Li com encanto, embora nem
sempre de anuência, a entrevista no Público de 22/10/2018, a Vasco Pulido Valente, intitulada “NÓS, OS PORTUGUESES SOMOS ÓPTIMOS”,
dirigida por Ana Sá Lopes, Manuel
Carvalho (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotografia). O
espírito desassombrado de uma superioridade que paira em tudo quanto diz ou
escreve, enriquecido pelo conhecimento, e em que sobressai o ferrete do seu fel
e também o mel das suas preferências, com que vai explicitando os seus pontos
de vista ou vilipendiando ou enaltecendo algumas figuras do tablado nacional,
torna-se um prazer sempre de leitura, ainda que sob a forma de entrevista, (já
que abandonou a sua anterior colaboração nos jornais, com grande pena nossa).
Os sentimentos que desperta são, contudo, variados, dum modo geral, positivos,
mas há muitos seus comentadores que analisaram a sua entrevista sem se deixarem
enganar, todavia, pela frivolidade ou intenção ardilosamente maligna de alguns
dos seus dizeres. Por isso os transcrevo, e transcrevo, igualmente, a parte
final da sua entrevista, que diz respeito à U E:
«Vamos então acabar a entrevista...
- Vocês não me perguntaram nada sobre política internacional, mas eu
queria dizer duas coisas. Primeiro,
sobre Espanha. Espanta-me muito que a esquerda europeia,
que fala muito do populismo húngaro e do populismo polaco, ainda não tenha
percebido que o populismo mais grave e evidente que há na Europa é o populismo
catalão. Na linguagem da esquerda portuguesa, o populismo catalão é a
democracia catalã. Estamos conversados. Depois espanta-me imenso que, nos
jornais e nas televisões, as pessoas falem da "geringonça espanhola".
Tenho muita pena, mas o Governo de Espanha é a aliança da Guerra Civil. É por
isso que no dia da Hispanidade, [o presidente do Governo Pedro] Sánchez é
insultado, porque ninguém lhe reconhece o direito de falar da Hispanidade. Ele
está a pôr em perigo a hispanidade com aquela aliança. Nós não percebemos a
história espanhola, mas os espanhóis estão relativamente informados. E quanto ao [Jair] Bolsonaro, digo só isto: os anos 20, no mundo de hoje, vão ser como os anos 30 do século
passado. Vai haver uma vontade de afirmação do nacionalismo por todo o mundo ou
mesmo, em casos como o do Estado brasileiro, a pura e simples ruína. Os
Estados da América Latina são muito frágeis. Fala-se hoje muito no Brasil do
separatismo. Não acho que Bolsonaro vá implantar o fascismo no Brasil, o que
ele pode é acabar com o Estado federal brasileiro.
- Está a dizer que a situação lembra os anos 30
do século XX. Receia um epílogo como aconteceu nos anos 30?
- Não faço essas comparações. O que estou a dizer é que há nacionalismos
demais a quererem-se afirmar, alguns com toda a razão como o da Polónia e o da Hungria. Só existem como estados
autónomos há 30 anos. Como é que
esses estados hão-de ser liberais e democráticos? É evidente que são
nacionalistas e populistas. Antes de mais nada, têm que afirmar a sua
nacionalidade. Não são como os portugueses, que são portugueses há mil anos. São
húngaros e polacos há 30 anos, com as fronteiras e composição populacional
que têm agora que já de si é complicada, mais complicada na Hungria e na
Polónia. E há a Itália que não é um
Estado, nunca foi. Eles têm
arranjado maneira de se equilibrar na corda bamba, mas nenhum deles leva a
nacionalidade a sério. Basta ler a Elena Ferrante, tem uma trilogia
que eu li toda, extraordinária.
- Gostou da trilogia de Elena Ferrante?
- Claro que gostei! Devia ser uma leitura obrigatória para todos os
europeístas. A União Europeia hoje é um veneno e vai acabar.»
COMENTÁRIOS:
Joaquim Sá, Braga 22.10.2018: A entrevista revela a craveira deste
intelectual de uma forma muito simples.
1. "Nós os portugueses somos óptimos", diz, cheios de confiança, pois
há algum país onde as pessoas digam mal de todos os seus compatriotas? Só nós
porque temos um grande sentimento de superioridade. 2. Diz também, somos um país pobre, ignorante e atrasado,
sem intelectuais que saibam fazer alguma coisa de jeito, e os melhores deles
vão-se envergonhar da sua ignorância em Oxford. 3. Conclusão: das duas uma, o homem está a gozar
connosco, a chamar-nos parvos, vivendo no contentamento da sua superioridade,
bem de vida e maldizente, ou então, o homem é parvo. Consegue divertir,
concitar até grande admiração, mas nada faz ou diz que tenha o sentido
compromisso de intelectual com o país e o seu povo, nada de misturas.
Manuel Dias, Lisboa 22.10.2018: A arrogância legítima de quem sabe o
que diz e diz o que pensa. Quem não gosta tem bom remédio: come menos.
cisteina, Porto 22.10.2018: Uma entrevista curiosa e corajosa,
bem ao estilo de VPV, revigorada pelo talento de ASL e MC. Não estou de acordo
com muitos dos comentários aqui lidos, julgo que, desta entrevista não
retiraram as afirmações mais importantes, ou seja, não retiraram o trigo de
algum joio ou viperina, o estilo VPV, algumas conclusões sobre o povo e nação
portugueses que, veja, só, caminha para os 1.000 anos e só nos engrandece. Mas
adorei a entrevista e tomo algumas notas da sua enorme cultura para rever. Fico
por aqui, muito teria para escrever mas estou sem tempo, um dos graves
problemas dos nossos dias.
CHINTZ, Porto 22.10.2018: Um intelectual de Lisboa. Diz e desdiz
com arrogância. Cínico e provocador. Lê muito mas absorve pouco. Palavras vãs.
Divertimento de soirée.
Jose Luis Malaquias, Figueira da
Foz 22.10.2018: Parece que estamos a ler uma
entrevista aos velhos dos marretas. Absolutamente implausível, mas viciante.
Apetece ler até ao fim, para saber qual é a provocação seguinte.
Luciano Barreira, 22.10.2018: Ver o mundo através de uma janela em Lisboa
não dá as melhores referências, acresce haver "meios tons" que a
vista cansada do VPV já não distingue.
Alvaro C. Pereira, 22.10.2018 Homem culto, sem dúvida! Agora, quando abre
a boca, é uma no cravo e outra na ferradura! Mas é por isso que é diferente, e
entusiasma na provocação. Reconheceu um erro... a história irá dar conta dos
outros erros que assinalou entre sarcasmos dores de cotovelo e ódios de
estimação, etc. E, no meio desses erros, lá surgem verdades muito certeiras e
iluminadas! Enfim, quando se pensa que só Oxford (grande universidade) dá
conhecimento, o que se pode esperar? Todos os outros são ignorantes, incapazes
e incultos!
C. Santos, C. PIEDADE ALMADA 21.10.2018:
Porquê mais uma entrevista a Este Sr?! São tantas as contradições e os aplausos
que não entendo. Um privilegiado de sempre!
jose.stoneage.almeida,
21.10.2018: Descubro aqui VPV e gosto. Seguro de si e divertido ao
ponto de ser uma lufada de ar fresco, sem exercícios de estilo para pouco ou
nada dizer. Vivi a minha juventude fora, entre deux continentes, alheio ao q
por cá acontecia, e desconhecia este senhor VPV. Concordo q M. Soares foi o
grande herói da nossa democracia, tão certo como Cavaco Silva ter desperdiçado
as oportunidades q lhe foram dadas para o país e de ser um grande inculto,
convencido de ter sempre razão. Discordo q a U.E. seja contranatura pq é uma
união de inteligência, naturalmente racional. A sua consolidação é uma questão
de gerações e internet (conectividade). Quanto ao resto, são opiniões q acho
interessantes. Gosto do Marcelo e quero acreditar q é sincero, o VPV não...tant
pis.
francisco cruz, 21.10.2018: Desconcertante livre pensador. Nunca tive
apreço pelo homem,contudo admiro os seus textos e análises. Naturalmente sempre
que emite opinião, comete alguns erros ou exageros nas apreciações. No entanto só uma grande inteligência e originalidade
podem conferir tão perspicaz discernimento. Discordo do quanto antológico é
Mário Soares. Aliás , nação que tem como Herói Nacional um poeta, os políticos
ficam quase sempre mal no retrato.
Nelson Sousa, 21.10.2018: Pulido Valente igual a ele próprio. Não
muda. Está algo cristalizado desde há muito. No entanto gosto de ler o que diz.
Irreverente, determinado, sempre cheio de certezas. Surpreendeu-me que tenha
dado alguma razão a Cavaco por querer “meter toda a gente no sistema de
ensino”. Não é comum VPV mudar de opinião. É a excepção que confirma a regra. A
mesma relação amor/ódio com Mário Soares. O mesmo clubismo de sempre, restrito,
radical, de proteção dos amigos, e condescendência pelos outros. O mesmo mundo
a preto e branco sem áreas cinzentas. O elogio a PPC e Rui Ramos, fazem parte
da missão, do clube, do dever. O “combate” a Rui Rio também. Rui Rio é do
Norte. Tem ideias, modos de ver a política diferentes. Não é do clube de Lisboa.
Jose, 21.10.2018:Há muito não aparecia. Foi pena deixar o seu
espaço na última página do Público que era por onde eu começava a ler o jornal
em papel que já não compro. Mantém o registo irónico, inteligente,
historicamente fundamentado e, claro, a pose de superioridade arrogante daquele
grupinho é daquela idade. Nada de novo portanto. Boa saúde e continue a
escrever uns livrinhos onde fixa o melhor do que aprendeu num registo bom. Está
quase a alcançar Agostinho da Silva no elogio ao povo português, sua cultura, identidade
e obra. Agostinho mostra muito mais confiança no Brasil que elege como a melhor
obra do povo português. Está certíssimo quanto ao fim próximo da UE só não foi
explícito a atribuir a Mário Soares parte do alento dado a essa aventura
contranatura. Denúncia bem a visão superficial do Poder.
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 21.10.2018: Haaa, reprimi essa nota mas já que o
José levanta a lebre aqui vai ... sim Mario Soares, o homem da "Europa Connosco"
cozinhada com Carluchi e com benefícios familiares encobertos pelos negócios
dos diamantes do filho na Jamba, com a bênção e apoio logístico da África do
Sul. Um canalha que só no final da vida se arrependeu de ter vendido os seus
conterrâneos. Só então parece ter descoberto que gostava deles. Agostinho da
Silva, ora aí está alguém em cheio - a figura nacional mais marcante da minha
juventude :-).
bento guerra21.10.2018: A
displicência dos "intelectuais".Felizmente, não mandam
rosabLisboa 21.10.2018:
Confundir soberba com inteligência, é uma..."escola" já muito antiga
e já putrefacta!
joaorapace, 21.10.2018: pouco tenho lido sobre vpv, mas achei
interessante a entrevista. Concordo e discordo sobre certas coisas. Soares não
foi esse grande democrata, fez muitas asneiras e acabou muito mal quase a
babar-se ao lado de sócrates. Eanes foi melhor e mais homem ao dar o exemplo de
não aceitar a acumulação de reformas. Sobre Cavaco, concordo e quase tudo sobre
Marcelo. Marcelo é oportunista e num país de baixa instrução ele movimenta-se
manhosamente bem. Contudo nos incêndios esteve bem e constança urbana aliás
nunca vi ninguém dizer o que ela disse no meio de tanta calamidade. Tem razão
na sua visão de Portugal actual, ignorante pseudo intelectual sem futuro apenas
temos a nacionalidade tantas vezes esquecida. Fala no fim da União e parece-me
que caminhamos por aí! Sobre a ditadura disse tudo!
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