Trata-se de uma frase pronunciada por Salazar – António de Oliveira – num domingo, 4 de Julho de 1937, (“cinco
anos após tomar posse”), aquando dum atentado à bomba, por um grupo de
militantes da CGT (Confederação Geral do Trabalho), quando ia assistir à missa
dominical, na capela de um amigo, na Avenida Barbosa du Bocage: “Ninguém fica ferido. Salazar e o seu chefe
de gabinete saíram pela porta de trás do lado direito do carro – e o efeito da
explosão exerceu-se no sentido oposto: o “Buick” fica à beira duma cratera com
uns 25 metros de diâmetro. Salazar sacode o fato escuro coberto de poeira – e
volta-se para Leal Marques: “Não vamos atrasar a missa”.
Uma frase, aliada a uma
sacudidela de poeira, que dão bem a dimensão do Homem que ocupou o poder, em
Portugal, de 1926 a 1968, sob o lema “Deus,
Pátria e Família”. Lemos o livro de Manuel Catarino “SALAZAR – Só a cadeira o derrubou” –
e encantamo-nos com a forma simples, directa e objectiva com que Manuel
Catarino conta, sem “parti
pris” e buscando apenas a “clara
certidom da verdade”, documentando-se, tal como o fizera uns séculos antes
um seu antecessor, por sinal, guarda-mor da Torre do Tombo, mas por vezes mais
acalorado como homem de paixões e amor pátrio, cartas que Manuel Catarino não
deseja lançar na mesa da sua probidade isenta, sabendo, de resto, quanto,
vivendo numa democracia apostada em malquistar o homem para sempre apodado de
odiado ditador, que manchara tenebrosamente os céus do seu país, por lhe defender
a independência económica e a paz social, com a rigidez que isso impunha num
país sem norte ou de pretensão doutrinária em moda, uma história mais marcada
por qualquer sectarismo obsoleto, não lhe traria a aceitação que, suponho, o
seu livro irá ter, e que o “Correio da
Manhã” não se coibiu de enaltecer.
É, pois, um livro que se lê
com extremo prazer, desde o Prefácio de Francisco
Moita Flores, crítico ideal e igualmente isento, de que retiro
as frases finais: «É a singularidade que dá brilho a esta obra. Acessível a qualquer
leitor, escorreito, competente. Li com prazer. Espero que quem o ler, retire
dele a mesma satisfação.»
Não, nenhum dos dois
escritores enferma de hipocrisia laudatória, mas também não de falta de coragem
em assumir a sua seriedade e competência analista, neste país de um modo geral irascível
e ingrato contra quem não podia deixar de ser quem foi, num país afundado em
instabilidade civil e económica, na sucessão de governos trazidos pela primeira
República, para mais atravessada por uma guerra, na qual foi obrigado a
participar, em condições precárias, para defender o seu Ultramar e a sua História. Para mim, que
pouco li acerca de Salazar, aceitando-o como chefe da nação, homem certo no
momento certo de um país insubordinado, endividado e trapalhão, facilmente
aderi à opinião do meu amigo Juiz Brites Ribas, que conheci cá, em longo dia de
bicha circundando a antiga FIL, em Alcântara, onde íamos receber os nossos
vencimentos Ultramarinos, nos idos de 74, episódio que relato em “The longest day” de «Cravos Roxos» (1981) e que termina
epicamente: “O regresso a casa faz-se
numa sensação de frustração e revolta por um dia inútil de horas infindáveis e
mal-estar total. Mas, habituada a disfarçar, é com a alegria espantada de um
Solnado jocoso que exclamo ao chegar: “Meu filho, como tu cresceste!...” Nesse
longo dia da bicha, e noutros subsequentes, a amizade entre nós surgiu, em
passeios por Lisboa e conversas politiqueiras , que estavam então na berra, por
conta dos acontecimentos que apanharam de surpresa os ultramarinos descuidados,
nas suas rotinas e nos seus trabalhos em defesa do que julgavam ser pátria sua.
E não esquecerei nunca a frase de Brites Ribas, considerando Salazar a maior
figura portuguesa do século XX, quer intelectualmente, quer nos sentimentos que
definem o ser humano – o respeito por valores básicos, de que a Pátria foi
degrau, embora segundo, e a Família também, embora terceiro – os valores
clericais ocupando, como nos tempos monárquicos da pirâmide diferenciadora, a
posição cimeira.
E, deste Livro de Manuel Catarino, publicado em
2018, pela COFINA Media Books, extraio a apresentação, que encontro
na Internet, do CORREIO DA MANHÃ, quer
sobre o AUTOR, quer sobre o HERÓI do seu Livro:
«A HISTÓRIA
DE SALAZAR SEM CRÍTICAS OU APLAUSOS
50
anos de memórias de uma história incontornável: Um livro de jornalismo de
investigação, de 262 páginas, escrito de forma isenta, imparcial e sem rodeios.
Perceba ao pormenor um importante período da História de Portugal e as nuances
da figura política que marcou o país:
As raízes - O assassínio
de Humberto Delgado - Guerra
em África - O
escândalo sexual dos “ballets rose” - A
queda -
Morte
Salazar
Chegou a ministro das Finanças em
1926, ascendeu à presidência do Governo em 1932. Manteve-se durante 42 anos no poder. Escapou a um atentado à bomba, resistiu a
tentativas de golpe, a conspirações militares, a acções revolucionárias. Caiu, por fim, traído por uma velha cadeira
desengonçada.
As raízes O seminário Horror à I República Luxo em Coimbra Deputado
por um dia O regime é ele Atentado
à bomba A vida secreta nos amores O
namoro com Christine Garnier Traição dos ingleses O assassínio de Humberto Delgado A
PIDE Guerra em África Ordem para resistirem na Índia até ao último
homem Henrique Galvão e Palma Inácio – os mais
perigosos inimigo O escândalo sexual
dos ‘ballets rose’ A queda
Morte
Todavia, para um registo mais completo
da história contada por Manuel Catarino, copio o seu Índice,
para registar passos que encontrei na leitura desta biografia isenta, de 262
páginas, que contém, no seu final, ainda, uma CRONOLOGIA com os dados
históricos para uma visualização sinóptica rememorativa.
ÍNDICE
PREFÁCIO DE FRANCISCO MOITA FLORES
1 - UMA VIDA PROMETIDA À IGREJA: O mito de que nasceu numa família pobre. Os
rigores do seminário. Lágrimas pelo rei. O flagelo da “peste branca” (tuberculose).A caminho de Coimbra. | 15
2 – HORROR À I REPÚBLICA: Os primeiros tempos de Coimbra. Militância
no Centro Académico da Democracia Cristã. O poder da “rua” republicana.
Doutrinador católico. A Europa em Guerra.| 31
3 – A AGONIA DA I REPÚBLICA: Dedicado à carreira académica em busca de
prestígio. Portugal entra na guerra, País à fome. O golpe de Sidónio. A noite
sangrenta. O princípio do fim da I República.| 51
4 - ASCENSÃO AO PODER: O golpe militar do 28 de Maio. Aceita ser ministro das
Finanças. Desconfiado das intenções da tropa, demite-se e regressa a Coimbra.
Volta ao Ministério das Finanças. É o doutrinador do regime. | 91
5 - OS AMORES DE SALAZAR: O namoro, ainda seminarista, com Felismina
Oliveira. A paixão pela filha da madrinha. Um elegante e sedutor passeia-se por
Coimbra. A lucrativa actividade de jurisconsulto. A intimidade com a pianista
Glória Castanheira. O anunciado casamento com Júlia Moreira. Os encontros com
Maria Laura no Hotel Borges. O doce namoro com Christine Garnier.| 103
6 – FUNDADOR DO REGIME: A obra financeira. Internado no Hospital da Ordem Terceira. Cai o
Governo, mas Salazar mantém o estatuto de indispensável. É por fim chefe do
Governo. Atentado à bomba. O terror da polícia política. As farsas eleitorais.
Salazar gozado na capa da “Time”. Humberto Delgado faz tremer o regime. O
assassínio do “General Sem Medo”. |119
7 – REVOLTAS CONTRA SALAZAR: Revolta da Madeira. O movimento de 18 de
Janeiro. Revolta dos Marinheiros. Greves e agitação social. Junta Militar de
Libertação Nacional. A Revolta da Sé. Henrique Galvão e Humberto Delgado juntos
no exílio. Operação Dulcineia. Operação Vagô. O Golpe de Beja. Revolta
estudantil. Operação Mondego. | 151
8 – 1961: O ANO DA GUERRA: Salazar cego e surdo aos novos ventos da independência
das colónias. Isolamento internacional. Revolta em Luanda. Chacina na Baixa de
Cassange. Massacres no Norte de Angola. O início da guerra. Ministro da Defesa (General Júlio Botelho Moniz) tenta golpe para depor Salazar. “Rapidamente
e em força para Angola”. Cai o Estado Português da Índia. Guerra colonial
estende-se à Guiné e a Moçambique. |179
9 – AS ÚLTIMAS FÉRIAS NO FORTE: O escândalo dos “ballet rose”. As taras
sexuais de pias figuras do regime nas páginas da imprensa estrangeira. Salazar
cai por duas vezes da cadeira. Operado à cabeça. Trombose deixa-o em coma.
Afastado do poder, Governo nomeia “comissão de enterro”, mas Salazar resiste à
morte. Recupera do coma e vai para a residência oficial. Ninguém lhe diz que já
não governa. A morte, em 27 de Julho de 1970. |197
Eis,
pois, uma breve biografia de um
Homem que soube responder sempre às provocações quer internas quer da ONU e dos
países poderosos que, porque das colónias que possuíam, mais recentes, apenas
lhes interessando o que delas extraíam, facilmente seguiram as novéis
doutrinações descolonizadoras, ironizando contra as caturrices de um patriota
prezador da sua história antiga, e que lhes fez frente, mau grado a sua inferioridade nacional e o cinismo
desses, esquecidos de que eles próprios foram usurpadores e destruidores de
povos, vivendo agora em nações independentes, não abrangidas nas doutrinas da
não discriminação, contidas na «Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948», discriminação
que imputavam aos povos colonizadores, no seu grosso, fixados , à época, no continente africano. Contrariamente ao que se lhe
exigia, e mau grado os percalços da ocupação da Índia portuguesa e da violência
terrorista inicial em Angola, Salazar organizou a defesa dos seus territórios
ultramarinos, enviando tropas para eles, iniciando um período de defesa que
permaneceu ainda mais de uma década, caracterizada por um desenvolvimento
nesses, como jamais havia sido, pese embora as fugas para o estrangeiro de
muitos jovens a quem as condições familiares protegeram, ou as traições
cometidas por tantos desses que se aliaram facilmente à doutrinação refractária
ao colonialismo e que ainda hoje se passeiam vitoriosos nos corredores da nação
reduzida.
Não aconteceu assim com os
meus dois maridos – o primeiro, chamado a prestar serviço em Moçambique, bem
como o seu irmão, apesar de já formados, prejudicando as suas carreiras. O
segundo, que vivia em Moçambique, veio para Portugal seguir a Escola de
Paraquedismo, partindo em seguida para Angola, onde permaneceu dois anos na sua
missão de defesa pátria. De novo em Moçambique, estudou, e quando voltou para
cá, trabalhou e estudou, como homem que cumpriu, obedecendo, como fizeram
tantos outros cumpridores do destino que lhes foi ditado por aquele a quem
apelidaram de ditador – os que não quiseram - e puderam, por razões económicas ou
outras mais comprometedoras de carácter - cumprir os seus ditames. É certo que,
logo após o 25 de Abril, conheci dos que se mudaram de parecer e se apressaram a declarar-se perseguidos
pela PIDE, para mais facilmente acederem aos ventos da democracia acolhedora. Mas
o meu segundo marido não se demoveu nunca dos princípios da sua escola, que foi
também a minha, de respeito pelos valores impostos por Salazar - na
independência, todavia, de um pensamento não resignado. E como ele, muitos
outros que, ou se calam, ou não receiam defender – democraticamente –
princípios necessários à condição humana que não pretende viver na anarquia.
Será um desses, o autor do livro “SALAZAR”
- Manuel Catarino. E outros muitos que encontro nos jornais, para nosso
bem-estar espiritual, os quais vão ousando viver na independência dos seus
pensamentos não orientados por slogans mais ou menos balofos, de desrespeito gratuito.
Entretanto, os nossos montes vão ardendo, as águas dos rios
poluindo-se, a violência, a corrupção, a inacção manchando de insanidade este
nosso país que vai deslizando para um futuro perigosamente vazio, mau grado as inovações e melhorias que dinheiros estrangeiros possibilitaram, despreocupados, os protestantes da solidariedade humana, do seu ressarcimento, tal como acontecera na primeira República, situação a que só um Salazar de génio e estudo financeiro poria cobro, apesar dos atentados a que escapou, corajosamente continuando, e sacudindo a poeira do seu fato escuro, e que costumava afirmar, segundo contava uma pessoa conhecida da minha irmã, amiga da tal fiel governanta de Salazar, Maria de Jesus Caetano Freire, que o acompanhou "desde os tempos de Coimbra", que esta referia o dito de Salazar de que, quando morresse, só encontrariam cotão nos seus bolsos.
Julgo, contudo, que é esta mentalidade mesquinha, habituada ao cotão, que a esquerda, promotora das greves, porque não pertence ao poder, quer ainda hoje reduzir o país, lutando afincadamente pelas igualdades sociais sabendo quanto são falaciosas. Salazar, esse, sabia-o. Mas o cotão dos seus bolsos era largamente compensado pelo estudo, da sua ânsia de se diferençar. E tal não lhe é perdoado pelos do cotão do nosso antigo fado e da nossa crosta de sempre.
Julgo, contudo, que é esta mentalidade mesquinha, habituada ao cotão, que a esquerda, promotora das greves, porque não pertence ao poder, quer ainda hoje reduzir o país, lutando afincadamente pelas igualdades sociais sabendo quanto são falaciosas. Salazar, esse, sabia-o. Mas o cotão dos seus bolsos era largamente compensado pelo estudo, da sua ânsia de se diferençar. E tal não lhe é perdoado pelos do cotão do nosso antigo fado e da nossa crosta de sempre.
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