quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Chicos espertos


A expressão vem no segundo texto, de Salles da Fonseca, mas creio que, entre a multiplicidade das suas aplicações, encarapuça igualmente a cabeça do autor do primeiro, Pacheco Pereira, que desde sempre acusou Passos Coelho de ter reduzido o país à tanga que deixara de ter, desde que se iniciara o processo de endividamento causado pelo processo revolucionário que destruiu a nação. PP foi dos que condenou Passos Coelho, acusando-o de mau governo porque cumpriu escrupulosamente, como lhe competia, o pagamento da dívida que foi obrigado a fazer. Como sempre, do alto do seu saber escudado em livros, mas igualmente dilatando a sua ausência de escrúpulos, com que ajudou a tramar o país aquando das eleições de 2015, fazendo desapossar o vencedor delas, PPC, com as suas teorias a favor de uma aliança divisória à esquerda, como todos sabemos, hoje, que António Costa se vê forçado a igualmente prestar contas aos credores estrangeiros, indignamente mas não estranhamente, voz repetitivaclamando no deserto”, como afirma  - embora o deserto me pareça ser antes o da sua arrogância imparável de não cumprimento de uma obrigação de dívida, na chulice contínua e má conselheira de um país pouco escrupuloso também – PP volta à carga do seu desafio imoral, ou antes, amoral, neste caso de ausência total de escrúpulos, considerando que o Orçamento de A. Costa para 2019, é imposto por Bruxelas, a democracia  - da liberdade arbitral  - tendo levado um chuto.
Assim, o texto de Salles da Fonseca, embora com intenções atacantes direccionadas para os populismos nacionalistas da actualidade, poderá aplicar-se também a este homem, num “Ecce Homo” prevaricador por opção, ao contrário do do episódio bíblico condenatório do inocente.
Neste país de um sol amolecedor de consciências, bem nos entristecem estes tais chicos espertos que, pelas suas leituras, dilatadoras do espírito (mas da amoralidade também, pelo que se vê), tinham obrigação de orientar mais decentemente as consciências.
I – OPINIÃO O Orçamento da burocracia de Bruxelas
A discussão enganadora sobre o Orçamento e as migalhas de decisão que o Governo e o Parlamento ainda têm retiram conteúdo à política em democracia, ou seja, tornam-na menos democrática.
JOSÉ PACHECO PEREIRA
PÚBLICO, 13 de Outubro de 2018
Ele é preciso estar sempre a repetir as mesmas coisas, porque há uma intencional dureza de ouvido, que ao menos vale a pena incomodar. Repito: o Orçamento de 2019 que vai ser apresentado ao Parlamento português não é nem português, nem é decidido pela Assembleia da República, nem é o que vai ser aplicado, nem é o resultado das “regras europeias”, não é nenhuma coisa daquelas com que vai ser designado. Voltando a Orwell, é um exemplo primoroso do double talk” parecido com a designação da defunta República Democrática Alemã, que não era nem república, nem democrática, nem alemã.
Voltamos às repetições: o Orçamento não é português, é estrangeiro, subordinado aos interesses dos nossos credores e às políticas que eles impõem, que não são “portuguesas” num aspecto fundamental — é que não servem o interesse nacional, nem as necessidades de desenvolvimento do país, mas apenas a submissão às políticas alemãs e à vulgata política da troika disfarçada de inevitabilidade económica. O Orçamento serve o pagamento da dívida transformado no alfa e no ómega de toda a política de défice zero. Há outras coisas sob o mesmo céu, mas aqui o sol não nasce para todos. O Orçamento não é aprovado pelo Parlamento português, que apenas assina de cruz um texto que é decidido em Bruxelas e no Eurogrupo, que tem um direito efectivo de veto sobre as suas medidas. A perda do poder orçamental do Parlamento português, nunca discutida, nem decidida pelos portugueses, é uma das mais graves entorses da nossa democracia. O Parlamento, cuja função orçamental é crucial na identidade de qualquer parlamento em democracia, está castrado nessa função e uma elite, que fala fininho como os eunucos nas óperas antigas, faz a rábula de uma autoria e de um poder que não tem. Também não é verdade que a perda de soberania do Parlamento seja o resultado da adesão aos tratados europeus, visto que muitas das “regras” que recitamos como um mantra não estão em nenhuns tratados, alguns dos quais, como o de Lisboa, foram “vendidos” com dolo, apresentados como reforçando os poderes dos parlamentos nacionais. Quem conheça a burocracia europeia em acto, com a sua enorme arrogância, ao considerar que governa melhor os países da União do que os políticos eleitos, sabe muito bem como se fez e com quem se fez o caminho para a submissão de países como Portugal. E acresce, repetindo-me, que o Tratado Orçamental e o Eurogrupo não são instituições da União Europeia. E, repetindo-me, de novo, o Orçamento aprovado vai ser tão ficcional como a Branca de Neve. Como já aconteceu aos orçamentos anteriores, o Orçamento real é o Orçamento resultante das cativações dentro do Orçamento de fachada.
Nestas matérias está-se como a “voz clamando no deserto”. O que se ouve de imediato como resposta é uma variante do discurso do ocupado que interioriza o discurso do ocupante, uma soma de argumentos ad terrorem, de que quem contesta o oito quer o 80, ou do desabar cataclísmico de tudo, à mais pequena contestação do estado de coisas. É um discurso de quem tem medo de levantar um dedo que seja, e que começa por se apresentar como “realista” e contrariado pela ocupação, para acabar por ser entusiástico com o ocupante.
Na história, é um discurso conhecido e, sem querer ser excessivo, é muito parecido com o discurso dos franceses depois da derrota de 1940, em que começaram por pregar uma atitude de “realismo”, face à ocupação alemã, dizendo que ser patriota era apoiar Pétain, que obteve a “pacificação” da França derrotada. Diziam que a soberania muito limitada que os alemães permitiram durante algum tempo garantia a continuidade da França no fim da guerra, claro, se ela fosse vencida pelos alemães. Terminou tudo como se sabe, com a “colaboração”, com o fim da zona “livre”, com os italianos a ocuparem a Riviera e os alemães a França toda, e a guerra civil com todas as suas violências. A excepção solitária foi De Gaulle e alguns dos seus companheiros que, esses sim, salvaram a França.
A discussão enganadora sobre o Orçamento e as migalhas de decisão que o Governo e o Parlamento ainda têm retiram conteúdo à política em democracia, ou seja, tornam-na menos democrática. O PSD, o CDS e PS são partidos do Tratado Orçamental, o BE e o PCP por razão da “geringonça” não têm qualquer autonomia nesta matéria. À mais pequena crise de fora, vai desabar tudo. E depois queixem-se do populismo.
O Orçamento não é aprovado pelo Parlamento português, que apenas assina de cruz um texto que é decidido em Bruxelas e no Eurogrupo, que tem um direito efectivo de veto sobre as suas medidas. A perda do poder orçamental do Parlamento português, nunca discutida, nem decidida pelos portugueses, é uma das mais graves entorses da nossa democracia. O Parlamento, cuja função orçamental é crucial na identidade de qualquer parlamento em democracia, está castrado nessa função e uma elite, que

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,  22.10.18
Segundo o texto bíblico, quando Jesus foi acusado pelos sacerdotes judeus perante Pôncio Pilatos, governador da Judeia, depois de o interrogar, não encontrou motivos para a condenação. Mas como o povo presente no julgamento vociferava contra o prisioneiro exigindo a crucificação, Pilatos mandou flagelá-lo e depois exibi-lo ensanguentado acreditando que a multidão se comoveria. Este, o episódio que ficou conhecido como  Ecce homo, ou seja, “Eis o homem”. Mas o povo não se comoveu.
Pressionado, Pilatos tentou um último recurso: mandou trazer um condenado à morte, tido como ladrão e assassino, chamado Barrabás e, valendo-se de uma suposta tradição judaica, concedeu ao povo o direito de escolher qual dos dois acusados deveria ser solto e qual deveria ser crucificado.
O povo indultou Barrabás.
Eis o populismo em todo o seu esplendor erróneo.
Para fundamentação da Democracia, convenhamos que o exemplo deixa muito a desejar mas admito que no erro então cometido na opção popular, os sacerdotes do Templo tenham tido influência decisiva pois, claramente, temiam que «O Rei dos judeus» lhes tirasse audiência.
O mesmo se passa na actualidade com os «opinion makers» a distorcerem tudo, a manipularem todos.
E a pergunta fica: - Como seria a nossa vida se não tivéssemos tantos «xicos espertos» no meio de nós?

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