Quadro
arrasador do nosso país este, traçado por António Barreto, neste dia feriado
que coube, este ano, ao domingo, e que o Governo festeja lá fora, em
estardalhaço ridículo, como já fez o ano passado, num despesismo de viagens que
mais afundam esta pobre barcaça sem rumo e de mão estendida, hábito antigo. António Barreto aflige-se e
aponta a dedo, qual detective pleno de
recursos, mas perdido no labirinto, sem fio de Ariana a promover uma saída.
Como sempre, uma bela fotografia que também poderia servir de lição.
Mistérios por desvendar
ANTÓNIO BARRETO
DN, 10 DE JUNHO DE 2018
Hoje é Dia de Portugal!
Dia das Comunidades! Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas!
Dia da Raça! Dia da Raça Portuguesa! Dia de Camões! Cada designação vale um
regime, um tempo e uma moda. Uma boa maneira de comemorar o país seria conhecer
melhor e estudar mais. E desvendar mistérios.
Onde estão realmente as
fontes da profunda desigualdade social em Portugal? Na lei? Na propriedade? Nos
sistemas de sucessão e herança? No fisco? Nos costumes? Na religião? Na falta
de liberdade? No analfabetismo? Na pobreza? Por que razões Portugal é mais
desigual do que países com menos rendimento (Polónia, Roménia), parecidos
(Grécia e República Checa) e com mais rendimentos (Reino Unido, França)?
Por que razões a
mobilidade social é tão reduzida em Portugal? Porque é tão difícil "subir
na vida"? Por que motivos o crescimento do produto, tão impressionante nos
últimos quarenta anos, teve tão pouca influência na diminuição dos graus de
desigualdade?
Por que motivos teve
Portugal taxas de analfabetismo únicas na Europa em 1900 (80%, contra 2% a 10%
nos países do Norte) e até aos anos 1960 (mais de 35%)? E ainda está hoje em
último lugar entre todos os países industrializados? Onde estão as causas?
Pobreza? Catolicismo? Ausência de Reforma? Atraso geral? Ignorância das elites?
Ruralidade? Falta de indústria? Fraqueza da sociedade civil? Centralismo do
Estado?
Como se explica o facto
de a Justiça em Portugal não se ter reformado nem modernizado depois do 25 de
Abril? E por que razão foi tão difícil ou impossível a Justiça adaptar-se à
democracia, ao Estado de direito, à integração europeia, ao capitalismo e à
economia de mercado?
Quem são hoje os
militares em Portugal? Que influência têm na sociedade e na política? Que
pensam dos assuntos públicos? Exercem cargos ou funções de poder? Serão simples
burocratas ou funcionários públicos? São meros contratados? Há que recear
alguma intervenção política dos militares nos próximos anos? Ou há que desejar
uma sua intervenção?
Como se explica o facto
de não haver liberalismo em Portugal? Nem liberais? Nem partidos liberais? E o
facto de "liberal" ser mesmo um insulto político?
Porque nunca se contou,
com investigação rigorosa e completa, a história das reprivatizações em
Portugal, com passagens de pessoal dos partidos para as empresas e vice-versa,
com homens de palha e testas-de-ferro dos partidos que eram mandatários de
capitalistas, com "barrigas de aluguer" da política portuguesa que
serviam de intermediários de aventureiros que não podiam concorrer directamente?
Porque não se fez ainda um verdadeiro "Gotha" dos governantes,
deputados e gestores que fizeram carreira na política, nos partidos, nas
empresas públicas e depois, alternada ou sucessivamente, nas empresas privadas
que eles próprios reprivatizaram?
Porque não se sabe
realmente o que se passou com as escutas telefónicas (relativas a Sócrates)
mandadas destruir por Noronha Nascimento e Pinto Monteiro? Quem ficou a ganhar
com tal destruição? Se não tinham importância, porque foram destruídas? Se eram
muito importantes, porque se destruíram? Porque se diz hoje com tanta
insistência que, afinal, não foram destruídas?
Quem foram os
responsáveis pela quase destruição do BCP, da PT, da Cimpor, do BPN, do BPP, do
Banif?
Como foi realmente
possível fazer um buraco de mais de cinco mil milhões no BPN? Onde está esse
dinheiro? Como foi possível fazer um buraco de mais de nove mil milhões no
Grupo Espírito Santo? Onde está esse dinheiro? Como foi possível que, já depois
da "resolução", ainda tivessem fugido do BES mais de três mil milhões
de euros?
Quanto é que a CGD
gastou, empatou e perdeu em negócios estranhos levados a cabo por decisão
política, designadamente no BCP, no BES, no GES, no BPN, no BPP e na PT?
Porque nunca se fez um
"atlas" ou um elenco completo de todas as parcerias-público privadas,
uma a uma, com indicação dos beneficiários, dos bancos envolvidos, dos
sobrecustos suportados pelo Estado, dos riscos atribuídos sempre ao Estado e
dos benefícios sempre concedidos às empresas privadas?
As minhas fotografias
Costureiro de homens em Savile Row. Não!
Não se trata de efeitos das transformações culturais e de costumes decorrentes
da alteração das relações entre géneros... Pelo contrário, este senhor alfaiate
e costureiro de roupa para homens é representante de uma velha dinastia ou
cadeia de alfaiates de homens para homens. Fica numa rua famosa, Savile Row, em
Mayfair, Londres. São dezenas os alfaiates que ainda lá trabalham e produzem ou
reparam fatos e camisas de excepcional qualidade e também de excepcionais
preços... Nesta rua tinha a sua sede, há muito, a Royal Geographic Society,
onde os nossos exploradores de África do século XIX, Serpa Pinto e Hermenegildo
Capelo, iam preparar as suas expedições e encontrar os seus colegas locais.
Segundo Júlio Verne, o senhor Phileas Fogg, o da Volta ao Mundo em Oitenta
Dias, vivia aqui. Foi também aqui que os Beatles deram, no telhado de um
prédio, o seu último concerto, interrompido pela polícia, que o mandou terminar
por "excesso de ruído"...
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