I -Pedro Tamen
Foi amigo de uma
minha colega, que dele falava com apreço, naqueles tempos em que nos conhecemos,
vinda eu de terras africanas, a minha amiga também com experiência destas, e
mais de cá e da França, onde vivera algum tempo. Leio, com surpresa, que Pedro Tamen morreu e
procurei informação mais precisa, na enciclopédia diária da Internet, que
transponho, e, entretanto, li igualmente a referência à morte da pianista Olga Pratts, no dia a
seguir. Outro dos nossos grandes valores, de quem gostei, quando apareceu em
programas na RTP, juntamente com António Vitorino de Almeida, tipo de
programação que vai sendo cada vez mais rara, substituído magnanimamente por
programas de culinária, entrevistas a pessoas com dificuldades – por vezes,
também, com êxitos biográficos – ultimamente – felizmente - viagens no país,
estilo a que nos habituara José Hermano Saraiva.
Mas é de Pedro Tamen que registo os seus dados, colhidos na Internet, na surpresa da notícia, que me fez procurar os seus poemas, ao menos para lhe conhecer melhor a característica poética, bem diversa do intervencionismo neo-realista, e com um sentido profundo de orquestração fónica e ambiguidade semântica, na comunhão do mundo, plurifacetado embora.
Assim, retiro da Internet:
Pedro Mário de Alles Tamen foi
um poeta e tradutor literário português.
Pedro Tamen, um poeta
contemporâneo de virtudes clássicas
Nome fundamental da poesia portuguesa da sua geração, foi também um tradutor
excepcional e um promotor de projectos culturais, como a revista O Tempo e o Modo, o Centro
Cultural de Cinema ou a colecção Círculo
de Poesia, que fundou e dirigiu na Moraes. Morreu esta quinta-feira em Setúbal, onde
estava hospitalizado.
Morreu esta quinta-feira (29/7/21), aos 86 anos, o
poeta e tradutor Pedro Tamen, uma figura decisiva da vida cultural portuguesa ao longo de toda a
segunda metade do século XX, não apenas pela sua poesia e pela sua actividade como tradutor — entre cujas façanhas mais recentes se inclui a tradução
das cerca de três mil páginas de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust —, mas também enquanto administrador da Gulbenkian, director da editora Moraes e fundador da sua
influente colecção Círculo de Poesia, editor da revista O Tempo e o Modo, crítico literário no Expresso ou dirigente cineclubista.
Poeta com um profundo conhecimento da tradição literária e um sentido
clássico do equilíbrio que tanto
o afastou do grito de revolta do neo-realismo como do libertário tufão
surrealista, Pedro
Tamen estreou-se em 1956, aos 22 anos, com Poema
para Todos os Dias, um livro cujas epígrafes vão de T. S. Eliot ao Livro do Apocalipse, e no qual as suas inquietações
religiosas são ainda centrais, sobretudo no longo poema final em três
andamentos. Com os seus amigos Alçada Baptista, João Bénard da Costa ou Nuno Bragança, de quem foi condiscípulo na Faculdade de Direito de Lisboa, Pedro Tamen pertenceu a essa geração de
intelectuais portugueses que se chamou a si própria, num verso de Ruy Belo, “os
vencidos do catolicismo”.
Obras (selecção)
Entre as suas obras encontram-se:
Poema para Todos
os Dias (1956, poemas)
O Sangue, a Água e
o Vinho (1958, poemas)
Escrito de Memória
(1973, poemas)
Os Quarenta e Dois
Sonetos (1973, poemas)
Horácio e Coriáceo
(1981, livro)
Principio de Sol (1982,
poemas)
Guião de Caronte (1997,
livro)
Retábulo das
Matérias (colecção de poemas 1956-2001, 2001)
Analogia e Dedos (2006,
poemas)
O Livro do
Sapateiro (2010, poemas) [5]
Um Teatro às
Escuras (2011)
Rua de Nenhures (2013,
poemas)
Prémios e reconhecimento:
A 9 de junho de 1993, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Ganhou o
Prémio Literário Inês de Castro e o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava com Analogia
e Dedos Recebeu o Grande Prémio de Poesia APE/CTT e Prémio Literário Casino da
Póvoa do Festival Correntes d'Escritas por O Livro do
Sapateiro.
Um poema:
A Luz que Vem das Pedras
A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a distribuis
tão generosa e à janela do mundo.
O sal do mar percorre a tua língua;
não são de mais em ti as coisas mais.
Melhor que tudo, o voo dos insectos,
o ritmo nocturno do girar dos bichos,
a chave do momento em que começa o canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti faz acordar
os olhos densos de cada dia um só.
Quem está salvando nesta respiração
boca a boca real com o universo?
II -Pianista Olga Prats morreu aos 82 anos
Dizia que a música era a sua "botija de oxigénio". Pianista e
pedagoga, apaixonada pela música de câmara e ensino e interessada na produção
"A música foi para mim tão
natural como o respirar", chegou a
dizer em entrevista
JOAO
RELVAS/LUSA
A pianista Olga Prats morreu esta
sexta-feira, aos 82 anos, na sua residência na Parede, concelho de Cascais,
vítima de doença oncológica. A informação foi confirmada à Agência Lusa pelo
compositor Sérgio Azevedo, que era seu amigo.
Dizia que não podia “viver sem a
música”, que a música era a sua “botija de oxigénio”, e a carreira que traçara
apenas “parte” dessa dependência e desse gosto. A carreira, porém, duraria
quase 70 anos (69, mais concretamente) tendo Olga Prats privilegiado a música
de câmara, destacando a produção contemporânea.
Prats foi, desde logo, a
primeira pianista a tocar e a gravar o argentino Astor Piazzola em Portugal e a
divulgar o fado ao piano, nomeadamente as partituras de finais do século
XIX e primeiras décadas do século XX de compositores como Alexandre Rey Colaço
ou Eduardo Burnay.
O Governo, através da ministra da
Cultura, Graça Fonseca, já lamentou a morte da pianista portuguesa — que em
vida se manifestou por diversas vezes crítica do pouco investimento público na
formação musical dos estudantes e das poucas condições dos espaços de ensino
especializado.
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