destruidores de povos, vivendo agora em nações independentes, não abrangidas nas doutrinas da não discriminação, contidas na «Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948», discriminação que imputavam aos povos colonizadores, no seu grosso, fixados , à época, no continente africano. Contrariamente ao que se lhe exigia, e mau grado os percalços da ocupação da Índia portuguesa e da violência terrorista inicial em Angola, Salazar organizou a defesa dos seus territórios ultramarinos, enviando tropas para eles, iniciando um período de defesa que permaneceu ainda mais de uma década, caracterizada por um desenvolvimento nesses, como jamais havia sido, pese embora as fugas para o estrangeiro de muitos jovens a quem as condições familiares protegeram, ou as traições cometidas por tantos desses que se aliaram facilmente à doutrinação refractária ao colonialismo e que ainda hoje se passeiam vitoriosos nos corredores da nação reduzida.
Não aconteceu assim com os meus dois maridos – o primeiro, chamado a prestar serviço em Moçambique, bem como o seu irmão, apesar de já formados, prejudicando as suas carreiras. O segundo, que vivia em Moçambique, veio para Portugal seguir a Escola de Paraquedismo, partindo em seguida para Angola, onde permaneceu dois anos na sua missão de defesa pátria. De novo em Moçambique, estudou, e quando voltou para cá, trabalhou e estudou, como homem que cumpriu, obedecendo, como fizeram tantos outros cumpridores do destino que lhes foi ditado por aquele a quem apelidaram de ditador – os que não quiseram - e puderam, por razões económicas ou outras mais comprometedoras de carácter - cumprir os seus ditames. É certo que, logo após o 25 de Abril, conheci dos que se mudaram de parecer e se apressaram a declarar-se  perseguidos pela PIDE, para mais facilmente acederem aos ventos da democracia acolhedora. Mas o meu segundo marido não se demoveu nunca dos princípios da sua escola, que foi também a minha, de respeito pelos valores impostos por Salazar - na independência, todavia, de um pensamento não resignado. E como ele, muitos outros que, ou se calam, ou não receiam defender – democraticamente – princípios necessários à condição humana que não pretende viver na anarquia. Será um desses, o autor do livro “SALAZAR” - Manuel Catarino. E outros muitos que encontro nos jornais, para nosso bem-estar espiritual, os quais vão ousando viver na independência dos seus pensamentos não orientados por slogans mais ou menos balofos, de desrespeito gratuito. 
Entretanto, os nossos montes vão ardendo, as águas dos rios poluindo-se, a violência, a corrupção, a inacção manchando de insanidade este nosso país que vai deslizando para um futuro perigosamente vazio, mau grado as inovações e melhorias que dinheiros estrangeiros possibilitaram, despreocupados, os protestantes da solidariedade humana, do seu ressarcimento, tal como acontecera na primeira República, situação a que só um Salazar de génio e estudo financeiro poria cobro, apesar dos atentados a que escapou, corajosamente continuando, e sacudindo a poeira do seu fato escuro,  e que costumava afirmar, segundo contava uma pessoa conhecida da minha irmã, amiga da tal fiel governanta de Salazar, Maria de Jesus Caetano Freire, que o acompanhou "desde os tempos de Coimbra", que esta referia o dito de Salazar de que, quando morresse, só encontrariam cotão nos seus bolsos.
Julgo, contudo,  que é esta mentalidade mesquinha, habituada ao cotão, que a esquerda, promotora das greves, porque não pertence ao poder, quer ainda hoje reduzir o país, lutando afincadamente pelas igualdades sociais sabendo quanto são falaciosas. Salazar, esse, sabia-o. Mas o cotão dos seus bolsos era largamente compensado pelo estudo, da sua ânsia de se diferençar. E tal não lhe é perdoado pelos do cotão do nosso antigo fado e da nossa crosta de sempre.

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