sábado, 10 de novembro de 2018

Hora de recreio


Alberto Gonçalves, na sua crónica de hoje, mostra o lado amofinado, e não é o escritor de sátira que em dois traços define casos ou figuras, em jeito caricatural que nos faz rir e admirar. Cito, como exemplo, a definição de Centeno, que a minha irmã apontou no nosso encontro de 5ª f., em risada incontível –“ ergueram o dr. Centeno a algo diferente de uma nulidade com dentes ou do dr. Louçã e o prof. Freitas, intelectuais” na perspectiva de um maquinista da CP”, mas são inúmeras as sínteses contundentes do seu azedume inflexível contra a nossa estreiteza em tantos campos.

O texto de hoje provocou extensos comentários que transcrevi com gosto, por me parecerem pessoas sábias e experimentadas, os seus comentadores, sobre o tom impecavelmente bem estruturado do seu discurso na reflexão contra uma esquerda que vilipendia gratuitamente a “direita escandalosa”, no seu radicalismo, racismo, etc, etc .
 Um mimo, sempre, de excelente prosa, anexada a um pensamento de excelente configuração argumentativa, que apetece reler e fixar.
CRÓNICA: A “direita do Observador”, ou Eu não sabia de nada /premium
ALBERTO GONÇALVES                 OBSERVADOR, 10/11/18
Já chega que os eleitores brasileiros, americanos, ingleses, italianos ignorem os alertas da esquerda e façam o que lhes apetece. Não há direito que um jornal, para cúmulo português, repita a afronta.
Portugal é um lugar governado por um caldo de leninistas e oportunistas, onde a corrupção reina nas altas e nas baixas esferas, a economia afunda às mãos de irresponsáveis, o fisco saqueia o que pode e não deveria poder, a Justiça é distorcida por interesses medonhos, a oposição exprime-se em alemão, a bola adormece as massas, os “media” servem os senhores e o presidente foge de qualquer sílaba que comprometa os índices de popularidade. É natural que a “inteligência” caseira, provavelmente o eufemismo do milénio, se dedique em simultâneo a debater, perdão, a bater no maior flagelo nacional: a “direita”.
Em oito dias, publicaram-se cerca de 174 artigos de opinião acerca dessa calamidade. Só na imprensa. Sem “cabo”, esforço-me, não muito, por imaginar as centenas de comentadores televisivos que se dignaram ceder um pouco do seu tempo, por regra dedicado a criticar árbitros ou exaltar ministros, em prol de tema tão sujo. Todos juntos, concluíram que, dado que não se demarcou suficientemente do sr. Bolsonaro e antes não se demarcara suficientemente do sr. Trump, a “direita” é radical, fascista e predisposta ao ódio. E eles odeiam gente assim.
A bem da verdade, noto que a “inteligência”, bonito sinónimo de “esquerda”, não condena a “direita” em peso. A esquerda exclui da condenação diversas “direitas”, a saber: a “direita moderada”, leia-se a direita que era “radical” quando ganhava eleições; a “direita democrática”, leia-se a direita que cala e consente os desvarios da esquerda; a “direita civilizada”, leia-se a direita desejosa de fazer com a esquerda as pontes e os viadutos que a esquerda não faria com a direita nem morta; e a “direita decente”, leia-se a direita de comunistas e socialistas que, sem que alguém acredite, se dizem de direita para usufruir da legitimidade de insultar diária e obsessivamente a direita. As referidas direitas são toleráveis e susceptíveis de serem convidadas a assinar alguma petição contra a direita que falta, a alt-right, a direita intolerável, neoliberal, misógina, xenófoba e racista e, agora em coro, fascista: a “direita do Observador”.
Mal percebi que a aflição da esquerda conscienciosa e humanista se resumia à tal “direita do Observador”, a minha primeira reacção foi de entusiasmo revolucionário:É varrer essa cambada!”. A minha segunda reacção foi reparar que escrevo no Observador, logo integro a cambada a varrer. Acho estranho enfiar numa carapuça ideológica as dezenas de pessoas que trabalham ou publicam no Observador, cuja vasta maioria nem conheço. Principalmente, estranho que me atribuam uma característica em que nunca reparei. Não sou religioso. Não aprecio patriotismos ou nacionalismos. Não prezo especialmente os “valores da família”. Não desejo conservar grande coisa. Não me perturbam (nem me excitam) o aborto, o casamento gay ou a despenalização das drogas. Valha-me Deus (força de expressão): nem sequer suporto touradas. E – vejam lá – aceito com bonomia a existência do Estado, na medida em que, na respectiva ausência, não haveria quem recolhesse o dinheiro indispensável à existência do Estado e dos que vivem a roçar-se nele.
De direita, eu? Jamais me ocorreu semelhante ideia. Sucede apenas que detesto a fúria colectivista, o fervor dogmático, a aversão à liberdade, a propensão para a generosidade com os bens alheios, a prepotência, a hipocrisia, a alucinação, a ignorância e a infantilidade que definem sobretudo a esquerda. Daí a marchar nas fileiras da direita vai um salto considerável, possível unicamente num país em que bancários financiam a Festa do “Avante!” e simpatizantes de totalitarismos sobem (?) ao Banco de Portugal, ao Conselho de Estado e, em suma, ao “centro”. Mas isto sou eu a falar. Naturalmente, a opinião que interessa é a da esquerda, e a esquerda entende que o Observador é um “projecto” (sic) maligno, destinado a controlar a Terra ou, no mínimo, a desobedecer às directivas da esquerda.
É um ultraje excessivo. Já chega que os eleitores brasileiros, americanos, ingleses, alemães, italianos e etc. ignorem os alertas da nossa esquerda e continuem a fazer o que lhes apetece. Não há direito que um jornal, para cúmulo português, repita a afronta. Aliás, “jornal”, vírgula. Com típico pluralismo, alguma esquerda exige em público que se retire ao Observador o estatuto de “órgão de comunicação social”. Com típica bondade, a esquerda que sobra exige em privado a reeducação dos colaboradores em campos apropriados de modo a que, um dia, o Observador alcance a isenção de um “Público”, de um “Expresso” ou de cinco “DN” (paz à sua alma).
Não partilho a esperança ou o altruísmo. Por um lado, sinto-me traído, visto que o Observador me convidou sem me prevenir para os tenebrosos planos de infiltração ideológica. Por outro, penso sinceramente que as panaceias são escusadas. É preciso agir com firmeza, acender os archotes (simbólicos) e partir para as perseguições, os saneamentos, as mocadas na cabeça (literais). Como na saudosa época do “macarthismo”, ou do “gonçalvismo” para evitar importações, vamos começar a nomear nomes. Segue em anexo, junto com a confissão de arrependimento, o meu. Os restantes estão na ficha técnica.
COMENTÁRIOS:
Manuel Lisboa XII:  Confissão confusa do autor. Constatação metafísica. Problemática...será? Não. Seja claro: o totalitarismo da extrema-esquerda esconde-se em juras de boas intenções e de promessas repetidas de que representa o povo, quando se serve a si própria, exclusivamente. A esquerda portuguesa, nomeadamente, os comunistas e aqueles que da esquerda se confundem com a pior extrema direita, auto-intitulados de "bloco de esquerda", vivem de subsídios de estado. Trabalhar, está quieto! Portanto e por favor, mantenha o habitual tom verrinoso e não se amofine...nem iluda. Afinal, ninguém é completamente independente ou sequer indiferente...mesmo quando dizem que são.
Cipião Numantino: Ora nem mais, caro AG. Arregimente-se a esquerda, revolucionária ou parasitária (não será tudo a mesma coisa?), assente-se um alardo à maneira medieval e instale-se uma espécie de divisa tão cara aos Marat e Robespierres da revolução sanguinária em França. 
No estilo, agora mais hodierno do grito, "enforque-se o último padre, com as tripas do último rei"! Desmonte-se e destrua-se a nova Bastilha contra-revolucionária que dá pelo hediondo nome de Observador, esse ninho de víboras que enfrentam e afrontam os poderes dos novos citoyens revolucionários. Rolem cabeças. Chame-se de novo pelo Sr. Joseph-Ignace Guillotin, e exija-se-lhe que coloque outra vez, e com renovado vigor, a funcionar o seu gingarelho de cortar cabeças.
Eleve-se, depois, Monsieur da Louçã, à santidade absoluta tal como se fez com Jean-Paul Marat que, de fautor e actor da liquidação da religião em França e de uma mortandade atroz, foi santificado e adorado como um deus pelos seus prosélitos e comparado e alçado a um novo Jesus Cristo. Liquidem-se os recalcitrantes e instale-se um novo regime a que os seus próprios criadores chamaram o reino do terror.
Se as gentes do Observador resistirem, faça-se como à época se fez aos girondinos de Lyon ou Vendeia, onde foi morto tudo o que mexesse.
É esta a sanha e a senha que move estes actuais jacobinos contra o Observador. As mesmíssimas vontades. O mesmo zelo e fervor colectivista e estatista. Deixem-nos esticar-se e teremos por aí o terror à solta.
Os novos jacobinos, ainda por cima militantemente hedonistas, sempre, assim nos relata a História, gostaram de instalar o terror e amarfanharem toda a simples nesga de liberdade individual.
Tudo em prol do colectivismo. Tudo, em exclusividade, pugnando pelo estatismo. Tudo tentando instalar o sócio-construtivismo. O que nos vale a todos nós é que se trata de uma trupe de alucinados. Não fora isso, e o jacobinismo já andaria por aí à solta trucidando tudo e todos, incluindo muitos daqueles que sempre caminharam a seu lado.
Para muitos de nós sabemos bem que uma extensa franja de esquerdistas, amantes do reviralho, são meros psicopatas. E é justamente deste tipo de gente que são paridos os Robespierres, os Marat, os Estalines, os Pol Pot e os Ches.
A outros, como Cunhal, só lhes faltou o ensejo e a oportunidade, já que a vontade foi aparentemente a mesma. Dê-se uma oportunidade a um convicto esquerdista e teremos ali um hipotético ditador, amante dilecto de qualquer tipo de ditaduras colectivistas. E quando se junta uma acelerada psicopatia a uma eventual latente esquizofrenia, então, além de ditadores, teremos assassinos ou mesmo genocidas em potência.
Como alguém já escreveu, não há comunistas bons ou maus. Há, tão simplesmente, comunistas! Que, tal como na fábula do escorpião, nem sequer picam por intrínseca maldade, mas sim porque está na sua génese. E é isso, é justamente isso, que os torna imensamente perigosos!...
Maria L Gingeira: Tem toda a razão, Isto está a chegar a um ponto que nem nos tempos do PREC. Obrigam-nos a ter de reafirmar convicções mas criado que está um formato antecipado de as subverter em “coisa má”, qualquer que seja a nossa posição desalinhada, somos logo “apedrejados”. Agora que tenho estado no Brasil e vejo à distância toda essa onda que pretende levar tudo à frente percebo melhor as estratégias mal intencionadas. Mas também aprendi neste tempo que cá estou e que coincidiu com a campanha eleitoral e eleições, que o quarto poder está a perder para as redes sociais. Para o bem e para o mal.
Miguel Cardoso: Como escrevi na notícia sobre uma das preocupadas profissionais que fazem do combate ao fascismo, os novos Dom Quixotes, um modo de ganhar a vida, no caso a Marisa Matias, acho uma ternura ver os que não se demarcam dos lenines, dos estalines, do trotskis, ou mesmo dos chavez, dos maduros ou dos castros, os que não se preocupam, que não perdem uma hora de sono ou gastam a unha no teclado com as muitas ditaduras sanguinárias socialistas que continuam a devastar a vida de milhares de milhões de seres humanos, estarem muito preocupados com uma ideologia que acabou com a queda do Pinochet, é revelador do mundo ao contrário que vive a nossa extrema esquerda delirante provinciana e terceiro mundista, o mundo dos torquemadas de esplanada. 
Pelo menos os Trumpsters e os Bolsonaros, filhos ideológico desta gente, e que têm sobre eles a vantagem de serem claros como água sobre as enormidades em que acreditam, fizeram-nos o favor de fazer de trazer à luz do dia uma certa esquerda tida como menos radical,  que mora no PS, de mostrá-los em todo o seu esplendor. É claro que o radicalismo nessa esquerda sempre existiu, sempre esteve lá, umas vezes mais disfarçado, porque não se ganhavam eleições com radicalismos, mas foi sempre claro os que os senadores como o Alegre ou o Ferro, ou os young turks como o Galambster, a Isabelinha ou o Pedro Nuno Santos pensavam, escreveram-no e disseram-no sem pejo. Agora subiram esse radicalismo um notch, porque no fundo eles querem, eles precisam dos Trumpsters, sem trincheira não são nada, porque na governação nunca foram nada.


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