Quando andava no meu 4º ano do
liceu, o padre José Nunes, nosso professor de Moral – mais do que de religião,
que não me lembro que impusesse, ou que nos ensinasse, sequer, a ler a Bíblia,
que eu tanto desejava conhecer, sobretudo no mundo mirífico do Velho Testamento
- perguntou às alunas se eram baptizadas. Todas responderam normalmente, numa
estatística de afirmação positiva que deveria rondar os 100%, nesses tempos
gloriosos de obediência estrita às normas civis impostas, que não lembrava ao
diabo pôr em causa, nem, de resto, parecia importante. Mas houve uma aluna – a
Isabel Koch – tão simpática sempre, e de quem eu gostava a valer, pela sua
compostura e educação – que toda se revoltou em brados do meu espanto: as
características específicas dos cidadãos, envolvendo ideologia, eram pessoais e
secretas, nenhum Estado ou, pelo menos, nenhum instrumento desse Estado tinham
o direito de nele querer imiscuir-se, cada um seguindo os hábitos da sua
religião ou da ausência dela. E a velha admiração permanece, ao lembrar o
episódio, pela liberdade de pensamento e de opinião manifestada por essa colega
de origem alemã, que nos dava uma lição de independência e orgulho próprio,
aprendido com os seus familiares, que uma educação mais potente – mau grado o
interregno de um governo ditatorial assustador – ensinara a preservar.
Vem o intróito por conta da
crónica de Rita Fontoura, - Igualdade
de Género vs Ideologia de Género – despoletada (se me é permitido usar o
termo que os mais puristas entendem erróneo
defendendo a mais lógica “desespoletada”) – despoletada, repito, pelo
inquérito, numa escola portuguesa, sobre a vida sexual das crianças
pré-adolescentes. Ao invés de dar um parecer, necessariamente indignado pela
“parvoiçada” pedante e provocatória nele contida, transcrevo algumas opiniões
pró e contra, as do pró cuidando que tal tipo de investigação - que não passa -
(sempre vou opinar) - de pura canalhice deseducativa e desrespeitadora do mundo
íntimo infantil, dum modo geral ingénuo, servirá, pelo contrário, para defender
valores de liberdade e aceitação respeitadora. Realmente, tudo isso não passa
de má formação e deveria ser punido o professor ou a instituição que promoveram
o inquérito. A aceitação do “outro”, por muito aberrante que pareça, depende de
uma educação real, nos valores que diferenciam os seres, não sendo necessário o
exibicionismo provocatório do tal “género”, (segundo a terminologia da nossa solidariedade
democrática recente) para que se aceite o outro, pobre, rico, branco ou de
outras cores, homem, mulher ou assim assim.
Cada um é “seus caminhos”, afinal, informou
Gedeão … Ou, como escreveu José Gomes Ferreira, embora um tanto fora do
contexto, mas para nos limpar a alma:
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Uma crónica importante, a de Rita Fontoura, de
raciocínio lógico, terçando armas pela Educação do seu país futuro. Que nunca
as mãos lhe doam.
Igualdade de
Género vs Ideologia de Género”
RITA FONTOURA
OBSERVADOR, 12/10/2018
Queremos um ensino tendencialmente gratuito, mas não queremos que o
Estado decida qual a ideologia, religião ou modelo educativo que melhor se
adequa aos nossos filhos. Isso é tarefa das famílias.
A propósito do episódio inacreditável de apresentação de um inquérito
sociodemográfico a alunos do
5º ano numa escola
pública no Porto, parece-me importante parar um pouco para pensar no que está a
acontecer no mundo da educação e da saúde.
A educação e a saúde são serviços a que todos temos direito e que no
nosso país, segundo a constituição, devem ser tendencialmente gratuitos.
A família é um dos pilares da sociedade, aliás de acordo com a ONU “a família é a célula base da sociedade e
por isso deve ser fortalecida”. Por esta razão, cabe ao Estado apoiar e
proteger a família para que esta possa cumprir o seu papel nomeadamente no que
respeita à formação das crianças.
Temos portanto esclarecido que cabe à família a formação dos seus filhos e ao Estado o apoio à família para
que possa cumprir a sua tarefa.
O que é a igualdade de género? É
a promoção do direito a igual dignidade e iguais oportunidades entre homens e
mulheres. Ter iguais
oportunidades e igual dignidade deve conferir a cada ser humano a capacidade de
escolher, de acordo com as suas preferências e de forma livre. Neste contexto entende-se
a existência de dois géneros: o género feminino e o género masculino a que
correspondem características biológicas bem distintas, responsáveis por
diferentes preferências, por diferente aparência, enfim por um diferente
comportamento. A igualdade de género deve promover também o respeito por estas
diferenças biológicas através de políticas específicas para a condição por
exemplo da mulher grávida, já que não existe a possibilidade de um homem
engravidar e políticas genéricas, quando não estão em causa condições
específicas, como por exemplo o acesso ao trabalho.
Em suma, a preocupação de um estado com a igualdade de género é
louvável e deve ser entendida como uma oportunidade para as famílias repensarem
a sua organização e a forma como preparam os filhos para um mundo competitivo,
culturalmente diverso e socialmente complexo.
E o que é a ideologia de género? É uma corrente de pensamento que defende
que a identidade sexual dos seres humanos não depende da biologia, ou seja, da
natureza, mas sim de factores culturais, podendo ser moldada pela educação.
Nesta linha de pensamento os seres humanos são aquilo que pensam ser e não o
que a biologia diz sobre eles inclusivamente, ignorando a dimensão hormonal. Levada ao extremo, esta ideologia propõe a existência de muitos
géneros e não apenas homens e mulheres e ainda a mudança de género ao longo da
vida de acordo com a ideia que cada um vai formando de si mesmo.
Os defensores desta ideologia
usam o método da apropriação de conceitos mais consensuais para nos confundir.
É este o caso da confusão que se gera em torno da igualdade de género e da
ideologia de género.
Volto agora à razão por escrevo estas palavras – o inquérito na escola Francisco Torrinha.
Para além do apuramento dos factos que desejamos que aconteça de forma
cabal, é necessário que as famílias se unam em torno do perigo a que estão
sujeitas ao serem relegadas para segundo plano, deixando ao estado o papel de
educar os seus filhos. Não é isso que está na constituição. Queremos um ensino
tendencialmente gratuito, mas não queremos que o Estado decida qual a
ideologia, religião ou modelo educativo que melhor se adequa aos nossos filhos.
Isso é tarefa das famílias. Se o Estado quer ter escolas em vez de promover e
financiar a iniciativa privada, deve abster-se de impor através de disciplinas
específicas ou de forma disseminada nos conteúdos programáticos das diferentes
disciplinas, temas que extravasam os saberes específicos (matemática, português,
história, ciências, etc). Quaisquer outros temas, sejam ideológicos ou
religiosos, podem ser ofertas da escola mas com carácter de livre escolha e
apresentados de forma transparente para que os pais possam entender a proposta
e aceitá-la ou não para os seus filhos.
O que aconteceu na escola
Francisco Torrinha foi a aplicação de conceitos da ideologia de género de forma
obrigatória e não consentida.
Este não foi um caso isolado. O Ministério da Educação tem em marcha um
plano educativo com acções de formação para professores e outros agentes de
educação e com manuais escolares que ensinam a ideologia de género. Os pais devem estar atentos e usar todos os
meios para rejeitar liminarmente toda e qualquer ingerência de carácter
ideológico na formação dos seus filhos.
As famílias não têm sindicatos que as defendam e cada vez menos
partidos se interessam por elas. Mas as famílias têm a maior de todas as forças
— o Amor que nos faz até dar a vida pelos nossos filhos. Olhemos com olhos de
Amor para a educação dos nossos filhos. Não chega oferecer-lhes bem-estar é
preciso formá-los para que estejam preparados para os desafios do mundo. Dá
muito trabalho mas só assim poderemos um dia descansar por sentir que cumprimos
o nosso dever.
COMENTÁRIOS:
Maria José Melo: Existe
realmente uma ideologia de género. As pessoas que a defendem querem acabar com
a sociedade como a conhecemos e criar outra, que elas possam manipular.
Paulo Lopes: Excelente
artigo. Começou
nas escolas a tal educação para a cidadania que não é mais do que doutrinar os
jovens para a aceitação da ideologia de género. É preocupante... Vamos acordar
pais, professores e alunos.
Maria Emília Santos Santos: Numa
democracia cada um é livre de ler e escrever o que pensa, mas na nossa, que de
democracia pouco tem, só se for a favor da ideologia de género, é que se pode
livremente dizer tudo de bom. E como ela é uma mentira pegada e total, é uma
autêntica enganação, pessoas verdadeiras não servem! É preciso é entrar nas
escolas, camuflados de Cidadania e Desenvolvimento, de Flexibilidade escolar,
de inclusão, de escolas para todos, etc...para "educar"as nossas
crianças na podridão do engano de que nascem sem sexo, ou que o sexo não
existe, e que eles podem escolher, e ser outra coisa qualquer.
Obrigada
Rita Fontoura, pelo seu extraordinário artigo! Há muita confusão em volta deste
assunto, porque ele é envolto em mentira, para melhor o poderem impor aos
nossos filhos e netos! A ONU tem o seu especialista LGBT de nome, Vitit
Muntarbhan a quem entregou um relatório com poderes absurdos, inclusivamente de
interferir nos governos soberanos dos países sobre como deve agir, para que a
homossexualidade seja vitoriosa em metade da população mundial até 2030. (veja-se
relatório). (Editorial: O Primeiro Relatório do CZAR LGBT da ONU Falsifica o
Registo da ONU). Este relatório "visa as crianças, promove o casamento
homossexual, denigre a cultura tradicional e a religião e endossa a
interferência nos assuntos internos dos estados soberanos".Etc... O mundo
inteiro tem feito manifestações de toda a espécie, contra esta diabólica
ideologia, que tem por objectivo destruir a humanidade! A media está totalmente
nas mãos deles, e nós, as famílias, só sabemos o que lhes agrada a eles, que
são mentiras umas atrás das outras. Existem imensas associações de pais, por
todo o mundo, contra este veneno que é a ideologia de género. A ideologia de
género como o aborto, estão na mão de lobbys poderosíssimos, que nós nem
imaginamos.
Anti Esquerda: "de acordo com
a ONU “a família é a célula base da sociedade e por isso deve ser fortalecida”.
Por razões puramente ideológicas, a Esquerda mais não faz, e permanentemente,
do que tentar por todos os meios e processos DESTRUIR a família, tentando assim
destruir a actual Sociedade para posteriormente construir (supostamente) o
"admirável mundo novo"
…MCMCA -> A Fábio Gomes: Pelos vistos você não leu o inquérito ou se o leu foi
com muito pouco rigor porque à criança foi perguntado se se sentia mais atraída
por homens ou mulheres (e não se gosta de meninos ou meninas), pergunta essa
que vem na sequência de duas outras sobre o namoro. Deste modo começa-se por aceitar que tanto faz ser atraída por homens
ou mulheres porque é tudo igual começando logo aí implicitamente a induzir que
a norma (estatística) é idêntica. Pior, vulgariza-se que crianças sejam
atraídas por adultos abrindo caminho à pedofilia e, ainda por cima, ingerem-se
em algo que é do foro intimo de cada um e que lhes caberá decidir quando
chegarem à idade adulta.
Carminda Damião: Excelente
texto. Os responsáveis deste inquérito aberrante, devem ser punidos.
Diego Maradona: Um dos melhores artigos
que já li sobre o tema. Explica de uma forma clara e simples tudo que está em
causa. Parabéns. Agora que podemos fazer para evitar que o estado doutrine os
nossos filhos
Domingos Dias
-> Diego Maradona: Devemos atacar estas idiotices em vez de ficarmos
calados. QUEM CALA CONSENTE
Maria Augusta Martins: Géneros? Só Alimentícios! Temos
sexo, macho ou fêmea e às vezes aparecem umas aberrações da natureza, síndroma
de Klinfelter! O resto são masturbações psico-ideológicas de cérebros imaturos
, drogados ou alcoolizados!
Guilherme A. Ferreira Promover
a tolerância e o respeito por pessoas com identidades, interesses e gostos
distintos aos nossos não é uma matéria ideológica. Não é isso que a
Constituição consagra? Que todos os seres humanos têm a mesma dignidade
independentemente da raça ou do género, da ideologia ou da orientação sexual?
Se assim é, ensinar as crianças a perceber que há pessoas diferentes e que
devem respeitar essas diferenças, não é uma matéria ideológica, que dependa
exclusivamente da vontade das famílias. É uma matéria que o Estado deve
promover e é uma mensagem que deve ser disponibilizada a qualquer criança. Ou
será que queremos cidadãos preconceituosos? Será que o Estado não deve fazer
nada que contrarie famílias que ensinam as crianças a serem racistas? Deve o
Estado ficar indiferente perante famílias que ensinam as crianças a terem medo
ou ódio de estrangeiros? O
que é isso de "bem formar" as crianças? É fazer delas
preconceituosas?
victor guerra
-> Guilherme A. Ferreira: Você tem mais atracção
sexual por mulheres, homens. homos, trans, crianças ,já que tem um cabaz aberto
e "sem preconceitos"?
Guilherme A. Ferreira -> victor guerra: São importantes, para esta discussão, as minhas
atracções? Ou será que é mentalmente destituído ao ponto de julgar que, para
sermos tolerantes com pessoas de raça distinta, temos de informar o mundo sobre
a nossa raça? Que pergunta mais idiota a
sua.
Pedro Anjos: O inquérito em questão nada teve a ver com ideologia
de género - apesar de concordar com o ponto de que o Estado não deve promover
agendas ideológicas ou religiosas (mas atenção, ensinar tolerância não é
promover ideologias), quer-me parecer que a autora está a tentar aproveitar a
onda para empurrar uma agenda sua contra o que chama ideologia de género.
ProtoTypical ->
Pedro Anjos: "Nada teve
a ver com ideologia de género"? Ou vive noutro planeta, ou tacitamente
legitima esta barbaridade de exploração sexual de crianças e jovens.
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