Transcrevo da Internet, como revisão para aclaramento da memória, a
lista de primeiros-ministros dos governos PSD. Quase sempre se aliaram ao CDS, é
certo, por uma questão de maioria, eram governos que representavam, para os
agravados de uma revolução destruidora de conceitos centrados em mais ordem e
bom senso, a que estavam vinculados, uma maior identificação com esses
parâmetros de aparentemente maior seriedade, mas já passada.
Primeiros-Ministros
Francisco Sá
Carneiro (1979–1980)
Francisco Pinto
Balsemão (1981–1983)
Aníbal Cavaco Silva (1985–1995)
José Manuel Durão
Barroso (2002–2004)
Pedro Santana Lopes (2004–2005)
Pedro Passos Coelho (2011–2015)
É Rui Rio o senhor que se
segue no PSD, que pretende ser governo, mas que não atrai grandes simpatias, e
muito menos a de um António Costa socialista,
que vai sulcando serenamente, com os seus apoios de estimação, os amplos mares
da sua governação, feita de ambiguidades e sorrisos, que um PR que se diz PSD,
vai apoiando disciplinadamente.
Sim, a Rui Rio não se lhe
dava de se aliar a António Costa,
formando uma frente comum quase uniforme, os restantes partidos sem quórum suficiente
para se lhes opor. Mas AC não precisa
dele, a parceria actual dos seus apoiantes lhe basta, para os seus truques, ao
que se diz, enganosos, no indispensável ressarcimento da dívida e concomitante destruição da
nação, no envelhecimento das suas estruturas várias, que a trepidação
benfeitora dos seus apoiantes ajuda a perpetrar.
Quanto a Rui Rio… quem teve
um presidente do PSD que se impôs no seu partido e na nação, por qualidades de
lisura e empenhamento em salvar o país, sem a preocupação do “poleiro”, a que
teve direito, contudo, como se sabe, apesar dos ódios que concitara contra si,
não pode aceitar os joguinhos “à defesa” sempre – ou ao ataque – contra os do
seu partido, em moralismos ou impertinências grotescas e espertezas saloias,
como essa de Rui Rio, de responder a
uma acusação de falso moralismo, usando o alemão como língua do seu
exibicionismo e ocultação parola e pedante do pensamento, na tal questão da
ubiquidade e consequente desonestidade do secretário geral do PSD, José Silvano, que ele desvalorizou
tolamente.
É Rui Ramos que sobre ele escreve, com a pertinência habitual dos
seus escritos, que são sempre uma lição bem formulada. Concluiu, ainda
esperançado: «Não, António Costa não pode salvar o PSD, mas o PSD e o CDS ainda podem
salvar outra vez o regime. E é isto que talvez conviesse salvaguardar.»
Mas julgo que não há já salvaguarda possível, num país cada vez mais amordaçado
pela inércia, e com figuras do governo tão diferentes da elegante - intelectualmente
- dupla anterior – Passos e Portas.
Pode
António Costa salvar o PSD? /premium
RUI RAMOS
OBSERVADOR, 20/11/2018,
Se o PSD e o CDS representam
alguma coisa, é o repúdio do domínio socialista do Estado. Por isso, a oportunidade
da direita democrática em Portugal se afirmar e crescer não é com o PS, mas
contra o PS
Não vale a pena comparar sondagens: já todos se convenceram de que
as eleições, para o PSD, vão ser um desastre. Também não vale a pena perder
tempo com as trapalhadas de Rui Rio: o problema do PSD não está só nas
personalidades, mas nas más ideias. Uma vez que toda a gente fala de Rio,
falemos nós dessas ideias.
A estratégia de Rio de
aproximação ao PS não é uma excentricidade. Pelo contrário. O PSD e a direita em
geral habituaram-se quase desde o princípio da democracia a depender dos
socialistas. Em 1975,
persuadiram-se de que tinham sido salvos por Mário Soares; em 1976, que só
podiam chegar ao governo aliados ao PS. Mesmo quando, a partir de 1979,
conseguiram maiorias absolutas, os dois terços da revisão constitucional
impediram-nos de cortar esse cordão umbilical. Para os antigos quadros do PSD e do CDS, a lição foi clara: nada se
podia fazer no país sem os socialistas. Alguns, a partir daí, foram mais
longe: só o PS podia de facto governar e reformar. Foi assim que Guterres foi muito elogiado pela
capacidade de governar sem “crispação”, ou que Sócrates foi recebido como o reformador liberal de que o país
precisava.
Quando Rui Rio fala das reformas estruturais que quer fazer com o PS, é
esta a história de que tem por detrás. Mas
há outra coisa: depois de vinte anos a passar pelo poder apenas em épocas de
ajustamento, como em 2002 ou em 2011, o PSD começou a acreditar que o povo o
confundira com a austeridade, e que nunca mais teria os votos de que são feitas
as vitórias em Portugal: os dos dependentes do Estado, isto é, funcionários
públicos e pensionistas. O êxito eleitoral de 2015, apenas agravou a
sensação de impotência: já nem ganhando eleições ficam no governo. Tal como o
PCP e o BE, também o PSD concluiu que precisava do Estado e do seu
clientelismo, e que só a promiscuidade com o PS de António Costa o podia levar
até lá. Foi nisto que os caciques do PSD votaram em Janeiro deste ano.
A dúvida que se levanta a esta
estratégia é a de saber se o PS corresponderá ao afecto. Vamos admitir que sim, que talvez o PS
esteja interessado em enquadrar o PSD de Rio numa geringonça aumentada: em
1980, além da UEDS, os socialistas também contaram com a ASDI na sua FRS. Vamos
admitir ainda que, inviabilizando de facto quaisquer reformas — uma vez que o
PS, para se manter como “charneira” do regime, não as pode fazer –, esta
estratégia deixaria no entanto o PSD em condições de romper a nova geringonça
em nome do reformismo, como Cavaco Silva fez em 1985, quando pôs fim ao Bloco
Central. Então, o que está errado nesta abordagem?
O problema que Rio e os seus correligionários não parecem capazes de
ver é que, se o PSD, o CDS e os outros partidos que estão à surgir à direita
representam hoje alguma coisa, para além de algumas tradições e “aparelhos”, é
precisamente a desconfiança e o repúdio do domínio socialista do Estado, agora
enredado no politicamente correcto do Bloco, no egoísmo sindicalista do PCP e
nos processos judiciais do socratismo. Por
isso, a oportunidade da direita democrática em Portugal se afirmar e crescer
não é com o PS, mas contra o PS. António Costa não pode salvar o PSD, porque
quanto mais o PSD esperar de António Costa, menos o país vai esperar do PSD.
Dir-me-ão: essa desconfiança e repúdio do domínio socialista ainda não
chegam para perturbar o sono de António Costa. Pois não. Mas existem, num
país constrangido pela mediocridade e precariedade de tudo, e expandir-se-ão
quando a conjuntura mudar. O que falta saber é quem protagonizará então esses
sentimentos, se a direita do regime, se uma outra qualquer força política,
menos disponível para ressalvar continuidades. Não, António Costa não pode salvar o PSD, mas o PSD e o CDS ainda podem
salvar outra vez o regime. E é isto que talvez conviesse salvaguardar.
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