Uma crónica que poderia causar
grande impacto num país menos amorfo. Sobre o nosso passado histórico
espezinhado demagogicamente, e nem se espante. Começou
por um Acordo Ortográfico, de e para mentecaptos, mas estava-se a prever
este resultado apontado na Crónica, vistos os maus tratos que a Educação tem
sofrido (e que fingimos ignorar), por conta da indisciplina e das demagogias
perversas que resultaram nisto, de que Manuel Carvalho tanto se indigna, a
propósito de um Museu dos Descobrimentos em debate: «Não
queiram que, de um momento para o outro comecemos a olhar esse período
fantástico do nosso passado como um recital exclusivo de horrores. Porque não o
foi. Chamem-lhe descobertas, expansão, viagem, encontro ou o que quer que seja,
mas não queiram que se passe da glorificação acrítica para a anulação
preconceituosa de um período crucial para a definição do que, apesar de tudo,
somos e para a imagem que, apesar de tudo, projectamos no mundo.
Quando
a França foi ocupada pelos alemães, logo surgiram grupos de resistentes,
vivendo em condições arriscadas e desconfortáveis com a colaboração pertinaz, embora
cautelosa, do povo francês. Chamaram-se os “maquisards”, desse feito resultou
um canto que é um grito de apelo, belo e corajoso, que reproduzo, da Internet,
e escuto não pela voz de Yves Montand que tanta vez escutei e fiz ouvir pelos
alunos:
Le chant des partisans = Ami, entends-tu le vol noir des
corbeaux sur nos plaines? Ami, entends-tu les cris sourds du pays qu’on
enchaîne ? Ohé, partisans, ouvriers et paysans, c’est l’alarme. Ce soir
l’ennemi connaîtra le prix du sang et les larmes.
Montez de la mine,
descendez des collines, camarades ! Sortez de la paille les fusils, la
mitraille, les grenades. Ohé, les tueurs à la balle et au couteau, tuez
vite ! Ohé, saboteur, attention à ton fardeau : dynamite...
C’est nous qui brisons
les barreaux des prisons pour nos frères. La haine à nos trousses et la faim
qui nous pousse, la misère. Il y a des pays où les gens au creux des lits font
des rêves. Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève...
Ici chacun sait ce qu’il
veut, ce qu’il fait quand il passe. Ami, si tu tombes un ami sort de l’ombre à
ta place. Demain du sang noir sèchera au grand soleil sur les routes. Chantez,
compagnons, dans la nuit la Liberté nous écoute...
Ami, entends-tu ces cris sourds du pays qu’on
enchaîne ? Ami, entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines ?
Oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh oh ........
O nosso país amorfo ainda tem,
felizmente, vozes como as de MANUEL CARVALHO, capazes de se indignar com
as reacções dos seus próprios naturais, aliados à comandita dos
afro-descendentes, que cospem na cara dos pioneiros na sua libertação do obscurantismo
e tribalismo em que viviam os seus antepassados, e se engalanam das vestes com que
os actuais seguidores do proteccionismo patético e amedrontado os envolvem, convertido,
é certo, em ódio demagogicamente vibrado, contra os da sua própria nação e da sua
história de coragem, tão orgulhosamente expressa por tantos e especialmente por
um tão superior, cuja morte ainda hoje é símbolo do Dia Naccional de Portugal –
tal como foi fixado o calendário cristão, sobre a data do nascimento de Cristo,
em sinal de respeito.
Transcrevo igualmente, com
gosto, dois dos comentários de apoio ao texto de MANUEL CARVALHO – de BENTO CAEIRO
e de LUSO, por entre a caterva dos
tais afros e seus protectores timoratos e humildes.
OPINIÃO
O duro fardo de ser português
Chamem-lhe descobertas, expansão, viagem, encontro ou o que quer que
seja, mas não queiram que se passe da glorificação acrítica para a anulação
preconceituosa de um período crucial para a definição do que somos.
PÚBLICO, 27 de Junho de 2018
Retire-se a esfera armilar da bandeira, suprima-se o estudo de Os
Lusíadas, dinamite-se a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos, arrase-se
Goa, Ouro Preto e Moçambique, apaguem-se os nomes dos navegadores da toponímia
das cidades, proíbam-se as Décadas da Ásia de João de Barros,
mudem-se os versos do hino que exaltam o “esplendor de Portugal”, enterre-se a
lusofonia e meta-se Portugal num divã a sublimar os traumas do seu passado. O debate em torno do museu dos Descobrimentos proposto por
Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, para promover a “reflexão
sobre aquele período histórico nas suas múltiplas abordagens, de natureza
económica, científica, cultural nos seus aspectos mais e menos positivos” está
em vias de criar um complexo de culpa tão intenso e profundo que exige a
reinvenção do país. Já não está em causa o debate saudável promovido por
académicos em torno do significado dos “descobrimentos”; agora a coisa fia mais
fino e só se supera com uma revolução cultural que destrua uma das mais
consensuais bases da identidade nacional.
O debate deixou definitivamente de se fazer em torno da memória
histórica e da plural discussão sobre a miséria e a glória da Expansão
portuguesa. A recusa pura e simples da existência de um museu, seja das
descobertas, da interculturalidade, da viagem, da expansão ou o que quer que
seja, é um programa ideológico que propõe uma amputação do passado. Toda e qualquer iniciativa no sentido de
expor, mesmo com olhar crítico, a aventura dos portugueses iniciada em 1415
será sempre vista como uma tentativa de veicular uma “história facciosa e que
omite parte relevante da verdade histórica”, como defende uma carta de intelectuais portugueses afrodescendentes.
A proposta do museu inscrita no programa de Fernando Medina sublinhava, por
exemplo, que o museu deveria ter um núcleo que falasse da escravatura ou de
outros aspectos “menos positivos” do colonialismo, mas essa salvaguarda não
basta. Os autores da carta não só querem condicionar o futuro, o que
seria legítimo, como denegar o passado que que cristalizou na “edificação
comemorativa de estátuas, monumentos e museus celebradores do colonialismo e da
ideologia colonial”.
Bastaram 20 anos para que historiadores prestigiados como António
Hespanha tivesse passado da condição de presidente da Comissão para a
Comemoração dos Descobrimentos Portugueses para a ala dos que se indignam com o
uso da palavra “descobrimentos”. Não há aqui nenhum problema. Autores
consagrados e insuspeitos de qualquer propensão para o bafio ideológico, como
Vitorino Magalhães Godinho ou Jaime Cortesão, usaram-na sem constrangimento
porque, no seu tempo, não era susceptível dos anátemas que hoje se lhe colam.
As visões da História são sempre condicionadas pelo presente e a glorificação
das navegações, descobertas, expansão ou conquista são hoje felizmente
temperadas por outras matizes que incorporam as visões do outro e dos seus
dramas. Por isso foi importante que tantos intelectuais portugueses se tenham mobilizado
para propor uma denominação alternativa para o projecto do museu.
Ou para advertir que nenhuma justiça se faria ao passado nem ao presente dos
portugueses se o espírito glorificador do Estado Novo o viesse a contaminar.
O que agora está em causa já não são exigências para que o projecto
reflicta as novas perspectivas da História e abdique de qualquer veleidade patrioteira
ou “lusocêntrica”. O que está em causa é, como escreveu Eduardo Lourenço, a
convocação metafórica de um “quase tribunal da Inquisição” para “pôr na pira a
história do nosso pequeno país, que não o merece”. É a tentativa de subverter a
memória, pegando nos seus capítulos mais negros para a pintar indelevelmente
nesse tom. Não se exige um olhar transversal que inclua os dramas humanos do
colonialismo em África, na Ásia ou no Brasil: impõe-se uma ideia do passado
onde só esses custos existiram. Os que recusam pagar com os seus impostos um
museu “construído sobre os ombros do silenciamento da nossa História” são
afinal os mesmos que “exigem” à Câmara de Lisboa “uma aposta séria num Memorial
de homenagem às pessoas escravizadas, num Museu do Colonialismo, da Escravatura
ou da Resistência Negra”. Não seria possível fazer-se o museu com secções
dedicadas ao colonialismo e à escravatura e ao lado erguer-se o tal monumento?
Uma hipótese não contemplada. Porque o que subjaz a esta liturgia é uma clara
tentativa de subverter uma hegemonia daninha com outra hegemonia daninha. É o
irreconciliável “nós” de um lado e “eles” do outro.
Bastaram 20 anos para
que historiadores prestigiados como António Hespanha tivesse passado da
condição de presidente da Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos
Portugueses para a ala dos que se indignam com o uso da palavra
“descobrimentos”. Não há aqui nenhum problema. Autores consagrados e
insuspeitos de qualquer propensão para o bafio ideológico, como Vitorino
Magalhães Godinho ou Jaime Cortesão, usaram-na sem constrangimento porque, no
seu tempo, não era susceptível dos anátemas que hoje se lhe colam. As visões da
História são sempre condicionadas pelo presente e a glorificação das
navegações, descobertas, expansão ou conquista são hoje felizmente temperadas
por outras matizes que incorporam as visões do outro e dos seus dramas. Por
isso foi importante que tantos intelectuais portugueses se tenham mobilizado
para propor uma denominação
alternativa para o projecto do museu. Ou para advertir que nenhuma justiça
se faria ao passado nem ao presente dos portugueses se o espírito glorificador
do Estado Novo o viesse a contaminar.
O que agora está em
causa já não são exigências para que o projecto reflicta as novas perspectivas
da História e abdique de qualquer veleidade patrioteira ou “lusocêntrica”. O
que está em causa é, como escreveu Eduardo Lourenço, a convocação metafórica de
um “quase tribunal da Inquisição” para “pôr na pira a história do nosso pequeno
país, que não o merece”. É a tentativa de subverter a memória, pegando nos seus
capítulos mais negros para a pintar indelevelmente nesse tom. Não se exige um
olhar transversal que inclua os dramas humanos do colonialismo em África, na
Ásia ou no Brasil: impõe-se uma ideia do passado onde só esses custos
existiram. Os que recusam pagar com os seus impostos um museu “construído sobre
os ombros do silenciamento da nossa História” são afinal os mesmos que “exigem”
à Câmara de Lisboa “uma aposta séria num Memorial de homenagem às pessoas
escravizadas, num Museu do Colonialismo, da Escravatura ou da Resistência
Negra”. Não seria possível fazer-se o museu com secções dedicadas ao
colonialismo e à escravatura e ao lado erguer-se o tal monumento? Uma hipótese
não contemplada. Porque o que subjaz a esta liturgia é uma clara
tentativa de subverter uma hegemonia daninha com outra hegemonia daninha. É o
irreconciliável “nós” de um lado e “eles” do outro.
Nem vale a pena
recuperar as teses da História que alertam para os perigos que a interpretação
do passado com os olhos no presente. A escravatura, a pilhagem de recursos, a
brutalidade da conquista, o genocídio e a conversão forçada foram processos
detestáveis mesmo que na época fossem enquadrados num outro contexto cultural
ou de valores. Mas para se perceber tudo, não se pode omitir a existência da
escravatura em África antes de os portugueses lá chegarem. E saindo do pano
negro que alguns querem tornar exclusivo, há que sublinhar outras facetas da
História mais aceitáveis: a descoberta de rotas e de direcções de ventos, as
tentativas de miscigenação de Afonso de Albuquerque na Índia, a mudança de
hábitos na Europa forçada pelo contacto com os outros, como o hábito do chá, o
contributo de palavras banto ou do tupi-guarani para a riqueza do português
actual, a admirável arte indo-portuguesa ou a maravilhosa carta do “achamento”
do Brasil de Pero Vaz de Caminha. Portugal é o que foi e se não podemos tapar
os olhos aos horrores que os portugueses perpetraram, não podemos deixar
igualmente de reconhecer a sua intrepidez, coragem, visão, curiosidade e
energia que ajudaram a moldar a Europa moderna – e o mundo contemporâneo.
Um museu sobre Portugal
não pode nem deve ser a manifestação depurada de um pretenso elogio nacional
nem uma orgia de verdades parciais que nos convide à autoflagelação. Porque,
algures entre as duas perspectivas há-de ser possível encontrar um consenso.
Serão as visões históricas sedimentadas ao longo de séculos a prevalecer? É um
risco. Por difusa que seja, por inquinada que esteja com o patrioteirismo do
futebol que faz de Ronaldo o novo D. João II, Portugal é uma nação velha com
uma consciência nacional alimentada ao longo de séculos com o fascínio do
império. Limemos-lhes as arestas e expurguemo-lo da mentira, do nacionalismo
bafiento e da ideologia racial e colonial. Mas não queiram que, de um
momento para o outro comecemos a olhar esse período fantástico do nosso passado
como um recital exclusivo de horrores. Porque não o foi. Chamem-lhe descobertas,
expansão, viagem, encontro ou o que quer que seja, mas não queiram que se passe
da glorificação acrítica para a anulação preconceituosa de um período crucial
para a definição do que, apesar de tudo, somos e para a imagem que, apesar de
tudo, projectamos no mundo.
COMENTÁRIOS:
Bento Caeiro,
28.06.2018 : A
Pandilha do Politicamente Correcto tem como um dos seus principais objectivos
destruir a idéia de Nação e, como tal, tudo fará para subverter o que
contribuiu para a formatar e ser como hoje se nos apresenta. Com essa
finalidade, atiram-se à História e aos períodos da história que mais nos
valorizou e caracterizou como Nação - como é o caso da nossa odisseia marítima.
Trazem para o presente, valorizando-os como tal, factos passados e fora do seu
contexto, como se fossem do presente - é desta forma que vão buscar a
escravatura, como se Portugal tivesse dado origem ao fenómeno. Subvalorizando
desta forma, tudo o que fizemos de importante e positivo para o mundo de então
e actual.
LUSO, : Esta gente não é
portuguesa. A história não se renega, entende-se.. O passado não pode ser visto
com olhos actuais mas com os olhos do seu tempo, o tempo histórico e para
compreender o tempo histórico é necessário ler, interpretar e assimilar muita
coisa, que não cabe numas lérias ou meia dúzia opiniões superficiais de gente.
A história pátria foi o que foi e não há qualquer razão para criar complexos
absurdos. Vão dizer a um inglês para negar a sua história! A um americano! E no
entanto todos os povos têm razões para arrependimentos. Ainda hoje os maiores
países continuam a roubar aos frágeis as matérias primas, Impondo guerras que
fazem das nossas façanhas líricas aventuras do Robin dos Bosques. Há psicólogos
para complexados, procurem-nos e não difamem a pátria e a vida !!!!
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