Falou-se
na eutanásia lá por Pinheiro, no dia da votação para a sua despenalização, caso
fosse aprovada, em 29/5, votação feita cá por Lisboa, mais especificamente, no
espaço “entre a Arcada e S. Bento”, onde, segundo Ega no capítulo VI d´OS
MAIAS, é onde se localiza o país. E reproduzo o passo, atida ao objectivo de
não desvirtuar as referências, esta, de resto, puro lugar comum entre nós, os
snobes da capital: «- Lisboa é Portugal, gritou o outro. Fora de Lisboa não
há nada. O país está todo entre a Arcada e S. Bento!...»
A
minha irmã, que foi a Pinheiro de Lafões ver a nossa prima Celeste, tão próxima
das nossas infâncias por cá e adolescências por lá, por Moçambique - no tempo
em que Moçambique pertencia ainda ao campo referencial dos nossos advérbios de
lugar – informou, pois, que também todos ficaram contentes, lá em Pinheiro – tal
como nós cá, na Parede - e sobretudo a Celeste, cujos 91 anos estão actualmente
ligados a uma cadeira de rodas, mas lucidamente presos à casa onde sempre
viveu, desde que chegou de África, embora dependente da dedicação da irmã e
família. E logo a sua voz se fez ouvir, repetidamente, em versos da sua
infância, a lembrar-me o espaço geográfico onde a minha mãe aprendera tanto do
seu saber - o Carregal, terra da Celeste também - e que tivera larga ocasião de
desbobinar, ao longo do seu percurso dos anos finais, igualmente limitados à
cama e à cadeira de rodas, e que gravei neste meu blog ao sabor das suas evocações,
com a admiração e o encanto próprios.
Repetiu,
pois, a Celeste, várias vezes, após a votação, a quadra do seu saber, destruidora
das demagogias dos que, “entre a arcada e S Bento”, pretendem impor a nova
lei, não por real sensibilidade ao sofrimento alheio, mas para atacar
conservadorismos e desestabilizar as certezas fundadas num bom senso de
tradição e efectiva sensibilidade, próprias dos humanos.
Foi,
pois, esta a quadra que a minha prima Celeste pronunciou repetidas vezes, nesse
dia 29, após a votação da assembleia, de escassos 5 votos de diferença,
favoráveis à recusa à tal proposta de lei, exiguidade promissora de um “Pasará”
futuro.
Eis
os versos que a nossa prima disparou, tantas vezes, e que a minha irmã anotou:
Eu pedi a morte a Deus
E Ele disse que m’a não dava,
Que lhe pedisse antes a vida,
Que a morte certa estava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário