sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Um trecho histórico de fascínio


Uma visita aos castelos dispersos no nosso rincão, criados por motivos bélicos protectores, em histórias que o mito complementa. Mas que bom seria se o Santo Graal nos surgisse a nós, tornado realidade, bem atraente na sua virtude mediévica, em torno do Cristo ou do Rei Artur, como a gente aprendia com as novelas amorosas do ciclo bretão, pois que as do ciclo carolíngio, em volta da Chanson de Roland, de feminino amoroso só tinham uma Berthe au grand pied, esposa real de um dos Pepinos e mãe de Carlos Magno, o talCarles li reis, nostre emperere magnes” que “set anz tuz pleins ad estet en Espaigne”, como se inicia a Chanson, em francês arcaico, que chegámos a ler, nos tempos da Coimbra da saudade de muitos. Não, trata-se agora, no texto que segue, do OBSERVADOR, de uma exposição a respeito dos Templários, que por cá nos ajudaram contra a moirama, antes de partirem para o Túmulo de Cristo e foram continuados pelos cavaleiros da Ordem de Cristo. Mas outros castelos foram referidos, com o apelo a que os visitemos, e a sugestão de um Santo Graal, por aqui escondido… Quem nos dera que algum detective arguto e não batoteiro, o descobrisse, esse Graal da lenda, debaixo de alguma laje bem portuguesa, pronto a abençoar-nos hoje, povo mole e instalado em ajuda externa, que já dantes fora ajudado, pelos Templários ou outras Ordens, que “Observador Lab” nos faz visitar, nos seus castelos roqueiros de muita história lusa, aqui referida, com muito encanto.

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PAÍS Para quê imaginar, se pode visitar?

Os misteriosos cavaleiros da Ordem de Cristo escolheram o Centro de Portugal para dar continuidade ao legado dos Templários. Há mistério, há fascínio, há histórias por contar. Descubra por si.

OBSERVADOR, 18/8/21

Fernando Pessoa escreveu um dia que “o mito é o nada que é tudo” e possivelmente, se o arquivo central dos Templários, localizado na Ilha de Chipre, não tivesse sido destruído em 1571 pelos otomanos, hoje saberíamos mais e hoje também imaginaríamos menos — o mistério e a ausência de informação adensa o fascínio pelo desconhecido. Mitos, narrativas deliciosas carregadas de simbolismo e de imagens fantásticas, sobrevivem a séculos de história, incluindo a portuguesa: os mitos não se desfazem num  identidades. Tornam-se tudo.É inevitável pensar no início do Condado Portucalense sem revisitar a história da Ordem dos Templários, que se estabeleceram na Península Ibérica no século XII para ajudar os primeiros reis na reconquista cristã contra os mouros e deixaram um grande legado pelo Centro de Portugal.

No início a história, depois as lendas

Imagine o seguinte: uma ordem religiosa militar de cavaleiros, fundada entre a fé cristã e a coragem de homens guerreiros de excelência que assumiram o compromisso de, inicialmente, prestarem protecção e assistência aos peregrinos que caminhavam até à Terra Santa em Jerusalém. Este grupo estendeu o seu poder geograficamente de tal forma que não só chegou a dominar grande parte dos territórios europeus como se tornou poderoso em várias áreas como a política, a economia e a guerra. Reza a lenda que no início da sua formação, os cavaleiros desta ordem encontraram por baixo do Templo de Salomão, a sede original desta congregação em Jerusalém, uma série de tesouros e materiais valiosos que aumentavam ainda mais o poder que já detinham: conta-se que descobriram o Santo Graal – o cálice sagrado dos cristãos -, que desapareceu sem explicação aparente, durante a extinção da Ordem. Julga-se também que, a par de outros tesouros, terá sido transportado para a Europa e acabado em Portugal – será que o Santo Graal estará ainda escondido no nosso território, algures no Centro de Portugal? Será que o triângulo templário Tomar-Dornes-Fátima representa mais do que julgamos? Será que foi escondida uma mensagem nos monumentos templários construídos em Portugal que desvenda todos os segredos?

São estas e outras perguntas que até ao dia de hoje continuam sem resposta e nos fazem querer perceber a fundo o legado da Ordem de Cristo no nosso país.

Monumentos que são pistas da nossa História

Bem no coração de Portugal, permita-se ser guiado pelos mistérios da história dos Cavaleiros da Ordem do Templo e conhecer os tesouros-monumentos que ainda hoje preservam mistérios de outros tempos e desvendam a nossa História. Apesar de a Ordem ter sido extinta pelo Papa Clemente V, em Portugal deixou um legado importante que ressurgiu como a Ordem de Cristo.

Comecemos pelo Castelo de Soure, na região de Coimbra, concedido à Ordem dos Templários em 1128 por D. Teresa, e a primeira sede estratégica desta Ordem, que tirou partido da sua localização para apoiar a reconquista cristã. O passado da vila de Soure é maior que a sua dimensão: estava localizado na fronteira entre o território cristão e o território muçulmano, no vale Baixo do Mondego. Em 1162, os Templários escolheram a cidade de Tomar cidade Templária na sub-região do Médio Tejo -, para edificar as suas estruturas principais, e tornaram esta referência geográfica, a partir desse dia, uma das mais importantes durante a sua presença no nosso país.

E tínhamos de incluir esta referência: Rota dos Castelos e Muralhas do Mondego: é aqui que recuamos no tempo e conseguimos entrar um pouco mais na História de Portugal — numa história que mostra a importância da linha defensiva do Mondego durante o período da reconquista cristã, mais concretamente após a reconquista de Coimbra, em 1064. Este sistema de defesa foi essencial ao longo de 80 anos, e foi mantido por D. Afonso Henriques e D. Gualdim Pais. Venha daí a descubra mais um pedaço de Portugal.

É a Mata Nacional dos Sete Montes, localizada no centro de Tomar, que faz a ligação entre os principais símbolos associados ao legado desta Ordem. Ao longo de 39 hectares, encontramos o Convento de Cristo Património Mundial da UNESCO, um dos maiores complexos monásticos da Europa e uma obra-prima do Renascimento -, que na época era entendido como a estrutura militar mais moderna do reino, inspirado nas fortificações da Terra Santa em Jerusalém, onde nasceram os Templários. Em tempos antigos, aqui caminhavam cavaleiros de hábito branco e cruz vermelha ao pescoço, que rezavam na Charola do Convento, o oratório privado dos Cavaleiros localizado no interior da fortaleza; que admiravam a conhecida e enorme Janela do Capítulo, ornamentada com figuras simbólicas que destacam as insígnias da Ordem (procure a cruz heráldica, a esfera armilar e o brasão do Reino) e motivos relacionados com a arte da marinhagem. Quando escrevemos “procure”, é a sério: poderá ser desafiante distinguir os símbolos nesta janela emblemática. Existem outros pormenores interessantes que permitem algo semelhante a uma viagem no tempo, como o Claustro Principal e a Cerca Conventual.

Outro local de passagem obrigatória é o Castelo de Pombal, na Região de Leiria. Foi o Mestre da Ordem dos Templários, Gualdim Pais, quem mandou edificar este monumento e trata-se da memória mais antiga de Pombal. É um local onde se viaja no tempo automaticamente e que nos proporciona uma vista única sobre a cidade de Pombal. Este local faz parte da Rota Templária no Centro de Portugal.

Ora, e porque não se pode escrever sobre a história dos Templários e a sua enorme influência no nosso país sem nos referirmos a um símbolo específico, falemos sobre a Torre da aldeia de Dornes, nas margens do Rio Zêzere. É nesta aldeia pacata, abraçada pela albufeira de Castelo de Bode, que reencontramos o nosso passado glorioso: apesar de pouco conhecida, esta torre pentagonal, com uma forma invulgar, foi construída pelos Templários para vigiar o território que envolve a aldeia, durante a Reconquista cristã. Este posto de vigilância e de defesa construído em xisto e calcário, a partir de uma ainda mais antiga torre romana, é o testemunho claro de um legado que ultrapassou a própria história, tornou-se parte do nosso imaginário.

Por fim, a viagem na rota dos Templários prossegue para perto do Rio Tejo, em Vila Nova da Barquinha, onde encontramos o enigmático Castelo de Almourol, que juntamente com os castelos de Tomar, do Zêzere e da Cardiga, criava a linha defensiva do Rio Tejo. É lá também que encontramos o Centro de Interpretação Templário que recorda a história da reconquista deste território pelos cristãos e que mais tarde foi entregue à guarda dos Templários, pelos quais deveria ser protegido. Venha com tempo porque dentro do museu encontrará uma exposição permanente sobre a Ordem do Templo, filmes sobre este período histórico, assim como uma biblioteca e um arquivo com variadíssimas obras.

Não podemos acabar esta viagem ao passado, sem sugerir que que participe numa experiência imersiva: melhor do que ler sobre o passado, é vivê-lo no presente. Nisso, estamos de acordo? Pois bem, fique a saber que todos os anos a vila de Almeida, no distrito da Guarda, recebe o evento “Cerco de Almeida”, uma recriação histórica e imersiva do ano 1810, que transporta os visitantes, a cada agosto, para o cenário da 2ª Invasão Francesa a Portugal. Não existem pessoas com calças de ganga nem malas a tiracolo do futuro, existem homens e mulheres vestidos a rigor que representam o passado que só nos livros se conta.

Aproveite o seu interesse em conhecer a história de Portugal e visite Proença-a-Nova, na Beira Baixa, um território com um património natural de encantar e com vestígios de estruturas militares que foram extremamente importantes para a defesa estratégica do nosso território português.

Os misteriosos templários escolheram o Centro de Portugal para fazer História e com eles fundaram histórias que se tornaram lendas que se tornaram mitos, e que nos fazem acreditar que ainda mais fascinante do que saber tudo, é saber apenas o suficiente para conseguirmos imaginar melhor. O caminho está traçado e a História não vai a lado nenhum: parte de si querer descobri-la. Saiba mais sobre este projecto em https://observador.pt/seccao/centro-de-portugal/             PAÍS  SOCIEDADE  CULTURA  PATRIMÓNIO CULTURAL  VIAGENS  ESCAPADINHAS  LIFESTYLE  OBSERVADOR

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