A originar comentários que, a par de
outros, de menos senso, é certo (que não transcrevi), provam que uma
inteligência livre atrai outras inteligências livres, que chamam à dignidade e
à coragem de quem os expõe. O que nos alegra a mente. Como sempre, um prazer de
leitura, a destes textos de Helena Matos, marcados
pela lucidez crítica onde a ironia morde, centrada no despotismo absurdo sobre
os povos – inertes como o nosso, ou mais rebeldes - conquanto inutilmente, um e
outros. Um mundo domado por um vírus, que revela reais despotismos governativos,
por detrás de máscara amaciadora, em ficção de preocupação e bondade, assim submetendo
o povo, e brincando às leis da máscara e da vacina protectoras, num planeta
ameaçado, a pedir, talvez, o retorno às origens…
É urgente a catástrofe! /premium
O que irão os governos fazer quando o
Covid desaparecer? Atirar-nos para outra emergência global, provavelmente em
nome do clima. O emergentismo tornou-se forma de exercício do poder.
Irresponsável.
HELENA MATOS, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 22
ago 2021
A
cada frase do editorial do PÚBLICO a justificar a “despublicação” (extraordinária puerilidade a
desta palavra!) do artigo de opinião do médico Pedro Girão sobre a vacinação das
crianças e dos jovens contra o Covid tornava-se-me evidente que o
emergentismo é o novo caminho da servidão: tudo o que
é válido, como a condenação da censura, é posto de parte desde que se invoque a
excepcionalidade do combate que se está a travar.
Não está em causa se concordo ou não
concordo com as opiniões expressas pelo médico Pedro Girão. (Aliás, o próprio
facto de antes de se começar uma frase se ter de fazer uma espécie de
declaração de apoio às políticas oficiais, por mais erráticas que elas sejam,
para não se ser rotulado negacionista, conspiracionista ou qualquer outro
“ista” é bem sintomático da degradação da nossa liberdade e da alienação do
mais elementar bom senso.) O que sim está em causa são as questões
levantadas por Pedro Girão: quais as consequências da alteração dos prazos de
segurança na aprovação das vacinas contra o Covid? Faz sentido vacinar crianças
para, dessa forma, se protegerem os adultos e não tanto as crianças?
Até
há algum tempo defendíamos o direito a divergir nas respostas. A declarar que estávamos de acordo com o autor do
texto ou que, pelo contrário, discordávamos dele vivamente. Agora isso
acabou.
O
PÚBLICO, essa espécie
de barómetro linguístico do politicamente correcto, verbaliza esta
transformação ideológica que a pandemia propiciou: “Numa questão tão sensível como a
da pandemia, recusamos em absoluto promover juízos que tendem a negar a
importância ou o relativo consenso científico em torno das vacinas.”
É
aqui precisamente, nesta invocação da “questão tão sensível” para impor um
autoritarismo que oficialmente se execra, que está o cerne do emergentismo
de que o PÚBLICO, como boa parte da comunicação social, se tornou órgão de
divulgação e propaganda: as sociedades do bem-estar, vulgo democracias
burguesas, não estiveram disponíveis para revoluções colectivistas. E de facto
não foi pela via revolucionária clássica que o controlo estatal nos foi
imposto, mas sim através de um combate para nos salvar da doença, para nos
proteger do vírus, para nos manter saudáveis.
Sempre
soubemos que não podíamos viver num mundo com zero terroristas, zero SIDA ou
zero criminalidade pois o preço a pagar por tais “zero” era demasiado elevado e
sobretudo incompatível com os nossos valores e forma de viver. Mas isso era o que se sabia antes do grande reset estatista
das nossas vidas em que o combate ao Covid se transformou. Perante o
Covid, o objectivo não foi defender o nosso modo de vida, como aconteceu
aquando do aparecimento da SIDA ou do ataque às Torres Gémeas, mas sim
suspender esse modo de vida.
Sociedades
envelhecidas, domesticadas pelo constante controlo fiscal, desprovidas de bom
senso, idiotizadas por activismos minoritários, mostraram-se particularmente
vulneráveis quando postas perante uma ameaça sanitária. Onde as velhas
ideologias falharam triunfou o emergentismo: o dia-a-dia dos povos está
transformado num conjunto de absurdos justificado pelo combate ao Covid. O
controlo e o poder dos estados sobre os cidadãos aumentou exponencialmente. Não
menos importante, não são pedidas responsabilidades, tudo fica para depois. Por
exemplo, continuamos à espera de explicações para a desvalorização do vírus
efectuada pelas autoridades europeias no início de 2020 ou para a conduta
errática da OMS.
O emergentismo tornou-se a zona de conforto de boa parte dos nossos
governantes: Biden fez a América cair em Cabul,
mas, em Novembro, na Cimeira do Clima, lá estará a querer salvar nada menos que
o planeta. E com ele
os líderes dos diferentes países da NATO que não só não investem na sua defesa
(a dependência face aos EUA é quase total) como entretêm o vazio de funções a
produzir textos inúteis como Gender balance and diversity in NATO ou NATO
Climate Change and Security Action. Não
se consegue manter uma força de dois mil homens no Afeganistão, mas salvar o
planeta, esse sim, é um objectivo realista, entendendo-se por salvar o planeta
tudo e o seu contrário, sobretudo se, tal como aconteceu com o combate ao
Covid, o tudo e o seu contrário se traduzirem não em aperfeiçoarmos o nosso
modo de vida mas sim em suspendê-lo outra vez.
Não por acaso, catástrofes pelas
quais até há pouco se pediam responsabilidades aos governos – como os incêndios
ou os mortos nas inundações – passaram a ser apresentadas como uma consequência
das alterações climáticas, logo fatalidades que só desaparecerão quando no
Ocidente, e só no Ocidente, nos tivermos libertado do pecado das emissões, do
automóvel, dos aviões, dos bifes, do banho diário…
Os incêndios florestais, tal como as
cheias, podem ser influenciados e agravados pelas alterações climáticas. Mas
não foram as alterações climáticas as responsáveis pelo recente falhanço do
sistema de alertas meteorológicos na Alemanha ou pelo descontrolo das
autoridades portuguesas aquando dos incêndios florestais de 2017.
As grandes burocracias que nos governam têm no emergentismo a sua
verdade conveniente: não são eles que falham, são os povos que não cumprem.
Os próximos anos serão marcados pelo emergentismo porque os
próximos anos serão marcados por políticos de um mundo em decadência: os generais argentinos invadiam as Malvinas.
Os nossos dirigentes vão salvar-nos do vírus; depois vão salvar o planeta…
Se alguém tiver perguntas sobre a
razoabilidade das decisões, o acerto das medidas ou o impacto dos programas
aprovados para salvar o planeta ou salvar o que vier a seguir, não duvido que
muitos jornais, rádios e televisões “despublicarão” os artigos em que elas
sejam formuladas e, parafraseando o PÚBLICO, explicarão que não se deve quebrar
o relativo consenso científico em torno duma questão tão sensível.
Ps. Por
estes dias muito se tem falado das imagens dos helicópteros americanos
nas retiradas de Cabul e Saigão. A estas
imagens símbolo do que não esperávamos ver junto uma outra: a da tripulação do Boeing 747
francês que a 1 de Fevereiro de 1979 levou o Ayatollah Khomeini de regresso ao Irão. Enquanto o Xá e a sua família não conseguiam que
algum dos seus antigos aliados ocidentais os acolhessem pelo menos pelo tempo
suficiente para que Reza Pahlavi
morresse em paz, pois o linfoma de que sofria tinha-se agravado dramaticamente,
o Ayatollah Khomeini era levado de
França para o Irão, rodeado de um fascínio entre o subserviente e o festivo,
simbolizado pelo gesto do assistente de bordo francês que ajuda Khomeini a
descer as escadas do avião.
COMUNICAÇÃO
SOCIAL MEDIA SOCIEDADE CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
Maria Narciso: O negacionismo é uma situação social danosa, colocando
a vida de muitas pessoas em risco, devendo ser combatido. Desconsideram a
gravidade de doenças, menosprezam a necessidade de medidas preventivas, ou
invalidando os recursos de protecção já existentes, como já aconteceu em
Portugal à semelhança de outros Países. Liberal Assinante do Local
> Maria Narciso: Já histeria alimentada das
massas é uma situação social radiosa, colocando-nos a todos a salvo de
pensarmos, devendo ser incentivada por estadistas tais como o almirante Selfito. Lourenço
de Almeida > Maria Narciso: Aquilo a que chama negacionismo, chamou-se durante
séculos, "debate", "discussão de ideias",
"antítese" e outras minudências que fizeram o triunfo científico e
civilizacional do ocidente. Foram "negacionistas" do discurso oficial
da época como o Copérnico e o Galileu que ajudaram a estabelecer aquilo em que
hoje em dia acreditamos relativamente ao sistema solar. Foram "negacionistas"
do discurso oficial que na altura combateram a escravatura. etc. etc. Foi a
falta de "negacionistas" da tese oficial da raça ariana na Alemanha
que permitiu o holocausto! Tome as medidas preventivas que quiser. Ninguém o
impede! Alberto Barbosa
> Maria Narciso: Negacionista tornou-se num daqueles termos da esquerda
politicamente correcta que brevemente perderá todo o valor. Sabem, como
"racista", "sexista" (em português costuma-se usar como
equivalente o termo "machista", o que é 1000x pior, uma vez que
pressupõe que toda a descriminação origina nos homens e vitimiza mulheres),
"fascista" (outra muito bem pensada, porque estamos a usar um termo
conotado popularmente com a direita, mas que hoje usamos para classificar todos
os regimes autoritários), etc... Tal como estes termos, em breve ser
"negacionista" será como uma medalha para usar ao peito. Eu,
pessoalmente, assim que vejo alguém ser classificado com um deles, já assumo
que se trata de uma tentativa de assassínio de carácter, e não de um uso de um
termo escolhido racionalmente.
………
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