Rui Tavares receia Orbán
e cita reportório convincente sobre os malefícios deste, que um comentarista mais
das direitas em duas penadas desfaz, explicitando razões e conveniências de uma
esquerda sedutora, qual lobo feroz de bocarra pronta a tragar:
Ex:
Tiago
Vasconcelos, Amsterdam 09.11.2018: Quando um dia os historiadores escreverem acerca desta década,
provavelmente colocarão Órban no mesmo patamar daqueles que impediram a Europa
de mergulhar nas trevas eternas do Islão: Charles Martel, Pelágio das Astúrias,
Leopoldo I, João III Sobieski, etc. O trabalho de Órban é, em certo sentido,
mais difícil pois o Islão conta agora com uma poderosa quinta-coluna no seio
da Europa -- o centro e a esquerda -- que se prestam ao bizarro papel de promoverem
a lenta invasão do nosso território por quem professa valores e tradições
diametralmente opostas ao que esse mesmo centro e essa mesma esquerda sempre
defendeu.
Quanto a João Miguel Tavares, o comentário de um céptico ainda maior que
este, por sinal mais das esquerdas, repõe argumentos que não deixam de ser
válidos, hélas!
Ex:
I - OPINIÃO
O aliado de Orbán que PSD e CDS querem a dirigir a
Europa
O PSD apoia como candidato a presidente
da Comissão quem quis punir Portugal contra tudo e contra todos — e protegeu
Orbán enquanto este espezinhava os valores da União.
RUI TAVARES
PÚBLICO, 9 de Novembro de 2018
Ontem o partido mais poderoso de que menos gente ouviu falar, o Partido
Popular Europeu — de que PSD e CDS fazem parte e que desde o início deste
milénio dirige os destinos da União Europeia a partir da Comissão e do Conselho
—, escolheu o seu candidato a presidente da Comissão Europeia. Fixe este nome,
se não o conhece ainda: Manfred Weber. O
eurodeputado bávaro de 46 anos será o candidato em que vai votar, se votar nos
partidos portugueses que pertencem ao PPE nas próximas eleições europeias.
Caso siga as pisadas dos
dois anteriores candidatos do PPE, Durão
Barroso e Jean-Claude Juncker, e
chegue a presidente da Comissão, Manfred Weber será o responsável por introduzir legislação no Parlamento Europeu
e no Conselho da UE, o negociador de cada orçamento da União, o líder de um
terço da troika, se alguma vez voltar a existir uma e, entre
muitas outras coisas, talvez a palavra mais decisiva no momento de aplicar ou
não sanções aos países da UE em caso de incumprimento orçamental.
Este último ponto é
particularmente importante, porque sabemos como Manfred Weber se comportou quando essa questão foi colocada no
passado, e de uma forma que dizia diretamente respeito a Portugal. Em junho de 2016, Weber foi o autor de uma
carta enviada à Comissão pedindo que fossem aplicadas sanções a Portugal e
Espanha num momento em que os orçamentos de ambos os países estavam a entrar em
linha com os limites previstos pelas regras europeias. Podemos debater a
sabedoria dessas regras, mas aplicar sanções quando os países estão em trajectória
de cumprimento releva da mais pura e simples vontade de punição. De tal forma
que o conselho de Weber foi descartado pelos actuais comissários europeus,
porventura alguns dos que espera vir a dirigir no futuro.
Ainda antes dessa carta, porém,
Weber já tinha alertado para o “perigo” de Portugal ser governado pela
esquerda. O que é curioso — e aqui pedirei um esforço ao leitor para ver
neste emprego da palavra “curioso” um eufemismo para “chocante” — é que Manfred Weber não é consistente na sua
inflexibilidade para com os governos dos Estado--membros. Duro com
governos de esquerda em matérias orçamentais, Weber torna-se surpreendentemente
— no sentido, se formos a ser rigorosos, de “desavergonhadamente” — cooperante
com governos de direita em matérias de violação de direitos fundamentais e
valores democráticos. Se o faz por
estratégia ou por indiferença, por convicção ou carreirismo, não creio que
alguém o saiba. Mas o que toda a gente sabe é que Weber foi desde sempre o
maior aliado de Viktor Orbán no Parlamento Europeu. E isto não é de
hoje, mas desde 2010, quando Orbán começou por aplicar o seu programa de
“democracia iliberal” contra a imprensa, primeiro, e os tribunais depois. Vi eu
de perto Weber protelar, desviar, distorcer e mentir descaradamente, se
necessário, para impedir qualquer acção contra as violações de princípios e
valores da UE que Orbán maquinava a partir de Budapeste. E ouvi muitas vezes os
eurodeputados do PSD, em privado, confirmar este quadro de comportamento de
Weber e até acrescentar alguns detalhes da sua lavra, o que torna ainda mais
surpreendente — no sentido da palavra que empreguei acima — que o PSD tenha ido para o congresso do PPE
com apoio declarado a Weber, o maior aliado dos piores ataques aos valores da
União (o CDS deu liberdade de voto aos seus delegados no congresso do
PPE, mas pelos procedimentos que o próprio PPE propõe, cada voto no CDS será
também um voto em Manfred Weber).
Já sei que o PSD vai tentar
branquear o comportamento pró-Orbán de Weber alegando que este último, enquanto
líder parlamentar do PPE, acabou por dar parecer favorável ao voto pela
ativação do artigo 7.º (previsto pelos tratados para casos de violações dos
valores fundamentais da UE, consagrados no artigo 2.º do Tratado de Lisboa como
sendo, entre outros, a democracia, os direitos humanos e o Estado de direito)
contra o Governo de Orbán. Mas Weber fê-lo apenas quando não teve mais
hipótese de recuar e previamente para se assegurar de que chegaria ao congresso
do PPE com hipóteses de ganhar, como ganhou. Isto também toda a gente sabe.
Tanto que mais uma das “pseudolinhas vermelhas” de Weber em relação a Orbán
— o respeito pela liberdade
académica — caiu recentemente, quando a Universidade da Europa Central
anunciou que teria de sair da Hungria pela perseguição que o Governo húngaro
lhe tem movido, e Weber assistiu impávido a mais esta vilania de Orbán e a este
dito-por-não-dito seu.
Portanto é a este miserável
ponto que chegámos: o PSD apoia como
candidato a presidente da Comissão quem quis punir Portugal contra tudo e
contra todos — e protegeu Orbán, enquanto este espezinhava os valores da União.
E cada voto no PSD e no CDS nas eleições europeias será um voto para o eleger.
Infelizmente não é surpreendente. Mas lá que é vergonhoso é.
II - OPINIÃO
Como destruir um partido em dez meses
Rui Rio aguarda por um milagre político
que não virá em 2019. O pior resultado do PSD desde 1976 é cada vez mais
provável.
JOÃO MIGUEL TAVARES
PÚBLICO, 15 de
Novembro de 2018
A Lusa colocou na terça-feira
em linha uma notícia sobre uma reunião que Rui Rio teve com militantes de
Viseu. Essa notícia afirmava, citando apenas relatos da reunião e sem
identificar fontes, que Rio teria dito
aos militantes sociais-democratas, a propósito do caso José Silvano, que “não deixa cair
os amigos”. A declaração deu origem ao burburinho esperado, com
mais trocadilhos entre “banho de ética” e “banhada”, e a recuperação de velhas
declarações, contraditórias com a actual. Várias vergastadas depois, o PSD,
e o próprio Rui
Rio, vieram desmentir a notícia, garantindo “peremptoriamente” que
em momento algum tal frase foi proferida na reunião, e classificando-a mesmo
como uma “inequívoca mentira”.
Esta sequência de
acontecimentos demonstra duas coisas, ambas péssimas para o PSD. A primeira
é que o partido está num clima de guerra
civil, e que todas as oportunidades são boas para – utilizando a famosa
metáfora santanista – dar um pontapé na incubadora de Rui Rio. O enorme
desconforto da direcção de Rio em relação ao caso Silvano não se deveu apenas
ao facto de ser o segundo secretário-geral apanhado em más práticas. O
desconforto adveio da altíssima probabilidade de a notícia do Expresso ter
tido origem na própria bancada parlamentar do PSD, e de vários deputados
sociais-democratas estarem manifestamente interessados em dinamitar a vida de
Rui Rio, quem sabe à espera que alguém lhe faça aquilo que António Costa fez a
António José Seguro em véspera de eleições.
A segunda coisa que o caso demonstra é que Rui Rio não acerta uma. Porque
se ele não disse aquilo que a Lusa diz que disse (e eu acredito em Rui Rio), aquilo
que ele diz que disse é quase tão mau como aquilo que ele diz que não disse.
Segundo o comunicado do PSD, Rio acredita que o caso Silvano foi sobrevalorizado, e assim sendo ele jamais iria
“aproveitar-se oportunisticamente da condenação mediática de alguém” para fazer
boa figura ética, pois o “cumprimento dos princípios éticos” é “ter a
coragem de ser justo na apreciação dos factos”. Ou seja, este rebuscado
argumento, que em termos de compreensibilidade só está um pouco acima da sua intervenção
em alemão, apenas prova que a famosa teimosia de Rui Rio
começa a aproximar-se perigosamente do autismo. Rio tem dificuldades em
perceber que as pessoas não são estúpidas, e que não é a aldrabice em si, mas
sim a sucessão de explicações mal dadas e desculpas mal-enjorcadas, que
transformou o caso numa bola de neve.
Rui Rio aguarda por um milagre político que não virá em 2019. A
direita vai estar partida entre a Aliança de Santana Lopes, o Chega de André
Ventura e alguns partidos liberais que podem conquistar votos – e boas cabeças
– a uma pequena elite cosmopolita que até há bem pouco teria no PSD o seu poiso
natural. O PSD está completamente dividido, até em termos geracionais, entre a velha guarda social-democrata e os
jovens turcos passistas. E aquilo que parece ter sobrado para Rio construir
a sua equipa são os Salvadores Malheiros, os Felicianos Barreiras Duartes, os
José Silvanos, as Elinas Fragas e as Emílias Cerqueiras desta vida. Ah,
esperem, sobra ainda isto: pela primeira
vez na vida, vejo a esquerda elogiar um líder do PSD com desvelo. Tanto
desvelo, aliás, que qualquer eleitor do partido só pode desconfiar. Quando
Rui Rio é protegido por aqueles que não pensam votar nele estamos conversados.
Convém também estarmos preparados: o pior resultado do PSD desde 1976 é cada
vez mais provável.
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