sábado, 17 de novembro de 2018

Ópios para os nossos ócios



Não, não são aqueles de que trata a crónica os responsáveis pelos nossos ócios, que esses provocam indignações mais ou menos semelhantes às de Cipião Numantino, que ruge na sua/nossa plateia, ao resumi-los. Porque todos rugimos na plateia. Em vão, e sem ócio. Não, não são esses ópios, mas é apenas a crónica de Alberto Gonçalves, que os explora com o virtuosismo mefistofélico de sempre. Para nosso ócio, de puro deleite.
Ópios do povo /premium
OBSERVADOR, 17/11/18
Um golo do Alcochetense garante sete segundos de festividades; o já lendário “terrorismo” de Alcochete implica 700 horas de emissões televisivas quase ininterruptas, de longe um terror mais desumano.
Ópio primeiro
O futebol não é isto, diz-se. Então é o quê? Parece que, descontados os dirigentes, as “claques”, os comentadores, os empresários, as “estruturas”, o sr. Bruno de Carvalho, a “clubite”, a Liga daquilo, a Federação daqueloutro, a delinquência, a corrupção, as arbitragens, os “e-mails”, o fanatismo, a tutela, a cobiça, os canais generalistas e especializados, o sr. “Mustafá”, a violência, as trafulhices, o ódio, os pontapés na gramática e os casos judiciais, o futebol é uma coisa linda.
Eis a questão: será assim tão linda que justifique sofrermos as calamidades acima? E eis a resposta: não, evidentemente que não.
Conforme cada entendido no ramo não se cansa de repetir, o futebol provoca uma quantidade de efeitos secundários e malignos bastante superior aos benefícios que induz. É igual a tomar um medicamento para a micose que assegurasse cataratas, perna dormente e dois AVC. Ou a mandar milhares de portugueses morrer na Grande Guerra apenas para que, um século depois, “estadistas” sem pudor se divertissem a achincalhar a memória dos desgraçados. Um golo do Alcochetense garante, no máximo, sete segundos de festividades; o já lendário “terrorismo” de Alcochete implica setecentas horas de emissões televisivas quase ininterruptas, de longe um terror mais desumano.
Parafraseando os profissionais da indignação, é, ou deveria ser, tempo de gritar “Basta!”. Com a possível ressalva do PS, que se choca com a “festa brava” a ponto de baixar o IVA da mesma, há por aí resmas de excitados desejosos de proibir as touradas, de facto uma actividade pateta mas que só prejudica touros. Porque é que não se proíbe o futebol, cuja ubiquidade prejudica as pessoas, transformadas em bovinos no processo?
É fácil. Porque sem a sujeição obsessiva à bola toda a gente poderia reparar no resto. E o resto é a anedota de Tancos, os hospitais arruinados, os “media” submissos, as corporações à solta, a censura a céu aberto, as regalias do “banqueiro” Salgado, a impunidade da extrema-esquerda, os juízes sorteados até que o sorteio acerte, os fogos sem fumo ou responsáveis, os invertebrados que fazem da elasticidade uma carreira, o inqualificável dr. Costa, o qualificável prof. Marcelo, o dr. Rio, o dr. Ferro, as carmelitas do Bloco, etc. Realmente, o futebol não é isto. Isto é o país, e é muitíssimo pior.
Ópio segundo
Descobri há dias a existência de um ministro do Ambiente e da Transição Energética. Para que serve? Aparentemente, para recomendar à populaça contenção nos gastos. Ou, nas palavras do sr. ministro, quem quiser pagar menos IVA na electricidade só tem que baixar a potência contratada. A potência em causa não aguenta duas bocas de cerâmica? Tretas: para o sr. ministro chegam e sobram a uma família de quatro, desde que, claro, esta esteja disposta a dispensar o “conforto” (cito) e se resigne “à sua verdadeira necessidade” (cito outra vez).
Nos tenebrosos tempos da “troika”, um décimo de semelhante prepotência bastaria para encher “telejornais” com relatos de suicídios e encher salas com intérpretes da “Grândola”. Hoje a prepotência é tão normal que não ofende ninguém, não merece manchetes e afinal, não é prepotência, mas uma série de conselhos sábios. A normalidade, aliás, constrói-se devagarinho. Os combustíveis são caros? Não são nada, as pessoas é que se estragaram com mimos e desbarataram os prazeres do autocarro, da bicicleta e da carroça. A água é cara (e, para cúmulo, ilegalmente compulsiva)? Nada disso, as pessoas é que se habituaram a andar lavadas e descuraram as ancestrais virtudes do surro. E, não tarda, o mesmo princípio servirá para a comida, a roupa, a casa, a saúde e demais luxos que amoleceram o povo, o qual aos poucos se acomodará a viver com pouco. Cruel seria privar o Estado das suas verdadeiras necessidades, incluindo a de empregar, a preços justos, utilíssimos governantes.
A descida aos abismos venezuelanos não se faz por decreto súbito: faz-se com pequenos passos, descaramento, delírio, despotismo, incompetência, ganância. E a apatia de todos, que quando alcançarem a miséria material e moral já se esqueceram da viagem. A Venezuela também demorou a perceber que era a Venezuela, e agora comem (cães) e calam.
Ópio Terceiro
Se me permitem, aproveito a oportunidade para divulgar o Cannadouro 2018, a realizar hoje e amanhã no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. O certame conta com espaços de exposição, cedidos a “empresas nacionais e internacionais relacionadas com os actuais usos da cannabis e que representam toda a capacidade inovadora e empreendedora deste sector de negócios”. Entre as corporações representadas, destacam-se a E-Canabidol, a Cannabeer, a Cannativa e, naturalmente, a Loja da Maria. Noutra vertente, não podiam faltar as conferências, que “continuam a ser uma forte aposta para promover o debate público e dentro da sociedade civil em torno da utilização do cânhamo em todas as suas vertentes: industrial, recreativa e medicinal fazendo frente ao preconceito relativamente a esta planta multi-versátil”. Para abrir o apetite, refiram-se os debates “Utilização de Betão de Cânhamo na Construção”, “Cânhamo, a Alternativa às Grandes Culturas” e “Faz Esse: Gerir o Prazer e o Risco no Consumo de Canábis”. Para o final, aguarda-se com enorme expectativa a mesa-redonda “Dar Voz às Mulheres Canábicas”.
Não pergunto porque é que os organizadores oscilam entre escrever “cannabis” e “canábis”. Não pergunto porque é que, quando o assunto envolve charros, a inovação, o “empreendedorismo”, as multinacionais, os negócios e o betão passam a ser coisas espectaculares. Não pergunto como é que uma planta (ou outra porcaria qualquer) consegue ser multi-versátil. Não pergunto o que são “mulheres canábicas” nem porque é que andam caladas. E sobretudo não pergunto o que é que esta gente anda a fumar, já que seria a redundância do milénio.

COMENTÁRIO de Cipião Numantino
Mais uma estupenda crónica do AG! De chorar e deixar escoar o tempo que media até à próxima crónica que é sabido e consabido irá ser, no mínimo, tão boa como a anterior. Desta vez os ópios. Ópios consubstanciados em malta rebaldeira e mais alucinada que filhotes de Godzila raivosos e, ópios, pois então, adstritos a um povo altamente letárgico que faz da obsessiva sonolência uma espécie de desporto nacional e que poderia por aqui epitetar que "anda a dormir permanentemente na forma". Ou seja, poderia tudo resumir-se a uma seita de manjericos ganzados, que com o vapor exalado dos fumos expelidos, paralisaram a vontade de toda uma nação. A ganza nacional, por isto mesmo, já nem sequer é uma espécie de estatuto, mas sim uma elementar forma de vida elevada à conta de hipérbole. Uma figura de estilo, de tipo bailinho da Madeira onde o carrocel da vida se transmuta para um igualmente hiperbólico carrossel de fouxa mansidão. Uma fatalidade. Sem freio, nem peias! Exercido esta espécie de prólogo, ripo de competente expressão do saudoso Odorico Paraguaçu e "vamos aos finalmente".
Ópio 1- O futebol, mais que a célebre guerra do ópio em que as potências ocidentais humilharam a China com funestos resultados, aí está para dar, lavar e durar. Uma das três facetas do nosso povão, derivada do acrónimo FFF, que todos conhecemos e que caracteriza tão fortemente o pulsar e características de um povo que já foi de conquistadores e heróis.
Agora estamos reduzidos a isto. Ao oco segue-se o vazio, e o nada, vive paredes meias com o zero. Zero, sobre zero, zero soma!
Nestes conturbados tempos, os profissionais do protesto que antes empunhavam cartazes nos hospitais chamando assassino a Passos, estão neste momento encostados às boxes. Os grandoleiros, enfiaram as grandoladas quiçá num buraco algures situado no fundo das costas, e quais cigarras durante a noite, nem sequer piam. A comunada interessada e interesseira, mantém-se tipo boi a olhar para um palácio, e segue pachorrentamente ruminando o frenético entusiasmo de promover mais umas grevesitas que phodam ainda mais a vida ao parceiro que trabalha. Centeno, El Cativador, continua cativando e quem estiver a morrer nos hospitais, que se phoda também, pois se lhe der a pataleca sempre são mais uns valentes trocos da reforma que se poupam. O Dr. Costa, lá vai costando e de tourada em tourada, lá vai mandando o César Açoriano mandar uns bitaites instigando umas quantas b estas a votarem sim e não, na questão da descida do IVA das touradas, que o PS é mesmo assim, sempre de bem com Deus e com o diabo que os votos não têm farpas ou deixam de as ter, e tudo vale. O prof. Marcelo, pois claro, lá vai marcelando que isto das selfies já o estava a cansar e, agora, anda às apalpadelas com o caso de Tancos sem saber se as granadas que não foram devolvidas não estarão é mesmo escondidas ali para os lados do Pátio dos Bichos.
Enfim, como no futebol, tudo ao molho, pontapé para a frente e fé em Deus. Que eles foram para o poleiro, foi só para entrarem na orgia do poder e nunca para se chatearem.
Depois, no fundo perguntarão, tal como a rainha Maria Antonieta, o que é que a populaça quer? Se já devolveram as granadas, pelos vistos até em excesso, o que é que esta ralé chata e chungosa quer mais? Que a populaça se cale e coma mas é brioches! E se mesmo assim a canzoada continuar a ladrar, ainda mandam a tropa de choque dar-lhes um pontapé no focinho. Que chata, esta tugalhada!...
Ópio 2 - Pois é, estes ministros e secretários de estado, não param de nos surpreender. O Microfones, cedo tratou de mandar os polícias dormir fora de casa ao relento. Que ele não tem medo que os rambos do IRA, lhe vão fanar os cães. Era o que faltava! Que ministro, ainda por cima sendo xuxa, tem suficiente pedigree, para não ser atacado por defensores de cães raivosos mesmo que estes se julguem discípulos dilectos de talibans e se vistam apropriadamente à maneira do Daesh.
Por sua vez, isso da bófia chatear os cães com a sua presença, isso nunca! Que ministro xuxa tem que dormir sem barulho da canzoada, pois tem de pensar como deverá proteger a bandidagem de ser fotografada e ajudar os Drs. Costa e Centeno, como há-de esmifrar mais umas lecas ao contribuinte e desgraçar mais umas quantas empresas.
Sobre o ministro do Ambiente, pois claro, está a ambientar-se. Que xuxa é mais lento de entendimento do que cardume de sardinha a desviar-se de meia dúzia de golfinhos.
A factura da electricidade é obscena e a segunda mais cara de toda a Europa? Pois, bem feito! O povão que coma brioches, perdão, queria eu dizer que reduza a potência.
Mas, alguém o avisará, um aparelhito ou dois qualquer atira logo com a energia abaixo: Ora, ora, todos uns pategos que não sabem que existe por aí carvão e lenha para apanhar e que até dá jeito para evitar fogos. E alguém insistirá que em apartamentos não se pode fazer fogueiras: resposta adiada. O homem, à boa maneira xuxa embatucou, e deverá ter pensado telefonar ao Guterres para lhe ajudar a fazer contas.
Em voz off, lá do fundo da plateia, alguém gritou que surgiu recentemente um estudo europeu que apontava Portugal, como sendo o país onde mais se morria por frio no inverno, mesmo sendo o país que tem clima mais ameno! Mas o homem já se ia embora e não ouviu mais ninguém. A malta hipócrita do BE e PCP rodearam-no e evitaram a humilhação. Que isto, de amigos, são mesmo para as ocasiões!... ………..

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