sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Receios, certezas, especulações, afinal!



Rui Tavares receia Orbán e cita reportório convincente sobre os malefícios deste, que um comentarista mais das direitas em duas penadas desfaz, explicitando razões e conveniências de uma esquerda sedutora, qual lobo feroz de bocarra pronta a tragar:
Ex:
Tiago Vasconcelos, Amsterdam 09.11.2018: Quando um dia os historiadores escreverem acerca desta década, provavelmente colocarão Órban no mesmo patamar daqueles que impediram a Europa de mergulhar nas trevas eternas do Islão: Charles Martel, Pelágio das Astúrias, Leopoldo I, João III Sobieski, etc. O trabalho de Órban é, em certo sentido, mais difícil pois o Islão conta agora com uma poderosa quinta-coluna no seio da Europa -- o centro e a esquerda -- que se prestam ao bizarro papel de promoverem a lenta invasão do nosso território por quem professa valores e tradições diametralmente opostas ao que esse mesmo centro e essa mesma esquerda sempre defendeu.

Quanto a João Miguel Tavares, o comentário de um céptico ainda maior que este, por sinal mais das esquerdas, repõe argumentos que não deixam de ser válidos, hélas!
Ex:
 Pedropinheiro augusto: e JMT acha que o PSD foi destruído nos últimos dez meses, tem que ir ao oftalmologista: O PSD está em processo de autofagia desde Cavaco Silva, qual eucalipto que secou o partido.

I - OPINIÃO
O aliado de Orbán que PSD e CDS querem a dirigir a Europa
O PSD apoia como candidato a presidente da Comissão quem quis punir Portugal contra tudo e contra todos — e protegeu Orbán enquanto este espezinhava os valores da União.
RUI TAVARES
PÚBLICO, 9 de Novembro de 2018
Ontem o partido mais poderoso de que menos gente ouviu falar, o Partido Popular Europeu — de que PSD e CDS fazem parte e que desde o início deste milénio dirige os destinos da União Europeia a partir da Comissão e do Conselho —, escolheu o seu candidato a presidente da Comissão Europeia. Fixe este nome, se não o conhece ainda: Manfred Weber. O eurodeputado bávaro de 46 anos será o candidato em que vai votar, se votar nos partidos portugueses que pertencem ao PPE nas próximas eleições europeias.
Caso siga as pisadas dos dois anteriores candidatos do PPE, Durão Barroso e Jean-Claude Juncker, e chegue a presidente da Comissão, Manfred Weber será o responsável por introduzir legislação no Parlamento Europeu e no Conselho da UE, o negociador de cada orçamento da União, o líder de um terço da troika, se alguma vez voltar a existir uma e, entre muitas outras coisas, talvez a palavra mais decisiva no momento de aplicar ou não sanções aos países da UE em caso de incumprimento orçamental.
Este último ponto é particularmente importante, porque sabemos como Manfred Weber se comportou quando essa questão foi colocada no passado, e de uma forma que dizia diretamente respeito a Portugal. Em junho de 2016, Weber foi o autor de uma carta enviada à Comissão pedindo que fossem aplicadas sanções a Portugal e Espanha num momento em que os orçamentos de ambos os países estavam a entrar em linha com os limites previstos pelas regras europeias. Podemos debater a sabedoria dessas regras, mas aplicar sanções quando os países estão em trajectória de cumprimento releva da mais pura e simples vontade de punição. De tal forma que o conselho de Weber foi descartado pelos actuais comissários europeus, porventura alguns dos que espera vir a dirigir no futuro.
Ainda antes dessa carta, porém, Weber já tinha alertado para o “perigo” de Portugal ser governado pela esquerda. O que é curioso — e aqui pedirei um esforço ao leitor para ver neste emprego da palavra “curioso” um eufemismo para “chocante” — é que Manfred Weber não é consistente na sua inflexibilidade para com os governos dos Estado--membros. Duro com governos de esquerda em matérias orçamentais, Weber torna-se surpreendentemente — no sentido, se formos a ser rigorosos, de “desavergonhadamente” — cooperante com governos de direita em matérias de violação de direitos fundamentais e valores democráticos. Se o faz por estratégia ou por indiferença, por convicção ou carreirismo, não creio que alguém o saiba. Mas o que toda a gente sabe é que Weber foi desde sempre o maior aliado de Viktor Orbán no Parlamento Europeu. E isto não é de hoje, mas desde 2010, quando Orbán começou por aplicar o seu programa de “democracia iliberal” contra a imprensa, primeiro, e os tribunais depois. Vi eu de perto Weber protelar, desviar, distorcer e mentir descaradamente, se necessário, para impedir qualquer acção contra as violações de princípios e valores da UE que Orbán maquinava a partir de Budapeste. E ouvi muitas vezes os eurodeputados do PSD, em privado, confirmar este quadro de comportamento de Weber e até acrescentar alguns detalhes da sua lavra, o que torna ainda mais surpreendente — no sentido da palavra que empreguei acima — que o PSD tenha ido para o congresso do PPE com apoio declarado a Weber, o maior aliado dos piores ataques aos valores da União (o CDS deu liberdade de voto aos seus delegados no congresso do PPE, mas pelos procedimentos que o próprio PPE propõe, cada voto no CDS será também um voto em Manfred Weber).
Já sei que o PSD vai tentar branquear o comportamento pró-Orbán de Weber alegando que este último, enquanto líder parlamentar do PPE, acabou por dar parecer favorável ao voto pela ativação do artigo 7.º (previsto pelos tratados para casos de violações dos valores fundamentais da UE, consagrados no artigo 2.º do Tratado de Lisboa como sendo, entre outros, a democracia, os direitos humanos e o Estado de direito) contra o Governo de Orbán. Mas Weber fê-lo apenas quando não teve mais hipótese de recuar e previamente para se assegurar de que chegaria ao congresso do PPE com hipóteses de ganhar, como ganhou. Isto também toda a gente sabe. Tanto que mais uma das “pseudolinhas vermelhas” de Weber em relação a Orbán — o respeito pela liberdade académicacaiu recentemente, quando a Universidade da Europa Central anunciou que teria de sair da Hungria pela perseguição que o Governo húngaro lhe tem movido, e Weber assistiu impávido a mais esta vilania de Orbán e a este dito-por-não-dito seu.
Portanto é a este miserável ponto que chegámos: o PSD apoia como candidato a presidente da Comissão quem quis punir Portugal contra tudo e contra todos — e protegeu Orbán, enquanto este espezinhava os valores da União. E cada voto no PSD e no CDS nas eleições europeias será um voto para o eleger. Infelizmente não é surpreendente. Mas lá que é vergonhoso é.

II - OPINIÃO
Como destruir um partido em dez meses
Rui Rio aguarda por um milagre político que não virá em 2019. O pior resultado do PSD desde 1976 é cada vez mais provável.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 15 de Novembro de 2018
A Lusa colocou na terça-feira em linha uma notícia sobre uma reunião que Rui Rio teve com militantes de Viseu. Essa notícia afirmava, citando apenas relatos da reunião e sem identificar fontes, que Rio teria dito aos militantes sociais-democratas, a propósito do caso José Silvano, que “não deixa cair os amigos”. A declaração deu origem ao burburinho esperado, com mais trocadilhos entre “banho de ética” e “banhada”, e a recuperação de velhas declarações, contraditórias com a actual. Várias vergastadas depois,  o PSD, e o próprio Rui Rio, vieram desmentir a notícia, garantindo “peremptoriamente” que em momento algum tal frase foi proferida na reunião, e classificando-a mesmo como uma “inequívoca mentira”.
Esta sequência de acontecimentos demonstra duas coisas, ambas péssimas para o PSD. A primeira é que o partido está num clima de guerra civil, e que todas as oportunidades são boas para – utilizando a famosa metáfora santanista – dar um pontapé na incubadora de Rui Rio. O enorme desconforto da direcção de Rio em relação ao caso Silvano não se deveu apenas ao facto de ser o segundo secretário-geral apanhado em más práticas. O desconforto adveio da altíssima probabilidade de a notícia do Expresso ter tido origem na própria bancada parlamentar do PSD, e de vários deputados sociais-democratas estarem manifestamente interessados em dinamitar a vida de Rui Rio, quem sabe à espera que alguém lhe faça aquilo que António Costa fez a António José Seguro em véspera de eleições.
A segunda coisa que o caso demonstra é que Rui Rio não acerta uma. Porque se ele não disse aquilo que a Lusa diz que disse (e eu acredito em Rui Rio), aquilo que ele diz que disse é quase tão mau como aquilo que ele diz que não disse. Segundo o comunicado do PSD, Rio acredita que o caso Silvano foi sobrevalorizado, e assim sendo ele jamais iria “aproveitar-se oportunisticamente da condenação mediática de alguém” para fazer boa figura ética, pois o “cumprimento dos princípios éticos” é “ter a coragem de ser justo na apreciação dos factos”. Ou seja, este rebuscado argumento, que em termos de compreensibilidade só está um pouco acima da sua intervenção em alemão, apenas prova que a famosa teimosia de Rui Rio começa a aproximar-se perigosamente do autismo. Rio tem dificuldades em perceber que as pessoas não são estúpidas, e que não é a aldrabice em si, mas sim a sucessão de explicações mal dadas e desculpas mal-enjorcadas, que transformou o caso numa bola de neve.
Rui Rio aguarda por um milagre político que não virá em 2019. A direita vai estar partida entre a Aliança de Santana Lopes, o Chega de André Ventura e alguns partidos liberais que podem conquistar votos – e boas cabeças – a uma pequena elite cosmopolita que até há bem pouco teria no PSD o seu poiso natural. O PSD está completamente dividido, até em termos geracionais, entre a velha guarda social-democrata e os jovens turcos passistas. E aquilo que parece ter sobrado para Rio construir a sua equipa são os Salvadores Malheiros, os Felicianos Barreiras Duartes, os José Silvanos, as Elinas Fragas e as Emílias Cerqueiras desta vida. Ah, esperem, sobra ainda isto: pela primeira vez na vida, vejo a esquerda elogiar um líder do PSD com desvelo. Tanto desvelo, aliás, que qualquer eleitor do partido só pode desconfiar. Quando Rui Rio é protegido por aqueles que não pensam votar nele estamos conversados. Convém também estarmos preparados: o pior resultado do PSD desde 1976 é cada vez mais provável.

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