Não, não são aqueles de que
trata a crónica os responsáveis pelos nossos ócios, que esses provocam indignações
mais ou menos semelhantes às de Cipião Numantino, que ruge na sua/nossa
plateia, ao resumi-los. Porque todos rugimos na plateia. Em vão, e sem ócio. Não,
não são esses ópios, mas é apenas a crónica de Alberto Gonçalves, que os
explora com o virtuosismo mefistofélico de sempre. Para nosso ócio, de puro deleite.
Ópios do povo /premium
OBSERVADOR, 17/11/18
Um golo do Alcochetense garante
sete segundos de festividades; o já lendário “terrorismo” de Alcochete
implica 700 horas de emissões televisivas quase ininterruptas, de longe um
terror mais desumano.
Ópio primeiro
O futebol não é isto, diz-se.
Então é o quê? Parece que, descontados os dirigentes, as “claques”, os
comentadores, os empresários, as “estruturas”, o sr. Bruno de Carvalho, a
“clubite”, a Liga daquilo, a Federação daqueloutro, a delinquência, a
corrupção, as arbitragens, os “e-mails”, o fanatismo, a tutela, a cobiça, os
canais generalistas e especializados, o sr. “Mustafá”, a violência, as
trafulhices, o ódio, os pontapés na gramática e os casos judiciais, o futebol é
uma coisa linda.
Eis a questão: será assim tão linda que justifique
sofrermos as calamidades acima? E
eis a resposta: não, evidentemente que não.
Conforme cada entendido no ramo não se cansa de repetir, o futebol
provoca uma quantidade de efeitos secundários e malignos bastante superior aos
benefícios que induz. É igual a tomar um medicamento para a
micose que assegurasse cataratas, perna dormente e dois AVC. Ou a mandar milhares de portugueses morrer
na Grande Guerra apenas para que, um século depois, “estadistas” sem pudor se
divertissem a achincalhar a memória dos desgraçados. Um golo do Alcochetense
garante, no máximo, sete segundos de festividades; o já lendário “terrorismo” de Alcochete
implica setecentas horas de emissões televisivas quase ininterruptas, de longe
um terror mais desumano.
Parafraseando os profissionais da
indignação, é, ou deveria ser, tempo de gritar “Basta!”. Com a possível
ressalva do PS, que se choca com a “festa brava” a ponto de baixar o IVA da
mesma, há por aí resmas de excitados desejosos de proibir as touradas, de facto
uma actividade pateta mas que só prejudica touros. Porque é que não se proíbe o
futebol, cuja ubiquidade prejudica as pessoas, transformadas em bovinos no
processo?
É fácil. Porque sem a sujeição
obsessiva à bola toda a gente poderia reparar no resto. E o
resto é a anedota de Tancos, os hospitais arruinados, os “media” submissos, as
corporações à solta, a censura a céu aberto, as regalias do “banqueiro”
Salgado, a impunidade da extrema-esquerda, os juízes sorteados até que o
sorteio acerte, os fogos sem fumo ou responsáveis, os invertebrados que fazem
da elasticidade uma carreira, o inqualificável dr. Costa, o qualificável prof.
Marcelo, o dr. Rio, o dr. Ferro, as carmelitas do Bloco, etc. Realmente, o
futebol não é isto. Isto é o país, e é muitíssimo pior.
Ópio
segundo
Descobri há dias a existência de
um ministro do Ambiente e da Transição Energética. Para que serve? Aparentemente, para recomendar à populaça
contenção nos gastos. Ou, nas palavras do sr. ministro, quem quiser pagar menos
IVA na electricidade só tem que baixar a potência contratada. A potência em
causa não aguenta duas bocas de cerâmica? Tretas: para o sr. ministro chegam e
sobram a uma família de quatro, desde que, claro, esta esteja disposta a
dispensar o “conforto” (cito) e se
resigne “à sua verdadeira necessidade” (cito
outra vez).
Nos tenebrosos tempos da
“troika”, um décimo de semelhante prepotência bastaria para encher
“telejornais” com relatos de suicídios e encher salas com intérpretes da
“Grândola”. Hoje a prepotência
é tão normal que não ofende ninguém, não merece manchetes e afinal, não é
prepotência, mas uma série de conselhos sábios. A normalidade, aliás,
constrói-se devagarinho. Os combustíveis são caros? Não são nada, as pessoas é
que se estragaram com mimos e desbarataram os prazeres do autocarro, da
bicicleta e da carroça. A água é cara (e, para cúmulo, ilegalmente compulsiva)?
Nada disso, as pessoas é que se habituaram a andar lavadas e descuraram as
ancestrais virtudes do surro. E, não tarda, o mesmo princípio servirá para a
comida, a roupa, a casa, a saúde e demais luxos que amoleceram o povo, o qual
aos poucos se acomodará a viver com pouco. Cruel seria privar o Estado das suas verdadeiras necessidades,
incluindo a de empregar, a preços justos, utilíssimos governantes.
A descida aos abismos venezuelanos não se faz por decreto súbito:
faz-se com pequenos passos, descaramento, delírio, despotismo, incompetência,
ganância. E a apatia de todos, que quando alcançarem a miséria material e moral
já se esqueceram da viagem. A Venezuela também demorou a perceber que era a
Venezuela, e agora comem (cães) e calam.
Ópio
Terceiro
Se me permitem, aproveito a
oportunidade para divulgar o Cannadouro 2018, a realizar hoje e amanhã no
Centro de Congressos da Alfândega do Porto. O certame conta com espaços de exposição, cedidos a “empresas
nacionais e internacionais relacionadas com os actuais usos da cannabis e que
representam toda a capacidade inovadora e empreendedora deste sector de
negócios”. Entre as corporações representadas, destacam-se a E-Canabidol, a Cannabeer, a Cannativa e,
naturalmente, a Loja da Maria. Noutra vertente, não podiam faltar as
conferências, que “continuam a ser uma forte aposta para promover o debate público
e dentro da sociedade civil em torno da utilização do cânhamo em todas as suas
vertentes: industrial, recreativa e medicinal fazendo frente ao preconceito
relativamente a esta planta multi-versátil”. Para abrir o apetite, refiram-se os debates “Utilização de Betão de
Cânhamo na Construção”, “Cânhamo, a Alternativa às Grandes Culturas” e “Faz
Esse: Gerir o Prazer e o Risco no Consumo de Canábis”. Para o final, aguarda-se
com enorme expectativa a mesa-redonda “Dar Voz às Mulheres Canábicas”.
Não pergunto porque é que os organizadores oscilam entre escrever
“cannabis” e “canábis”. Não pergunto porque é que, quando o assunto envolve
charros, a inovação, o “empreendedorismo”, as multinacionais, os negócios e o
betão passam a ser coisas espectaculares. Não pergunto como é que uma planta
(ou outra porcaria qualquer) consegue ser multi-versátil. Não pergunto o que
são “mulheres canábicas” nem porque é que andam caladas. E sobretudo não
pergunto o que é que esta gente anda a fumar, já que seria a redundância do
milénio.
COMENTÁRIO de Cipião Numantino
Mais uma estupenda crónica do
AG! De chorar e deixar escoar o tempo que media até à próxima crónica que é
sabido e consabido irá ser, no mínimo, tão boa como a anterior. Desta vez os
ópios. Ópios consubstanciados em malta rebaldeira e mais alucinada que filhotes
de Godzila raivosos e, ópios, pois então, adstritos a um povo altamente
letárgico que faz da obsessiva sonolência uma espécie de desporto nacional e
que poderia por aqui epitetar que "anda a dormir permanentemente na
forma". Ou seja, poderia tudo resumir-se a uma seita de manjericos
ganzados, que com o vapor exalado dos fumos expelidos, paralisaram a vontade de
toda uma nação. A ganza nacional, por isto mesmo, já nem sequer é uma espécie
de estatuto, mas sim uma elementar forma de vida elevada à conta de hipérbole.
Uma figura de estilo, de tipo bailinho da Madeira onde o carrocel da vida se
transmuta para um igualmente hiperbólico carrossel de fouxa mansidão. Uma
fatalidade. Sem freio, nem peias! Exercido esta espécie de prólogo, ripo de
competente expressão do saudoso Odorico Paraguaçu e "vamos aos
finalmente".
Ópio 1- O futebol, mais que a célebre guerra do ópio
em que as potências ocidentais humilharam a China com funestos resultados, aí
está para dar, lavar e durar. Uma das três facetas do nosso povão, derivada do
acrónimo FFF, que todos conhecemos e que caracteriza tão fortemente o pulsar e
características de um povo que já foi de conquistadores e heróis.
Agora estamos reduzidos a isto.
Ao oco segue-se o vazio, e o nada, vive paredes meias com o zero. Zero, sobre zero, zero soma!
Nestes conturbados tempos,
os profissionais do protesto que antes empunhavam cartazes nos hospitais
chamando assassino a Passos, estão neste momento encostados às boxes. Os
grandoleiros, enfiaram as grandoladas quiçá num buraco algures situado no fundo
das costas, e quais cigarras durante a noite, nem sequer piam. A
comunada interessada e interesseira, mantém-se tipo boi a olhar para um
palácio, e segue pachorrentamente ruminando o frenético entusiasmo de promover
mais umas grevesitas que phodam ainda mais a vida ao parceiro que trabalha.
Centeno, El Cativador, continua cativando e quem estiver a morrer nos
hospitais, que se phoda também, pois se lhe der a pataleca sempre são mais uns
valentes trocos da reforma que se poupam. O Dr. Costa, lá vai costando e de
tourada em tourada, lá vai mandando o César Açoriano mandar uns bitaites
instigando umas quantas b estas a votarem sim e não, na questão da descida do
IVA das touradas, que o PS é mesmo assim, sempre de bem com Deus e com o diabo
que os votos não têm farpas ou deixam de as ter, e tudo vale. O prof. Marcelo,
pois claro, lá vai marcelando que isto das selfies já o estava a cansar e,
agora, anda às apalpadelas com o caso de Tancos sem saber se as granadas que
não foram devolvidas não estarão é mesmo escondidas ali para os lados do Pátio
dos Bichos.
Enfim, como no futebol, tudo ao
molho, pontapé para a frente e fé em Deus. Que eles foram para o poleiro, foi
só para entrarem na orgia do poder e nunca para se chatearem.
Depois, no fundo perguntarão, tal
como a rainha Maria Antonieta, o que é que a populaça quer? Se já devolveram as
granadas, pelos vistos até em excesso, o que é que esta ralé chata e chungosa
quer mais? Que a populaça se cale e coma mas é brioches! E se mesmo assim a
canzoada continuar a ladrar, ainda mandam a tropa de choque dar-lhes um pontapé
no focinho. Que chata, esta tugalhada!...
Ópio 2 - Pois é, estes ministros e secretários de
estado, não param de nos surpreender. O Microfones, cedo tratou de mandar os
polícias dormir fora de casa ao relento. Que ele não tem medo que os rambos do
IRA, lhe vão fanar os cães. Era o que faltava! Que ministro, ainda por cima
sendo xuxa, tem suficiente pedigree, para não ser atacado por defensores de
cães raivosos mesmo que estes se julguem discípulos dilectos de talibans e se
vistam apropriadamente à maneira do Daesh.
Por sua vez, isso da bófia
chatear os cães com a sua presença, isso nunca! Que ministro xuxa tem que
dormir sem barulho da canzoada, pois tem de pensar como deverá proteger a bandidagem
de ser fotografada e ajudar os Drs. Costa e Centeno, como há-de esmifrar mais
umas lecas ao contribuinte e desgraçar mais umas quantas empresas.
Sobre o ministro do Ambiente, pois claro, está a
ambientar-se. Que xuxa é mais lento de entendimento do que cardume de sardinha
a desviar-se de meia dúzia de golfinhos.
A factura da electricidade é
obscena e a segunda mais cara de toda a Europa? Pois, bem feito! O povão que
coma brioches, perdão, queria eu dizer que reduza a potência.
Mas, alguém o avisará, um
aparelhito ou dois qualquer atira logo com a energia abaixo: Ora, ora, todos
uns pategos que não sabem que existe por aí carvão e lenha para apanhar e que
até dá jeito para evitar fogos. E alguém insistirá que em apartamentos não se
pode fazer fogueiras: resposta adiada. O homem, à boa maneira xuxa embatucou, e
deverá ter pensado telefonar ao Guterres para lhe ajudar a fazer contas.
Em voz off, lá do fundo da
plateia, alguém gritou que surgiu recentemente um estudo europeu que apontava
Portugal, como sendo o país onde mais se morria por frio no inverno, mesmo
sendo o país que tem clima mais ameno! Mas o homem já se ia embora e não ouviu
mais ninguém. A malta hipócrita do BE e PCP rodearam-no e evitaram a
humilhação. Que isto, de amigos, são mesmo para as ocasiões!... ………..
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