terça-feira, 16 de outubro de 2018

PRÓS E CONTRAS sobre o MeToo na berra, e JMVidal em sessão final

Hoje assisti ao debate do Prós e Contras, sobre o movimento MeToo, respeitador acérrimo do ser humano fêmea, debilitado por séculos de opressão machista e que, neste momento de liberdade democrática e de enriquecimento facilitado por truques de sobrevivência (mas disso não se falou no Programa, apesar de estar implícito no caso da acusação a Ronaldo), explora confiantemente o seu poder de vítima, legalmente persecutória do seu algoz, segundo as propostas do movimento, de luta contra a violação sexual da mulher, tendo em conta o presente caso do nosso Cristiano Ronaldo, a cujo nome de baptismo, ligado ao fervor religioso dos familiares que o baptizaram, espero que fique a dever, se outra sorte justiceira o condenar, uma absolvição baseada no apoio do Salvador, ou, se não, no preceito clássico “errare humanum est”, embora a violação seja definida não como erro, mas como crime. Gostei do debate, que confrontou a historiadora Raquel Varela e a advogada Isabel Moreira, a primeira das quais não se importou de falar em caça às bruxas, a respeito da sanha extremista do MeToo contra os prevaricadores machos. Outras figuras se destacaram, um professor de Estudos Sociais, um cientista, a professora Rita Vale… Esta última considerou que a culpabilização da vítima, com base em estereótipos, não seria corrigida através do movimento MeToo, o que a percentagem final à mesma resposta, dada pelo público, confirmaria. A jornalista Carla Macedo defendeu a importância do jornalismo na formação do movimento, falou-se em falta de capacidade empática para ouvir as mulheres, um jovem da assistência defendeu a liberdade (por ele “imposta” ao seu filho pequeno) de este não beijar a avozinha, o que provocou reacções de protesto, entre as quais a de Raquel Varela, que muito me aprouve escutar, a qual afirmou exigir os beijos dos seus filhos à avozinha, como preceito educativo. Foi um debate e pêras, mas à pergunta sobre se o tal movimento contribui para o estabelecimento da igualdade entre os “géneros” - embora não se tivesse explorado o do “assim-assim”, o masculino e o feminino estando por ora na berlinda do MeToo, mais a criancinha cujo papá entende não ter que beijar a avozinha, para se definir em liberdade – dois terços das respostas foram negativas. De tudo o que aprendi, e foi muito, embora o meu poder de retenção ande pelas ruas da amargura, o que mais me embatucou não foi a questão da violação, coisa corriqueira, que acho, todavia, repugnante e digna de castigo, a ser real - pois tem de passar pela presunção de inocência do incriminado, pelo menos no caso do nosso Ronaldo, a quem Cristo protegerá sem relutância, por lhe estar eleito no nome. De facto, o que mais me impressionou, entre os esclarecimentos fornecidos, foi o caso do beijinho do filho do papá, repugnado e ditador, à sua avozinha. A justificação que me acode desse facto, de que desejou dar parte à assistência, em despropositado exibicionismo de originalidade, pois não vai admitir a falta de educação ministrada, com isso, ao seu rebento), é a de que a avó do menino deve ser uma camponesa de cara enrugada e terrosa dos pós do campo onde cava, provavelmente, a sua leira, daí a relutância do papá preocupado com as questões higiénicas que desejou transmitir à sua cria, ele próprio bastante alvo e fino, numa aparência de preocupação de limpeza e alimentar, esta, talvez, do domínio vegetariano, aquela do domínio da esterilização hospitalar. Mas fosse a avozinha possuidora de bons cabedais sonantes - embora os de papel mudo mas timbrado sejam indiscutivelmente de maior valia hoje em dia - o tal beijinho não seria proibido ao netinho, é um supor.

Quanto à crónica de João Miguel Tavares, sobre a ex Procuradora Geral da República, ele defende-se e defende-a dos muitos conhecidos que ajudaram ao seu banimento, Daniel Oliveira, Pedro Marques Lopes, Pedro Adão e Silva, Ferreira Fernandes, Miguel Sousa Tavares ou Fernanda Câncio, por razões que aponta, um dos seus comentadores tendo acrescentado ainda ao rol, CFA e MST. 

OPINIÃO
Corrupção e populismo segundo Daniel Oliveira
É uma coincidência e pêras que as pessoas que durante anos e anos acreditaram na inocência de Sócrates estejam agora a celebrar em uníssono a substituição da PGR. Caro Daniel: antes populista do que sonso.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 11 de Outubro de 2011
Diz-se que o melhor truque do Diabo foi convencer-nos de que não existe. O melhor truque dos corruptos foi convencerem-nos de que o combate à corrupção é uma forma de populismo. Essa atitude entregou o Brasil a Bolsonaro. Por cá, na pátria dos brandos costumes, tem sido o modo da elite política permanecer no poder sem assumir o passado, nem mudar um milímetro o seu comportamento, apesar de o país ter colapsado na sequência de alguns dos maiores actos de corrupção de que há memória.
Portugal não é apenas passivo – a passividade portuguesa é activamente alimentada por numerosos políticos e comentadores. Num texto que publicou há dez dias no Expresso (“Polarização, justicialismo e desprezo pelas instituições. Os nossos populistas”), Daniel Oliveira refere-se a mim, a Rui Ramos, a Helena Matos e a Pedro Passos Coelho como o “retrato completo desta direita populista”. Dispenso o título; agradeço a companhia. O artigo foi escrito na sequência da não recondução de Joana Marques Vidal, e Daniel Oliveira considerou populista admitir que o seu afastamento pudesse ser ditado por outras razões que não a rotatividade de lugares e a protecção das instituições. Quem, como eu, discorda disso, tem uma “obsessão quase monotemática pela corrupção”, e acha (diz ele) que “qualquer pessoa que defenda garantias de arguidos é amiga da bandidagem”.
O problema de Daniel Oliveira é que a estatística conspira contra ele. Eu afirmo que queria que Joana Marques Vidal permanecesse no cargo pela forma implacável como combateu a corrupção, nomeadamente na Operação Marquês. Daniel Oliveira afirma que queria que ela fosse substituída em nome das “instituições democráticas”. É aqui que os números são úteis. Várias vezes critiquei colunistas como Daniel Oliveira, Pedro Marques Lopes, Pedro Adão e Silva, Ferreira Fernandes, Miguel Sousa Tavares ou Fernanda Câncio por durante demasiado tempo terem protegido José Sócrates. Querem ver o que é que cada um deles defendeu, nas últimas semanas, acerca da recondução de Joana Marques Vidal?
Daniel Oliveira opôs-se, para não “abastardar as instituições democráticas” (Expresso, 29/9). Pedro Marques Lopes, menos habilidoso a esconder o que lhe vai na alma, opôs-se e sentiu necessidade de o afirmar todos os domingos de Setembro, começando em “A PGR não é da Joana” (DN, 2/9) e acabando em “Marcelo, o corajoso” (DN, 23/9). Razão da sua oposição? “Defender as instituições e o seu bom funcionamento”, claro está. Pedro Adão e Silva opôs-se (“Nada de pessoal” e “Um bom princípio”, Expresso, 15/9 e 22/9), devido à necessidade – imaginem – de “afirmar a credibilidade das instituições”. Ferreira Fernandes, como de costume, não disse que sim nem que não, mas classificou o mandato de Marques Vidal como “muito surfado”, “muita acusação e pouca uva” e (a minha expressão favorita) “uma aparência de combate a um mal” (DN, 16/9). Miguel Sousa Tavares opôs-se e louvou Marcelo e Costa pela decisão, já que “o que estava em causa era mostrar que a confiança essencial tinha de ser dada à instituição” (Expresso, 29/9). Fernanda Câncio escreveu no Twitter, assim que soube o nome da nova PGR: “pôs-se uma noite magnífica”. Ó se pôs.
É uma coincidência e peras que as pessoas que durante anos e anos acreditaram na inocência de Sócrates estejam agora a celebrar em uníssono a substituição da PGR. Será mesmo o amor às “instituições” que explica esta notável unanimidade? Caro Daniel: antes populista do que sonso.
COMENTÁRIOS
novreisb, 11.10.2018: Os comentadores referidos deveriam ter vergonha na cara pela defesa que fizeram/fazem de Sócrates. Só não sei porque CFA não está no rol pois as lágrimas nos olhos dela quando da detenção do corrupto são inesquecíveis. Ao lado dela, o defensor-mor MST e Pacheco Pereira que foi o único que lembrou, e bem, a essência da questão. Não tenho memória fraca quando toca a corruptos.
João Lopes, 11.10.2018: Excelente artigo de JMT. Os marxistas portugueses não criticam o socialista José Sócrates que está para ser ser julgado por muitos crimes e deixou Portugal na bancarrota, nem criticam os marxistas brasileiros, responsáveis pela situação caótica e miserável que se vive hoje no Brasil. Na actual situação brasileira, Bolsonaro talvez seja um mal menor, mas necessário…
José Sousa, 11.10.2018: Mais importante que idolatrias de ideologias e endeusamento de certas personalidades é estar do lado da verdade e do certo. Este é a essência do ser humano que procura evoluir e crescer. Os resultados de uma certa esquerda pseudo iluminada e com a mania de ser o altifalante do povo está à vista de todo o mundo: eclipsou e implodiu. Só se pode culpar a si mesma.


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