Alberto Gonçalves, na sua
crónica de hoje, mostra o lado amofinado, e não é o escritor de sátira que em
dois traços define casos ou figuras, em jeito caricatural que nos faz rir e
admirar. Cito, como exemplo, a definição de Centeno, que a minha irmã apontou
no nosso encontro de 5ª f., em risada incontível –“ ergueram o dr.
Centeno a algo diferente de uma nulidade com dentes” ou
do dr. Louçã e o prof. Freitas, “intelectuais” na perspectiva de um
maquinista da CP”, mas são inúmeras as sínteses contundentes do
seu azedume inflexível contra a nossa estreiteza em tantos campos.
O texto de hoje provocou extensos comentários que transcrevi com gosto, por
me parecerem pessoas sábias e experimentadas, os seus comentadores, sobre o tom
impecavelmente bem estruturado do seu discurso na reflexão contra uma esquerda
que vilipendia gratuitamente a “direita escandalosa”, no seu
radicalismo, racismo, etc, etc .
Um mimo, sempre, de excelente prosa, anexada a um pensamento de
excelente configuração argumentativa, que apetece reler e fixar.
CRÓNICA: A
“direita do Observador”, ou Eu não sabia de nada /premium
ALBERTO
GONÇALVES OBSERVADOR,
10/11/18
Já chega que os eleitores brasileiros,
americanos, ingleses, italianos ignorem os alertas da esquerda e façam o que
lhes apetece. Não há direito que um jornal, para cúmulo português, repita a
afronta.
Portugal é um lugar governado por um caldo de leninistas e
oportunistas, onde a corrupção reina nas altas e nas baixas esferas, a economia
afunda às mãos de irresponsáveis, o fisco saqueia o que pode e não deveria
poder, a Justiça é distorcida por interesses medonhos, a oposição exprime-se em
alemão, a bola adormece as massas, os “media” servem os senhores e o presidente
foge de qualquer sílaba que comprometa os índices de popularidade. É natural que a “inteligência” caseira,
provavelmente o eufemismo do milénio, se dedique em simultâneo a debater,
perdão, a bater no maior flagelo nacional: a “direita”.
Em oito dias, publicaram-se cerca
de 174 artigos de opinião acerca dessa calamidade. Só na imprensa. Sem “cabo”, esforço-me, não muito, por imaginar as
centenas de comentadores televisivos que se dignaram ceder um pouco do seu
tempo, por regra dedicado a criticar árbitros ou exaltar ministros, em prol de
tema tão sujo. Todos juntos, concluíram que, dado que não se demarcou
suficientemente do sr. Bolsonaro e antes não se demarcara suficientemente do
sr. Trump, a “direita” é radical, fascista e predisposta ao ódio. E eles odeiam
gente assim.
A bem da verdade, noto que a
“inteligência”, bonito sinónimo de “esquerda”, não condena a “direita” em peso.
A esquerda exclui da condenação diversas “direitas”, a saber: a “direita
moderada”, leia-se a direita que era “radical” quando ganhava eleições; a
“direita democrática”, leia-se a direita que cala e consente os desvarios da
esquerda; a “direita civilizada”, leia-se a direita desejosa de fazer com a
esquerda as pontes e os viadutos que a esquerda não faria com a direita nem
morta; e a “direita decente”, leia-se a direita de comunistas e socialistas
que, sem que alguém acredite, se dizem de direita para usufruir da legitimidade
de insultar diária e obsessivamente a direita. As referidas direitas são
toleráveis e susceptíveis de serem convidadas a assinar alguma petição contra a
direita que falta, a alt-right, a direita intolerável, neoliberal, misógina,
xenófoba e racista e, agora em coro, fascista: a “direita do Observador”.
Mal percebi que a aflição da esquerda conscienciosa e humanista se
resumia à tal “direita do Observador”, a minha primeira reacção foi de
entusiasmo revolucionário: “É varrer
essa cambada!”. A minha segunda reacção foi reparar que escrevo no Observador, logo integro a cambada a varrer.
Acho estranho enfiar numa carapuça ideológica as dezenas de pessoas que
trabalham ou publicam no Observador, cuja vasta maioria nem conheço. Principalmente,
estranho que me atribuam uma característica em que nunca reparei. Não sou religioso. Não aprecio patriotismos
ou nacionalismos. Não prezo especialmente os “valores da família”. Não desejo
conservar grande coisa. Não me perturbam (nem me excitam) o aborto, o casamento
gay ou a despenalização das drogas. Valha-me Deus (força de expressão): nem
sequer suporto touradas. E – vejam lá – aceito com bonomia a existência do
Estado, na medida em que, na respectiva ausência, não haveria quem recolhesse o
dinheiro indispensável à existência do Estado e dos que vivem a roçar-se nele.
De direita, eu? Jamais me ocorreu semelhante ideia. Sucede
apenas que detesto a fúria colectivista, o fervor dogmático, a aversão à
liberdade, a propensão para a generosidade com os bens alheios, a prepotência,
a hipocrisia, a alucinação, a ignorância e a infantilidade que definem
sobretudo a esquerda. Daí a marchar
nas fileiras da direita vai um salto considerável, possível unicamente num país
em que bancários financiam a Festa do “Avante!” e simpatizantes de
totalitarismos sobem (?) ao Banco de Portugal, ao Conselho de Estado e, em
suma, ao “centro”. Mas isto sou
eu a falar. Naturalmente, a opinião que interessa é a da esquerda, e a esquerda
entende que o Observador é um “projecto” (sic) maligno, destinado a controlar a
Terra ou, no mínimo, a desobedecer às directivas da esquerda.
É um ultraje excessivo. Já chega
que os eleitores brasileiros, americanos, ingleses, alemães, italianos e etc.
ignorem os alertas da nossa esquerda e continuem a fazer o que lhes apetece.
Não há direito que um jornal, para cúmulo português, repita a afronta. Aliás, “jornal”, vírgula. Com típico
pluralismo, alguma esquerda exige em público que se retire ao Observador o estatuto de “órgão de comunicação
social”. Com típica bondade, a esquerda que sobra exige em privado a reeducação dos colaboradores em campos
apropriados de modo a que, um dia, o Observador alcance a isenção de um
“Público”, de um “Expresso” ou de cinco “DN” (paz à sua alma).
Não partilho a esperança ou o altruísmo. Por um lado, sinto-me
traído, visto que o Observador me convidou sem me prevenir para os tenebrosos
planos de infiltração ideológica. Por outro, penso sinceramente que as
panaceias são escusadas. É preciso agir com firmeza, acender os archotes
(simbólicos) e partir para as perseguições, os saneamentos, as mocadas na
cabeça (literais). Como na saudosa época do “macarthismo”, ou do “gonçalvismo”
para evitar importações, vamos começar a nomear nomes. Segue em anexo, junto
com a confissão de arrependimento, o meu. Os restantes estão na ficha técnica.
COMENTÁRIOS:
Manuel Lisboa XII: Confissão
confusa do autor. Constatação metafísica. Problemática...será? Não. Seja claro:
o totalitarismo da extrema-esquerda esconde-se em juras de boas intenções e de
promessas repetidas de que representa o povo, quando se serve a si própria,
exclusivamente. A esquerda portuguesa, nomeadamente, os comunistas e aqueles
que da esquerda se confundem com a pior extrema direita, auto-intitulados de
"bloco de esquerda", vivem de subsídios de estado. Trabalhar, está
quieto! Portanto e por favor, mantenha o habitual tom verrinoso e não se
amofine...nem iluda. Afinal, ninguém é completamente independente ou sequer
indiferente...mesmo quando dizem que são.
Cipião Numantino: Ora nem mais, caro AG. Arregimente-se a esquerda, revolucionária ou
parasitária (não será tudo a mesma coisa?), assente-se um alardo à maneira
medieval e instale-se uma espécie de divisa tão cara aos Marat e Robespierres
da revolução sanguinária em França.
No estilo, agora mais hodierno
do grito, "enforque-se o último padre, com as tripas do último rei"! Desmonte-se
e destrua-se a nova Bastilha contra-revolucionária que dá pelo hediondo nome de
Observador, esse ninho de víboras que enfrentam e afrontam os poderes dos novos
citoyens revolucionários. Rolem cabeças. Chame-se de novo pelo Sr.
Joseph-Ignace Guillotin, e exija-se-lhe que coloque outra vez, e com renovado
vigor, a funcionar o seu gingarelho de cortar cabeças.
Eleve-se, depois, Monsieur da
Louçã, à santidade absoluta tal como se fez com Jean-Paul Marat que, de fautor
e actor da liquidação da religião em França e de uma mortandade atroz, foi
santificado e adorado como um deus pelos seus prosélitos e comparado e alçado a
um novo Jesus Cristo. Liquidem-se os recalcitrantes e instale-se um novo regime
a que os seus próprios criadores chamaram o reino do terror.
Se as gentes do Observador
resistirem, faça-se como à época se fez aos girondinos de Lyon ou Vendeia, onde
foi morto tudo o que mexesse.
É esta a sanha e a senha que
move estes actuais jacobinos contra o Observador. As mesmíssimas vontades. O
mesmo zelo e fervor colectivista e estatista. Deixem-nos esticar-se e teremos
por aí o terror à solta.
Os novos jacobinos, ainda por
cima militantemente hedonistas, sempre, assim nos relata a História, gostaram
de instalar o terror e amarfanharem toda a simples nesga de liberdade
individual.
Tudo em prol do colectivismo.
Tudo, em exclusividade, pugnando pelo estatismo. Tudo tentando instalar o sócio-construtivismo.
O que nos vale a todos nós é que se trata de uma trupe de alucinados. Não fora
isso, e o jacobinismo já andaria por aí à solta trucidando tudo e todos,
incluindo muitos daqueles que sempre caminharam a seu lado.
Para muitos de nós sabemos bem
que uma extensa franja de esquerdistas, amantes do reviralho, são meros
psicopatas. E é justamente deste tipo de gente que são paridos os Robespierres,
os Marat, os Estalines, os Pol Pot e os Ches.
A outros, como Cunhal, só
lhes faltou o ensejo e a oportunidade, já que a vontade foi aparentemente a
mesma. Dê-se uma oportunidade a um convicto
esquerdista e teremos ali um hipotético ditador, amante dilecto de qualquer
tipo de ditaduras colectivistas. E quando se junta uma acelerada psicopatia a
uma eventual latente esquizofrenia, então, além de ditadores, teremos
assassinos ou mesmo genocidas em potência.
Como alguém já escreveu, não há
comunistas bons ou maus. Há, tão simplesmente, comunistas! Que, tal como na
fábula do escorpião, nem sequer picam por intrínseca maldade, mas sim porque
está na sua génese. E é isso, é justamente isso, que os torna imensamente
perigosos!...
Maria L Gingeira: Tem toda a razão, Isto está a
chegar a um ponto que nem nos tempos do PREC. Obrigam-nos a ter de reafirmar
convicções mas criado que está um formato antecipado de as subverter em “coisa
má”, qualquer que seja a nossa posição desalinhada, somos logo “apedrejados”.
Agora que tenho estado no Brasil e vejo à distância toda essa onda que pretende
levar tudo à frente percebo melhor as estratégias mal intencionadas. Mas também
aprendi neste tempo que cá estou e que coincidiu com a campanha eleitoral e
eleições, que o quarto poder está a perder para as redes sociais. Para o bem
e para o mal.
Miguel
Cardoso: Como escrevi na notícia sobre uma das
preocupadas profissionais que fazem do combate ao fascismo, os novos Dom
Quixotes, um modo de ganhar a vida, no caso a Marisa Matias, acho uma ternura
ver os que não se demarcam dos lenines, dos estalines, do trotskis, ou mesmo
dos chavez, dos maduros ou dos castros, os que não se preocupam, que não perdem
uma hora de sono ou gastam a unha no teclado com as muitas ditaduras
sanguinárias socialistas que continuam a devastar a vida de milhares de milhões
de seres humanos, estarem muito preocupados com uma ideologia que acabou com a
queda do Pinochet, é revelador do mundo ao contrário que vive a nossa extrema
esquerda delirante provinciana e terceiro mundista, o mundo dos torquemadas de
esplanada.
Pelo menos os Trumpsters e os
Bolsonaros, filhos ideológico desta gente, e que têm sobre eles a
vantagem de serem claros como água sobre as enormidades em que acreditam,
fizeram-nos o favor de fazer de trazer à luz do dia uma certa esquerda tida
como menos radical, que mora no PS, de mostrá-los em todo o seu
esplendor. É claro que o radicalismo nessa esquerda sempre existiu, sempre
esteve lá, umas vezes mais disfarçado, porque não se ganhavam eleições com
radicalismos, mas foi sempre claro os que os senadores como o Alegre ou o
Ferro, ou os young turks como o Galambster, a Isabelinha ou o Pedro Nuno Santos
pensavam, escreveram-no e disseram-no sem pejo. Agora subiram esse radicalismo
um notch, porque no fundo eles querem, eles precisam dos Trumpsters, sem
trincheira não são nada, porque na governação nunca foram nada.
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