Já José Régio se rebelava contra a sociedade de preconceito, no seu “Cântico
Negro”, embora não se tratasse de enxovalhar ainda os ensinamentos que
aprendera na escola, nem as metodologias seguidas então, que na sua altura
ninguém se lembrava de pôr em causa, e muito menos ele, que era um digno
representante da docência segundo o lema “magister
dixit”. Graças a Deus que, para poderem transmitir com nexo os seus
ensinamentos, os professores do seu tempo - e do meu também, tive essa sorte -
eram forçados a estudá-los, era ponto assente, e quem o não fizesse com o
necessário empenho não era tão respeitado pelos alunos, que sempre souberam
reconhecer quem realmente os estimulava para uma vida de brio e competência
futuros, entendendo que, para se poder colher, é necessário semear, caso das
searas e produtos vegetais, à excepção do eucalipto que nasce espontaneamente,
cobrindo os pinheiros queimados pelos incêndios, em manchas de verde belo e
contrastante com o negrume do crestado, muito à maneira, é certo, da tal escola
referenciada por Eduardo Sá, mas que
por isso mesmo o governo manda cortar – os eucaliptos, não “o bom do Sá” - como pragas propícias a
incêndios futuros. De facto, do vazio não se extrai senão o vazio, pelo menos,
até nova ordem. Não, a rebelião de José
Régio tinha mais a ver com os choques “inter pares”, contra os que lhe
davam alvitres, que Régio, adulto, se escusava a seguir, dizendo-o bem alto,
com grande mestria poética. Eis alguns passos comprovativos, do tal “Cântico
Negro”:
Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos
doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
…
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
É
essa, igualmente a teoria desenvolvida pelo professor – mais um – do “Clube
dos Poetas Mortos“- desempenhado pelo actor Robin Williams, – desta
vez, sim, em termos de orientação pedagógica, do género da que o autor do texto
infra – Eduardo
Sá – expende, matando a escola, à escola cultural preferindo a
continuação do “Jardim de Infância” e das teorias experimentalistas do Rousseau
expendidas no seu Émile. O tal professor
lá do filme chega a impor aos seus alunos que rasguem os compêndios de
Literatura, numa das suas aulas, adepto da doutrina da criatividade, cada aluno
chamado a expor a sua própria opinião e a exibir as suas capacidades, com a
superioridade que lhe é atribuída à partida, mesmo que algum mais honesto possa
reconhecer a necessidade de orientação teórica indispensável para a compreensão
desses outros escritores sobre quem estudiosos expuseram noções que o professor
fez rasgar, segundo a trama do filme, condenatória da sociedade opressiva - do
colégio e do país que impõem ordem e respeito e que criam, com essas
prepotências, traumas que levam um dos alunos do tal filme a suicidar-se, sentindo-se
incompreendido, baralhado entre as regras impostas superiormente e as do
professor que o levara a sentir-se um génio incompreendido, tal como a pescada,
que antes de ser já o era. Sempre achei abominável esse filme faccioso, no seu
pretensiosismo tendenciosamente escarnecedor das saloiices de uma burguesia
encurralada nos princípios dogmáticos, etc., etc e que Eduardo Sá traz a lume, achando-se provavelmente um génio descobridor
de qualquer coisa original e que, afinal, tem tantas cãs.
Deixo aos seus comentadores o papel
crítico, mais amplo de conteúdo do que este de expressar a minha indignação
pela torpeza de mais um contributo para a criação de uma sociedade futura de
banalidade, vazio, acefalia, idiotia, imodéstia, um descalabro! Pobres
crianças! Pobre país este, que produz tais abortos de opinião sem traço azul,
só porque se vive em democracia, bla bla bla, criminosamente pueril, de uma
pieguice indecorosa e de uma falsidade a merecer condenação.
Já em tempos tratei o tema em “Anuário,
Memórias Soltas” (1999), por exemplo, entre outros, no texto “Estratégias de ensino: Não à coisificação do
aluno?”, de que transcrevo alguns passos, de uma oposição jamais ultrapassada,
específica, aliás, dos condenados “velhos do Restelo” nacionais:
«… As modernas pedagogias, assentes como pilares sobre o mundo da
afectividade da criança, privilegiam o que nela há de subjectivo, de espontâneo,
de criativo, procurando o lúdico como estratégia constante, sem objectivo nem
grandeza, por não terem em conta a sua capacidade intelectual, esquecidas de
que os estudos posteriores exigirão um tipo de participação mais racional e
mais sério, a que elas não foram habituadas à partida.
«...Penso que, ao desejarmos que as crianças desenvolvam a sua
criatividade, tirando do nada ou das suas manipulações as suas produções mais
ou menos originais, escamoteamos o papel formativo da escola, que não deve só
valorizar a diversão, o ensinar brincando, mas deve ensinar o aluno a respeitar
aquilo que aprende, que outros construíram ou desenvolveram e que, como ser
racional que é, deve procurar obter também. ….»
CRIANÇAS A
Escola morreu. Viva a Escola
EDUARDO SÁ
OBSERVADOR 19/11/2018,
Todas as escolas deviam ser uma
“república das crianças” onde o professor tivesse presente que, sempre que uma
criança conhece, faz três perguntas: “o que é isto?”; “porquê?” e “para que é
que serve?"
A escola que temos — que foi a
invenção (lindíssima!) com que o Homem democratizou o mundo e o tornou mais
amável e mais humano –, ao fim de mais de 100 anos… morreu! Como terão morrido
alguns dos pressupostos com que, hoje, ela ainda funciona. Tais como aquele que
a leva a pressupor que todas as crianças, mal entram na escola, aprendem
“do zero”, da mesma forma e à mesma velocidade. Como terá morrido – felizmente!
– o equívoco que, não há muito, assolou a escola que fez com que, a determinado
momento, ela parecesse querer transformar-se numa espécie de “linha de
montagem” de “jovens tecnocratas de sucesso”, como se a escola, em vez de aproveitar
as singularidades e de as matizar com pluralidade, servisse mais para excluir
do que para incluir. Como estará, também, a morrer a ideia de que será com as
novas tecnologias que se reinventa a escola, mesmo que ela tenha, ainda,
“vícios de forma” que vêm do século XIX, uma ideia de professor que, por vezes,
ficou no século XX, alunos do século XXI e desafios para o próximo século que
parecem nem sempre caber nas respostas que ela fornece. E terá morrido —
felizmente — a ideia de que a escola se constrói de cima para baixo e de fora
para dentro, ou sem os professores e sem os pais.
A escola pode ser mais bonita,
mais aconchegante e mais acolhedora! Pode ser séria e exigente, mas amiga do
entusiasmo e divertida. Pode ser uma escola comprometida com a troca de ideias,
mais centrada na sabedoria com que as crianças lá chegam e mais empenhada com a
utilidade e a versatilidade dos conhecimentos com que de lá saem. E pode ser
mais atenta ao seu corpo, à sua imaginação prodigiosa, à sensibilidade com que
interpretam e à forma como intuem antes, ainda, de perceberem.
A escola vai ter de se
reinventar: dos tempos de escola aos manuais escolares. Do modo como avalia aos
métodos com que ensina e dá a conhecer. Da forma como prepara para a vida e
como transforma em instrumentos úteis as pequenas coisas, aparentemente
insignificantes, que se aprendem todos os dias, quase sem querer.
A escola pode ser mais bonita.
E é por isso que estamos tão determinados em transformá-la. Com boas ideias,
com novas formas de a vivermos e com pequenos projetos que impliquem os pais e
a escola numa parceria de pessoas que se confiem à construção de crianças
sábias, humildes, com garra e com paixão, mas que sejam, sobretudo, pessoas
melhores. É por isso que ansiamos por uma escola que escute; mais atenta aos
interesses das crianças, desde o recreio à sala de aulas. E que as ajude a
pensar, a discorrer e a escolher. E é, ainda, por isso que trabalhamos para que
as crianças se tornem mais comprometidas, melhor educadas e mais civilizadas. Mais
implicadas com o mundo à sua volta e mais solidárias. E mais convictas na forma
como, todas juntas, conquistarão para a escola, todos os dias, um rosto mais
humano.
É por isso que todos nós
acreditamos que com a Escola Amiga da Criança se iniciou uma “revolução
tranquila” que, com a ajuda de todos, mudará a escola e transformará a
educação. Com os pais, reclamando para si o desafio de se ligarem à escola para
que ela se ligue, mais e melhor, a tudo aquilo que leve a que os seus filhos
cresçam melhor. E com todos os professores, como pessoas preciosas que vão de
estranhos ou desconhecidos a pessoas insubstituíveis e da família, no espaço de
alguns meses. Todos juntos, a construir uma escola onde conhecimento e
humanidade se entrelacem mais e mais, todos os dias.
As crianças amam a escola! Mas
a escola não tem amado as crianças. E deve-lhes isso; com urgência!
A escola, todas as escolas, deviam ser uma “república das crianças”. Onde,
considerando a escola, as crianças sejam o principal e os professores o indispensável.
E onde cada professor não perca de vista que, sempre que uma criança conhece,
ela faz três perguntas: “o que é isto?”; “porquê??” e “para que é
que serve???”. E sobre tudo aquilo que ela aprenda é suposto que uma
criança pense, discorra, fale e empreenda. É por isso que a escola tem
de incentivar a singularidade, animar a diversidade e acolher a
parceria. E, já agora, tem de prescindir dos alunos que se “matam” a
estudar e acarinhar aqueles que passeiam os livros e se passeiam nos livros.
Sem nunca perder de vista que aprender é esperar. Mas, muito mais que
esperar é, também, escutar, perguntar, duvidar e exigir.
As crianças gostam que a escola
goste delas. E nós gostamos que elas “fujam” para a escola! É por isso
qu as crianças agradecem a todos os pais e a todas as escolas que
aceitaram juntar-se a este projeto que trabalhar para tornar a escola num
laboratório da liberdade, uma oficina da justiça, um ginásio da
diversidade, um “refeitório” para a inclusão e no recreio da sabedoria.
E ficarão, sobretudo, muito
reconhecidas se, na segunda edição da Escola Amiga da Criança, fizerem parte
daqueles que sonham e trabalham por uma escola que ligue família, educação e
mundo como uma ponte, irrequieta, para o futuro.
No âmbito do Dia Internacional dos Direitos das
Crianças e do Lançamento da 2ª Edição do Projecto Escola Amiga da Criança
COMENTÁRIOS:
Maria Augusta Martins: Estou a
imaginar um aluno filho por exemplo dum/a PSP ou GNR, apresentar-se na aula com
a "Glock" do pai ou da mãe, (não estou a brincar isso passou-se há
anos na escola onde andei), Gostava de saber como esse sr prof.dr, pedagogo
descalçava a bota? obviamente sem grande escândalo.
victor guerra: Sempre tão suave este Sá, não fosse a realidade passar
lá fora. Eu vejo uma escola com quadro interactivo e crianças com
"tablets", sem livros, nem mochilas. Já existem alguns exemplos, mesmo
neste atrasado país. Mas, a verdade é que professores e alunos e vêem-na como
trabalho e chato, não fora a convivência, muito comandada pelas "ovelhas
negras" que proliferam
Eu Mesmo: A banda sonora disto devia ser a "pedra
filosofal" do Manuel Freire, o tempo Maio de 68 e o uniforme calças de
boca de sino.
O
modelo Rousseauista está moribundo, na prática só produz egocêntricos
disfarçados de "humanistas", revoltados profissionais e pessoas
incapazes de lidar com as frustrações da vida. Por favor, parem de estar
sempre a tocar o mesmo disco e olhem a realidade, o sonho não comanda a vida, a
vida comanda a vida.
Evangelista Miranda Miranda: Os últimos 73 anos de vida no Ocidente
foram um logro. Não que os que viveram a segunda guerra mundial não estivessem
bem intencionados, e tivessem trabalhado por causas nobres a favor da paz. Mas
a paz não se constrói com preguiça e desleixo, que caracterizou as gerações,
filhas dos originais fundadores das instituições, que tinham em vista perpetuar
a paz e o bem-estar, especialmente no mundo Ocidental. Acontece ainda, que por
via disso, e porque o mundo ficou mais pequeno, os povos Orientais iriam
aproveitar as oportunidades e, levar por diante conquistas já esquecidas pelo
Ocidente, como seja o valor e a importância do Trabalho. Diríamos portanto, que
o mal da Escola foi esquecer muito do que vinha do século XIX e, embora a
funcionar no século XX, foi ignorado e desprezado nas últimas décadas,
colocando as populações a saberem dizer tudo, sem saberem fazer nada. Portanto:
esta retórica aqui expressa pelo seu autor, é a resposta aos erros e omissões
praticados na Escola no Ocidente, onde Portugal pontua sempre, para imitar os
erros que vêm de fora: ampliando-os.
Audio Vac: Chorrilho de asneiras e de baboseiras.
Precisamente porque as crianças não aprendem todas à mesma velocidade, é
que é preciso disciplina: caso contrário haverá sempre algumas que não
acompanham e ficam para trás. E uma escola que seja uma "república"
ou um "laboratório", significa não apenas desperdiçar milhares de
anos de saber acumulado em matéria de ensino e de psicologia infantil, como
começar cada dia a partir do zero!!! Além disso a família não deve interferir na
escola, porque é precisamente a separação dos dois mundos que cria um ambiente
propício ao ensino, em vez de permitir a invasão do espaço de aprendizagem
pelas relações de poder e de manipulação típicas (ou atípicas) de qualquer
família. O ensino deve ser uma ponte não "irrequieta", mas o
mais segura possível para o futuro, sob perigo de deixar uns quantos pelo
caminho...
Tiago Ramalhais > Audio Vac: "caso
contrário haverá sempre algumas que não acompanham e ficam para trás." ...
e qual é o problema? os tugas têm é que perder a mania de olhar para o
"ficar para trás" como um estigma de burrice ou como uma machadada
fatal nas aspirações profissionais e pessoais das crianças, se há coisa que
aprendi nesta vida é que tudo tem o seu tempo e todas as pessoas são diferentes
e não é por uma criança chumbar 1 ou 2 vezes que é mais burra do que as outras
ou que terá o seu futuro hipotecado, tive contacto com centenas de
profissionais do meu ramo e conheci várias que chumbaram e são excelentes
profissionais e várias com um percurso académico impecável que são umas bestas
burras. O problema aqui é olhar para os chumbos e as más notas como algo
fatídico em vez de se perceber qual a razão dos problemas e resolver sem
atulhar a criança em TPC's e horas de estudo pouco produtivas que só servem
para que estas desmotivem e que ganhem ódio à escola.
Audio Vac > Tiago Ramalhais Folgo
em saber que apesar de você ter chumbado 1 ou 2 vezes conseguiu superar o
estigma e até conseguiu encontrar outras pessoas como você no seu meio
profissional. É pena não ter superado o ódio aos bons alunos. Todavia o
problema não é "você", mas sim os muitos milhares de crianças que
abandonam a escola e que se tornam adultos dependentes e sem qualificações. O
que não quer dizer que não haja entre eles pessoas com diplomas. Por isso mesmo
é que a escola deve ser exigente.
Sois Trumpa: A ESCOLA NÃO
MORREU, EXISTE E EXISTIRÁ E DEVE SERVIR TODA A COMUNIDADE seja de DIA ou
NOITE e onde for possível, o resto que se oferece é LIXO BIDERBERGUIANO E
ZUCKERBERGUIANO. A Escola não morreu, está apenas em estado letárgico, deixa
vir ou surgir algumas tecnologias mais modernas e poderosas e vais ver onde vai
parar 80% da ESCOLA que conheceste.
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