Já sem o maravilhoso
contributo de um Nils Holgersson que, em tempos passados, nos fez sobrevoar e
visitar uma Suécia de sonho, às costas do seu ganso e atrás de um bando de
patos bravos desafiantes, livro que para sempre ecoaria como imagem de sedução
desse país distante, de gente certamente superior a que pertenceu uma Selma
Lagerlöf, criadora de tanta perfeição e fantasia. Mas não se trata desse mundo
agora. Trata-se de um mundo real, de gente por uns, descrita como superior,
sim, mas que afinal demonstra ser idêntica a todos os outros que defendem
prudentemente o seu bem-estar, que conquistaram mercê das suas capacidades de
trabalho e inteligência. É claro que são censurados por outros que se afirmam
liberais e protectores dos que sofrem, muitos desses porque também foram
ajudados pelos que lhes deram a mão e isso não lhes faz mossa nem vergonha, o dever
maior é os que podem ajudarem os que estão atrapalhados mesmo que isso se
traduza tantas vezes em perturbações da ordem, como temos visto. Mas os tais
ditos nacionalistas não vão nessa e os resultados vêem-se nas eleições. Da
Suécia, desta vez. Mas os textos de Teresa Sousa,
e Carvalho,
além da notícia de Maria João Guimarães sobre
o resultado das eleições na Suécia, explicam melhor. Para além dos comentadores
sabedores, em diálogo de afectos.
I - ANÁLISE: A Suécia não é o paraíso
Depois da cultura de consenso a que se habituou, a Suécia vai ter de
lidar com um partido populista e xenófobo, que contraria a imagem que tinha de
si própria, mesmo que por vezes demasiado embelezada.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 9 de
Setembro de 20181. A
Suécia seria, para um observador pouco atento, o último bastião a resistir à
vaga de populismo e nacionalismo que varre a Europa. Foi lá que nasceu o famoso
“modelo nórdico”, que ainda hoje faz inveja a muita gente, assente num elevado
grau de instrução, num elevado grau de igualdade e numa grande abertura ao
mundo. A economia sueca resistiu bem à crise de 2008, melhor do que a maioria
dos países europeus, registando hoje um crescimento assinalável (quase 3%) e um
desemprego baixo, embora se preveja um progressivo arrefecimento da economia
nos próximos anos.
Esteve nas bocas do mundo durante
a crise dos refugiados pelas melhores razões: em 2014 e 2015, abriu-lhes as
suas portas numa proporção superior, em termos relativos, ao milhão que os
alemães receberam. Stefan Lofven, o actual primeiro-ministro social-democrata,
teve de travar a fundo a política de portas abertas logo em 2015. Mesmo assim,
não conseguiu travar as suas consequências políticas. Os Democratas Suecos, cujas
raízes remontam ao movimento neonazi das décadas de 1980-90 e cuja bandeira é
justamente contra a imigração e contra a União Europeia, vão provavelmente
registar um resultado próximo dos 20% nas eleições que se realizam este
domingo. O fenómeno tornou-se quase banal na Europa, incluindo nos países
nórdicos. Na Dinamarca ou na Finlândia, partidos-irmãos dos Democratas Suecos
têm hoje uma significativa presença nos parlamentos, condicionando
a política dos respectivos governos. São todos países ricos, onde a razão mais
evidente para o crescimento destes partidos parece estar, precisamente, nos
grandes fluxos migratórios dos últimos anos e, sobretudo, na sua origem
islâmica.
2. A Suécia teve a
“sorte” de ter vivido a crise de 2008 antes de tempo, quando, em 1991, o seu
sistema bancário soçobrou, com o crash de uma
bolha imobiliária em tudo idêntica à bolha do sub-prime nos
EUA, que conduziu à implosão do sistema financeiro. O governo de Estocolmo foi
obrigado a salvar a banca. Desde então, o equilíbrio das contas públicas passou
a ser sagrado.
Mas o bom comportamento da economia também pôde contar com um sistema
de educação pública dos mais antigos da Europa (na passagem do século XIX para
o XX a esmagadora maioria da população era alfabetizada), para construir a
acumulação de conhecimento fundamental na adaptação das economias desenvolvidas
à revolução tecnológica, encontrando aí a alavanca que lhe permitiu fazer face
à concorrência crescente das economias emergentes. Nomes como Skyp ou Spotify
nasceram lá.
A igualdade, que foi pedra
de toque da sociedade sueca, assente num sistema de impostos muito elevado que
garantiu um Estado Social generoso e universal, teve de se adaptar a uma mais
forte concorrência internacional. Os excessos do Estado Social, que chegaram a
limitar algumas escolhas dos cidadãos, tiveram de ser corrigidos. O sistema
partidário começou a mudar, pondo cobro à longa hegemonia dos
sociais-democratas. O Partido Moderado teve a sua oportunidade de fazer
(algumas) reformas e os sociais-democratas fizeram o seu caminho em direcção à
“terceira via”. Mas o partido que
construiu o modelo nórdico há muito que caiu dos mais de 40% a que estava
habituado desde antes da II Guerra até 2006, para valores que hoje pouco
ultrapassam os 25%, não fugindo ao destino da maioria dos seus congéneres
europeus.
3. Mas nem tudo na sociedade sueca é harmonioso e pacífico. As
imagens de actos de vandalismo praticados por imigrantes e refugiados que
surgiram durante a campanha eleitoral (por exemplo, um parque de estacionamento
onde 80 carros foram destruídos) não são sequer comparáveis com as que
ocorreram num Conselho Europeu em Gotemburgo (Junho de 2001), rodeado pela
violência muito mais ameaçadora dos movimentos alter-mundialização da altura,
formados por jovens radicais suecos e de outros países europeus, vestidos de
negro e de rosto tapado, que destruíam tudo à sua passagem e que cercaram
durante dois dias o local da cimeira. A explosão de novos escritores de livros
policiais suecos, na esteira do genial Henning Menkell, descreve uma sociedade
que encobre as suas angústias, a sua violência, as suas perversões sob um manto
de silêncio. Suécia:
uma corrida eleitoral ao sabor do debate sobre a imigração
4. Durante quase dois séculos um país neutral
(dispensando-a de participar nas guerras europeias), a Suécia mantém ainda hoje
esse estatuto. O facto não apaga a sombra do seu comportamento durante a II
Guerra, mais próxima da Alemanha de Hitler do que dos Aliados, que só a partir
do final do século passado foi publicamente admitido pelos governos e pela
sociedade. A percepção da nova ameaça da Rússia, muito forte no Norte da
Europa, está a mudar as opções políticas e as mentalidades. Pela primeira vez,
as sondagens revelam que são mais os suecos que querem aderir do que os que
querem manter a neutralidade. Os sociais-democratas ainda resistem, mas os
quatro partidos do centro-direita (Moderados, Liberais, Democratas-Cristãos e
Centristas) incluem já nos seus programas eleitorais uma rápida adesão à
Aliança ocidental. A sensação de maior vulnerabilidade já levou ao regresso do
serviço militar obrigatório (de forma gradual) e ao aumento do orçamento da
defesa.
5. Mas a grande diferença está em que, depois
da cultura de consenso a que se habituou, a Suécia vai ter de lidar com um
partido populista e xenófobo, que contraria a imagem que tinha de si própria,
mesmo que por vezes demasiado embelezada. Mais uma vez, como se vê na Alemanha
ou na Dinamarca, o crescimento da extrema-direita parece ter pouco a ver com a
economia (que corre bem em qualquer dos três países, com níveis de desemprego
historicamente baixos) mas, provavelmente, com uma questão cultural que surge
como uma ameaça ao seu modo de vida e à sua segurança. E que leva as pessoas a
sonhar com um passado que dificilmente voltará, a não ser através das suas
páginas mais negras, que a Suécia também as tem.
COMENTÁRIOS:
Helder Antunes: A
Suécia é o caso mais dramático e profundamente pungente nesta contemporânea
saga do todos, que são sobretudo alguns, têm o inalienável direito a mudar-se e
instalar-se para onde bem quiserem. Sem que outros, que são os que já lá estão,
possam ou devam ter uma palavra a dizer sobre a dita ocupação. E quem ousar o
contrário tem que se haver com uma certa franja, dita bem pensante, de entre os
outros, os segundos, que descobriram um termo maravilhoso, a “xenofobia” que
gostam de brandir profusa e abundantemente nos meios de comunicação aos quais
têm acesso. No caso dos civilizados, ingénuos suecos o que se passa é
absolutamente trágico. São galinhas a abrir a porta do galinheiro às raposas.
Literalmente.
Raquel Azulay: A
ocupação das raposas! Eu ando a ver raposas por todo o lado: turistas. São
migras a fugir de guerras e da miséria. A fugir como tu fugirias, Helder.
Ocupação? Uns milhões de migras é ocupação? E se alguém estiver a morrer de
sede eu vou ter de pedir a tua autorização de concidadão para lhe dar água??
Porquê? Porque é que a decisão do estado ajudar tem de assentar na infinita
sabedoria de uma maioria q vota em Salvini? A maior parte dos "ingénuos
suecos" não querem ver migras à sua frente. nem pintados. querem-lhes fora
dali. mt simples. As raposas são uns despenados. Tao nas últimas, mal se
aguentam em pé Ocupação??? Achas mesmo que a Europa está sob ameaça de uma
ocupação? Então o que propões que os bens pensantes digam acerca de pessoas que
querem que a "ocupação" pare?
Jonas Almeida, Stony
Brook NY, Marialva Beira Alta: A Suécia está na lista dos países dados como tendo boas probabilidades
de seguir o Brexit. O sucesso com que lidaram com a crise económica não teria
sido possível se não tivessem moeda própria (recusaram o euro em referendo).
Nessas e noutras parece crescer a percepção que as livres circulações e as
regras únicas são um atraso de vida. Pergunto-me quanto do apoio aos Democratas
Suecos não é simplesmente o apoio a um partido que queira dar o fora.
Raquel Azulay : "
Pergunto-me quanto do apoio aos Democratas Suecos não é simplesmente o apoio a
um partido que queira dar o fora. " Jonas, o SD já existe há algum tempo,
é eurocéptico, mas foi a imigração e não o eurocepticismo que o propulsionou
para a vanguarda. O sucesso sueco a lidar com a crise teve que ver muito muito
mais com as reformas liberais que a Suécia implementou enquanto crescia
economicamente (escolha inteligente) do que com o controle da sua moeda. A
Europa vai ser devorada se não se unir. O caso Brexit está a ser desastroso. Os
suecos estão a testemunhar o processo. O brexit vai servir de antídoto. Os ext
droites sabem que se não cooperarem não resolverão o "problema" da
imigração. O que surgirá é, só pode ser, inter-nacional. Uma UE-fortaleza. Uma
UE a sério.Engana-se redondamente
Jonas Almeida: Stony Brook NY, Marialva Beira Alta :
Raquel, os economistas dizem que o controlo da moeda é um dos 3 pilares
da gestão de um sistema económico. Não percebo como separa as duas coisas, como
a comparação com a Finlândia ilustra (partiram do mesmo ponto qdo a Finlândia
adotou o euro, mas têm hoje taxas de crescimento e endividamento muito
diferentes). Claro que vc têm razão que é na emigração que as contas estão a
ser ajustadas, e que isso é feio. Na minha opinião e experiência, a livre
circulação dificulta imenso a integração - as pessoas tendem a tratar mal quem
entra sem bater à porta. Tudo isto me cheira ao globalismo neoliberal a
empurrar mão de obra barata ao sabor de fachos de interesses cada vez mais
estreitos. O desenho da UE tem essa dinâmica sobreposta a qq regulação
política. Restam assim as eleições nacionais...
Javali
Javali profissional : Todas
as análises dizem que é a emigração que está a causar esta deriva mas o
alucinado mor tinha que vir falar da UE. Enfim. O sucesso da Suécia na
resistência à crise tem um nome simples: finanças públicas equilibradas.
Enquanto Portugal tinha défices de 10%, a Suécia teve no máximo 2%. A Suécia
teve durante muitos anos superavits orçamentais, não vai na conversa dos
demagogos que querem mais défice e reestruturação de dívida porque sabem que
isso não os leva a lado nenhum. Nem no fim de semana tira folga da sua campanha
aldrabona.
tiagompereira53: Os
três temas que dominaram o debate foram imigracao, sistema de saúde e crime. Não
houve sequer debate anti UE. Aliás não há nenhuma vontade da Suécia de sair da
UE porque beneficia muito mais até do que o UK. Até os SD sabem disso. O UK é e
continuará a ser sempre um caso especial. E o Jonas sabe bem disso apesar de
continuar a sua constante manipulacao e mentiras por aqui
Raquel Azulay: eu
separo as dois coisas porque o reclamar por soberania financeira não foi a
causa da ascensão da SD. não foi o eurocepticismo mas sim o imigrante q
propulsionou o SD para a frente. um facto simples que pode ser corroborado
cronologicamente. a migration crisis é o assunto cardinal. sem qq dúvida. não
questiono os seus economistas mas a explicação da ascensão da SD não é coisa
sobre a qual saibam muito. são economistas, afinal de contas. :) mas faça como
bem entender, claro interpretação curiosa, a sua empurrar mão de obra barata???
a UE como projecto malévolo de capitalistas inveterados? um revolucionário a
criminalidade em stockholm não se agravou desde os migras. a percepção do
perigo é que é completamente distorcida por medias afiliados c ext direita. o
contágio ciber do medo
Raquel Azulay: nunca
foi um paraíso, nem a Dinamarca é um paraíso, nem a Noruega etc. nunca percebi
o fascínio exacerbado com o modelo "escandinavo." prefiro o multi
colore, igualmente justo, e muito mais divertido Canadá. Vancouver é excitante.
Stockholm é uma seca. E não há mt desemprego na Suécia. A criminalidade
resultante da imigração é insignificante. Teses deterministas? Nunca gostei do
modelo nórdico. Quem visitou aqueles países sabe que o fundamento real daquele
comunitarismo bondoso é a homogeneidade étnico-cultural e um protestantismo
fervoroso. o dever!! O povo sveede, a maioria, não aceita o pluralismo radical.
Esta é a impressão q tenho, posso estar completamente enganada. Perspectiva
antropológica. O que fazer contra a maioria tirânica? E se os intolerantes ganham
as eleições.
II - ELEIÇÕES: Agora, até
na Suécia!… /premium
OBSERVADOR; 10/9/2018
Os factos estão a revelar as
trágicas consequências da dicotomia infeliz entre internacionalismo desenfreado
e nacionalismo desenfreado. Já é mais do que tempo para recusar esse tribalismo
primitivo.
O eventual leitor deste texto terá sobre o autor a vantagem de poder
conhecer os resultados das eleições parlamentares de ontem na Suécia — que eu
não conheço ainda, quando escrevo este texto. Mas conheço as sondagens e os
alertas insistentes da melhor imprensa internacional das últimas semanas sobre
a hipótese de um segundo lugar, com perto de 20% dos votos, para um partido
radical anti-imigração (até agora praticamente irrelevante).
Pode ser que os resultados não tenham confirmado as sondagens. Mas a
questão é esta: já não estamos a falar da Grécia, nem de Espanha, nem da
Hungria, ou da Polónia, nem mesmo de Itália, ou do sempre excêntrico Reino
Unido. Agora estamos a falar da ordeira, liberal e social-democrata Suécia. Por
que motivo estão os eleitores em revolta contra os partidos clássicos — e
‘clássicos’, para mim, é um elogio — nas democracias do Ocidente? E por que
motivo essa revolta foi também agora equacionada, pelo menos como hipótese,
para a ordeira, liberal e social-democrata Suécia?
Não pretendo saber a resposta. Mas sustento que os factos estão a
refutar as respostas politicamente correctas que até aqui têm inundado a
comunicação social e os meios ‘bem pensantes’. Dizem eles que está a ocorrer
uma onda ‘nacionalista’, ‘soberanista’ e ‘extremista’ contra os ideais
‘trans-nacionais’ ou ‘supra-nacionais’ ou ‘multiculturais’ da democracia
liberal.
A primeira e fundamental questão que tem de ser colocada (e que venho
colocando suavemente desde pelo menos um artigo que publiquei em 2012 no Journal of Democracy) é
muito simples: por que motivo deveria o sistema de regras gerais, que constitui
a democracia liberal, ser identificado com um programa substantivo particular,
(como é o caso do ‘multiculturalismo’, ou ‘governação supra-nacional’ ou
‘abertura total à imigração’)?
A identificação da democracia com um programa substantivo particular é
um erro grosseiro que remonta pelo menos à funesta revolução francesa de 1789 e
à versão continental do Iluminismo que a inspirou. Nesta interpretação, a
democracia não deveria ser apenas um sistema de regras gerais, imparciais e
iguais para todos, que pudesse garantir a concorrência pacífica e a alternância
parlamentar entre propostas e partidos rivais. Na interpretação de 1789, a
democracia devia ser uma ‘correcta libertação’ do povo contra preconceitos e
tradições que até aí o tinham oprimido (ainda que, curiosamente, como recordou
Isaiah Berlin, por sua própria vontade).
O resultado é conhecido. Em vez da tranquila e civilizada concorrência
e alternância de propostas e partidos rivais no Parlamento (como acontece em
Westminster há pelo menos 329 anos), tivemos no continente europeu guerras
tribais entre seitas rivais, revoluções e contra-revoluções. E tivemos
pobríssimas guerras ideológicas entre primitivos extremismos rivais — usando
comuns linguagens rudimentares, de gosto pelo menos duvidoso. Por outras
palavras, os extremos alimentaram os extremos.
É isto que está a voltar a acontecer. Como escreveuo
norte-americano William Galston na mais recente edição da britânica The
Spectator, ‘um internacionalismo desenfreado alimentará a sua
antítese: um nacionalismo desenfreado’. Este foi também o argumento que ele
apresentou — sob o título, ‘Em defesa de um
patriotismo razoável’ — na Palestra Memorial Ralf Dahrendorf, na
mais recente edição do Estoril Political Forum. Sintomaticamente (para quem
reparou) o título global deste Estoril Political Forum precisamente recusava a
dicotomia infeliz entre nacionalismo e internacionalismo. Por isso se chamou ‘Patriotismo,
Cosmopolitismo e Democracia’.
Por outras palavras, se os partidos clássicos aceitarem a errónea
identificação da democracia liberal com a utopia supra-nacional e a imigração
ilimitada, alguém vai aparecer no mercado eleitoral para oferecer o que os
partidos clássicos não oferecem: a defesa do legítimo sentimento nacional. Só
que esse ‘alguém’ vão ser partidos e/ou candidatos marginais, muitas vezes
extremistas — que vão demagogicamente ocupar o espaço deixado vazio pelos partidos
clássicos e pela sua incapacidade de defenderem um ‘patriotismo razoável’
COMENTÁRIOS:
YoannisYoannis : Suécia
teve um atentado durante este Mundial de futebol, o qual mataram pessoas que
comemoravam a vitória da Suécia...alguma TV deu foco a isso??? afinal o Trump
tinha razão quando alertou pra isso.
Mario Figueiredo: Por que motivo estão os eleitores em revolta
[...] nas democracias do Ocidente? [...] Dizem eles que está a ocorrer uma onda
‘nacionalista’, ‘soberanista’ e ‘extremista’ contra os ideais ‘trans-nacionais’
ou ‘supra-nacionais’ ou ‘multiculturais’ da democracia liberal.
Também. E o facto de que uma
mentira não se sustenta indefinidamente, por maior que seja. A Grande Narrativa
de que se vive bem nestes países não passa de uma mentira pegada para uma
significativa percentagem da população, demonstrado inequivocamente pelo fraco
desempenho do partido vencedor e o seu pior resultado em 100 anos.
A propósito, o partido anda a
cair consistentemente desde 1982, altura em que se teciam louvores ao seu
modelo socialista. Se acreditarmos na narrativa da "Suécia, Pais
Maravilhoso". os suecos são estúpidos e votam contra quem lhes faz bem.
Mas se escolhermos acreditar na Navalha de Occam, andam mas é há 35 anos
a demonstrar que o tal modelo socialista está a gerar um
descontentamento crescente.
III- ELEIÇÕES:
Extrema-direita sobe, mas não tanto, na Suécia
Os dois grandes blocos políticos, um de
centro-direita e um de centro-esquerda, acabam empatados e sem maioria. Ambos
se recusam a trabalhar com os Democratas Suecos.
MARIA JOÃO QUIMARÃES
PÚBLICO, 9 de Setembro de 2018
O efeito mais imediato da
fragmentação é a difícil governabilidade. Muitos observadores destas eleições
antecipam que a formação de um executivo irá demorar algum tempo, e a falta de
uma maioria absoluta obrigará a acordos com o bloco oposto. Um governo
integrando a extrema-direita como na Dinamarca ou Finlândia é considerado muito
pouco provável, assim como um apoio do partido a um Governo minoritário.
“Haverá um longo caminho antes que tenhamos um Governo”, antecipava
a professora de ciência política Marie Demker, da Universidade de Gotemburgo, ouvida
pelo diário espanhol El País. “Mas acredito que apesar de tudo, a
solução mais provável seja que o bloco maior – seja ele de centro-direita ou de
centro-esquerda – possa governar com o apoio do outro.”
O efeito mais imediato da fragmentação é a difícil governabilidade.
Muitos observadores destas eleições antecipam que a formação de um executivo
irá demorar algum tempo, e a falta de uma maioria absoluta obrigará a acordos
com o bloco oposto. Um governo integrando a extrema-direita como na Dinamarca
ou Finlândia é considerado muito pouco provável, assim como um apoio do partido
a um Governo minoritário.
“Haverá um longo caminho antes que tenhamos um Governo”, antecipava a
professora de ciência política Marie Demker, da Universidade de Gotemburgo,
ouvida pelo diário espanhol El País. “Mas acredito que apesar de tudo, a
solução mais provável seja que o bloco maior – seja ele de centro-direita ou de
centro-esquerda – possa governar com o apoio do outro.”
IV- EDITORIAL: O vírus nacionalista
instalado na Suécia
É bom que se comece a levar a
sério esta constatação: a democracia liberal está a perder a guerra contra o
extremismo. Aconteça o que acontecer, o nacionalismo xenófobo dos Democratas
Suecos já venceu.
PÚBLICO, 9 de Setembro de 2018
Se há dez anos alguém ousasse prever que um partido de extracto
neonazi, fortemente conservador e nacionalista seria por estes dias a segunda
maior força partidária da Suécia, muito poucos acreditariam. Essa distopia
tornou-se real neste domingo e ninguém na Europa entrou em estado de sítio
porque os 19,2% dos votos esperados pelos Democratas Suecos fazem
parte do novo normal da política no continente. Nem a Suécia, liberal nos
costumes, progressista na política, exemplar na conciliação entre a iniciativa
privada e um Estado- providência eficaz escapa à vaga de fundo. Há um novo
espectro na Europa que se instalou num dos países modelares da democracia do
continente.
É bom que se comece a levar a
sério esta constatação: a democracia
liberal está a perder a guerra contra o extremismo. Aconteça o que
acontecer, o nacionalismo xenófobo dos
Democratas Suecos já venceu. Antes das eleições, a sua força crescente
tinha obrigado o Governo social-democrata a demolir a sua ideia de Europa sem
muros e a fechar as portas aos imigrantes. A Suécia continua rica e altamente
competitiva no mundo global, mas episódios de violência urbana e o vírus do
medo aos outros mitigaram o papel da prosperidade e exacerbaram o valor
identitário. A votação dos Democratas Suecos, que pode ter crescido mais de
50%, estilhaçou um sistema partidário organizado em dois
blocos e cimentado por uma velha cultura de compromisso. Mudou radicalmente a
percepção, ainda que por vezes romântica, que os suecos têm da
política e abalou a sua adesão a um credo progressista que lhe marca a
identidade nacional desde o final do século XIX.
Quando, em Maio próximo, se realizarem as eleições para o Parlamento Europeu
será hora de constatar a deprimente realidade de uma Europa disposta a recuar
no tempo e a abraçar as liturgias do extremismo sectário. Lá estarão os
Democratas Suecos de braço dado com os Verdadeiros Finlandeses a olhar para Viktor Orbán, da Hungria, como a prova acabada
de que o perfume do poder deixou de ser uma miragem para os nacionalismos. Já
não há margem para ilusões: a
União Europeia, que resistiu a décadas de crises económicas, desastres
financeiros e tormentas políticas está a ser minada por dentro. As eleições
europeias não serão ainda a hora do tudo ou nada, mas, com a História a
acelerar como está a acelerar, poderão ser o sinal de que esse momento decisivo
para o futuro fica ao virar da esquina.
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