Um dia de intensa qualidade intelectual e cultural: li, escrevi e
contei - li artigos de jornal, escrevi sobre um deles, e, nas contas, refiz
projectos de como me libertar depressa dos dinheiros que vou receber este mês
em duplicado, pagando dívidas, no seu bolo maior, o que me faz feliz, na posse
de uma liberdade tantas vezes oprimida pelas contagens negativas, caso da
maioria da população a que pertenço.
Mas não foi só isso que causou o meu carpe diem deste dia: vi Batanetes, vi snooker, e outros programas
do meu zelo civilizacional, e, sobretudo, do desejo de esquecer ou fugir aos
danos que nos envolvem, vindos do mundo inteiro, não mais abstractos, porque imediatamente
visíveis e efusivamente badalados, nos meios próprios.
Mas a cereja sobre o bolo da minha espiritualidade de hoje, consistiu
na audição de um “CONCERTO DE JAZZ”,
com ANA LACERDA (Voz), RICARDO ROGAGELS (Guitarra),
no Salão nobre ou Sala dos Espelhos, do Palácio Foz, Palácio que merecia, tal como outras coisas belas que temos, “visitas
guiadas” e bem esclarecidas em programas televisivos.
Mas é ao concerto da Ana Lacerda
e do seu acompanhante Ricardo Rogagels,
que me refiro, como proporcionador do meu bem-estar espiritual do dia de ontem,
pelas 19 horas. Já o disse aqui, que a Ana
Margarida, minha neta, tem não só uma voz bela e trabalhada, como escreve
com uma arte de subtileza de traço, espirituoso e crítico, que bem poderá um
dia explorar, (quando o tempo lhe não faltar, talvez), além dessa voz que hoje
revelou a um público julgo que igualmente seduzido.
Cito o Programa:
Música Tradicional Portuguesa por dois
Músicos de Jazz
Ó Minha Amora Madura (Alentejo); Os Olhos Daquela Aquela (Alentejo); Ai ó Ai, meu bem (Faro);
Gota
de Água (Alentejo); Olhos Negros (Açores); Senhora
do Almortão (Beira Baixa); O Ladrão do Negro Melro (Alentejo); José
Embala o Menino (Beira Baixa – Castelo Branco); Roubei-te um Beijo
(Alentejo); Os Bravos (Açores).
Tal como tenho gravadas no meu computador a imagem e a canção brasileira
das abelhinhas que voam pelo jardim e que dão mel, que um dia a Ana cantou ao
seu bebé Pedrito, tocando ao piano, com o Pedro inicialmente atento, sentado no
seu colo, e para o fim rebelando-se, a querer participar, quadro de uma beleza
e ternura encantadores, gostaria que a frase final dessa canção também se
aplicasse ao destino da Ana: Venha ver
como dão “méu” as abelhas do céu (bis).
Uma figura grácil e senhoril, num domínio de concentração e rigor, nos seus
efeitos de voz a que as virtualidades do jazz impõem mestria, na suavidade
desses cantares populares, onde os tons mais agudos a cada passo sobressaem, não
ruidosos mas de uma espiritualidade a casar-se com a harmonia da sua figura
gentil.
Muitos parabéns, Ana. Penso que esta tua primeira audição te abre as
portas para muitas mais. Com todo o mérito e do teu acompanhante de guitarra.
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