segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Através da Suécia


Já sem o maravilhoso contributo de um Nils Holgersson que, em tempos passados, nos fez sobrevoar e visitar uma Suécia de sonho, às costas do seu ganso e atrás de um bando de patos bravos desafiantes, livro que para sempre ecoaria como imagem de sedução desse país distante, de gente certamente superior a que pertenceu uma Selma Lagerlöf, criadora de tanta perfeição e fantasia. Mas não se trata desse mundo agora. Trata-se de um mundo real, de gente por uns, descrita como superior, sim, mas que afinal demonstra ser idêntica a todos os outros que defendem prudentemente o seu bem-estar, que conquistaram mercê das suas capacidades de trabalho e inteligência. É claro que são censurados por outros que se afirmam liberais e protectores dos que sofrem, muitos desses porque também foram ajudados pelos que lhes deram a mão e isso não lhes faz mossa nem vergonha, o dever maior é os que podem ajudarem os que estão atrapalhados mesmo que isso se traduza tantas vezes em perturbações da ordem, como temos visto. Mas os tais ditos nacionalistas não vão nessa e os resultados vêem-se nas eleições. Da Suécia, desta vez. Mas os textos de Teresa Sousa, João Carlos Espada e Manuel Carvalho, além da notícia de Maria João Guimarães sobre o resultado das eleições na Suécia, explicam melhor. Para além dos comentadores sabedores, em diálogo de afectos.
I - ANÁLISE: A Suécia não é o paraíso
Depois da cultura de consenso a que se habituou, a Suécia vai ter de lidar com um partido populista e xenófobo, que contraria a imagem que tinha de si própria, mesmo que por vezes demasiado embelezada.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 9 de Setembro de 20181. A Suécia seria, para um observador pouco atento, o último bastião a resistir à vaga de populismo e nacionalismo que varre a Europa. Foi lá que nasceu o famoso “modelo nórdico”, que ainda hoje faz inveja a muita gente, assente num elevado grau de instrução, num elevado grau de igualdade e numa grande abertura ao mundo. A economia sueca resistiu bem à crise de 2008, melhor do que a maioria dos países europeus, registando hoje um crescimento assinalável (quase 3%) e um desemprego baixo, embora se preveja um progressivo arrefecimento da economia nos próximos anos.
Esteve nas bocas do mundo durante a crise dos refugiados pelas melhores razões: em 2014 e 2015, abriu-lhes as suas portas numa proporção superior, em termos relativos, ao milhão que os alemães receberam. Stefan Lofven, o actual primeiro-ministro social-democrata, teve de travar a fundo a política de portas abertas logo em 2015. Mesmo assim, não conseguiu travar as suas consequências políticas. Os Democratas Suecos, cujas raízes remontam ao movimento neonazi das décadas de 1980-90 e cuja bandeira é justamente contra a imigração e contra a União Europeia, vão provavelmente registar um resultado próximo dos 20% nas eleições que se realizam este domingo. O fenómeno tornou-se quase banal na Europa, incluindo nos países nórdicos. Na Dinamarca ou na Finlândia, partidos-irmãos dos Democratas Suecos têm hoje uma significativa presença nos parlamentos,  condicionando a política dos respectivos governos. São todos países ricos, onde a razão mais evidente para o crescimento destes partidos parece estar, precisamente, nos grandes fluxos migratórios dos últimos anos e, sobretudo, na sua origem islâmica.
2. A Suécia teve a “sorte” de ter vivido a crise de 2008 antes de tempo, quando, em 1991, o seu sistema bancário soçobrou, com o crash de uma bolha imobiliária em tudo idêntica à bolha do sub-prime nos EUA, que conduziu à implosão do sistema financeiro. O governo de Estocolmo foi obrigado a salvar a banca. Desde então, o equilíbrio das contas públicas passou a ser sagrado.
Mas o bom comportamento da economia também pôde contar com um sistema de educação pública dos mais antigos da Europa (na passagem do século XIX para o XX a esmagadora maioria da população era alfabetizada), para construir a acumulação de conhecimento fundamental na adaptação das economias desenvolvidas à revolução tecnológica, encontrando aí a alavanca que lhe permitiu fazer face à concorrência crescente das economias emergentes. Nomes como Skyp ou Spotify nasceram lá.
A igualdade, que foi pedra de toque da sociedade sueca, assente num sistema de impostos muito elevado que garantiu um Estado Social generoso e universal, teve de se adaptar a uma mais forte concorrência internacional. Os excessos do Estado Social, que chegaram a limitar algumas escolhas dos cidadãos, tiveram de ser corrigidos. O sistema partidário começou a mudar, pondo cobro à longa hegemonia dos sociais-democratas. O Partido Moderado teve a sua oportunidade de fazer (algumas) reformas e os sociais-democratas fizeram o seu caminho em direcção à “terceira via”. Mas o partido que construiu o modelo nórdico há muito que caiu dos mais de 40% a que estava habituado desde antes da II Guerra até 2006, para valores que hoje pouco ultrapassam os 25%, não fugindo ao destino da maioria dos seus congéneres europeus.
3. Mas nem tudo na sociedade sueca é harmonioso e pacífico. As imagens de actos de vandalismo praticados por imigrantes e refugiados que surgiram durante a campanha eleitoral (por exemplo, um parque de estacionamento onde 80 carros foram destruídos) não são sequer comparáveis com as que ocorreram num Conselho Europeu em Gotemburgo (Junho de 2001), rodeado pela violência muito mais ameaçadora dos movimentos alter-mundialização da altura, formados por jovens radicais suecos e de outros países europeus, vestidos de negro e de rosto tapado, que destruíam tudo à sua passagem e que cercaram durante dois dias o local da cimeira. A explosão de novos escritores de livros policiais suecos, na esteira do genial Henning Menkell, descreve uma sociedade que encobre as suas angústias, a sua violência, as suas perversões sob um manto de silêncio. Suécia: uma corrida eleitoral ao sabor do debate sobre a imigração
4. Durante quase dois séculos um país neutral (dispensando-a de participar nas guerras europeias), a Suécia mantém ainda hoje esse estatuto. O facto não apaga a sombra do seu comportamento durante a II Guerra, mais próxima da Alemanha de Hitler do que dos Aliados, que só a partir do final do século passado foi publicamente admitido pelos governos e pela sociedade. A percepção da nova ameaça da Rússia, muito forte no Norte da Europa, está a mudar as opções políticas e as mentalidades. Pela primeira vez, as sondagens revelam que são mais os suecos que querem aderir do que os que querem manter a neutralidade. Os sociais-democratas ainda resistem, mas os quatro partidos do centro-direita (Moderados, Liberais, Democratas-Cristãos e Centristas) incluem já nos seus programas eleitorais uma rápida adesão à Aliança ocidental. A sensação de maior vulnerabilidade já levou ao regresso do serviço militar obrigatório (de forma gradual) e ao aumento do orçamento da defesa.
5. Mas a grande diferença está em que, depois da cultura de consenso a que se habituou, a Suécia vai ter de lidar com um partido populista e xenófobo, que contraria a imagem que tinha de si própria, mesmo que por vezes demasiado embelezada. Mais uma vez, como se vê na Alemanha ou na Dinamarca, o crescimento da extrema-direita parece ter pouco a ver com a economia (que corre bem em qualquer dos três países, com níveis de desemprego historicamente baixos) mas, provavelmente, com uma questão cultural que surge como uma ameaça ao seu modo de vida e à sua segurança. E que leva as pessoas a sonhar com um passado que dificilmente voltará, a não ser através das suas páginas mais negras, que a Suécia também as tem.
COMENTÁRIOS:
Helder Antunes: A Suécia é o caso mais dramático e profundamente pungente nesta contemporânea saga do todos, que são sobretudo alguns, têm o inalienável direito a mudar-se e instalar-se para onde bem quiserem. Sem que outros, que são os que já lá estão, possam ou devam ter uma palavra a dizer sobre a dita ocupação. E quem ousar o contrário tem que se haver com uma certa franja, dita bem pensante, de entre os outros, os segundos, que descobriram um termo maravilhoso, a “xenofobia” que gostam de brandir profusa e abundantemente nos meios de comunicação aos quais têm acesso. No caso dos civilizados, ingénuos suecos o que se passa é absolutamente trágico. São galinhas a abrir a porta do galinheiro às raposas. Literalmente.
Raquel Azulay: A ocupação das raposas! Eu ando a ver raposas por todo o lado: turistas. São migras a fugir de guerras e da miséria. A fugir como tu fugirias, Helder. Ocupação? Uns milhões de migras é ocupação? E se alguém estiver a morrer de sede eu vou ter de pedir a tua autorização de concidadão para lhe dar água?? Porquê? Porque é que a decisão do estado ajudar tem de assentar na infinita sabedoria de uma maioria q vota em Salvini? A maior parte dos "ingénuos suecos" não querem ver migras à sua frente. nem pintados. querem-lhes fora dali. mt simples. As raposas são uns despenados. Tao nas últimas, mal se aguentam em pé Ocupação??? Achas mesmo que a Europa está sob ameaça de uma ocupação? Então o que propões que os bens pensantes digam acerca de pessoas que querem que a "ocupação" pare?
Jonas Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta: A Suécia está na lista dos países dados como tendo boas probabilidades de seguir o Brexit. O sucesso com que lidaram com a crise económica não teria sido possível se não tivessem moeda própria (recusaram o euro em referendo). Nessas e noutras parece crescer a percepção que as livres circulações e as regras únicas são um atraso de vida. Pergunto-me quanto do apoio aos Democratas Suecos não é simplesmente o apoio a um partido que queira dar o fora.
Raquel Azulay : " Pergunto-me quanto do apoio aos Democratas Suecos não é simplesmente o apoio a um partido que queira dar o fora. " Jonas, o SD já existe há algum tempo, é eurocéptico, mas foi a imigração e não o eurocepticismo que o propulsionou para a vanguarda. O sucesso sueco a lidar com a crise teve que ver muito muito mais com as reformas liberais que a Suécia implementou enquanto crescia economicamente (escolha inteligente) do que com o controle da sua moeda. A Europa vai ser devorada se não se unir. O caso Brexit está a ser desastroso. Os suecos estão a testemunhar o processo. O brexit vai servir de antídoto. Os ext droites sabem que se não cooperarem não resolverão o "problema" da imigração. O que surgirá é, só pode ser, inter-nacional. Uma UE-fortaleza. Uma UE a sério.Engana-se redondamente
Jonas Almeida:  Stony Brook NY, Marialva Beira Alta : Raquel, os economistas dizem que o controlo da moeda é um dos 3 pilares da gestão de um sistema económico. Não percebo como separa as duas coisas, como a comparação com a Finlândia ilustra (partiram do mesmo ponto qdo a Finlândia adotou o euro, mas têm hoje taxas de crescimento e endividamento muito diferentes). Claro que vc têm razão que é na emigração que as contas estão a ser ajustadas, e que isso é feio. Na minha opinião e experiência, a livre circulação dificulta imenso a integração - as pessoas tendem a tratar mal quem entra sem bater à porta. Tudo isto me cheira ao globalismo neoliberal a empurrar mão de obra barata ao sabor de fachos de interesses cada vez mais estreitos. O desenho da UE tem essa dinâmica sobreposta a qq regulação política. Restam assim as eleições nacionais...
Javali Javali profissional : Todas as análises dizem que é a emigração que está a causar esta deriva mas o alucinado mor tinha que vir falar da UE. Enfim. O sucesso da Suécia na resistência à crise tem um nome simples: finanças públicas equilibradas. Enquanto Portugal tinha défices de 10%, a Suécia teve no máximo 2%. A Suécia teve durante muitos anos superavits orçamentais, não vai na conversa dos demagogos que querem mais défice e reestruturação de dívida porque sabem que isso não os leva a lado nenhum. Nem no fim de semana tira folga da sua campanha aldrabona.
tiagompereira53: Os três temas que dominaram o debate foram imigracao, sistema de saúde e crime. Não houve sequer debate anti UE. Aliás não há nenhuma vontade da Suécia de sair da UE porque beneficia muito mais até do que o UK. Até os SD sabem disso. O UK é e continuará a ser sempre um caso especial. E o Jonas sabe bem disso apesar de continuar a sua constante manipulacao e mentiras por aqui
Raquel Azulay: eu separo as dois coisas porque o reclamar por soberania financeira não foi a causa da ascensão da SD. não foi o eurocepticismo mas sim o imigrante q propulsionou o SD para a frente. um facto simples que pode ser corroborado cronologicamente. a migration crisis é o assunto cardinal. sem qq dúvida. não questiono os seus economistas mas a explicação da ascensão da SD não é coisa sobre a qual saibam muito. são economistas, afinal de contas. :) mas faça como bem entender, claro interpretação curiosa, a sua empurrar mão de obra barata??? a UE como projecto malévolo de capitalistas inveterados? um revolucionário a criminalidade em stockholm não se agravou desde os migras. a percepção do perigo é que é completamente distorcida por medias afiliados c ext direita. o contágio ciber do medo
Raquel Azulay: nunca foi um paraíso, nem a Dinamarca é um paraíso, nem a Noruega etc. nunca percebi o fascínio exacerbado com o modelo "escandinavo." prefiro o multi colore, igualmente justo, e muito mais divertido Canadá. Vancouver é excitante. Stockholm é uma seca. E não há mt desemprego na Suécia. A criminalidade resultante da imigração é insignificante. Teses deterministas? Nunca gostei do modelo nórdico. Quem visitou aqueles países sabe que o fundamento real daquele comunitarismo bondoso é a homogeneidade étnico-cultural e um protestantismo fervoroso. o dever!! O povo sveede, a maioria, não aceita o pluralismo radical. Esta é a impressão q tenho, posso estar completamente enganada. Perspectiva antropológica. O que fazer contra a maioria tirânica? E se os intolerantes ganham as eleições.
II - ELEIÇÕES: Agora, até na Suécia!… /premium
OBSERVADOR; 10/9/2018
Os factos estão a revelar as trágicas consequências da dicotomia infeliz entre internacionalismo desenfreado e nacionalismo desenfreado. Já é mais do que tempo para recusar esse tribalismo primitivo.
O eventual leitor deste texto terá sobre o autor a vantagem de poder conhecer os resultados das eleições parlamentares de ontem na Suécia — que eu não conheço ainda, quando escrevo este texto. Mas conheço as sondagens e os alertas insistentes da melhor imprensa internacional das últimas semanas sobre a hipótese de um segundo lugar, com perto de 20% dos votos, para um partido radical anti-imigração (até agora praticamente irrelevante).
Pode ser que os resultados não tenham confirmado as sondagens. Mas a questão é esta: já não estamos a falar da Grécia, nem de Espanha, nem da Hungria, ou da Polónia, nem mesmo de Itália, ou do sempre excêntrico Reino Unido. Agora estamos a falar da ordeira, liberal e social-democrata Suécia. Por que motivo estão os eleitores em revolta contra os partidos clássicos — e ‘clássicos’, para mim, é um elogio — nas democracias do Ocidente? E por que motivo essa revolta foi também agora equacionada, pelo menos como hipótese, para a ordeira, liberal e social-democrata Suécia?
Não pretendo saber a resposta. Mas sustento que os factos estão a refutar as respostas politicamente correctas que até aqui têm inundado a comunicação social e os meios ‘bem pensantes’. Dizem eles que está a ocorrer uma onda ‘nacionalista’, ‘soberanista’ e ‘extremista’ contra os ideais ‘trans-nacionais’ ou ‘supra-nacionais’ ou ‘multiculturais’  da democracia liberal.
A primeira e fundamental questão que tem de ser colocada (e que venho colocando suavemente desde pelo menos um artigo que publiquei em 2012 no Journal of Democracy)  é muito simples: por que motivo deveria o sistema de regras gerais, que constitui a democracia liberal, ser identificado com um programa substantivo particular, (como é o caso do ‘multiculturalismo’, ou ‘governação supra-nacional’ ou ‘abertura total à imigração’)?
A identificação da democracia com um programa substantivo particular é um erro grosseiro que remonta pelo menos à funesta revolução francesa de 1789 e à versão continental do Iluminismo que a inspirou. Nesta interpretação, a democracia não deveria ser apenas um sistema de regras gerais, imparciais e iguais para todos, que pudesse garantir a concorrência pacífica e a alternância parlamentar entre propostas e partidos rivais. Na interpretação de 1789, a democracia devia ser uma ‘correcta libertação’ do povo contra preconceitos e tradições que até aí o tinham oprimido (ainda que, curiosamente, como recordou Isaiah Berlin, por sua própria vontade).
O resultado é conhecido. Em vez da tranquila e civilizada concorrência e alternância de propostas e partidos rivais no Parlamento (como acontece em Westminster há pelo menos 329 anos), tivemos no continente europeu guerras tribais entre seitas rivais, revoluções e contra-revoluções. E tivemos pobríssimas guerras ideológicas entre primitivos extremismos rivais — usando comuns linguagens rudimentares, de gosto pelo menos duvidoso. Por outras palavras, os extremos alimentaram os extremos.
É isto que está a voltar a acontecer. Como escreveuo norte-americano William Galston na mais recente edição da britânica The Spectator,  ‘um internacionalismo desenfreado alimentará a sua antítese: um nacionalismo desenfreado’. Este foi também o argumento que ele apresentou — sob o título, ‘Em defesa de um patriotismo razoável’ — na Palestra Memorial Ralf Dahrendorf, na mais recente edição do Estoril Political Forum. Sintomaticamente (para quem reparou) o título global deste Estoril Political Forum precisamente recusava a dicotomia infeliz entre nacionalismo e internacionalismo. Por isso se chamou ‘Patriotismo, Cosmopolitismo e Democracia’.
Por outras palavras, se os partidos clássicos aceitarem a errónea identificação da democracia liberal com a utopia supra-nacional e a imigração ilimitada, alguém vai aparecer no mercado eleitoral para oferecer o que os partidos clássicos não oferecem: a defesa do legítimo sentimento nacional. Só que esse ‘alguém’ vão ser partidos e/ou candidatos marginais, muitas vezes extremistas — que vão demagogicamente ocupar o espaço deixado vazio pelos partidos clássicos e pela sua incapacidade de defenderem um ‘patriotismo razoável’
COMENTÁRIOS:
YoannisYoannis : Suécia teve um atentado durante este Mundial de futebol, o qual mataram pessoas que comemoravam a vitória da Suécia...alguma TV deu foco a isso??? afinal o Trump tinha razão quando alertou pra isso.
Mario Figueiredo: Por que motivo estão os eleitores em revolta [...] nas democracias do Ocidente? [...] Dizem eles que está a ocorrer uma onda ‘nacionalista’, ‘soberanista’ e ‘extremista’ contra os ideais ‘trans-nacionais’ ou ‘supra-nacionais’ ou ‘multiculturais’  da democracia liberal.
Também. E o facto de que uma mentira não se sustenta indefinidamente, por maior que seja. A Grande Narrativa de que se vive bem nestes países não passa de uma mentira pegada para uma significativa percentagem da população, demonstrado inequivocamente pelo fraco desempenho do partido vencedor e o seu pior resultado em 100 anos.
A propósito, o partido anda a cair consistentemente desde 1982, altura em que se teciam louvores ao seu modelo socialista. Se acreditarmos na narrativa da "Suécia, Pais Maravilhoso". os suecos são estúpidos e votam contra quem lhes faz bem. Mas se escolhermos acreditar na Navalha de Occam, andam mas é há 35 anos a  demonstrar que o tal modelo socialista está a gerar um  descontentamento crescente.
III- ELEIÇÕES: Extrema-direita sobe, mas não tanto, na Suécia
Os dois grandes blocos políticos, um de centro-direita e um de centro-esquerda, acabam empatados e sem maioria. Ambos se recusam a trabalhar com os Democratas Suecos. 
MARIA JOÃO QUIMARÃES
PÚBLICO, 9 de Setembro de 2018
O efeito mais imediato da fragmentação é a difícil governabilidade. Muitos observadores destas eleições antecipam que a formação de um executivo irá demorar algum tempo, e a falta de uma maioria absoluta obrigará a acordos com o bloco oposto. Um governo integrando a extrema-direita como na Dinamarca ou Finlândia é considerado muito pouco provável, assim como um apoio do partido a um Governo minoritário.
“Haverá um longo caminho antes que tenhamos um Governo”, antecipava a professora de ciência política Marie Demker, da Universidade de Gotemburgo, ouvida pelo diário espanhol El País. “Mas acredito que apesar de tudo, a solução mais provável seja que o bloco maior – seja ele de centro-direita ou de centro-esquerda – possa governar com o apoio do outro.”
O efeito mais imediato da fragmentação é a difícil governabilidade. Muitos observadores destas eleições antecipam que a formação de um executivo irá demorar algum tempo, e a falta de uma maioria absoluta obrigará a acordos com o bloco oposto. Um governo integrando a extrema-direita como na Dinamarca ou Finlândia é considerado muito pouco provável, assim como um apoio do partido a um Governo minoritário.
“Haverá um longo caminho antes que tenhamos um Governo”, antecipava a professora de ciência política Marie Demker, da Universidade de Gotemburgo, ouvida pelo diário espanhol El País. “Mas acredito que apesar de tudo, a solução mais provável seja que o bloco maior – seja ele de centro-direita ou de centro-esquerda – possa governar com o apoio do outro.”
IV- EDITORIAL: O vírus nacionalista instalado na Suécia
É bom que se comece a levar a sério esta constatação: a democracia liberal está a perder a guerra contra o extremismo. Aconteça o que acontecer, o nacionalismo xenófobo dos Democratas Suecos já venceu.
PÚBLICO, 9 de Setembro de 2018
Se há dez anos alguém ousasse prever que um partido de extracto neonazi, fortemente conservador e nacionalista seria por estes dias a segunda maior força partidária da Suécia, muito poucos acreditariam. Essa distopia tornou-se real neste domingo e ninguém na Europa entrou em estado de sítio porque os 19,2% dos votos esperados pelos Democratas Suecos fazem parte do novo normal da política no continente. Nem a Suécia, liberal nos costumes, progressista na política, exemplar na conciliação entre a iniciativa privada e um Estado- providência eficaz escapa à vaga de fundo. Há um novo espectro na Europa que se instalou num dos países modelares da democracia do continente.
É bom que se comece a levar a sério esta constatação: a democracia liberal está a perder a guerra contra o extremismo. Aconteça o que acontecer, o nacionalismo xenófobo dos Democratas Suecos já venceu. Antes das eleições, a sua força crescente tinha obrigado o Governo social-democrata a demolir a sua ideia de Europa sem muros e a fechar as portas aos imigrantes. A Suécia continua rica e altamente competitiva no mundo global, mas episódios de violência urbana e o vírus do medo aos outros mitigaram o papel da prosperidade e exacerbaram o valor identitário. A votação dos Democratas Suecos, que pode ter crescido mais de 50%, estilhaçou um sistema partidário organizado em dois blocos e cimentado por uma velha cultura de compromisso. Mudou radicalmente a percepção, ainda que por vezes romântica, que os suecos têm da política e abalou a sua adesão a um credo progressista que lhe marca a identidade nacional desde o final do século XIX.
Quando, em Maio próximo, se realizarem as eleições para o Parlamento Europeu será hora de constatar a deprimente realidade de uma Europa disposta a recuar no tempo e a abraçar as liturgias do extremismo sectário. Lá estarão os Democratas Suecos de braço dado com os Verdadeiros Finlandeses a olhar para Viktor Orbán, da Hungria, como a prova acabada de que o perfume do poder deixou de ser uma miragem para os nacionalismos. Já não há margem para ilusões: a União Europeia, que resistiu a décadas de crises económicas, desastres financeiros e tormentas políticas está a ser minada por dentro. As eleições europeias não serão ainda a hora do tudo ou nada, mas, com a História a acelerar como está a acelerar, poderão ser o sinal de que esse momento decisivo para o futuro fica ao virar da esquina.


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