sábado, 28 de agosto de 2021

Agudo, grave, esdrúxulo

 

Agudo, grave, esdrúxulo

O assento em que nos sentamos, o acento tríplice com que acentuamos as cócoras do nosso abaixamento/rebaixamento servis. Alberto Gonçalves explica, alguns acompanhantes o corroboram.

 

O “jornalismo” que não ousa dizer o seu nome /premium

A Covid trouxe à superfície imensas coisas, quase todas repulsivas. Uma delas foi a facilidade com que a vasta maioria dos órgãos de “informação” (com aspas) suspenderam o escrutínio.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 28 ago 2021

No dia 18 de Agosto, o “Público” colocou “on line” um artigo do médico anestesiologista Pedro Girão. No dia 19 de Agosto, com um pedido de desculpa aos leitores, o “Público” removeu o artigo, a que chamou um “erro”.

O artigo, que condena a “loucura mediática e o pânico geral”, era crítico das políticas da Covid, principalmente da vacinação de crianças e adolescentes, que o autor considera motivada por “argumentos irracionais, emotivos e políticos”. O dr. Girão cita nomes, por exemplo os do Presidente da República e do coordenador da “task force”, que terão excedido “de forma escandalosa e irresponsável as suas competências”. Mais à frente, acrescenta o nome do dr. Costa e o respectivo “registo habitual, cínico e falso”. Por fim, o dr. Girão declara-se indisponível para sujeitar os filhos a “experiências (…) exigidas e decididas por especialistas cobardes, por médicos cobardes, por políticos cobardes, por militares cobardes”.

Na nota da “direcção editorial”, o “Público” explica que a “despublicação” [sic] do artigo se justifica em parte “pelo tom desprimoroso e supérfluo usado pelo autor em relação a várias personalidades da nossa vida pública”. A parte que falta é um mimo. Embora o “Público” seja “um jornal que cultiva e estimula a diferença de opiniões que alimenta as sociedades democráticas”, “há padrões e valores que não podem ser cedidos em nome do pluralismo. Numa questão tão sensível como a da pandemia, recusamos em absoluto promover juízos que tendem a negar a importância ou o relativo consenso científico em torno das vacinas”.

Em suma, o “Público” está aberto a todas as opiniões, menos aquelas das quais discorda. Além disso, não permite que se trate com “desprimor” as “personalidades”, excepto, evidentemente, se estas fizerem juízos divergentes da “direcção editorial” ou das “personalidades” que o “Público” aprova, o que aliás vai dar ao mesmo. É um exercício divertido procurar textos em que os senhores do “Público” recorrem ao “desprimor” para lidar por exemplo com os blasfemos da Covid. E é um exercício fácil: a 20 de Agosto, o próprio director insulta de tudo os desalinhados do discurso oficial na matéria. Tempos antes, o dr. Manuel Carvalho designara por “delinquente” um político português, e não, não foi o político que atropelou mortalmente um infeliz sem sair do carro para lhe prestar assistência. Até porque, de acordo com o dr. Manuel Carvalho, acusar esse particular político por esse particular incidente “não cabe nos valores de uma sociedade e de uma classe política decentes”. Numa sociedade decente, os serviços que o “Público” presta a uma parte da classe política jamais seriam confundidos com jornalismo.

Já sei, já sei. Eu não leio o “Público”. Vocês não lêem o “Público”. Ninguém lê o “Público”. O problema não é especificamente o “Público”. Ou o “Expresso”. Ou o “DN”. Ou a TSF. Ou a SIC. Ou a RTP. Ou o que quiserem. A relativa irrelevância de cada um destes “media” não atenua a circunstância de todos concorrerem para um fim comum: a subjugação descarada às directivas do poder, logo que o poder seja socialista ou aparentado.

A Covid trouxe à superfície imensas coisas, quase todas repulsivas. Uma delas foi a facilidade com que a vasta maioria dos órgãos de “informação” (com aspas) suspenderam o escrutínio e, em nome de um imaginário consenso “contra” a epidemia, se colocaram aos pés de quem manda. Subitamente, quem manda passou a mandar nos jornais e nas televisões. Subitamente, vírgula. A ascensão da Frente de Esquerda, em 2015, não teria sido tão macia sem um “jornalismo” (com aspas e risos) em larga medida disposto a legitimar a empreitada. A Covid apenas ajudou a escancarar a pouca-vergonha. O que antes eram louvores comparativamente subtis ao dr. Costa e aos comparsas leninistas são hoje propaganda descarada, e colaboração activa na censura de opiniões e factos incómodos. A propaganda e a censura escorrem por aí sem pudor nem modos. É escusado explicar que nada disto pertence a uma democracia.

E é escusado notar que o cerco se aperta em redor dos fogachos de liberdade que ainda não permitiram oficializar a descida do país a uma autocracia caribenha. Aos donos disto não basta ter por garantida a obediência de quatro quintos das redacções: é preciso garantir que o resto não pia. Há meses, por obra de um discípulo de Estaline que honra a bancada do PS, regressou o lápis azul, possivelmente de outra cor e coberto de uma hipocrisia beata que nem o Estado Novo ousava. Agora, o governo pretende alterar o Código Penal a fim de demitir, proibir de exercer e afinal destruir os funcionários púbicos, professores, jornalistas e quem calhar de incentivar a “discriminação” e o “ódio”. As definições de ambos os conceitos serão deles, a desgraça nossa. Eis mais um passo firme no sentido do totalitarismo, que os lacaios do regime desvalorizam porque contam beneficiar dele. Duvidam? A notícia saiu no “Público”, e o “Público” estava feliz.

CORONAVÍRUS  SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE

COMENTÁRIOS:

Meio Vazio: Não seja assim, Alberto; Todos os órgãos de "informação" que referiu são críticos ferozes do poder (...húngaro e polaco).

mamadorchulo dostugas: Quem não for Xuxa:comuna, não tem direito a opinião, neste caminho um dia destes direito ao trabalho e liberdade, a seguir……

Coronavirus corona: Este episódio do Público foi um dos mais caricatos e preocupantes que vi em toda a minha vida. Imagino a quantidade de textos que são analisados pela direcção do jornal e ficam logo ali. Este escapou mas não tiveram a vergonha de o retirar depois de publicado. Um escândalo sem precedentes. Vêem agora como se conseguiu o tal "consenso" relativamente às alterações climáticas antropogénicas? Foi assim. Afastando e isolando quem diverge.

JB Dias: A coisa atingiu já tal dimensão que é impossível passar despercebida. Desapareceu qualquer resquício de isenção e de pudor e jornalismo passou a activismo! Todos os totalitarismos começaram e começam com o amordaçar das opiniões divergentes, a segregação dos elementos resistentes e a criação de novas definições para factos antigos que são elaboradas de forma a poder ser usadas para tudo e o seu contrário e devidamente criminalizadas ... Não acordem depressa que não é preciso.

Helder Teixeira: E há jornalistas e opinadores felizes que continuam a escrever no Público 

 

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