São três os Editoriais de Ana Sá
Lopes: o primeiro, sobre as diligências de Catarina Martins sobre as
medidas da sua autoria para enriquecer o país por conta dos fornecedores dos
dinheiros, que ela manipula desonestamente por não ter a responsabilidade de o
gerir, nem intenções de devolver, mas que recorda nas suas caminhadas
eleitoralistas, em função dessas suas ambições de condutora salvadora dos
deserdados, que o caso Robles, astutamente referido pela editorialista, vem manchar
– ou talvez não, que somos amantes do choradinho blandicioso. O segundo editorial trata do bronzeado
tranquilizador de Marcelo, decididamente votado ao apaziguamento e
embrutecimento popular, nas suas efusões amortecedoras da racionalidade, o
povoléu deixando-se ir com ele, nas selfies da sua lorpice. O terceiro trata
das danças de António Costa lá pelo Minho, em sintonia com as do PR, lembrando,
ASL, as coisas boas que o PM pode referir para a sua maioria absoluta, prova,
isso sim, da nossa menoridade.
I - EDITORIAL: A janela do Bloco
O Bloco de Esquerda tem um
elefante na sala e tudo indica que os seus dirigentes decidiram lidar com ele
da pior forma possível.
ANA SÁ LOPES
PÚBLICO, 3 de Setembro de 2018,
Catarina Martins tentou
neste domingo abrir ao máximo a janela do Bloco de Esquerda para as próximas
eleições. Já se sabia que um dos maiores problemas que os partidos que apoiam o
Governo na Assembleia enfrentam é que o povo tenha dificuldade em reconhecer
quais foram as suas efectivas contribuições para as leis do país. O
PCP admitiu o problema depois do desaire eleitoral autárquico: com António
Costa a vangloriar-se de medidas que ele próprio não queria inicialmente (ou
considerava “irresponsáveis”, como disse ontem a coordenadora do Bloco), será
mais difícil ao povo em geral perceber o que deve a quem. O risco de o “Governo
minoritário do PS” ficar com os louros de medidas que não estavam no seu
programa é enorme e um risco eleitoral para Bloco e PCP.
É evidente que Catarina
Martins fez bem em desfiar uma por uma as medidas de que o Bloco
é autor, ou co-autor com o Partido Comunista, e
que o Governo PS acabou por aceitar. É a janela que tem para segurar o
eleitorado que lhe deu em 2015 mais de 10% dos votos, em conjunto com as
exigências para o próximo Orçamento do Estado.
Mas há um elefante na sala e tudo indica que os dirigentes do Bloco de
Esquerda decidiram lidar com ele da pior forma possível. O caso Robles foi
uma faca espetada no coração do Bloco de Esquerda e é muito bem possível que
daqui a um ano, quando estiverem a votar para as legislativas, os eleitores
recordem com nitidez o caso do partido que tinha um dirigente que actuava na
sua vida privada de forma contrária aos valores que defendia publicamente. Ora,
ao que parece, o Bloco decidiu copiar neste caso os partidos tradicionais, de
que o caso Sócrates dentro do PS, quase até ao fim, foi um exemplo. Quando
Francisco Louçã avisa que o Bloco está a ser, e ainda vai ser, alvo de uma “campanha suja”,
está a reagir como se as notícias que deram conta de que o ex-vereador do BE
detém um prédio numa zona propensa à especulação imobiliária, que comprou por
pouco e pôs à venda por muito (ainda que a venda não tenha sido concretizada),
fossem falsas.
O fundador do Bloco invoca
Trump, mas Trump diria o mesmo que o fundador do Bloco se tivesse sido “vítima”
de uma notícia idêntica. E se o alvo da notícia fosse Trump, já sabemos o que
diria toda a gente — e bem. Ao enveredar por esta forma de vitimização ao
estilo Sócrates, o Bloco perde a sua credibilidade, já bastante abalada com o
caso Robles. E votos e credibilidade andam de mãos dadas (embora isto não seja
válido para Trump).
II
- EDITORIAL
O
tronco nu de Marcelo é aliado de Costa
ANA SÁ LOPES
PÚBLICO, 30 de Agosto de 2018, 7:00
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A circunstância da campanha
eleitoral já ter começado implica, como o Presidente também afirmou ontem, que
o Orçamento de Estado para 2019 possa ser dado como praticamente aprovado.
Marcelo deu uma enorme ajuda ao primeiro-ministro quando, nos últimos meses,
repetiu à saciedade que não queria uma crise politica – colocando uma grande
pressão política sobre Bloco de Esquerda e PCP para aprovarem o último
orçamento de Mário Centeno antes das eleições. E basta ver a diminuição de tom
das críticas, tanto do Bloco como dos comunistas, em relação ao Governo para
concluir que não foi só o Verão a fazer baixar o volume do confronto político.
Nem todos os líderes fizeram como Rui Rio e se deram ao luxo de ter um mês
inteiro de férias. O que se viu neste
Agosto foi os partidos à esquerda do PS a baixar a agressividade pré-férias e a
adaptar o discurso à futura decisão de viabilizar o Orçamento em Outubro. A
geringonça estará unida até que a morte da legislatura a separe. Não há muito a
fazer: com os números hiperbólicos que Costa voltou a ter nas sondagens, quem
saltar fora é laranjinha.
Com o PSD a viver uma crise
profunda – principalmente de inacção – e
o Presidente a contribuir, com a política dos afectos, para uma normalização
das relações entre cidadãos e Estado, António Costa sai a ganhar. Os mergulhos do Presidente nas praias
fluviais, amplificados pelas televisões, são aliados activos do Governo, ao
transmitirem uma imagem de enorme normalidade institucional. Pode Marcelo dizer
que o essencial está por fazer no interior do país (e está) mas a mensagem mais
poderosa que chega aos portugueses é descontracção do Presidente em tronco nu e
a sua absoluta tranquilidade.
III
- EDITORIAL
Costa
dança no Minho
Aos 25 de agosto de 2018, Rui Rio continua de férias. E sendo assim como
pode um primeiro-ministro não dançar?
ANA SÁ LOPES
PÚBLICO, 26 de Agosto de 2018,
A imagem mais curiosa da
rentrée do PS nem foi ontem em Caminha: aconteceu no sábado à noite, no festival de Vilar de Mouros, e, ao
som dos GNR, o primeiro-ministro dançava. Costa pode ser um bailarino
estratégico mas as condições objectivas permitem-lhe a descontracção física. Os
comboios podem estar a ser todos os dias suprimidos, existem situações caóticas
no Serviço Nacional de Saúde mas António Costa conta com uma extraordinária
benesse que nenhum primeiro-ministro anterior pode contar desta forma: a total
e confrangedora ausência do maior partido de oposição. Aos 25 de agosto de
2018, Rui Rio continua de férias. E sendo assim como pode um primeiro-ministro
não dançar?
Costa não agradece a Rui Rio
a sua colaboração com o Governo: um dos pontos altos do discurso do
primeiro-ministro da rentrée foi precisamente quando atacou a proposta para a
saúde de Rui Rio, acusando-o de abrir espaço para a privatização do Serviço
Nacional de Saúde. Se o texto do PSD for aprovado como está, dificilmente seria
melhor para o PS.
Costa tem números bons para
apresentar - a taxa de desemprego em queda livre apesar do aumento do salário
mínimo - e o cumprimento das metas de Bruxelas apesar da devolução de
rendimentos. Desfez o tabu de que não vai pedir a maioria absoluta. Faz bem: o
pedido de maioria absoluta pode ser contraproducente para os defensores da
geringonça e a última maioria absoluta que o PS teve, a de José Sócrates, foi
traumática para uma grande parte dos portugueses.
É interessante um ajustamento
no discurso do primeiro-ministro relativamente ao Congresso do PS, onde
desvalorizou clara e efectivamente os partidos que apoiam o Governo no
Parlamento. Costa percebeu a tempo que muito do eleitorado socialista simpatiza
com a solução e que hostilizar PCP e Bloco de Esquerda pode não render votos. É
evidente que Costa quer a maioria absoluta, objectivo muito difícil. Mas a
decisão de não a pedir é acertada. "Dar força ao PS" é um bom slogan
de substituição e também fala ao centro, objectivo que Costa mantém mas perdeu
a necessidade de o verbalizar. Aliás, é disso que fala quando conta que é
abordado por cidadãos que afirmam nunca ter votado PS, mas que desta vez estão
tentados.
A rentrée política do PS
apontou o discurso para as três eleições. Parlamento Europeu, regionais da
Madeira e legislativas de Outubro de 2019. E a menos que aconteça um
cataclismo, Costa pode continuar à vontade para dançar. Pelo menos enquanto o
seu maior opositor continuar a fazer o que faz desde que tomou posse: dormir.
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