OPINIÃO
Uma economia que cresce
precisa de imigrantes: Precisa de trabalho escravo, pois que é nesse
sentido que José Pacheco Pereira defende, à falsa fé, a tese do “auxílio à
imigração”. Nunca se põe aqui o problema do continente rico que é a África, que
precisa de ver crescer a sua economia e por isso requer o auxílio dos outros
povos no sentido de os ajudar a progredir. Capciosamente, os JPC da
solidariedade, mostram as vantagens de se estender a mão a esses que fogem das
suas misérias de perseguidos – pela fome, pela guerra, pelo despotismo dos
que lhes prometeram paz, segurança, igualdade, manipulados que foram pelos doutrinários
dos extremismos ocidentais das utopias. Estes, que estudam nos livros,
agarram nessas palavras fortes dos livros que eles estudam e decretam:
primeiro, que a África é dos Africanos e fazem que se expulsem os colonizadores
que os ajudavam a progredir, de facto, apesar das contingências dos
desequilíbrios sociais, que os há sempre, em todo o lado.
Mas, feitas as contas, afinal,
a África é só para alguns africanos, vê-se, e por isso muitos fogem aterrorizados,
elementos de desequilíbrio para uma Europa escassa de terreno, mas rica em conceitos
nobres. E os mesmos da expulsão dos europeus dessa África que era só dos africanos,
entendem agora que a Europa não é só dos europeus, porque é multiculturalista. Por
isso deve receber os africanos, a pretexto de que estes representam trabalho e
progresso, e, astutamente, jamais falam em trabalho escravo. Condenam, sim,
aqueles povos europeus que decidem armar em nacionalistas e que são só uns xenófobos
desprezíveis.
Já antes, os europeus do sul emigravam
para a Europa do norte para os trabalhos mais escravizantes, Serão agora os
africanos que preencherão as lacunas deixadas por esses emigrantes que
entretanto se integraram no espaço cultural, através dos seus descendentes. Por
isso, por falha destes europeus do sul, aceitemos os africanos para obviar aos
trabalhos mais ingratos europeus, fingindo uma solidariedade de doutrina
virtuosa e uma visão económica poderosa - uma economia que cresce precisa de
imigrantes.
Enfim, pensando bem, talvez a
África tenha razão em invadir a Europa, em busca do pagamento da muita riqueza
que a Europa dela extraiu.
O pequeno chora, o grande rosna
JOSÉ PACHECO PEREIRA
Ou a gente defende a fina
película da civilização ou os brutos que adoram a força a partem por todo o
lado.
PÚBLICO, 23 de Junho de
2018
Há argumentos
utilitários a favor da imigração: uma economia que cresce precisa
de imigrantes. Como os EUA. Há um segundo argumento utilitário: os
países com uma demografia deprimida precisam dos filhos dos imigrantes. Como
Portugal. Nestes casos, abrir as portas à imigração não é favor nenhum.
Há um conjunto de
percepções realistas sobre a imigração: a imigração é tanto mais
integrada quanto um determinado país tem o elevador social a funcionar e existe
grande mobilidade social. Foi o caso dos EUA, que permitiu um melting pot imperfeito, mas mais eficaz do que o
europeu. Os imigrantes integram-se no mercado de trabalho sem parecer afectar
os nacionais, educam os seus filhos, prosperam e querem ser os novos nacionais.
Foi o caso dos EUA, permitindo, por exemplo, ao boat people do Vietname, prosperar na sociedade
americana a partir de uma situação de absoluta miséria. Na Europa, de há muito
não é assim, e o desastre do upgrade político da
Europa começou com o “canalizador polaco”. A crise financeira de 2008 coincidiu
com o afluxo de refugiados e a xenofobia cresceu na Europa.
Há um outro aspecto
complicado da imigração que atinge mais a Europa do que os EUA: a alteridade
cultural exacerbada pelo fundamentalismo tornou muito difícil acontecer o que
de há muito acontecia nos EUA — era-se italiano e americano com o mesmo fervor,
era-se árabe e americano com o mesmo fervor. Os novos imigrantes
queriam ser americanos, mesmo mantendo os seus costumes e tradições, fossem
palestinianos, coreanos, filipinos ou portugueses. Nem sempre tudo corria bem,
houve variações temporais, em certos locais era mais complicada a integração,
noutros a integração era rápida. Na Europa, os turcos na Alemanha, os
marroquinos em Espanha e os argelinos (da geração pós-guerra da independência)
em França desejavam ser alemães, espanhóis ou franceses por razões utilitárias,
mas não se sentiam como tais. Em Inglaterra, as coisas eram menos lineares
devido à tradição do Império. As diferenças culturais e religiosas acentuaram
uma fractura que se tem alargado com o risco terrorista, mas também com o
comportamento muitas vezes ostensivo de certas franjas da imigração muçulmana
em matérias como, por exemplo, a situação das mulheres.
Há um argumento moral a
favor da imigração: os que estão em melhores condições devem
ajudar os que têm mais necessidade. Esta é uma essência do que chamamos
“civilização”. A riqueza torna-se obscena quando à sua porta está a miséria.
Merecem aquilo que um conto de Poe simbolicamente retrata na Máscara da Morte Vermelha: não há sítio para fugir, “And Darkness and Decay and the Red Death held illimitable dominion
over all”.
Há na Europa um ainda
maior argumento moral, mais do que um argumento, uma obrigação: muitos
dos imigrantes que fogem das guerras e da violência fogem de guerras que os
europeus irresponsavelmente desencadearam na Líbia e na Síria.
O que se está a passar
nos EUA com Trump, a sua “base” e o partido de Trump, que antes se chamava
“republicano”, é uma violação flagrante e inaceitável dos direitos humanos,
fazendo tudo para que se torne um exemplo de violência e brutalidade contra os
“infectos dos imigrantes”. Se o resto dos países democráticos, e com uma réstia
de respeito pelos valores humanistas, tivessem uma coisa que vem aos pares e
que tem o nome de um fruto vermelho e que não são os morangos, que não são um
fruto, punham o bruto em quarentena, e nem rainha, nem Marcelo, nem ninguém lhe
iam apertar a mão e tratavam dos assuntos comuns por via de um qualquer
estagiário no serviço diplomático.
Do mesmo modo, o que se
está a passar na Europa, em particular na Hungria, Itália e Áustria, e nalguns
dos seus aliados menores, não pode ser aceitável pelo resto da Europa que ainda
mantém pelo menos o lip service aos direitos
humanos. A recente legislação da Hungria deveria implicar a expulsão da União e
um movimento, em primeiro lugar, húngaro e, depois, europeu de desobediência
cívica, indo lá ajudar os imigrantes.
Não tomem a sério o que
se está a passar e, a prazo, a serpente sairá do ovo. Uma serpente moderna, que
se sabe manobrar nas redes sociais, e mover-se na televisão, que encontrará
primeiro numa franja de imbecis, e depois em gente que adora o poder e que será
cada vez mais sofisticada no mal, uma corte de defensores, como já se percebe
nos EUA Por cá ainda estamos na fase dos imbecis, mas há uma corte invisível
que namora as mesmas ideias de poder e de exclusão, de frieza e de autoridade,
em nome do que for preciso. Não, não há progresso na história. Ou a gente
defende a fina película da civilização ou os brutos que adoram a força a partem
por todo o lado.
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