A expressão vem no segundo
texto, de Salles da Fonseca, mas
creio que, entre a multiplicidade das suas aplicações, encarapuça igualmente a
cabeça do autor do primeiro, Pacheco
Pereira, que desde sempre acusou Passos
Coelho de ter reduzido o país à tanga que deixara de ter, desde que se iniciara
o processo de endividamento causado pelo processo revolucionário que destruiu a
nação. PP foi dos que condenou Passos
Coelho, acusando-o de mau governo porque cumpriu escrupulosamente, como lhe
competia, o pagamento da dívida que foi obrigado a fazer. Como sempre, do alto
do seu saber escudado em livros, mas igualmente dilatando a sua ausência de
escrúpulos, com que ajudou a tramar o país aquando das eleições de 2015,
fazendo desapossar o vencedor delas, PPC, com as suas teorias a favor de uma
aliança divisória à esquerda, como todos sabemos, hoje, que António Costa se vê
forçado a igualmente prestar contas aos credores estrangeiros, indignamente mas
não estranhamente, voz repetitiva “clamando
no deserto”, como afirma -
embora o deserto me pareça ser antes o da sua arrogância imparável de não
cumprimento de uma obrigação de dívida, na chulice contínua e má conselheira de
um país pouco escrupuloso também – PP volta à carga do seu desafio imoral, ou
antes, amoral, neste caso de ausência total de escrúpulos, considerando que o
Orçamento de A. Costa para 2019, é imposto por Bruxelas, a democracia - da liberdade arbitral - tendo levado um chuto.
Assim, o texto de Salles da
Fonseca, embora com intenções atacantes direccionadas para os populismos
nacionalistas da actualidade, poderá aplicar-se também a este homem, num “Ecce Homo” prevaricador por opção, ao
contrário do do episódio bíblico condenatório do inocente.
Neste país de um sol amolecedor
de consciências, bem nos entristecem estes tais chicos espertos que, pelas suas
leituras, dilatadoras do espírito (mas da amoralidade também, pelo que se vê), tinham
obrigação de orientar mais decentemente as consciências.
I –
OPINIÃO O Orçamento da burocracia de Bruxelas
A discussão
enganadora sobre o Orçamento e as migalhas de decisão que o Governo e o
Parlamento ainda têm retiram conteúdo à política em democracia, ou seja,
tornam-na menos democrática.
JOSÉ PACHECO
PEREIRA
PÚBLICO, 13 de
Outubro de 2018
Ele é preciso estar sempre a
repetir as mesmas coisas, porque há uma intencional dureza de ouvido, que ao
menos vale a pena incomodar. Repito: o Orçamento de 2019 que vai ser
apresentado ao Parlamento português não é nem português, nem é decidido pela
Assembleia da República, nem é o que vai ser aplicado, nem é o resultado das
“regras europeias”, não é nenhuma coisa daquelas com que vai ser designado.
Voltando a Orwell, é um exemplo primoroso do double talk” parecido
com a designação da defunta República Democrática Alemã, que não era nem
república, nem democrática, nem alemã.
Voltamos às repetições: o Orçamento não é português, é estrangeiro,
subordinado aos interesses dos nossos credores e às políticas que eles impõem,
que não são “portuguesas” num aspecto fundamental — é que não servem o
interesse nacional, nem as necessidades de desenvolvimento do país, mas apenas
a submissão às políticas alemãs e à vulgata política da troika disfarçada de inevitabilidade económica. O Orçamento serve o
pagamento da dívida transformado no alfa e no ómega de toda a política de
défice zero. Há outras coisas sob o mesmo céu, mas aqui o
sol não nasce para todos. O Orçamento não é aprovado pelo Parlamento
português, que apenas assina de cruz um texto que é decidido em Bruxelas e no
Eurogrupo, que tem um direito efectivo de veto sobre as suas medidas. A
perda do poder orçamental do Parlamento português, nunca discutida, nem
decidida pelos portugueses, é uma das mais graves entorses da nossa democracia.
O Parlamento, cuja função orçamental é crucial na identidade de qualquer
parlamento em democracia, está castrado nessa função e uma elite, que fala
fininho como os eunucos nas óperas antigas, faz a rábula de uma autoria e de um
poder que não tem. Também não é verdade que a perda de soberania do Parlamento
seja o resultado da adesão aos tratados europeus, visto que muitas das “regras”
que recitamos como um mantra não estão em nenhuns tratados, alguns dos quais,
como o de Lisboa, foram “vendidos” com dolo, apresentados como reforçando os
poderes dos parlamentos nacionais. Quem
conheça a burocracia europeia em acto, com a sua enorme arrogância, ao
considerar que governa melhor os países da União do que os políticos eleitos,
sabe muito bem como se fez e com quem se fez o caminho para a submissão de
países como Portugal. E acresce,
repetindo-me, que o Tratado Orçamental e o Eurogrupo não são instituições da
União Europeia. E, repetindo-me, de novo, o Orçamento aprovado vai ser tão
ficcional como a Branca de Neve. Como já aconteceu aos orçamentos anteriores, o
Orçamento real é o Orçamento resultante das cativações dentro do Orçamento de
fachada.
Nestas matérias está-se como a
“voz clamando no deserto”. O que
se ouve de imediato como resposta é uma variante do discurso do ocupado que
interioriza o discurso do ocupante, uma soma de argumentos ad
terrorem, de que quem contesta o oito quer o 80, ou
do desabar cataclísmico de tudo, à mais pequena contestação do estado de
coisas. É um discurso de quem tem medo de levantar um dedo que seja, e que
começa por se apresentar como “realista” e contrariado pela ocupação, para
acabar por ser entusiástico com o ocupante.
Na história, é um discurso
conhecido e, sem querer ser excessivo, é muito parecido com o discurso dos
franceses depois da derrota de 1940, em que começaram por pregar uma atitude de
“realismo”, face à ocupação alemã, dizendo que ser patriota era apoiar Pétain, que obteve a “pacificação” da França
derrotada. Diziam que a soberania muito limitada que os alemães permitiram
durante algum tempo garantia a continuidade da França no fim da guerra, claro,
se ela fosse vencida pelos alemães. Terminou tudo como se sabe, com a
“colaboração”, com o fim da zona “livre”, com os italianos a ocuparem a Riviera
e os alemães a França toda, e a guerra civil com todas as suas violências. A
excepção solitária foi De Gaulle e alguns dos seus companheiros que, esses sim,
salvaram a França.
A discussão enganadora sobre o Orçamento e as migalhas de decisão que o
Governo e o Parlamento ainda têm retiram conteúdo à política em democracia, ou
seja, tornam-na menos democrática. O PSD, o CDS e PS são partidos do Tratado
Orçamental, o BE e o PCP por razão da “geringonça” não têm qualquer autonomia
nesta matéria. À mais pequena crise de fora, vai desabar tudo. E depois
queixem-se do populismo.
O Orçamento não é aprovado
pelo Parlamento português, que apenas assina de cruz um texto que é decidido em
Bruxelas e no Eurogrupo, que tem um direito efectivo de veto sobre as suas
medidas. A perda do poder orçamental do Parlamento português, nunca discutida,
nem decidida pelos portugueses, é uma das mais graves entorses da nossa
democracia. O Parlamento, cuja função orçamental é crucial na identidade de
qualquer parlamento em democracia, está castrado nessa função e uma elite, que
II - ECCE
POPULISMUS
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,
22.10.18
Segundo o texto bíblico, quando
Jesus foi acusado pelos sacerdotes judeus perante Pôncio Pilatos, governador da
Judeia, depois de o interrogar, não encontrou motivos para a condenação. Mas
como o povo presente no julgamento vociferava contra o prisioneiro exigindo a
crucificação, Pilatos mandou flagelá-lo e depois exibi-lo ensanguentado
acreditando que a multidão se comoveria. Este, o episódio que ficou conhecido
como Ecce
homo, ou seja, “Eis o homem”. Mas
o povo não se comoveu.
Pressionado, Pilatos tentou um
último recurso: mandou trazer um condenado à morte, tido como ladrão e
assassino, chamado Barrabás e, valendo-se de uma suposta tradição judaica,
concedeu ao povo o direito de escolher qual dos dois acusados deveria ser solto
e qual deveria ser crucificado.
O povo indultou Barrabás.
Eis o populismo em todo o seu esplendor erróneo.
Para fundamentação da
Democracia, convenhamos que o exemplo deixa muito a desejar mas admito que no
erro então cometido na opção popular, os sacerdotes do Templo tenham tido
influência decisiva pois, claramente, temiam que «O Rei dos judeus» lhes
tirasse audiência.
O mesmo se passa na actualidade
com os «opinion makers» a distorcerem tudo, a manipularem todos.
E a pergunta fica: - Como seria a nossa vida se não tivéssemos
tantos «xicos espertos» no meio de nós?
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