João Miguel Tavares acusa a esquerda de responsabilidade pela
eleição provável de Jair Bolsonaro e outros Bolsonaros deste mundo. Pouco
percebo de política, mas julgo que invoca razões um tanto capciosas para a responsabilizar.
De facto, não me parece a mim que a esquerda se tenha “tornado” conservadora, pois
nunca deixou de o ser, igualzinha, nas suas ambições de poder e benesses, aos
da “direita” fascista: ninguém foi mais fascista do que os Estalines de outrora,
que em nome dos direitos do povo, violaram os direitos de milhões de pessoas,
no culto pela sua própria pessoa. Não assim os “Estalines” de agora, entre os
quais, Lula da Silva, que em nome dos direitos dos pobres, se considerou o mais
pobre dentre todos, defendendo os seus próprios direitos à riqueza, não com a crueldade
animalesca do seu antepassado marxista, mas com a corrupção egocentrista
específica destes novos tempos, sem tanta afirmação literata, contudo, que a
corrupção em si não necessita de literatura. Cá por casa, contudo, a esquerda
continua a defender misericordiosamente os seus pobres de estimação, como de
lei, incitando às greves, destruidoras, é certo, das energias económicas da
nação, e isso não se me afigura de conservadorismo, mas de vileza demagógica e
desamor pátrio. Ao pretender dar uma lição aos “caros leitores, políticos e
opinadores de esquerda” a ideia que nos acode com a sua crítica ao “conservadorismo”
da esquerda, é a de que JMT pretende
docemente doutriná-los, aconselhando-os a voltarem a “mexer uma palha”, tornando-se menos defensores do parasitismo
social para que conduziram a nação, indiferentes ao desenvolvimento económico
desta. Se é a isto que JMT chama de
conservadorismo de esquerda, ou seja, de defesa do parasitismo social
excessivo, está a condenar os tempos em que se trabalhava de facto, e se
produzia mais, sem o endividamento de agora. Não me parece justo para os tais
fascistas, de que se acusa a si próprio, de vez em quando.
OPINIÃO
A esquerda chamou os fascistas; os fascistas vieram
O tema da “culpa da esquerda” é absolutamente
essencial para explicar a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 25 de
Outubro de 2018
Durante vários anos, eu fui
fascista. De vez em quando ainda sou. Aliás, ali entre 2011 e 2015, tive imensa
companhia. Foi o tempo em que Passos Coelho era fascista. Angela Merkel era
fascista. Rui Ramos era fascista. José Manuel Fernandes era fascista. Helena
Matos era fascista. Henrique Raposo era fascista. Éramos todos fascistas e, a
bem dizer, consoante os dias, e os assuntos em discussão, continuamos a sê-lo. Ser fascista é a profissão de acesso mais
fácil em Portugal – basta defender com algum fervor posições de que a esquerda
não gosta. Menos Estado? Fascista. Crítica aos delírios verbais das políticas
de identidade? Fascista. Delação premiada para combater a corrupção? Fascista.
Tal como na fábula do pastor e
do lobo, tantas vezes a esquerda gritou pelo fascismo, que o fascismo
finalmente apareceu. Não é o fascismo dos anos 30, com certeza, mas muitas das
suas características estão lá – o mesmo
amor pela autoridade, o mesmo ódio ao outro, o mesmo culto da violência, o
mesmo desprezo pelas minorias, o mesmo desrespeito pelos contrapesos
democráticos, a mesma devoção às personalidades messiânicas. É aquilo a que a
língua inglesa chama “self-fulfilling
prophecy”, uma profecia que acaba por
se cumprir porque o seu obsessivo anúncio ajudou, e muito, a que ela viesse a
concretizar-se. E é nesse sentido que o tema da “culpa da esquerda” é absolutamente essencial para
explicar a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro, pois ele é o produto desta
nova configuração do mundo: a esquerda tornou-se profundamente conservadora,
recusando qualquer mudança no statu quo; e
esta nova direita, de Trump, Bolsonaro ou Duterte, ocupou o espaço
revolucionário, anunciando mudanças radicais e o combate aos
interesses instalados.
Não ver isto, ou não admitir isto, é circular pelo espaço público com
duas palas nos olhos, actividade a que vejo demasiada gente dedicada.Leio articulistas portugueses comovidos sobre a
importância de manter o Brasil democrático ao mesmo tempo que
nos seus textos continuam a classificar Lula da Silva como um preso político e
a destituição de Dilma como um golpe de Estado. Vejo gente convencida de que
o Brasil só caiu nas mãos de Bolsonaro por causa
das fake news, como se mais de 50 milhões de brasileiros
estivessem hipnotizados pelo WhatsApp, quando os únicos grupos que apoiam
maioritariamente o PT são os mais pobres e os menos instruídos. Assisto aos clamores para que Fernando Henrique
Cardoso tome uma posição pró-Haddad, como se algum brasileiro, nesta
altura do campeonato, fosse alterar o seu sentido de voto por causa dos
conselhos de um membro da sua elite política.
O voluntarismo da esquerda é
inversamente proporcional à sua clarividência. O problema, caros leitores,
políticos e opinadores de esquerda, é que vocês deixaram de querer mudar o
mundo há muitas décadas, e hoje tornaram-se os mais devotos conservadores. No
Brasil, deixaram crescer a corrupção e a violência durante anos a fio sem mexer
uma palha. Em Portugal, vivem agarrados a um Estado social que não temos meios
para pagar, a um corporativismo de classe média que deixa de fora aqueles que
mais precisam, a uma complacência escandalosa para com a corrupção e a uma
obsessão pelo policiamento do pensamento que exaspera qualquer um. Quem
alerta para isto é acusado de fascista ou, na sua versão mansa, de populista.
Pois é: tanto falaram no papão, que o papão aí está. Os Bolsonaros deste mundo
não caem do céu.
Jornalista
COMENTÁRIOS
trosario51: Teorias da treta, o problema foi a distribuição da riqueza, feita de forma
diferente, como nunca tinha acontecido no Brasil, 40 milhões sairam da pobreza,
abriram-se as portas das escolas aos mais pobres, sobretudo a negros e mulatos.
O problema do Tavares, é estar sempre em campanha eleitoral. Quer ser o Alemão
ou o Lomba, no próximo governo da direita.
homem.luisa: Se a esquerda chamou os fascistas, foi a direita que chamou a
esquerda... O ser humano tende a reagir!
pedro.gonio,
Rio de Mouro 25.10.2018: Ainda não tinha lido um texto e
um título em Portugal tão pró-Bolsonaro e tão justificativo do fascismo, a
única coisa que não surpreende é a sua autoria. Olhe, talvez os políticos, os
jornalistas e comentadores ainda não tenham reparado que esses "instruídos"
que votam no Bolsonaro sejam simultaneamente os menos instruídos de facto, os
privilegiados que se podem dar ao luxo de passar o dia de trabalho a colocar
likes nas redes sociais e que limitam o seu suposto conhecimento ao consumo de
alarvidades depositadas por manipuladores pro-fascistas. Para justificar o
reaparecimento do fascismo não se pode ter um culpado diferente em cada país,
tem que se procurar um elo comum e esse é uma classe média ignorante e que só
consome redes sociais.
JDF,
Portugal : Não sei onde tirou a
ideia de "pro" Bolsonaro. Fala sobre ele, não em apoio a ele. E não
justifica nada sobre o fascismo. Explica sobre o fascismo, nomeadamente o seu
ressurgimento. E qual é a grande novidade que traz sobre os
"instruídos" que não são tão instruídos. Sim, são os de menores
rendimentos, piores condições de vida que comem tudo, mais os que são
complacentes, de classe média, que votam nestes tipos. Por favor, é o povo do
país que vota. Não vamos analisar russos para saber como brasileiros votam. E
ter a percepção do sentimento mais frequente que o povo tem sobre o estado e
governo, temos uma ideia do que acontece. Procura-oferta. O povo quer algo, que
alguém oferece, e que vai gerar mais procura do povo. Mas outros iluminados
acham que são coisas só políticas...
Liberal,
Vota PJ - Partido do Javali 25.10.2018: Bem
tolo este momento JDF, ficamos à espera de outros mais inspirados do que este.
Parece que subjaz ao seu comentário a noção de que a política e o governo do
Estado são um prolongamento do debate de ideias, mais ou menos extravagantes,
mais ou menos acalorado. Lá porque aqui as pessoas são bastante autênticas,
precisamente por estarem "atrás de um teclado" segundo o JDF, tal é
completamente intransponível para o confronto político real. Um fascista, antes
de conseguir o poder político, não mostra abertamente que é fascista. Nem
Hitler o fez, e esse era dos que falava demais - falava e escrevia!
Infelizmente, aquilo que ele tinha escrito não foi levado a sério. Os
estalinistas também não nos dizem que vêm destruir a propriedade privada e
todas as vidas e liberdades que não se ajustem...
JDF, Portugal: Enfim, pena o
Liberal não ter percebido. Os governos têm sido sim um prolongamento de mais do
mesmo. Vira o governo, roda o mesmo: sobem os mesmos impostos, assistem-se às
mesmas greves, etc etc etc...mais do mesmo. Discursos moderados do vamos mudar
e é desta, e depois, mais do mesmo. Se tiver melhor explicação para países
"inteligentes" (Suécias ou Alemanhas) e países burros (EUA's ou
Brasil) estarem a virar extremistas direitas, sem ter de arranjar uma teoria
para cada um, sou todo ouvidos. A minha teoria encaixa para todos. Ninguém
acreditava que Trump ganhasse e viu-se. Foi o candidato mais agressivo e anormal,
e mesmo os EUA's serem o que são, ganhou. Deve ter sido devido a grande debate
político-social da população sobre o governo e estado, não foi? Pff, pensava-o
mais inteligente
Liberal,
Vota PJ - Partido do Javali: Eu disse alguma vez que o
crescimento dos radicalismos, dos dois lados, pois que não é só à direita,
tinha sido resultado de um "grande debate político e social da
população"? Os radicalismos caracterizam-se precisamente pela ausência de
debate, pelo pensamento mágico, pelo homem providencial... e descambam em dois
tempos no autoritarismo. Mas isso não quer dizer que os partidos políticos
radicais digam e mostrem aquilo que diz e mostra o anónimo aprendiz de ditador.
Não é só por isso não render votos, é porque essa actuação é criminosa pelas
leis em vigor. O PCP nunca disse abertamente que, se pudesse, acabava com as
eleições livres. O Front National nunca disse abertamente que, se pudesse,
expulsava os muçulmanos de França (e para onde?!). E poderíamos continuar
indefinidamente...
Outro erro do JDF é
supor que não há alternativas dentro dos "nhonhas do costume",
digamos, dos partidos convictamente democráticos. Para não sair de Portugal, os
efeitos de eleger Pinto de Sousa ou Paulo Portas são mesmo muito diferentes, e
não podemos aceitar a conversa do "são todos iguais". Essa é a
conversa do aprendiz de feiticeiro, do demagogo, do lobo vestido de cordeiro.
Todo o mundo quer culpados, mas ai de quem sugira a todo o mundo que compre um
espelho! Enfim, é tarde e não tenho uma explicação pronta-a-vestir para as
derivas anti-democráticas no Ocidente, a não ser que elas são sintoma de grande
insatisfação, e sejamos claros, de sofrimento. A História está de volta? A
liberdade é de novo um luxo para "nhonhas", dispensável?
Marco Antonio de Yparraguirre do Carmo Mayc,
25.10.2018 : Perfeita análise de João
Miguel Tavares. O Luiz Inacio da Silva e seu partido teve no primeiro mandato a
oportunidade de levar o Brasil bem longe mas preferiu o caminho da corrupção
com um populismo capital, que começou com o assassinato do prefeito de Santo
André e de todas as testemunhas, e depois a escalada de compra dos
parlamentares das duas câmaras do governo. Depois partiu usando a Petrobrás e o
BNDS para reforçar seu lado ditatorial ao ajudar financeiramente e
politicamente a Venezuela Cuba Peru Equador até se alinhou ao ditador do Irão
contra os americanos.. Finalmente indicou a Dilma para sua sucessora arrastando
o País ao caos. Foram 13 anos de empulhação.
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