Chegou por email, apresso-me a
transcrever, já muita gente escreveu sobre o tema, até já se disse que o tal ACORDO era ilegal, o corrector da Net
agora já corrige os erros segundo os critérios do primitivo Acordo de 1945,
acentuando os erros resultantes do Acordo de 1990, mas as legendas da Internet
não, o que não faz grande mossa, tais os dislates que por lá perpassam. Quanto
às publicações nos livros ou nos jornais, depende da vontade do freguês, ou
seja, do autor da obra. Somos um povo democrata. Além, é claro, dos tantos mais
dislates que cometemos nas nossas vivências e nas nossas políticas que, tal
como a língua, nos riscarão do mapa, como nação, não tarda. Somos uma nação a
riscar, por falta de uma língua uniforme. E por falta de cobertura económica
real.
Agradeço o texto sobre a “Pobre Língua Portuguesa”. Com lágrimas.
Sem remédio.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 23.11.18
O acordo ortográfico de 1990 contribui para abolir as suas ligações
etimológicas e, portanto, as variantes cultas das palavras. A língua portuguesa
transforma-se assim num idioma de boçalidade.
O português padrão está a
transformar-se num estranho dialecto com regras incompreensíveis que se afastam
da etimologia e das restantes línguas latinas. Com a agravante de nem sequer
haver qualquer uniformização com os outros países de língua portuguesa que ou
não aplicam o dito Acordo ou do mesmo resulta que sigam regras diferentes,
graças à pronúncia que utilizam.
Um bom exemplo disto resulta da
tradução do livro da escritora argentina María Gainza, que em espanhol se chama
“El nervio óptico”, mas que em acordês se transforma em “O Nervo Ótico”. O
problema é que sempre se utilizou na língua portuguesa a expressão “ótico” como
relativa ao ouvido, reservando-se o termo “óptico” para a visão. Tal é o
significado dos respectivos antecedentes gregos “otikos” e “optikos”. O acordo
ortográfico de 1990 aboliu esta distinção essencial mas apenas no português
padrão, o de Portugal, continuando a distinção a existir no português do
Brasil. Puro absurdo.
E o mesmo sucede com outras palavras como “recepção” e
“concepção”, que se conservam sem alterações na ortografia brasileira, mas que
na portuguesa passam a “receção” e “conceção”, facilmente confundíveis com
“recessão” e “concessão”. Qual a necessidade de abolir a grafia anterior se o
que se consegue é criar uma ortografia que ainda mais se diferencia da dos
outros países lusófonos?
Isto já para não falar da
multiplicação dos erros de escrita que o acordo ortográfico de 1990 causou, com
a absurda directriz de querer abolir as consoantes mudas, estando muita gente a abolir consoantes que continuam a pronunciar-se.
É assim que já se viu aparecer erros como “fato”, “ineto”, “corruto”, que
demonstram bem a falta de critério na abolição das consoantes pretensamente
mudas.
Mais: a expressão culta
“ruptura”, mais próxima do latim, foi transformada em “rutura”, esquecendo-se
que já existia a variante popular “rotura”; fala-se em “ótico” para a visão,
mas esquece-se que a medição da mesma continua a ser a “optometria”; e os
egípcios, pelos vistos, passaram agora a viver no “Egito”, esquecendo-se que a
palavra Egipto tem origem no deus Ptah que, que se saiba, ainda não passou a
Tah.
Lastimável
e, por tudo isto, denunciável.
Novembro
de 2018
Henrique Salles da Fonseca
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