sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O porquê de uma eleição reprovável

João Miguel Tavares acusa a esquerda de responsabilidade pela eleição provável de Jair Bolsonaro e outros Bolsonaros deste mundo. Pouco percebo de política, mas julgo que invoca razões um tanto capciosas para a responsabilizar. De facto, não me parece a mim que a esquerda se tenha “tornado” conservadora, pois nunca deixou de o ser, igualzinha, nas suas ambições de poder e benesses, aos da “direita” fascista: ninguém foi mais fascista do que os Estalines de outrora, que em nome dos direitos do povo, violaram os direitos de milhões de pessoas, no culto pela sua própria pessoa. Não assim os “Estalines” de agora, entre os quais, Lula da Silva, que em nome dos direitos dos pobres, se considerou o mais pobre dentre todos, defendendo os seus próprios direitos à riqueza, não com a crueldade animalesca do seu antepassado marxista, mas com a corrupção egocentrista específica destes novos tempos, sem tanta afirmação literata, contudo, que a corrupção em si não necessita de literatura. Cá por casa, contudo, a esquerda continua a defender misericordiosamente os seus pobres de estimação, como de lei, incitando às greves, destruidoras, é certo, das energias económicas da nação, e isso não se me afigura de conservadorismo, mas de vileza demagógica e desamor pátrio. Ao pretender dar uma lição aos “caros leitores, políticos e opinadores de esquerda” a ideia que nos acode com a sua crítica ao “conservadorismo” da esquerda, é a de que JMT pretende docemente doutriná-los, aconselhando-os a voltarem a “mexer uma palha”, tornando-se menos defensores do parasitismo social para que conduziram a nação, indiferentes ao desenvolvimento económico desta. Se é a isto que JMT chama de conservadorismo de esquerda, ou seja, de defesa do parasitismo social excessivo, está a condenar os tempos em que se trabalhava de facto, e se produzia mais, sem o endividamento de agora. Não me parece justo para os tais fascistas, de que se acusa a si próprio, de vez em quando.
OPINIÃO
A esquerda chamou os fascistas; os fascistas vieram
O tema da “culpa da esquerda” é absolutamente essencial para explicar a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 25 de Outubro de 2018
Durante vários anos, eu fui fascista. De vez em quando ainda sou. Aliás, ali entre 2011 e 2015, tive imensa companhia. Foi o tempo em que Passos Coelho era fascista. Angela Merkel era fascista. Rui Ramos era fascista. José Manuel Fernandes era fascista. Helena Matos era fascista. Henrique Raposo era fascista. Éramos todos fascistas e, a bem dizer, consoante os dias, e os assuntos em discussão, continuamos a sê-lo. Ser fascista é a profissão de acesso mais fácil em Portugal – basta defender com algum fervor posições de que a esquerda não gosta. Menos Estado? Fascista. Crítica aos delírios verbais das políticas de identidade? Fascista. Delação premiada para combater a corrupção? Fascista.
Tal como na fábula do pastor e do lobo, tantas vezes a esquerda gritou pelo fascismo, que o fascismo finalmente apareceu. Não é o fascismo dos anos 30, com certeza, mas muitas das suas características estão lá – o mesmo amor pela autoridade, o mesmo ódio ao outro, o mesmo culto da violência, o mesmo desprezo pelas minorias, o mesmo desrespeito pelos contrapesos democráticos, a mesma devoção às personalidades messiânicas. É aquilo a que a língua inglesa chama “self-fulfilling prophecy”, uma profecia que acaba por se cumprir porque o seu obsessivo anúncio ajudou, e muito, a que ela viesse a concretizar-se. E é nesse sentido que o tema da “culpa da esquerda” é absolutamente essencial para explicar a ascensão de figuras como Jair Bolsonaro, pois ele é o produto desta nova configuração do mundo: a esquerda tornou-se profundamente conservadora, recusando qualquer mudança no statu quo; e esta nova direita, de Trump, Bolsonaro ou Duterte, ocupou o espaço revolucionário, anunciando mudanças radicais e o combate aos interesses instalados.
Não ver isto, ou não admitir isto, é circular pelo espaço público com duas palas nos olhos, actividade a que vejo demasiada gente dedicada.Leio articulistas portugueses comovidos sobre a importância de manter o Brasil democrático ao mesmo tempo que nos seus textos continuam a classificar Lula da Silva como um preso político e a destituição de Dilma como um golpe de Estado. Vejo gente convencida de que o Brasil só caiu nas mãos de Bolsonaro por causa das fake news, como se mais de 50 milhões de brasileiros estivessem hipnotizados pelo WhatsApp, quando os únicos grupos que apoiam maioritariamente o PT são os mais pobres e os menos instruídos. Assisto aos clamores para que Fernando Henrique Cardoso tome uma posição pró-Haddad, como se algum brasileiro, nesta altura do campeonato, fosse alterar o seu sentido de voto por causa dos conselhos de um membro da sua elite política.
O voluntarismo da esquerda é inversamente proporcional à sua clarividência. O problema, caros leitores, políticos e opinadores de esquerda, é que vocês deixaram de querer mudar o mundo há muitas décadas, e hoje tornaram-se os mais devotos conservadores. No Brasil, deixaram crescer a corrupção e a violência durante anos a fio sem mexer uma palha. Em Portugal, vivem agarrados a um Estado social que não temos meios para pagar, a um corporativismo de classe média que deixa de fora aqueles que mais precisam, a uma complacência escandalosa para com a corrupção e a uma obsessão pelo policiamento do pensamento que exaspera qualquer um. Quem alerta para isto é acusado de fascista ou, na sua versão mansa, de populista. Pois é: tanto falaram no papão, que o papão aí está. Os Bolsonaros deste mundo não caem do céu.
Jornalista
COMENTÁRIOS
trosario51: Teorias da treta, o problema foi a distribuição da riqueza, feita de forma diferente, como nunca tinha acontecido no Brasil, 40 milhões sairam da pobreza, abriram-se as portas das escolas aos mais pobres, sobretudo a negros e mulatos. O problema do Tavares, é estar sempre em campanha eleitoral. Quer ser o Alemão ou o Lomba, no próximo governo da direita.
homem.luisa: Se a esquerda chamou os fascistas, foi a direita que chamou a esquerda... O ser humano tende a reagir!
pedro.gonio, Rio de Mouro 25.10.2018: Ainda não tinha lido um texto e um título em Portugal tão pró-Bolsonaro e tão justificativo do fascismo, a única coisa que não surpreende é a sua autoria. Olhe, talvez os políticos, os jornalistas e comentadores ainda não tenham reparado que esses "instruídos" que votam no Bolsonaro sejam simultaneamente os menos instruídos de facto, os privilegiados que se podem dar ao luxo de passar o dia de trabalho a colocar likes nas redes sociais e que limitam o seu suposto conhecimento ao consumo de alarvidades depositadas por manipuladores pro-fascistas. Para justificar o reaparecimento do fascismo não se pode ter um culpado diferente em cada país, tem que se procurar um elo comum e esse é uma classe média ignorante e que só consome redes sociais.
JDF, Portugal : Não sei onde tirou a ideia de "pro" Bolsonaro. Fala sobre ele, não em apoio a ele. E não justifica nada sobre o fascismo. Explica sobre o fascismo, nomeadamente o seu ressurgimento. E qual é a grande novidade que traz sobre os "instruídos" que não são tão instruídos. Sim, são os de menores rendimentos, piores condições de vida que comem tudo, mais os que são complacentes, de classe média, que votam nestes tipos. Por favor, é o povo do país que vota. Não vamos analisar russos para saber como brasileiros votam. E ter a percepção do sentimento mais frequente que o povo tem sobre o estado e governo, temos uma ideia do que acontece. Procura-oferta. O povo quer algo, que alguém oferece, e que vai gerar mais procura do povo. Mas outros iluminados acham que são coisas só políticas...
Liberal, Vota PJ - Partido do Javali 25.10.2018: Bem tolo este momento JDF, ficamos à espera de outros mais inspirados do que este. Parece que subjaz ao seu comentário a noção de que a política e o governo do Estado são um prolongamento do debate de ideias, mais ou menos extravagantes, mais ou menos acalorado. Lá porque aqui as pessoas são bastante autênticas, precisamente por estarem "atrás de um teclado" segundo o JDF, tal é completamente intransponível para o confronto político real. Um fascista, antes de conseguir o poder político, não mostra abertamente que é fascista. Nem Hitler o fez, e esse era dos que falava demais - falava e escrevia! Infelizmente, aquilo que ele tinha escrito não foi levado a sério. Os estalinistas também não nos dizem que vêm destruir a propriedade privada e todas as vidas e liberdades que não se ajustem...
JDF, Portugal: Enfim, pena o Liberal não ter percebido. Os governos têm sido sim um prolongamento de mais do mesmo. Vira o governo, roda o mesmo: sobem os mesmos impostos, assistem-se às mesmas greves, etc etc etc...mais do mesmo. Discursos moderados do vamos mudar e é desta, e depois, mais do mesmo. Se tiver melhor explicação para países "inteligentes" (Suécias ou Alemanhas) e países burros (EUA's ou Brasil) estarem a virar extremistas direitas, sem ter de arranjar uma teoria para cada um, sou todo ouvidos. A minha teoria encaixa para todos. Ninguém acreditava que Trump ganhasse e viu-se. Foi o candidato mais agressivo e anormal, e mesmo os EUA's serem o que são, ganhou. Deve ter sido devido a grande debate político-social da população sobre o governo e estado, não foi? Pff, pensava-o mais inteligente
Liberal, Vota PJ - Partido do Javali: Eu disse alguma vez que o crescimento dos radicalismos, dos dois lados, pois que não é só à direita, tinha sido resultado de um "grande debate político e social da população"? Os radicalismos caracterizam-se precisamente pela ausência de debate, pelo pensamento mágico, pelo homem providencial... e descambam em dois tempos no autoritarismo. Mas isso não quer dizer que os partidos políticos radicais digam e mostrem aquilo que diz e mostra o anónimo aprendiz de ditador. Não é só por isso não render votos, é porque essa actuação é criminosa pelas leis em vigor. O PCP nunca disse abertamente que, se pudesse, acabava com as eleições livres. O Front National nunca disse abertamente que, se pudesse, expulsava os muçulmanos de França (e para onde?!). E poderíamos continuar indefinidamente...
Outro erro do JDF é supor que não há alternativas dentro dos "nhonhas do costume", digamos, dos partidos convictamente democráticos. Para não sair de Portugal, os efeitos de eleger Pinto de Sousa ou Paulo Portas são mesmo muito diferentes, e não podemos aceitar a conversa do "são todos iguais". Essa é a conversa do aprendiz de feiticeiro, do demagogo, do lobo vestido de cordeiro. Todo o mundo quer culpados, mas ai de quem sugira a todo o mundo que compre um espelho! Enfim, é tarde e não tenho uma explicação pronta-a-vestir para as derivas anti-democráticas no Ocidente, a não ser que elas são sintoma de grande insatisfação, e sejamos claros, de sofrimento. A História está de volta? A liberdade é de novo um luxo para "nhonhas", dispensável?
Marco Antonio de Yparraguirre do Carmo Mayc, 25.10.2018 : Perfeita análise de João Miguel Tavares. O Luiz Inacio da Silva e seu partido teve no primeiro mandato a oportunidade de levar o Brasil bem longe mas preferiu o caminho da corrupção com um populismo capital, que começou com o assassinato do prefeito de Santo André e de todas as testemunhas, e depois a escalada de compra dos parlamentares das duas câmaras do governo. Depois partiu usando a Petrobrás e o BNDS para reforçar seu lado ditatorial ao ajudar financeiramente e politicamente a Venezuela Cuba Peru Equador até se alinhou ao ditador do Irão contra os americanos.. Finalmente indicou a Dilma para sua sucessora arrastando o País ao caos. Foram 13 anos de empulhação.

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