Hoje assisti ao debate do Prós e Contras, sobre o movimento MeToo,
respeitador acérrimo do ser humano fêmea, debilitado por séculos de opressão
machista e que, neste momento de liberdade democrática e de enriquecimento
facilitado por truques de sobrevivência (mas disso não se falou no Programa, apesar
de estar implícito no caso da acusação a Ronaldo), explora confiantemente o seu
poder de vítima, legalmente persecutória do seu algoz, segundo as propostas do
movimento, de luta contra a violação sexual da mulher, tendo em conta o
presente caso do nosso Cristiano Ronaldo, a cujo nome de baptismo, ligado ao
fervor religioso dos familiares que o baptizaram, espero que fique a dever, se
outra sorte justiceira o condenar, uma absolvição baseada no apoio do Salvador,
ou, se não, no preceito clássico “errare humanum est”, embora a violação seja
definida não como erro, mas como crime. Gostei do debate, que confrontou a
historiadora Raquel Varela e a advogada Isabel Moreira, a
primeira das quais não se importou de falar em caça às bruxas, a respeito da
sanha extremista do MeToo contra os prevaricadores machos. Outras figuras se
destacaram, um professor de Estudos Sociais, um cientista, a professora Rita
Vale… Esta última considerou que a culpabilização da vítima, com base em
estereótipos, não seria corrigida através do movimento MeToo, o que a
percentagem final à mesma resposta, dada pelo público, confirmaria. A
jornalista Carla Macedo defendeu a importância do jornalismo na
formação do movimento, falou-se em falta de capacidade empática para ouvir as
mulheres, um jovem da assistência defendeu a liberdade (por ele “imposta” ao
seu filho pequeno) de este não beijar a avozinha, o que provocou reacções de
protesto, entre as quais a de Raquel Varela, que muito me aprouve escutar,
a qual afirmou exigir os beijos dos seus filhos à avozinha, como preceito
educativo. Foi um debate e pêras, mas à pergunta sobre se o tal movimento
contribui para o estabelecimento da igualdade entre os “géneros” - embora não
se tivesse explorado o do “assim-assim”, o masculino e o feminino estando por
ora na berlinda do MeToo, mais a criancinha cujo papá entende não ter que
beijar a avozinha, para se definir em liberdade – dois terços das respostas
foram negativas. De tudo o que aprendi, e foi muito, embora o meu poder de
retenção ande pelas ruas da amargura, o que mais me embatucou não foi a questão
da violação, coisa corriqueira, que acho, todavia, repugnante e digna de
castigo, a ser real - pois tem de passar pela presunção de inocência do
incriminado, pelo menos no caso do nosso Ronaldo, a quem Cristo protegerá sem
relutância, por lhe estar eleito no nome. De facto, o que mais me impressionou,
entre os esclarecimentos fornecidos, foi o caso do beijinho do filho do papá,
repugnado e ditador, à sua avozinha. A justificação que me acode desse facto,
de que desejou dar parte à assistência, em despropositado exibicionismo de
originalidade, pois não vai admitir a falta de educação ministrada, com isso,
ao seu rebento), é a de que a avó do menino deve ser uma camponesa de cara
enrugada e terrosa dos pós do campo onde cava, provavelmente, a sua leira, daí
a relutância do papá preocupado com as questões higiénicas que desejou
transmitir à sua cria, ele próprio bastante alvo e fino, numa aparência de
preocupação de limpeza e alimentar, esta, talvez, do domínio vegetariano,
aquela do domínio da esterilização hospitalar. Mas fosse a avozinha possuidora
de bons cabedais sonantes - embora os de papel mudo mas timbrado sejam
indiscutivelmente de maior valia hoje em dia - o tal beijinho não seria
proibido ao netinho, é um supor.
Quanto à crónica de João Miguel Tavares, sobre a ex Procuradora
Geral da República, ele defende-se e defende-a dos muitos conhecidos que
ajudaram ao seu banimento, Daniel Oliveira, Pedro Marques Lopes, Pedro
Adão e Silva, Ferreira Fernandes, Miguel Sousa Tavares ou Fernanda
Câncio, por razões que aponta, um dos seus comentadores tendo
acrescentado ainda ao rol, CFA e MST.
OPINIÃO
Corrupção e populismo segundo Daniel Oliveira
É uma coincidência
e pêras que as pessoas que durante anos e anos acreditaram na inocência de
Sócrates estejam agora a celebrar em uníssono a substituição da PGR. Caro Daniel:
antes populista do que sonso.
JOÃO MIGUEL
TAVARES
PÚBLICO, 11 de Outubro de 2011
Diz-se que o melhor truque do Diabo foi convencer-nos de que não
existe. O melhor truque dos corruptos foi convencerem-nos de que o combate à
corrupção é uma forma de populismo. Essa atitude entregou o Brasil a Bolsonaro. Por cá, na pátria dos brandos costumes,
tem sido o modo da elite política permanecer no poder sem assumir o passado,
nem mudar um milímetro o seu comportamento, apesar de o país ter colapsado na
sequência de alguns dos maiores actos de corrupção de que há memória.
Portugal não é apenas passivo – a
passividade portuguesa é activamente alimentada por numerosos políticos e
comentadores. Num texto que
publicou há dez dias no Expresso (“Polarização, justicialismo e
desprezo pelas instituições. Os nossos populistas”), Daniel Oliveira refere-se a mim, a Rui Ramos, a Helena Matos e a Pedro
Passos Coelho como o “retrato completo desta direita populista”. Dispenso
o título; agradeço a companhia. O
artigo foi escrito na sequência da não recondução de Joana Marques Vidal, e
Daniel Oliveira considerou populista admitir que o seu afastamento pudesse ser
ditado por outras razões que não a rotatividade de lugares e a protecção das
instituições. Quem, como eu, discorda disso, tem uma “obsessão quase
monotemática pela corrupção”, e acha (diz ele) que “qualquer pessoa que defenda
garantias de arguidos é amiga da bandidagem”.
O problema de Daniel Oliveira é que a estatística conspira contra ele. Eu afirmo que queria que Joana Marques Vidal permanecesse no cargo pela
forma implacável como combateu a corrupção, nomeadamente na Operação
Marquês.
Daniel Oliveira afirma que queria que
ela fosse substituída em nome das “instituições democráticas”. É aqui que
os números são úteis. Várias vezes critiquei colunistas como Daniel
Oliveira, Pedro Marques Lopes, Pedro Adão e Silva, Ferreira Fernandes,
Miguel Sousa Tavares ou Fernanda Câncio por durante demasiado tempo terem
protegido José Sócrates. Querem ver
o que é que cada um deles defendeu, nas últimas semanas, acerca da recondução
de Joana Marques Vidal?
Daniel Oliveira opôs-se, para não “abastardar as instituições
democráticas” (Expresso, 29/9). Pedro Marques Lopes, menos
habilidoso a esconder o que lhe vai na alma, opôs-se e sentiu necessidade de o
afirmar todos os domingos de Setembro, começando em “A PGR não é da Joana” (DN, 2/9) e acabando em “Marcelo, o corajoso” (DN, 23/9). Razão da sua oposição? “Defender as instituições e o seu
bom funcionamento”, claro está. Pedro Adão e Silva opôs-se (“Nada de pessoal” e
“Um bom princípio”, Expresso, 15/9 e 22/9), devido à necessidade –
imaginem – de “afirmar a credibilidade das instituições”. Ferreira Fernandes,
como de costume, não disse que sim nem que não, mas classificou o mandato de
Marques Vidal como “muito surfado”, “muita acusação e pouca uva” e (a minha
expressão favorita) “uma aparência de combate a um mal” (DN, 16/9). Miguel Sousa Tavares opôs-se e louvou Marcelo e Costa pela
decisão, já que “o que estava em causa era mostrar que a confiança essencial
tinha de ser dada à instituição” (Expresso, 29/9). Fernanda Câncio escreveu no Twitter, assim que soube o nome
da nova PGR: “pôs-se uma noite magnífica”. Ó se pôs.
É uma coincidência e peras que as
pessoas que durante
anos e anos acreditaram na inocência de Sócrates estejam agora a celebrar em uníssono a
substituição da PGR. Será mesmo o amor às “instituições” que explica esta
notável unanimidade? Caro Daniel: antes populista do que sonso.
COMENTÁRIOS
novreisb,
11.10.2018: Os comentadores referidos deveriam ter
vergonha na cara pela defesa que fizeram/fazem de Sócrates. Só não sei porque
CFA não está no rol pois as lágrimas nos olhos dela quando da detenção do
corrupto são inesquecíveis. Ao lado dela, o defensor-mor MST e Pacheco Pereira
que foi o único que lembrou, e bem, a essência da questão. Não tenho memória
fraca quando toca a corruptos.
João Lopes, 11.10.2018: Excelente
artigo de JMT. Os marxistas portugueses não criticam o socialista José Sócrates
que está para ser ser julgado por muitos crimes e deixou Portugal na
bancarrota, nem criticam os marxistas brasileiros, responsáveis pela situação
caótica e miserável que se vive hoje no Brasil. Na actual situação brasileira,
Bolsonaro talvez seja um mal menor, mas necessário…
José Sousa, 11.10.2018: Mais
importante que idolatrias de ideologias e endeusamento de certas personalidades
é estar do lado da verdade e do certo. Este é a essência do ser humano que
procura evoluir e crescer. Os resultados de uma certa esquerda pseudo iluminada
e com a mania de ser o altifalante do povo está à vista de todo o mundo:
eclipsou e implodiu. Só se pode culpar a si mesma.
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