Repostos Os Maias e outros autores portugueses no lugar
competente do seu ensino obrigatório, e os açúcares repostos na prateleira da
nossa glutonaria menos sofisticada, resta-nos dizer amen e aguardar novos seguimentos:
Para Os Maias e C.ia programática, temos um ano de tranquilidade nos nossos
pruridos de seriedade e aversão contra os pedantismos burladores e até mesmo burlescos
dos nossos maquiavelismos pseudodidácticos, assentes em manhosos subterfúgios
de destruição de valores e fabricação de uma sociedade cada vez mais inerte,
mandriona e pouco esclarecida. Para o próximo ano veremos se a programação
deste ano sofrerá os cortes da nossa mediocridade, a continuar.
Quanto aos açúcares, cá vou, cantando e rindo, leiga que sou – e relativamente
saudável - sem as ralações dos e das elegantes, seduzida pelos eflúvios ou
sabores que me possam eventualmente cair no goto, avessa a tudo o que colida
com o meu pensamento de liberdade e apetência, a moderação sendo o entrave
essencialmente escolhido nesses impasses de sedução. Mas também já tinha lido o
artigo da reposição dos hidratos de carbono nas dietas, o que me lembrou anteriores
cortes de óleos e azeites, margarinas ou manteigas, creio que essencialmente
por estratégia comercial. Por isso, vou continuando, na simplicidade das minhas
escolhas culinárias ou dos meus apetites de doçura, com moderação e com prazer
de viver, sem pedantismo, afinal, manipulando eu própria a minha vida, sabendo
que um dia, já não tão recuado, hélas!
outros a manipularão com mais eficiência, mas com idêntica inutilidade.
I - ESCOLAS:
Os Maias voltaram à lista de leitura
para o ensino secundário
Ministério da Educação recuou
na proposta de conteúdos que devem ser leccionados no secundário. Versão
definitiva das aprendizagens essenciais volta a incluir quais as obras que
devem ser lidas em vez de deixar esta escolha a cada professor.
PÚBLICO, 2 de Setembro de 2018
A obra de Eça de Queirós Os
Maias não vai, afinal, desaparecer da lista de leitura para o ensino
secundário, como o Ministério da Educação (ME) chegou a
propor. É o que se pode comprovar ao ler a versão definitiva das aprendizagens essenciais para o
secundário, que foi homologada nesta sexta-feira por despacho do Secretário de
Estado da Educação João Costa.
As chamadas aprendizagens essenciais vão
ser aplicadas a partir do próximo ano lectivo, num processo que começará, no
caso do secundário, pelo 10.º ano. Para o ME, a definição destas aprendizagens,
que esteve sobretudo a cargo das associações de professores, é
necessária para resolver o problema da “extensão” dos actuais programas e
permitir que seja fixado um “conjunto essencial de conteúdos” que todos os
alunos devem saber, em cada disciplina, no final de cada ano de escolaridade.
Na versão que esteve em
consulta pública em Julho, os documentos propostos para a disciplina de
Português omitiam quais as obras de Eça de Queirós que deveriam ser lidas no
secundário, referindo apenas que os alunos teriam de ler um livro deste autor.
O programa da disciplina, que
ainda se encontra em vigor, determina que a abordagem a Eça de Queirós, que faz
parte da matéria do 11.º ano, passa pela leitura de um de dois livros: Os Maias ou a Ilustre Casa de Ramires. E é essa a
prática que tem sido seguida nos últimos anos.
A Casa de Tormes
é um espaço mítico da obra e da vida de Eça de Queiroz.
A supressão da obra Os Maias
na versão inicial apresentada pelo ME, noticiada pelo PÚBLICO, deu origem a um
coro de protestos de académicos, professores e especialistas queirosianos. Mas
como o ME não tem por hábito elaborar relatórios das consultas pública que
promove, não se sabe quantas propostas de alteração foram apresentadas, nem
qual o seu teor.
Não foi só em relação a Eça de Queirós que o ministério recuou. Em
todas as listas de leitura apresentadas agora para o 10.º, 11.º e 12.º anos,
voltam a ser inscritas as obras de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e
Camilo Castelo que constam do programa, mas que tinham desaparecido da versão
inicial das aprendizagens essenciais, onde foram substituídas pela referência
“escolher um romance” de um destes três autores. Foi o que passou também com
Cesário Verde, onde se apontava apenas que seria preciso “escolher três
poemas”, o que agora foi substituído pela leitura obrigatória, como tem sido a
norma, do Sentimento
dum Ocidental.
Na altura, a presidente da Associação de Professores de Português,
Filomena Viegas, justificou esta opção, por um lado com a necessidade de
diminuir o número de obras propostas para leitura e, por outro para se permitir
“o alargamento das opções que podem ser tomadas pelos docentes”, a quem ficaria
entregue a escolha dos livros que os alunos deveriam ler.
Também no 12.º ano o ME desistiu de retirar a abordagem ao conto,
enquanto género literário. Na lista de leitura para este ano de escolaridade
voltam a estar incluídos contos de Manuel da Fonseca, Maria Judite de Carvalho
e Mário de Carvalho.
Num artigo de opinião escrito para o PÚBLICO, a professora da
Universidade do Porto e ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, chamou a atenção para o facto de a supressão
do conto do programa de Português não ser "uma opção desejável, até por se
tratar de um género breve que os jovens nas sociedades de hoje (…) nitidamente
privilegiam como é possível constatar na blogosfera onde narrativas breves e micronarrativas
ocupam lugar de relevo”.
Por fim, no que respeita ao 10.º ano, a versão definitiva das
aprendizagens essenciais volta a incluir a Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes, que na proposta inicial tinha sido erradicada.
Onde está a verdade afinal? Por
norma costuma estar sempre a meio de opiniões extremadas e neste caso não foge
à regra. Quem tem noções básicas de fisiologia e metabolismo e percebe o papel
que os hidratos de carbono têm no nosso organismo
PÚBLICO, 2 de Setembro de 2018
A polémica nutricional que
estalou nas férias de Verão foi um novo estudo que
refere que afinal os hidratos de carbono já deixaram de ser maus outra vez!
Também houve uma outra notícia viral sobre o óleo de coco ter sido considerado
um veneno por uma professora de Harvard, algo que sendo
totalmente errado e exagerado não é mais do que a confirmação do que vimos dizendo
desde 2014, sobre a falta de propriedades mágicas desta gordura
saturada.
Voltando ao pingue-pongue dos hidratos de carbono, este último estudo
observou que o “ponto óptimo” de consumo que está associado a uma menor
mortalidade até anda à volta dos 50% do valor calórico da dieta, um valor que
não é propriamente baixo! Dirão os mais leigos que o ano passado por esta
altura, ouviram falar noutro estudo que
dizia rigorosamente o contrário, que os hidratos de carbono “são piores
para a saúde do que a gordura”, algo que já mereceu o devido artigo e
interpretação nesta rubrica.
Este novo estudo que seguiu cerca de 15.500 adultos norte-americanos
entre os 45-64 durante 25 anos observou que existia uma relação de curva em “U” entre
a ingestão de hidratos de carbono e a mortalidade. Ou seja, morreram mais
indivíduos que se situavam nos extremos de consumo de hidratos de carbono (o
ponto “óptimo” situou-se nos 50% das calorias da dieta). As reacções a este
estudo traduzem muito daquilo que são as crenças individuais que cada um tem
relativamente à alimentação, servindo o mesmo como arma de arremesso entre as
diferentes “facções”.
A facção mais “paleo/low carb”
apontou as falhas metodológicas do estudo cumprindo a célebre máxima “só há dois tipos de estudo: os que vão de
encontro às minhas opiniões, e os que têm falhas metodológicas”. É
engraçado o fenómeno que existe hoje em dia nas redes sociais que consiste em
pessoas que nunca “deram uma para a caixa” a nível de produção científica,
tecerem grandes dissertações sobre as limitações do estudo e os seus potenciais
pontos fracos metodológicos. Se é certo que o facto de não se ter um vasto
currículo académico não deve automaticamente inibir ninguém de dar a sua
opinião, também é certo que existe algo que se chama “noção”. E é essa mesma
falta de noção e de conhecimento de todos os morosos processos que fazem parte
de um estudo desde a sua análise e tratamento de dados até à publicação final
do artigo, que leva certamente a que existam muitas opiniões e comentários
cheios de soberba por parte de pessoas inexistentes no mundo da investigação.
Por outro lado, a facção mais “tradicional/conservadora/antipaleo”
regozijou-se porque “já andávamos a dizer isto há muito tempo”!
Onde está a verdade afinal?
Por norma costuma estar sempre a meio de opiniões extremadas e neste caso não
foge à regra. Quem tem noções básicas de fisiologia e metabolismo e percebe o
papel que os hidratos de carbono têm no nosso organismo, sabe perfeitamente que
este é o macronutriente cuja abordagem nutricional deverá ser mais variável. E
porquê? Porque o seu papel é fundamentalmente energético e como tal é
totalmente diferente falar de 50% da dieta com hidratos de carbono para o
secretário obeso e sedentário ou para o profissional do exercício que dá três a
quatro aulas por dia e no meio ainda consegue fazer o seu próprio treino. O
principal problema que a interpretação dos resultados deste estudo pode causar
é a ideia de que “a quantidade óptima de hidratos de carbono é 50% e ponto
final”. E a este nível é importante referir um detalhe relevante nestes dados
que passa pela maior ingestão de gordura e proteína animal e menor ingestão de
fibra nos grupos com menor ingestão de hidratos de carbono, além de também
terem uma maior percentagem de fumadores. Tudo isto é fundamental ter em conta
para não se voltarem aos não muito saudosos tempos da dieta padrão da “bolacha
Maria” e dos “50-30-20” (% de calorias de hidratos de carbono, gordura e
proteína respectivamente).
Quem acompanha esta rubrica leva com a conversa do papel fundamental da
proteína para a nossa saúde em quase todos os
artigos. Fazendo um exemplo prático, se num qualquer
plano alimentar for colocada uma quantidade moderada de proteína de 2g/kg, para
alguém com 80kg, estamos a falar de 160g de proteína que equivalem a 640 kcal.
Se num plano de 1800kcal (assumindo que a pessoa emagrecerá com este aporte
calórico) acrescentarmos 50% de hidratos de carbono (900 kcal), ficamos com 260
kcal restantes, que equivalem a 29 gramas de gordura, algo que tornará o plano
pouco “comestível”. Por isso, se estes famosos 50% de hidratos de carbono forem
sempre assumidos como ponto de partida para um plano alimentar, existem dois
potenciais problemas: ou a pessoa corre
o risco de perder massa muscular porque não há espaço para a proteína
necessária, ou não consegue cumprir o plano porque sem o mínimo de gordura na
confecção de alimentos a sua palatibilidade fica severamente comprometida. De
igual modo, se tivermos à nossa frente um atleta na véspera de um jogo ou prova
longa, 50% de hidratos é um valor bastante baixo, daí que respeitar sempre o princípio
da individualidade é algo fundamental.
Assim, sempre que saem estes artigos, percebe-se que a falta de
literacia científica dos media os faça embarcar em alguma histeria na
divulgação e extrapolação dos seus resultados. Aos profissionais de saúde já não
é permitido isso. É necessário ler de facto os artigos antes de os partilhar
nas redes sociais e saber colocar os resultados de cada estudo ao serviço da
sua prática clínica. E já agora, deixar o seu ego e as suas crenças individuais
à porta do consultório e do Facebook/Instagram também ajuda…
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