Por cá, só tem a voz que os seus falsos
amigos - os daniéis oliveiras e companhia, que, cinicamente, e apenas isso, pretendem
atribuir-lhe voz, eles próprios, por trás – ou pela frente - escoltando-a e incitando-a em manobras de desrespeito pátrio, (como
isso das greves, que neste país se fazem sem respeito por outros valores que
não sejam o aumento do capital pessoal, venha este donde vier, e muito
particularmente se vindo de fora, sem esforço nacional, que deixou de ser coisa
fulcral o trabalho como algo dignificador do homem. Conceito, de resto, risível
hoje, desaparecido na penúria mental e física reinante. Democracia, uma ova!,
com tantos por trás - ou pela frente, sendo irrelevante o posicionamento – a manipular o “Zé
Povinho”, fingindo que lhe dão poder, quando o poder é para esses, os
incitadores da desordem, em proveito próprio e desprestígio pátrio, pátria que,
de resto, deixou de ter sentido.
A
crise da representação
Há que
compreender que a essência do populismo nacionalista não é a exclusão e a
desigualdade, antes reside na promessa de devolver a voz à maioria e recuperar
a confiança no regime democrático.
PATRÍCIA FERNANDES Professora
na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho
OBSERVADOR, 19
fev. 2024, 00:2013
1A representação como confiança
Regressemos a Edmund Burke. Como vimos,
devemos ao filósofo irlandês a conceptualização do mecanismo de representação,
em particular no seu discurso aos eleitores de Bristol. Segundo Burke, os representantes (os deputados) estão
necessariamente ligados aos seus constituintes:
“Os seus desejos devem ter um grande peso para
ele; as suas opiniões, um grande respeito; os seus negócios, uma atenção sem
reservas. É seu dever sacrificar o seu repouso, o seu prazer, as suas
satisfações às deles – e acima de tudo, sempre e em todos os casos, preferir o
interesse deles ao seu próprio.”
Mas,
“a
sua opinião imparcial, o seu julgamento maduro, a sua consciência esclarecida,
ele não deve sacrificar a vós, a nenhum homem, nem a qualquer grupo de homens.
(…) O vosso representante deve-vos, não apenas a sua indústria, mas o seu
julgamento; e ele trai, em vez de vos servir, se o sacrificar à vossa opinião.”
Este entendimento é designado
como representação de confiança: os eleitores depositam confiança num
representante para que ele
decida da melhor forma – e caso não fiquem satisfeitos com o seu desempenho,
terão oportunidade, nas eleições seguintes, de escolher outra pessoa.
É este sentido de representação que
permitirá amadurecer, primeiro nos Estados Unidos e depois na Europa, o regime
de soberania popular que os gregos tinham cunhado como democracia. Os Founding Fathers norte-americanos conheciam bem a história e
sabiam que a democracia dos antigos não era possível (devido ao tamanho dos
estados modernos), nem desejável (devido à sua instabilidade e
conflitualidade), mas reconheciam no povo a fonte do poder político, de acordo com a tradição contratualista.
O mecanismo de representação permitia conciliar estas preocupações e desejos: a
estabilidade e a qualidade da governação seriam garantidas pela escolha de
representantes, mas sem esquecer que, nas
palavras de Benjamin Franklin,
“em governos livres, os governantes são os servos, e o povo, seus superiores e
soberanos.”
Importa destacar que esta ideia tem um
alcance superior ao do velho princípio liberal de “No taxation without representation”: esta fórmula visava
opor-se à arbitrariedade dos monarcas absolutos, que procuravam impor impostos
(atacando a propriedade, que, para os liberais, é um direito natural) sem o
consentimento dos súbditos. Já o
sistema democrático exige mais do que isso: exige que os representantes ouçam a
voz dos cidadãos, reconheçam as suas preocupações e tenham em consideração a
sua vontade e o seu interesse nas decisões políticas que tomam.
Foi este sentido de soberania popular
enquanto democracia representativa que se tornou o mais importante mito no
Ocidente após a Grande Guerra, garantindo a vitória perante os ataques
inspirados quer na tradição marxista, quer na tradição fascista e das ditaduras
conservadoras. E o sentimento de confiança na democracia representativa
manteve-se forte nos anos que se seguiram ao final da segunda guerra mundial: os trinta anos de glorioso crescimento
económico foram também gloriosos para a democracia representativa.
2A crise da representação
Em Values, Voice and Virtue,
leitura que devo a André Abrantes Amaral, Matthew Goodwin
defende que essa relação de confiança se começa a degradar
com a revolução liberal que, no final dos anos 70, se verifica quer nos
valores, quer na economia. É, por um lado, o período das políticas económicas
neoliberais, que geram profundas desigualdades económicas; é, por outro, o
período da agenda liberal nos valores e na cultura, que começa a distanciar a
elite progressista da moralidade comum.
Pela minha parte, arriscaria dizer que as raízes mais antigas se
encontram logo no final da guerra, com a radicalização do ímpeto globalista e
universalista do liberalismo. Encontram-se na criação da ONU, na aprovação da
Declaração Universal de Direitos Humanos, na ambição de criar uma Europa unida
numa organização supra-estatal. É este
consenso pós-1945 que impõe
os valores do globalismo, que se tornará económico e cultural, e menospreza as
condições que permitiram o sucesso das democracias modernas, ligadas à
existência de estados, com sentido de identidade e fronteiras definidas.
Este consenso corrompe a relação de
confiança entre eleitores e representantes numa lógica que não é difícil de
identificar: conforme os centros de decisão se vão afastando do
contexto local (passando para a União Europeia, para instâncias internacionais,
para empresas multinacionais), menos peso tem a voz dos cidadãos. (É também
esta a tragédia do liberalismo: apesar de apelar à universalidade, só é
democrático se se mantiver local.)
A crise da representação começa,
assim, a manifestar-se nas últimas décadas do século XX, mas a grande erupção
acontece com a crise económico-financeira de 2007/8 e a subsequente Grande
Recessão, traduzida na Europa em crise das dívidas soberanas. A segunda década do novo século assistiu,
por isso, ao crescimento político de um fenómeno que a teoria política se
apressou a analisar: os
movimentos populistas. Como
Goodwin e Roger Eatwell chamam a atenção em Populismo: a revolta contra a
democracia liberal, o populismo não nasceu com esta crise e era
sintomático do crescente descontentamento com o estado da democracia antes dela. Mas
é inegável que a crise económica veio reforçar as ansiedades democráticas no
Ocidente.
3 A resposta populista
Embora o populismo seja um conceito
essencialmente contestado, para usar a expressão de W. B. Gallie, há uma lógica
esquemática que é comum ao pensamento populista, seja de esquerda, seja de
direita: a ideia de que a sociedade se encontra
dividida entre a maioria da população (o povo) e a elite, que é responsável
pelas decisões políticas, tomadas de acordo com os seus interesses e
menosprezando a vontade da maioria.
O populismo de esquerda entende que essa elite é essencialmente
económica e explora a maioria trabalhadora (ainda que a viragem
identitária se faça sentir cada vez mais).
É a narrativa fundadora do Podemos, em Espanha, e que pode
ser encontrada em certas formulações do Bloco de Esquerda, como Daniel Oliveira reconhece. À
direita, esse esquema é geralmente pensado em termos de elite política vs.
povo: as elites políticas, sujeitas aos interesses globalistas, quer económicos
quer morais e culturais, agiriam não de acordo com o interesse e a vontade da
população, mas para satisfazer essas
agendas globalistas (e também, em última instância, os seus interesses pessoais
– daí que a corrupção faça, quase sempre, parte deste discurso).
Embora
o populismo de esquerda tenha relevância política (nomeadamente com Jean-Luc
Mélenchon e Bernie Sanders), é o populismo de direita que mais tem crescido e
que mais assusta jornalistas e comentadores (curiosamente, parece assustar
muito menos a população). A análise que Goodwin faz em Values, virtue
and voice, se bem que essencialmente dedicada ao contexto britânico, permite
compreender esse crescimento: ele não é resultado de manipulação, desinformação
ou ignorância dos eleitores – resulta antes da falência do mito
democrático: uma
narrativa que prometia dar poder às pessoas, expressar os seus valores, ouvir a
sua voz e espelhar a sua noção de virtude, mas que deixou de o fazer. O
populismo nacionalista aproveita esta falência, prometendo recuperar a relação
de confiança perdida (se o concretizará, é outra questão e, provavelmente,
outro texto).
Não deixa, por isso, de gerar
incómodo a duplicidade de Daniel Oliveira quando diz:
“O
populismo de esquerda e de direita são muitíssimo diferentes. Não são
eticamente comparáveis e politicamente equivalentes. O primeiro não tem a
exclusão e a desigualdade como objectivos e os mais frágeis como alvo.”
Esta duplicidade não é apenas intelectualmente
frágil, uma vez que desconsidera todos os problemas que o populismo de esquerda
apresenta, como sofre de uma fraqueza maior: a demonização do populismo
nacionalista limita a nossa compreensão do que está a acontecer, tornando-nos
incapazes de evitar as suas ameaças. Não permite, nomeadamente, compreender
que a essência do populismo nacionalista não é a exclusão e a desigualdade: a
sua essência reside na promessa de devolver a voz à maioria e recuperar a
confiança no regime democrático. Ou, para usar a expressão de Norberto Bobbio, a
sua força é o compromisso de concretizar as promessas não cumpridas da
democracia.
DEMOCRACIA SOCIEDADE DESIGUALDADE
COMENTÁRIOS (de 13)
Américo Silva: Mas qual representação, o povo escolhe? Muito coagido e
condicionado, dentre os pratos que lhe apresentam as elites, e quando não
obedece é convidado a escolher novamente até acertar no mais financiado e mais
elogiado pelos órgãos de informação das mesmas elites. Entretanto morreu
Navalny e 127 palestinos. Paz às suas almas.
Tim do Á: Certo. A
democracia já não existe. E os países já não são independentes. E os governos
eleitos pelo povo já não mandam. Quem manda são os tribunais (nacionais e
internacionais) e o mundo Woke "politicamente correcto" globalista
elitista liberal totalitário tirânico emanado dos EUA e de órgãos não eleitos
da nossa UE. As eleições em cada país são para fingir que elegemos poder. João
Floriano: «No taxation without
representation is tyranny» foi um slogan político criado pelos representantes
das treze colónias iniciais na América do Norte para protestar contra o abuso
de poder do rei inglês Jorge III. A coroa inglesa lançava impostos sem que
as colónias americanas estivessem representadas no Parlamento . Era o chamado
paga e não pia. O que se segue é o Boston Tea Party, o Massacre de
Boston e a Guerra da Independência. É completamente transparente que no
momento em que nos encontramos o populismo de direita seja considerado mais
preocupante do que o da esquerda. Em Portugal e Espanha os governos de
esquerda cada vez mais encostados à extrema esquerda começam a sentir-se
ameaçados. Daí usam o populismo como um termo negativo e depreciativo para se referirem
aos protestos de quem não pensa de acordo com o mainstream da esquerda. Daniel
Oliveira é um conhecido jornalista e comentador de extrema-esquerda, pelo qual
eu nutro a mesma simpatia que ele nutre por todos os que votam na direita.
Não causa qualquer estranheza que defenda o populismo de esquerda porque
como todos nós sabemos o mundo para pessoas como Daniel Oliveira é a preto
e branco: Nós, os bons, os justos, os moralmente superiores, os salvadores da
humanidade, Eles os maus, os exploradores, os retrógrados, os defensores das
trevas. O eleitorado não pensa
assim e cada vez mais a Europa acorda do pesadelo da esquerda. Pouco se fala,
mas parece que a derrota do PSOE na Galiza foi muito dolorosa e um rude golpe
para a esquerda espanhola. Contam-me que o parlamento em
Madrid, se arrasta penosamente em qualquer decisão que tenha de ser tomada,
devido aos acordos de Sanchez com partidos anti-Espanha . Mas não
é conveniente que isso se diga por cá. Muito melhor apresentar ACosta em grande
estilo a falar portunhol e mais uma vez de um país da cor da sua gravata: rosa
bebé, porque só um bebé pode acreditar no país do qual ACosta fala. Pedro Almeida: A hipocrisia reina em Portugal. E o politicamente correcto. Muita
gente está farta Pedro
Almeida: Temos
uma pseudo-democracia. Não confio no Zé Povinho, nem nos jornalistas, nem nos
políticos
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