sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O gato escondido…



Uma crónica de Rui Ramos que traduz ampla consciência na definição das regras por que se rege o BE, e que lhe mereceu cerca de três centenas de comentadores, a maioria de apoio aos considerandos do cronista, correctos e lúcidos, que mostram quanto o desprezo de António Costa pelo povo português, que não vai nos seus truques de sobrevivência política e assim o desmascara, na sua política de alianças destruidoras do sentido pátrio, lhes fere bem fundo os espíritos, que julgo serem ainda os da maioria. Tudo isto é triste. Talvez por conta do fado tão antigo e de miséria, para mais alargado a património da Humanidade.
Onde está a moderação do Bloco? /premium
RUI RAMOS                    
OBSERVADOR, 13/11/2018
O Bloco não está mais moderado: está até, na recusa do pluralismo, muito mais radical. Antes, atacava as “políticas de direita”. Agora, ataca a ideia de que possa haver uma “direita”.
A imprensa portuguesa é muito generosa: só assim se explica que, contra toda a evidência, tivesse dedicado um fim de semana inteiro à procura de “moderação” e “maturidade” no congresso do Bloco de Esquerda, tal como, no Verão, houve quem encontrasse “empreendedorismo” no caso Robles. Como explicar tanta boa vontade?
O equívoco tem talvez esta razão de ser: durante anos, o Bloco serviu aos jornalistas uma dieta infatigável de citações contra o Partido Socialista, a União Europeia, o euro, e os compromissos financeiros do país: o PS só tinha “políticas de direita”, a UE era neo-liberal, o euro servia apenas para sufocar Portugal, e a dívida pública devia ser “reestruturada”, isto é, renegada.
Acontece que, desde 2015, o BE vota os orçamentos do PS, como parte da chamada “geringonça”. Em conformidade, temos ouvido menos sobre as “políticas de direita” socialistas, a saída do euro ou a reestruturação da dívida. O que não quer dizer que não tenhamos ouvido alguma coisa, e que sempre que ouvimos, nada tenha mudado, nem sequer acerca do PS, cujos orçamentos, segundo descobrimos agora, o BE só vota porque entretanto terá “derrotado” o “programa de Mário Centeno”. Mas noutras coisas, sim, o BE está mais contido: por exemplo, no que diz respeito a “corrupção” e irregularidades, assuntos sobre o quais costumava ser o primeiro a aparecer aos gritos nos jornais. Agora, sobre Tancos, não quer “ruído“. É verdade: Francisco Louçã falou de “corrupção”, mas a “corrupção” que o incomoda é, muito convenientemente, a dos “submarinos” e dos “vistos Gold”, não a da Operação Marquês.
É esta táctica que a imprensa tem confundido com uma mudança de valores. O Bloco acha que o PS é um partido verdadeiramente de esquerda? Não acha. O Bloco pensa que a integração monetária é o quadro mais adequado para desenvolver a economia portuguesa? Não pensa. Mas o Bloco, por causa do susto de 2011 e da viragem do PCP em 2015, teve de trocar a sua intransigência ritual por esta “disponibilidade para ir para o governo”um pé no poder, mesmo que torcido. Nada disto é “moderação”, no sentido de aceitação dos princípios da democracia representativa, da economia de mercado ou da integração europeia. É apenas conformismo táctico de um partido que não está, neste momento, em situação de fazer política com base na contestação frontal desses princípios.
Dir-me-ão: que importa isso, se depois o Bloco aprova os défices exigidos por Bruxelas? Importa porque o Bloco precisa de provar que os seus  votos orçamentais não podem ser substituídos por votos socialistas. E não basta aos bloquistas, naturalmente, dizer que a diferença está em mais uns euros nos salários do funcionalismo. A diferença tem de ser dramática, e viu-se em que consiste: aproveitar os “populismos” para demonizarem toda a direita e promoverem-se a si próprios como os porteiros encarregados de manter a direita de fora. No Portugal venezuelano dos bloquistas, a direita não tem lugar: “não conta para o futuro do país”. É apenas um bando de “rufias” contra os quais o Bloco se propõe erguer uma “barreira de aço”. A linguagem é significativamente soviética: tal como na URSS de Lenine, Trotsky e Estaline, os que não alinham são “rufias” (“elementos anti-sociais”). O “aço” é outra imagem desse mundo: também aparecia, por isso, na cantiga gonçalvista do Verão de 1975 (“Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço”). O PS sozinho, claro, não é de confiança enquanto “barreira de aço”. Só o Bloco pode garantir que os “rufias” não “contam”.
Não, o Bloco não está mais moderado: está até muito mais radical na rejeição do pluralismo político. Antes, atacava as “políticas de direita”. Agora, ataca a ideia de que possa haver uma “direita”. Como é óbvio, o Bloco não tem poder, por si só, para inocular a política portuguesa com este ódio de guerra civil. Tudo depende do PS. Vão os socialistas também começar a ver só “rufias” à sua direita? Em 1975, o PS de Mário Soares recusou alinhar na caça às bruxas. E hoje, que fará o PS de António Costa?

COMENTÁRIOS:
joão Pardal: Todos devem conhecer a estória do escorpião e do sapo por isso falar de moderação é algo que não existe no BE é que com papas e bolos se enganam os tolos.
Maria Emília Santos Santos : Quando o PS convidou o BE para governar com ele, foi a total declaração aos portugueses e ao mundo, de que não está minimamente preocupado com o desenvolvimento e bem-estar do país, mas antes, isso sim, com o facto de ser ele a governar, para decidir o que bem lhe aprouver!
Natália Guerreiro Constâncio Fernandes: Pode-se confiar em Trotskystas? O ADN está lá, mesmo que seja escondido em lindas frases de apoio aos mais pobres e desfavorecidos! Esse de comunistas e afins, traduz-se invariavelmente em curto ou longo prazo em descalabro para as economias! Só os acéfalos ou doutrinados, acreditam nesses sistemas, já que existem tantos exemplos, como Venezuela, Brasil, as mais recentes vítimas do socialismo! O desesperante é ver esta praga, chegar pela mão do maior oportunista da história em Portugal e que dá pelo nome de António Costa!
jose Maria: Mais uma vez, Rui Ramos, muitos parabéns pois é uma das raras vozes da razão aqui nos media portugueses. É muito bom saber que existem ainda pessoas lúcidas e coerentes no meio jornalístico por muito pouco que sejam.
Maria Mendes: Rui Ramos, desculpe...mas não dê tanta importância a um partido político que se descaracterizou completamente! Aquilo nem é esquerda nem direita...nem é peixe nem carne...é um grupo de assalariados do Louçã, pagos pelos contribuintes. E para os identificar claramente temos o caso Robles...podem enganar uns imberbes confusos...mas só esses!!!
Paulo Silva > Maria Mendes: Queira desculpar, mas esse é o segredo do BE. Parecer o que não é. Parecer que não tem ideologia quando está pejado dela. Porque a ideologia de esquerda, minha cara Maria Mendes, não se resume à velha “luta de classes”, que uma vez ou outra tem agora aflorado nos discursos do BE. “Política de Identidades”, “Teoria de Género”, “Teoria Crítica”, “Marxismo Cultural”, Antonio Gramsci, György Lukács, Herbert Marcuse, Michel Foucault, etc, etc. são tudo conceitos e nomes que os portugueses deviam explorar e conhecer melhor (incluindo eu próprio).para identificarem algo que está mesmo à frente dos narizes. É nessas cartilhas que o BE vai beber muita inspiração. O BE e não só. A infiltrada Isabel Moreira já disse que gostava muito de Marx, mas também de Foulcout. É verdade que até à queda do Muro a esquerda portuguesa foi dominada pelas ortodoxias pró-Moscovo, pró-Havana, pró-Pequim, pró-Tirana, etc. Mas depois das feridas lambidas os náufragos recolhidos nas jangadas da “Plataforma de Esquerda” e do “Política XXI”, protótipos do BE, passaram à fase de reciclagem, acertando o rumo com as correntes da new-left que grassam noutros países ocidentais há décadas. Numa coisa tem razão. As ideologias escatológicas, como são a maioria das da esquerda revolucionária, só servem para enrolar papalvos... as nomenklaturas agradecem sempre.
Joaquim Zacarias: Os bloquistas utilizam todos os meios mais hipócritas que se possam imaginar,para conseguirem os fins que se propõem atingir.Se eles considerarem vantajoso, ainda vamos vê-los a ir à missa e comungar,como fez o comunista Haddad,nas eleições no Brasil,acompanhado por vários elementos pertencentes à quadrilha  que dá pelo nome de PT.

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