sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Riso e lágrimas, é do que se trata



O Público de 9/9 contém um Editorial de Manuel Carvalho“O caso “estranhíssimo” visto pelo professor Cavaco” – condenando a intervenção de Cavaco Silva, na sua censura à exclusão de Joana Marques Vidal de um segundo mandato de PGR feita por este governo de Marcelo e Costa. Tal intervenção mereceu a MC duras críticas, não só pelo clima de suspeição criado em torno da nomeação de Lucília Gago, como pelo que significa de falta de ponderação e recato exigíveis a um ex-Presidente, o que atrairia, naturalmente, os doestos de parceiros ideológicos contra o ex PR, embora também ali surgissem pareceres positivos, como o que transcrevo, por comungar com idêntica opinião:
OldVic: Dei-me ao trabalho de ler todos os comentários e confirmei a minha previsão inicial, feita logo que li a coluna: Cavaco ia ser atacado por quem é e não pelo que fez. Um governante vindo de origens humildes que teve uma carreira política de sucesso única na nossa democracia e que nunca passou a mão pelo pêlo das elites instaladas foi, é e será sempre um intruso a abater, seja lá de que maneira for. A oligarquia só admite membros e convertidos à causa oligárquica. A oligarquia gosta muito mais de Sócrates do que de Cavaco, até porque paga muito menos as consequências dos desmandos de Sócrates do que o resto da população. São as “elites” que temos, pobres de nós.
Mas no Observador a condenação de Marcelo Rebelo de Sousa feita por Cavaco Silva, a respeito do mesmo caso, é tratada mais airosamente por Miguel Pinho, com a necessária dose de humor e não resisto a transcrever o texto e bem assim alguns dos comentários pró e contra.

Marcelo, Cavaco e o silêncio de Bento XVI /premium
MIGUEL PINHEIRO
OBSERVADOR, 3/10/2018
Marcelo gostava que Cavaco se retirasse para um mosteiro, como fez Bento XVI depois de deixar o seu cargo. Porque o ex-Presidente representa a direita que votou nele apenas por não ter alternativa.
Se dependesse de Marcelo Rebelo de Sousa, o seu antecessor seguiria o santo exemplo de Bento XVI: depois de deixar o cargo, teria recolhido para um mosteiro e para uma vida de oração e silêncio. Aliás, pensando bem, não seria preciso tanto: a parte da oração era dispensável — bastava o silêncio.
Decididamente, o Presidente da República actual não gosta que o Presidente da República anterior fale, mesmo que da sua boca saiam frases que não incluem as palavras “Marcelo”, “Rebelo” ou “Sousa”. Depois de Cavaco Silva ter descrito a não recondução de Joana Marques Vidal no cargo de procuradora-geral da República como “talvez a mais estranha decisão da geringonça”, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu colocar o seu corpo presidencial entre Cavaco Silva e António Costa e assumir que, de alguma forma, era ele quem estava em causa naquela crítica e não o primeiro-ministro: “A nomeação da procuradora-geral da República foi uma decisão minha e de mais ninguém. Portanto, o que me está a dizer é que o Presidente Cavaco Silva, no fundo, disse que era a mais estranha decisão do meu mandato”.
Qualquer pessoa fica tonta com esta pirueta retórica, que pretende colocar um nevoeiro onde havia clareza e transformar uma acusação numa insinuação. Depois de virar a frase de Cavaco Silva contra si mesmo, Marcelo optou por falar sem falar e por dizer sem dizer. A frase “Entendo que não devo comentar nem ex-Presidentes, nem amanhã, quando deixar de o ser, futuros Presidentes, por uma questão de cortesia e de sentido de Estado é um código pouco elaborado para Marcelo comentar o comportamento de Cavaco ao mesmo tempo que assegura não o estar a comentar. É um piscar de olho imaginário a quem o ouve: como diria alguém, “vocês sabem que eu sei que vocês sabem que eu sei”.
Deste episódio — e de outros semelhantes — sobra uma constatação: Marcelo Rebelo de Sousa não gosta que Cavaco Silva fale porque qualquer coisa que o ex-Presidente diga, mesmo um simples “bom dia”, parece uma crítica (e muitas vezes é) ao actual Presidente. E esta constatação força-nos a procurar uma pista: porquê?
Sim: porquê? Porque é que mesmo um perfume de crítica, vindo de Cavaco Silva, incomoda tanto Marcelo Rebelo de Sousa, levando-o a explicar-se e a responder? Talvez por causa disto: Cavaco representa a direita que elegeu Marcelo apenas porque, na ausência de alternativa, preferiria qualquer pessoa a Sampaio da Nóvoa. Essa direita suporta Marcelo mas não o respeita, não o compreende e, acima de tudo, não confia nele. Acha que o Presidente tem convicções a menos e jogo de cintura a mais; acha que fala quando não deve e cala quando não pode; acha que se expõe muito e se resguarda pouco. Marcelo sabe que, se tiver a mais pequena oportunidade de o abandonar sem entregar Belém à esquerda, essa direita fá-lo-á sem hesitações nem remorsos.
Eu referi o silêncio de Bento XVI, mas, na realidade, o Papa emérito já falou depois de se retirar. E até comentou o seu sucessor: disse que “não tinha pensado nele” para o lugar e que a sua escolha foi “uma grande surpresa”. Nisto, Ratzinger e Cavaco concordarão: o ex-Presidente também “não tinha pensado” em Marcelo para o suceder e, como se constata repetidamente, a escolha terá sido “uma grande surpresa”.
COMENTÁRIOS:
Manuel Pinto: Na "democracia" que assaltou cá o sítio, no tal Abril, vota-se, infelizmente, no mal menor. Assim tem sido e, vai continuar a ser. Para quê estar a gastar "latim" antes do tempo. Esperemos pelos próximos "redentores", decidindo-se seguir, quem parece menos mal!!!
Alfaiate Tuga: Estão todos bem uns para os outros, o Cavalo foi PR enquanto o 44 e os amigos andaram a rebentar com o país com negócios ruinosos para o estado, mas este não viu nada nem sabia de nada, foi surpreendido pela banca rota da mesma forma que o padeiro do meu bairro. Alguém que é presidente da república tem obrigação de estar mais bem informado e alertar o povo para os desvarios do governo. Também não se safa das negociatas com as acções do BPN e do grupo de ministros e secretários de estado dos seus governos hoje a braços com a justiça. O cata-vento é um Chico esperto, daí a alcunha encaixar como uma luva, toda a vida foi funcionário público , não conheço nada que tenha gerido ou liderado com sucesso, que currículo tem para ser PR? No meu ponto de vista nenhum, por isso não teve o meu voto. Até ao dia que aceitou correr com a PGR, via-o como uma figura bizarra que não tinha noção do ridículo, hoje vejo como mais um que deve ter o rabo preso. A única justificação que vejo para não bater o pé aos xuxas no caso da PGR, é saber que se o amigo Salgado fosse engavetado este começava a cantar e entalava metade da classe política e jornaleira deste pobre bocado de terra. Pensar que mais vale o povo viver na ignorância que saber toda a verdade, talvez seja o pensamento deste PR e talvez o meu, pois acho que,  se se soubesse tudo, não haveria gaiola para tanta gente e teria de ser a UE a enviar uma comissão de gestão para a Tugolândia, talvez esteja a ser demasiado tremendista, mas com o que se vai sabendo temo que seja a realidade.
Jose Almeida: Isto é simplesmente ridículo. O PR insurge-se e com toda a razão. Quanto à frase do Sr. Banalidades, o q esta diz é q a não recondução da PGR é a coisa "mais estranha q a Geringonça fez"...?! Ora, portanto, tudo o resto q a Geringonça  fez na governação do país é pouco ou nada estranho? Normal? Digno de apreço? Estranho é o q o Sr. "Q nunca se engana" diz. Viva a Geringonça então. 
Jorge Madeira Mendes -> Jose Almeida: Seja honesto. Cavaco afirma não se lembrar de alguma vez ter proferido a frase "Nunca me engano [e raramente tenho dúvidas]", e a verdade é que nunca ninguém provou que ele a tivesse proferido. Em toda a aparência, tratar-se-á de uma atoarda com que tentaram denegri-lo.  Curiosamente, uma outra frase (essa sim, verdadeiramente afrontosa) como "2017 foi um ano particularmente saboroso", proferida por António Costa em relação ao ano em que se deram os dois incêndios mais mortíferos da História de Portugal e em que ocorreu o grotesco e inacreditável roubo de armas em Tancos, não fica para a História (porque a esquerda, que você, aparentemente, apoia, é extremamente habilidosa a denegrir os seus adversários, ao mesmo tempo que salvaguarda as suas própria hostes).  Por outro lado, acho que você não percebe nada do que lê. Quando Cavaco diz que a não recondução da PGR foi a medida mais estranha da Geringonça, isso significa que há outras medidas estranhas, de entre as quais esta é a mais.  Só se ele tivesse dito que era a ÚNICA medida estranha da Geringonça é que se poderia concluir que tudo o mais era pouco ou nada estranho.  Percebeu agora?
ALBERICO LOPES: O actual presidente, a quem já por mais de uma vez pedi para me devolver o meu voto, foi para mim a maior desilusão e até a maior traição ao eleitorado que o levou àquele lugar! Foi ele, juntamente com o Marques Mendes, o Pacheco Pereira e a Manuela F.Leite e o Rui Rio quem, com as suas críticas constantes e ferozes e a maior parte das vezes injustas contra Passos Coelho, permitiram que se formasse a geringonça e o sr. Costa não tivesse sido corrido do PS e agora ande levar-nos de novo para a bancarrota! Mas quando tal suceder, o dr. Marcelo não terá desculpas: ele será  o maior culpado!      
José Filipe Fernandes: Preciso e conciso. Parabéns pelo artigo pois relata na perfeição quem é este Marcelo. Não abdica do protagonismo e mostrou, para quem ainda tivesse dúvidas, que faz parte plena da geringonça. Por isso é que esta solução governativa se mantém em funções depois de tantos e tantos erros que cometeu ( fogos florestais, Tancos, Infarmed, saúde, CGD, BES,....). Já o ano passado quando Cavaco falou na universidade de Verão do PSD, com duríssimas críticas também a Marcelo, este empertigou-se todo, tal betinho de Cascais que o é. 
Joaquim Zacarias: MARCELO e COSTA estão mancomunados no objectivo único de serem reeleitos. Só não vê quem não quer. Os aliados de um, são os aliados do outro. Os adversários políticos do primeiro são os adversários do segundo. É evidente que ao nível da linguagem tudo é dito de forma dissimulada, mas na prática tudo é feito às claras.
Francisco Pinto: São estes pequenos episódios que desmascaram a teia pensada, arquitectada e urdida pela oligarquia para manter os privilégios e afastar personagens como Cavaco Silva ou Passos Coelho. 
E é óbvio que Marcelo representa e defende essa oligarquia, como o tem feito com Costa, mesmo que os episódios gravíssimos se repitam. E isso também explica a exposição exagerada às selfies e aos afectos. Com abraços e beijinhos se enganam os tolinhos
André Ondine: Eu iria mais longe nesta análise. Marcelo não quer que Cavaco se cale. Quer que Cavaco fale. Para depois o poder humilhar e aumentar a sua "popularidade populista" junto a quem lhe interessa engraxar. Para Marcelo, a preocupação nem é tanto a direita que Cavaco representa. Para Marcelo, o importante é cavalgar a onda anti-Cavaco que está tão em voga, e que é tão bem alimentada e cultivada pela elite política / comentadora / cultural que dita as novas tendências e que não suporta (já o referi aqui antes) aqueles que não só não pertencem a essa dita elite, mas também não se deixam condicionar por aquilo que a tal elite pensa ou comenta. Esta gente despreza, humilha e faz bullying a políticos como Cavaco, Passos Coelho ou mesmo António José Seguro. E cria vagas de fundo que acabam por se tornar tendências. Hoje em dia, são poucos aqueles que, sem medo de serem também humilhados, defendem publicamente qualquer um estes três políticos (talvez Passos escape a esta tendência, mas também é visto pelos elitistas urbano-pseudo-intelectuais como um provinciano). E isso é visível nos jornais, no meio artístico, no meio académico e em muitos outros círculos que criam tendências e movem influências, por vezes de forma perniciosa. É importante dizer que Cavaco é uma esfinge, que Passos é parolo e provinciano e que Seguro é também um provinciano sem carisma. Isso dá votos. Dá likes. É popular. É populista. É Marcelo. 
E Marcelo sabe disto perfeitamente. Criticar Cavaco dá-lhe votos. Aumenta a sua popularidade. Torna-o mais trendy junto à elite que lhe interessa bajular. Por isso alinhou na trapaça de Costa com a Procuradora-Geral da República. Por isso tentou rebaixar Cavaco. Por isso é o mesmo Marcelo de sempre. Afectuoso, mas maquiavélico. Desleal. 
Sinceramente, nem concordo com Miguel Pinheiro quando este diz que Marcelo quer o silêncio de Cavaco. Não quer não. Quer que ele fale. Para depois ser Marcelo. Para depois, repito, pois não é demais referir, poder humilhar e rebaixar e cair nas boas graças dos muitos Pedros Marques Lopes que por aí andam.... num caminho de revanchismo pessoal, que arrasta consigo uma comunidade de ética questionável e de interesses algo obscuros. É essa comunidade que, infelizmente, hoje produz opinião. E Marcelo quer uma boa opinião para si. Nem consegue viver doutra forma. 


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