Sentei-me no sofá a ouvi-los.
Tinha visto antes, Passos Coelho entre os dois, dizendo palavras isentas de parti
pris, intimamente lamentei o seu abandono de um projecto que era seu e que
passara, indiferente, não a um sucessor mas a um qualquer substituto a quem
faltará o carisma de seriedade que o marcara a ele e nos dera esperança a nós,
esperança de ultrapassar a humilhação há muito sentida, de sermos um país
vivendo às sopas, qual mendigo de mão estendida, tal o velho Garrinchas e a sua
filosofia dos direitos próprios. E mais uma vez lamentei a sua saída de cena,
condenando-a como atitude de abandono pátrio, ou, pelo menos, de desamparo de tantos
que já só nele acreditavam, como pessoa capaz de enfrentar a maralha baça e
recuperar a dignidade pátria, na sensata tentativa de trazer lisura a uma governação
que anos de excitação desviaram das normas do bom senso e do bom gosto construtivo,
a deixar como herança aos vindouros.
O que pensava de qualquer dos
dois concorrentes ao mesmo cargo de Passos Coelho, não sofreu alteração: dois galos
emplumados, Santana Lopes, elegantemente palavroso e oco, carregando o pedal da
acusação, para desprestigiar o adversário, Rui Rio, este de sorriso eterno, grotescamente
ardiloso e finório, invulnerável aos ataques balofos, sobre um passado de
contas a prestar, no recalcamento e ira de Santana, alimentados ao longo dos tempos contra o seu adversário, e
que trouxe à ribalta ali, no primeiro debate, como se fosse importante, num absurdo
despropósito de retaliação infantil, hábito cada vez mais consentido nas nossas
televisões de ruído torpe.
Dois homens não discutindo políticas a seguir –
ou fazendo-o palavrosamente, na banalidade das suas propostas, em que ninguém
acredita, naturalmente, atidos que somos à velha sentença do gato escaldado.
Adormeci antes do fim do debate,
efeitos de crise.
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