É Alberto Caeiro o autor do
poema sobre a beleza do Tejo e o seu significado de glórias passadas e riquezas
presentes, em contraste com o rio sem história da sua aldeia, conceito este integrado
na orientação poética do heterónimo, que valoriza a natureza e os sentidos, na
simplicidade e pureza afectivas, aparentemente despidos de filosofia. De toda a
maneira, não é demais relembrar o valor histórico deste rio, a que o poema “alado”
de Sophia de Melo Breyner repõe o afecto e prazer, que sempre o nosso maior rio
significou para nós, desde a escola primária, e aos que vivem em Lisboa, mais
ainda.
E é este rio que gente
protegida, julgo que protegida, pois o problema já é antigo e não se resolve, este
rio que, de caudal mais limitado hoje, recebe descargas de celulose como
informa o texto de Emanuel Caetano, de Ermesinde.
O crime é poderoso, que haverá
por trás da sua impunidade? Porque não se castigam os infractores, porque se
permitem estas monstruosidades próprias de um primitivismo sórdido que os
governos, pelos vistos, favorecem, primitivos que somos?
Não, nunca mais iremos para o
mundo, ficar-nos-emos sempre por Viana.
Pelo Tejo Vai-se para o Mundo
O Tejo é mais
belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele. Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
Tejo
Aqui e além em Lisboa – quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada
Sophia de Mello Breyner Andresen (1994), in Obra Poética, 2011
Salvem o rio Tejo
Já não é suportável
tamanho problema de saúde pública que se verifica no rio Tejo. A culpa era dos
espanhóis, do atrofiamento do caudal do rio e da contaminação radiológica da
Central Nuclear de Almaraz. Com as recentes denúncias de cidadãos que difundem
vídeos e fotografias nas redes sociais, o que, inclusive, lhes custa processos
judiciais, identificaram o problema em território português, a jusante de Vila
Velha de Ródão, local onde existem empresas de celulose. Já que as autoridades
ambientais submergiram na fossa em que se transformou o rio e que ignoram as
queixas de pescadores, agricultores e quem vive da actividade turística,
apelava ao interventivo Presidente da República que nunca diz não a umas
braçadas na água, que mergulhasse no rio com um fato à prova de bactérias de
modo a alertar para esta situação.
Emanuel Caetano,
Ermesinde
Público, 26/1/18
Nenhum comentário:
Postar um comentário