Gostamos de a ler. A verdade é
que precisamos da EU, vivemos do leite das suas mamelles, e os que desdenham
isso não parecem muito sérios, até por se tratar de um povo – o nosso - de
derrapagens económicas frequentes, sublinhando uma inapetência bastante para o
trabalho disciplinado, contrabalançada por uma apetência longamente observada para
o ganho não democrático. Eu também gosto de Merkel, deus ouça Teresa de Sousa, quando escreve a frase
optimista do título da sua segunda crónica: «A Europa ainda precisa de Merkel. E tem lugar para ela».
I -A Europa, que é nossa, de Lisboa a Helsínquia
Dois novos programas sobre a Europa serão
emitidos na televisão e na rádio públicas.
PÚBLICO, 12 de
Outubro de 2018
A RTP e a Antena 1 apresentaram
na sexta-feira, no gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, dois novos programas
para serem emitidos na RTP3 e na Rádio pública dedicados à integração europeia.
A intenção é clara, segundo os seus responsáveis, cumprir um dever de
serviço público quando a Europa é hoje um tema fundamental para os destinos do
país e quando se aproximam eleições para o Parlamento Europeu (em Maio do
próximo ano) que prometem ser o reflexo da crise que hoje União Europeia
atravessa. Como lembrou na apresentação João Fernando Ramos, da direcção da
RTP, nas últimas eleições para o PE a participação em Portugal ficou-se pelos
33,7 por cento, para uma média europeia igualmente triste: pouco mais de 44.
Os dois programas serão da
autoria de Rebecca Abecassis, que
saiu recentemente da SIC, onde justamente foi responsável por vários programas
sobre a Europa, e que agora encontrou o seu lugar na Televisão e na Rádio
públicas para fazer exactamente o mesmo.
Aquele que estreia primeiro, “De Lisboa a Helsínquia”, vai percorrer
56 regiões da Europa dos (ainda) 28, para fazer reportagens sobre a
utilidade e a relevância dos fundos europeus nas áreas do ambiente, educação,
saúde, cultura, inovação e imigração. Será apresentado por Rebecca Abecassis e por Raquel Mourão Lopes. A estreia está
marcada para o dia 20 de Outubro, ao fim da noite, na RTP3, e no dia 22 de
Outubro ao início da tarde, na Antena 1.
O segundo programa, “Europa Minha”, com estreia marcada para
Novembro e apresentado por João Adelino
Faria, será de informação e de debate sobre a agenda europeia, incluindo
o escrutínio do que fazem os representantes portugueses em Bruxelas.
Nunca como hoje foi tão
difícil, tão complexo e tão desafiante abordar as questões europeias, disse a
autora dos programas. Nem foi tanta a “responsabilidade dos jornalistas”. Carlos
Moedas, comissário português para a Ciência e a Inovação, citou uma obra de
Stefan Zweig “A Desintoxicação Moral da Europa” (1934), para referir a sua
“grande preocupação” com as próximas eleições europeias e a importância
insubstituível dos jornalistas para colmatar o desfasamento entre percepção e
realidade que hoje marca a opinião pública europeia.
As previsões apontam para uma forte presença dos partidos populistas e
nacionalistas (na sua grande maioria, antieuropeus) no Parlamento Europeu que
será eleito em finais de Maio, alterando profundamente a realidade política
europeia num dos seus órgão de representação mais importantes. Este
crescimento far-se-á às custas dos grandes partidos europeístas que até agora
dominaram a câmara: o PPE, os Socialistas e Democratas e os Liberais.
Os programas têm o patrocínio da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu.
II -A Europa ainda precisa de Merkel. E tem lugar para
ela
Numa larga maioria de capitais da União, a
ideia de ficar sem ela no comando de um país com o poder e a influência da
Alemanha ainda não é vista com tranquilidade.
PÚBLICO, 14 de
Outubro de 2018
1. As opiniões dividem-se. A
chanceler entrou definitivamente no seu ocaso político, preparando-se para
abandonar a cena? Ou a sua capacidade de resistência vai, mais uma vez,
desiludir aqueles que têm mais pressa em vê-la sair de cena? Entre estes, naturalmente, estão os seus
potenciais sucessores da CDU, que querem uma oportunidade, depois do seu longo
reinado. São vários. Nenhum se perfila como favorito. Sabemos que,
depois de um líder forte, a transição é sempre um processo longo e complicado. Angela
Merkel tem contra si a “maldição do quarto mandato”, que assombrou os últimos
anos de Adenauer e de Kohl. Esse é um problema interno da Alemanha, que
apenas diz respeito ao resto da Europa porque, numa larga maioria de capitais
da União, a ideia de ficar sem ela no comando de um país com o poder e a
influência da Alemanha ainda não é vista com tranquilidade. Este sentimento
tanto se manifesta à direita como à esquerda, entre os partidos e os governos
pró-europeus. É revelador do que Merkel representou ao longo da longa crise
existencial que a Europa atravessou nos últimos dez anos e da qual ainda não
saiu. Merkel nem sempre fez aquilo
que teria sido preciso. Hesitou algumas vezes. Tomou decisões que, pelo peso da
Alemanha, afectaram duramente um número significativo de cidadãos europeus,
sobretudo nos países mais vulneráveis do Sul. Foi algumas vezes mais “alemã” do
que “europeia”, sobretudo nos anos iniciais da crise, quando a Alemanha teve o
seu “momento unilateral”. Não teve a coragem suficiente de explicar aos alemães
que tudo aquilo que pagavam para “resgatar” os países do Sul lhes seria devolvido
a dobrar. Não há líderes perfeitos nem infalíveis em democracia. Mas
dois factores conjugados transformaram-na numa figura indispensável para o
futuro da Europa, entre aqueles que ainda querem que a Europa tenha futuro: a sua convicção profunda de que a União é
um bem inestimável, incluindo para o seu país, apesar da força da sua economia
e do seu peso político; o seu apego aos valores europeus da democracia, da
liberdade, do respeito pelos outros e de um mundo que tem de assentar em
regras, mais do que na relação de forças que apenas favorece os mais fortes.
Raramente vacila na defesa destes valores — talvez porque viveu até aos 34 anos
sem ter direito à liberdade e sabe quanto isso é o mais importante. Alguns
dos seus críticos, sobretudo à esquerda, dizem que ela seria sempre decisiva
pelo simples facto de ser chanceler da Alemanha. Pode ser verdade. Mas basta
olhar para o debate interno que se trava hoje entre as elites alemãs para
perceber que a escolha não é indiferente, nem os alemães vêem todos a Europa da
mesma maneira. Nem, muito menos,
como a viam antigamente, antes do fim da Guerra Fria e da unificação — como uma
segunda pele, que permitiu à Alemanha regressar ao concerto das nações
civilizadas, consolidar a sua democracia e operar um novo milagre económico.
Hoje, os termos do debate já não são
esses, embora a fase do go
it alone já tenha sido em grande
medida ultrapassada. A turbulência internacional, o distanciamento americano e
a emergência de grandes potências que não comungam dos valores ocidentais
voltaram a dar aos alemães uma perspectiva positiva sobre a indispensabilidade
da Europa para a defesa dos seus interesses nacionais. Merkel aguentou o barco
quando as coisas não eram assim tão claras.
2. Entretanto, foi durante
os seus mandatos que a paisagem política alemã e europeia se transformou
aceleradamente. Na Alemanha, o sistema de três partidos deu lugar a outro, com
seis, incluindo forças de ideologia extremista, alterando os equilíbrios políticos
internos e pondo cobro à tradicional estabilidade política.
Primeiro à esquerda, quando as consequências da unificação puseram o SPD à
prova e abriram espaço para uma ala radical, que acabaria por juntar forças com
o que restava dos comunistas da antiga RDA e fundar o Die Linke. Os Verdes já
existiam desde os anos 1980, mas converteram-se num partido do sistema nos anos
1990, aberto e profundamente europeísta. Os Liberais deixaram o seu papel de
partido-charneira e continuam à procura de um lugar no novo sistema político —
à direita da CDU/CSU? Não é fácil, até porque, entretanto, a mais profunda das transformações do
espectro político nasceu na extrema-direita do leque partidário, de tal forma
que ocupa hoje o lugar de maior partido da oposição no Bundestag. Merkel
justificou muitas vezes as suas decisões demasiado “alemãs”, quando a crise
financeira desencadeou a crise da dívida e a crise do euro, com a necessidade
de não abrir espaço para a emergência de um partido de extrema-direita no seu
país. Falhou o objectivo. Como
numa maioria de países da União Europeia, é a entrada em cena de partidos
populistas e nacionalistas que cria as maiores dificuldades para os partidos do
centro, a partir dos quais a integração europeia foi construída. É essa nova realidade que hoje ameaça a
Europa, exigindo lideranças capazes de contrariar os riscos crescentes de
fragmentação interna e de enfrentar, ao mesmo tempo, um mundo cada vez mais
hostil. Sem a chanceler, esse esforço será mais difícil. Sem a chanceler
liberta dos seus constrangimentos internos será ainda mais difícil.
3. Há uma tese que
circula entre alguns governos europeus e que faria sentido para a Alemanha e
para a Europa: oferecer-lhe o cargo
de presidente do Conselho Europeu, depois das eleições para o PE, em Maio de
2019. Algumas vozes do Partido Popular Europeu (PPE, centro-direita)
chegaram a falar à boca pequena na sua eventual candidatura à presidência da
Comissão. Não faria sentido. O poder político da União está hoje
concentrado no Conselho Europeu, no qual têm assento os líderes dos 28 países
da União. A Comissão continua a ser
um órgão importante para fazer cumprir as regras e para tentar encontrar
soluções que vão ao encontro do interesse do conjunto e não apenas de uma
parte. O seu poder político é
diminuto, por mais que o actual presidente, Jean-Claude Juncker, tenha tentado
“politizá-la” com o objectivo de reforçar a sua autoridade. A Europa
precisa de condução política no seu órgão de liderança por excelência. Merkel
teria o prestígio e a autoridade indispensáveis — dentro e fora da União
Europeia.
COMENTÁRIOS
Alforreca Passista, Anti-liberal
fascistas14.10.2018 : "A
Europa ainda precisa de Merkel. E tem lugar para ela" - Europeísta
totalitária Teresa de Sousa - A necessidade que os europeístas totalitários têm
pelo messianismo é apenas mais uma prova de como o "europeísmo"
alcançou a sua fase mórbida....
Julio, Que época terrível esta, onde
idiotas dirigem cegos" William Shakespeare 14.10.2018 : Naturalmente, eu entendo que a Europa não
precisa de Merkel. O que a Europa precisa é de uma outra política - uma
politica das nações e para as nações. Uma politica de paz, solidariedade e
cooperação. Uma politica de desenvolvimento ecológico e equilibrada - uma
politica que Merkel nunca compreendeu. Não compreendeu porque não é uma
politica de visão, de acção mas de reacção. Reage aos acontecimentos. Aos
acontecimentos que não domina nem entende. O resultado é "meter
água"! Foi ela própria que cavou o seu ocaso politico - e não foi por
causa dos emigrantes ou refugiados (isso é um assunto transversal fabricado e
alimentado pelos media). Ela não compreendeu o mundo onde vive nem a eleição de
Trump - Macron foi/é muito mais esperto, diga-se - o que está em disputa e os
poderes envolvidos.Quando ela disse que não podíamos mais contar com a América,
assinou a sua sentença - os atlantistas ainda dominam a Europa e não admitem
deserções - quando procurou Putin não soube nem pôde marcar posição. Já
era tarde! Aqui, até porque julgo a TS ser uma atlantista, só posso entender
este artigo de duas maneiras: A TS também ainda não compreendeu que o centro do
poder se está a deslocar ou, também por isso, a sua solidariedade para com
Merkel é uma solidariedade feminina...
Jose, 14.10.2018: Os Impérios nunca caíram por falta de
Imperadores! Os Impérios caíram sempre como cairá a UE pela luta dos povos e
nações pela liberdade e soberania.
tiagompereira53, 14.10.2018: Continue a sonhar, Jose. A UE não é um
império. É uma união de estados livres e independentes. O Jose sempre a primar
pela sua ignorância
Stony
Brook NY, Marialva Beira Alta 14.10.2018: Como diz José, com o agravado ridículo de ler aqui repetidamente a
insistência da articulista em que a Chanceler em 4º mandato é
"indispensável". Quando são turcos ou chineses, a ausência de limite
de mandados é interpretada como sinal de degradação do processo democrático;
quando são europeus, o sintoma passa a ser o da qualidade pessoal da imperatriz.
Tomam-nos por parvos?
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