sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Não precisamos

 

De forças armadas. Nós cá, é a soco, tal como o Damasozinho, em ameaça de promessa, com os Palma Cavalões da nossa igualha. Outras vezes pode ser também à trolha, de ainda mais efeito prático. E no segredo das casas, refiram-se as cenas conjugais, com mortes à mistura, comprovativas da nossa discrição na valentia. Não, não precisamos. Haverá sempre quem nos defenda, lá de fora, em caso de generalização inesperada de conflito.

Para a Defesa nem ao menos uma promessa política?

Menos votos dará trazer para a opinião pública, como outros países europeus já o fazem, a discussão sobre o regresso do Serviço Militar Obrigatório, que hoje envolve questões complexas variadas.

FERNANDO FIGUEIREDO Coronel reformado

OBSERVADOR, 01 fev. 2024, 00:159

Bem pode, no Mundo, como o conhecemos, acontecer uma inversão geomagnética que as lideranças políticas em Portugal pouco ou nada se preocuparão com o assunto. Continuará a ser garantido que, mesmo com este possível acontecimento, o planeta não será vítima de uma extinção em massa ou de uma catástrofe natural e, portanto, a seu tempo alguém irá resolver os devastadores efeitos que possa ter na tecnologia. O mesmo acontece com as ameaças internas e externas nas questões da segurança e defesa da soberania portuguesa. Se existem, e são muitas, alguém irá decidir o que fazer, ou talvez não, mas isso também pouco importa. Portugal continua a ser considerado como o sétimo país mais seguro do mundo, o quarto na União Europeia, segundo a última edição do Global Peace Index e, como tal, daí não resulta preocupação para a governação.

Atente-se, antes de mais, no País à nossa volta, onde o que agora acontece é o somatório de más decisões políticas ou mesmo da falta delas. Não se trata de juízos de valor ou estudos académicos, mas, sim, factos reais, demonstrados e dramáticos. Desde logo, o número dos militares ao serviço das FFAA, na ordem dos 20 mil, muito abaixo dos 30.840 autorizados pelo D.L. 6/2022, de 07 de Janeiro, quantitativos já de si bastante reduzidos. Os partidos, os políticos e a sociedade em geral não podem alhear-se deste assunto e todos, sobretudo os primeiros, devem colocar o mesmo na agenda da campanha e mais ainda nas primeiras prioridades da governação futura. A falta de efetivos, os pedidos de abate ao QP de oficiais, as questões do estatuto e da condição militar, da gestão de carreiras, do apoio sanitário e complementar, da integração no sistema da Segurança Social são, em tudo, os elementos mais que suficientes para potenciar um cada vez maior e crescente clima geral de insatisfação, desmotivação e de injustiça relativa nos militares e capaz de, no curto prazo, comprometer de forma significativa a prontidão operacional das FFAA e, até, o cumprimento da sua missão ao serviço do País e dos portugueses.

Acresce que o governo socialista, agora demissionário, com a satisfação da revindicação da Polícia Judiciária na atribuição do suplemento de missão aos trabalhadores das carreiras especiais e das carreiras subsistentes, pelo exercício de funções em condições de risco, insalubridade e penosidade, tido como um investimento na valorização das carreiras, com o objetivo de reforçar os seus meios de combate às diversas formas de criminalidade, o que é laudável, abriu a caixa de Pandora para as carreiras de igual categoria. Repare-se que o anúncio da ministra da Justiça, a título de exemplo, de que os trabalhadores da carreira de investigação criminal passarão a auferir um valor mensal de 996,94€ de suplemento de missão, o que representa um acréscimo de 518,86€, face ao valor anteriormente auferido a título de suplemento de risco, nem é passível sequer de comparação, a não ser pelo ridículo, com o anúncio faustoso da ministra da Defesa do aumento da componente fixa do suplemento de condição militar em 70 euros, passando de 30 para 100 euros. A previsível reação das polícias, também eles merecedores de igual reconhecimento e valorização, a que se somam os militares da GNR, os guardas prisionais e todas as demais instituições ligadas à segurança interna, não acontece (ainda) nas FFAA, não acontecerá de igual forma por força da condição militar, mas é uma ameaça interna, pois criou as condições objetivas para aparecerem “movimentos inorgânicos” nas Forças Armadas. A vacuidade do Ministério da Defesa, o silêncio do Comandante Supremo das FFAA e a absoluta inexistência do Estado Maior General das FFAA, todos sem uma palavra que seja aos militares não augura bom resultado. As Associações Militares atentas aos desabafos dos militares nos quarteis já começaram a dar nota crítica e imagina-se que estejam à espera da resposta governamental às revindicações das Forças de Segurança, mas também os generais já deram o mote do estado da arte através do recente comunicado do Grupo de Reflexão Estratégica Independente.

Os militares aceitam a renúncia a direitos, liberdades e garantias que a CRP atribui a todos os cidadãos, assumem a obrigação de dar a vida pela Pátria, na defesa de Portugal e dos portugueses, reconhecem a necessidade da total e permanente disponibilidade para o desempenho de missões operacionais, quer em ambiente real, quer em treino e exercícios, com elevado risco, exigem de si próprios uma profunda capacidade técnica, física e psicológica que os ajude a combater também o afastamento familiar, a companhia dos amigos e as agruras de uma vida penosa, mas lidam mal com a injustiça, por força de tudo isto que abdicam em prol do País e da Bandeira que ostentam no ombro esquerdo. E, nesta altura de campanha eleitoral, todos, homem ou mulher, do soldado ao general, certamente se questionam do porquê de ainda nenhum, nem um sequer líder partidário se referiu à Defesa e às suas FFAA. A razão é simples, não dá votos!

Menos votos ainda dará trazer para a opinião pública, como outros países europeus já o fazem, a discussão sobre o regresso do Serviço Militar Obrigatório, que hoje envolve questões complexas variadas, como as implicações financeiras do mesmo, a natureza das ameaças, a mudança de mentalidades ou a sua implementação igualitária e justa. A criação de uma reserva de defesa, crucial para mobilizações rápidas e a resposta a imprevistos ou mesmo, os intangíveis desse serviço como a coesão social, permitindo que jovens de diferentes origens sociais, económicas, culturais e de ambos os sexos, vivenciem experiências comuns, o que contribui para a construção de uma identidade nacional, a aquisição de competências que serão valiosas nas suas vidas civis, incluindo camaradagem, liderança, habilidades técnicas e físicas, a par de enfatizar a disciplina, a responsabilidade pessoal e a resiliência, a redução das desigualdades sociais onde o rico e o pobre são colocados em iguais formas de servir a Pátria, podem ser importantes para o País, mas não são para os partidos nem para os políticos. A direita não tem a coragem de trazer o assunto a palco e a esquerda, sobretudo a que defende a nossa saída da NATO, não quer perder o eleitorado que ainda lhes resta. É uma discussão cara, mas será que os nossos políticos já pensaram quanto custa a liberdade? A certeza de que “não é soberano quem quer, é soberano quem pode” não está apenas vinculada à vontade, mas também à capacidade de exercer o poder efetivo, não é apenas uma questão de desejo, mas sim a capacidade real de Portugal ser livre no Mundo.

Desde a II Guerra Mundial que se assiste na Europa ao desejo generalizado de evitar futuros conflitos e promover a paz, a UE foi concebida para promover a colaboração entre os países membros, reduzindo as tensões e as razões para manter grandes forças armadas, a presença de forças militares dos EUA nalguns países europeus e a garantia de segurança oferecida pela NATO permitiram uma redução das forças armadas, a perceção das ameaças à segurança mudou com o colapso da União Soviética em 1991 e a ênfase passou para as soluções diplomáticas para resolver disputas internacionais. Entretanto em 2022, este equilíbrio acabou. A guerra entre Rússia e Ucrânia fez ressurgir o temor de uma nova Guerra Mundial. A isto juntou-se a guerra de Israel contra o Hamas, a instabilidade provocada pelos Houtis no Mar Vermelho, o conflito Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh, a tensão entre Taiwan e a China, a provocação permanente nas Coreias e nem a guerra da Síria ou a guerra civil no Iémen terminaram, tudo isto num Mundo onde ainda existem 13.080 armas nucleares, das quais 90% pertencem a dois países, a Rússia e os Estados Unidos. As guerras que se desenvolvem em escala local, mais especificamente na Ucrânia, podem ganhar novos desenvolvimentos e escalar rapidamente, passando a incluir assim outros países europeus e dos demais continentes.

O almirante Rob Bauer, presidente do Comité Militar da NATO, experiente militar, já desafiou tanto os governos quanto os civis para se prepararem para conflitos contundentes e para a perspetiva de serem recrutados para uma guerra que exigirá uma mudança total nas suas vidas nos próximos 20 anos. “Temos de perceber que não é um dado adquirido que estamos em paz. E é por isso que nós (forças NATO) temos planos, é por isso que nos estamos a preparar para um conflito com a Rússia”, disse Bauer aos jornalistas após uma reunião dos chefes de defesa da NATO em Bruxelas. “Precisamos que os intervenientes públicos e privados mudem a sua mentalidade de uma era em que tudo era planeável, previsível, controlável e centrado na eficiência, para uma era em que tudo pode acontecer a qualquer momento. Uma era em que precisamos esperar o inesperado”, alertou Bauer, acrescentando que “é preciso ser capaz de ter que se recorrer a uma base industrial que seja capaz de produzir armas e munições com rapidez suficiente para poder continuar um conflito, se estivermos nele”. Estas declarações aconteceram num contexto do anúncio do exercício militar Steadfast Defender 2024, a maior simulação de guerra organizada pela NATO desde o fim da Guerra Fria, tendo em vista a defesa da Europa. Foram mobilizados 90.000 soldados, envolvendo forças dos 31 países membros da OTAN, além da Suécia, candidata a membro, com Portugal a participar com 37 militares. Sim, leram bem e nem vale a pena, por vergonha alheia, comentar mais nada!

O anúncio deste exercício NATO surge depois de a Alemanha ter revelado que as forças de Putin estão a preparar-se para um ataque à NATO em 2025, com o Ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, a enfatizar a necessidade de “fortalecer rapidamente a nossa capacidade de defesa dada a urgência da situação de ameaça.” Os citados planos revelam em detalhe o que poderia ser o caminho para uma Terceira Guerra Mundial, com Putin usando a Bielorrússia como plataforma de lançamento para uma invasão – como fez em Fevereiro de 2022 para a sua guerra com a Ucrânia. O general Patrick Sanders, chefe do exército britânico, avisou os cidadãos do Reino Unido para estarem preparados para uma guerra à escala dos grandes conflitos do século XX – e que eles próprios poderão ter de se mobilizar. Joe Biden, presidente dos EUA, tem o hábito de fazer referência ao espectro de outra guerra mundial e várias vezes já afirmou que os EUA “estão a tentar evitar a Terceira Guerra Mundial”.

Perante as ameaças internas atrás referidas e em face das gravosas ameaças externas, o que faz a ainda ministra da Defesa? Pavoneia-se em mais uma edição do Dia da Defesa Nacional e vangloria-se de que 25% dos jovens participantes se mostraram disponíveis para participar na defesa do País. O facto de 75% não estarem para aí virados não lhe diz nada! Perante os sinais dos políticos europeus o que fazem os nossos políticos em campanha sobre a Defesa? Diga-me o leitor, porque não vi sinal algum de preocupação nessa matéria.

Para além da fulcral questão dos efectivos, a Lei de Programação Militar aprovada já no meio da guerra da Ucrânia não responde às novas realidades que se vivem no Mundo e é forçoso que o novo governo que saia das eleições de 10 de Março esteja preparado para actuar rapidamente sobre essas graves limitações das FFAA. A última resolução do Conselho de Ministros aponta para que dos 34 carros de combate existentes na Brigada Mecanizada apenas 14 irão ser recuperados, no Exército estamos sem capacidade de defesa aérea, na Força Aérea sem pilotos, na Marinha só um terço dos principais meios de combate (fragatas, corvetas e submarinos) estão disponíveis, e assim mais depressa Lisboa será russa que Olivença será nossa. Os políticos portugueses continuam a assobiar para o ar e, católicos ou não, todos parecem confiar mais na oração à Nª Srª de Fátima do que na proteção dos nossos valorosos Soldados de Portugal. Os portugueses que se preocupam com a Defesa devem estar curiosos com os programas dos partidos nesta área, mas se forem tão pensadas como têm sido as palavras que em campanha têm proferido os nossos políticos em defesa das nossas FFAA, bem merecem o nosso voto!

FORÇAS ARMADAS     DEFESA     SOCIEDADE

COMENTÁRIOS

Francisco Almeida: O senhor coronel está cheio de razão mas Portugal já não é o que foi. Não pretendo generalizar mas sempre me considerei um português que, por acaso, nasceu na Europa e estou há quase 50 anos a ser governado por europeus que, por acaso, quando não por desprazer, nasceram em Portugal. Esta constatação não exclui os pais do regime, Mário Soares e Sá Carneiro. Nem Cunhal, se a Rússia for considerada Europa. Acabar com o SMO foi disparate; acabar com as escolas de marinheiros da Armada foi disparate; acabar com os estaleiros navais, foi disparate, etc., etc.. Implementar uma política de imigração e leis de aquisição de nacionalidade à papa Francisco (todos, todos, todos) foi muito mais que imprudência. O conjunto de tudo, foi crime. Matou um país, hoje um cadáver adiado que ainda não percebeu que já morreu apenas porque os vampiros e abutres que lhe comem os restos, impedem a visão do local onde já se encontra. Reitero que não quero generalizar mas, vendo jovens licenciados a emigrar por dificuldade de arranjar casa e emprego, melhor compreenderei jovens a emigrar para se furtarem a qualquer SMO. E, se pessoalmente já interiorizei que o futuro material vai ser decidido por banqueiros de Frankfurt, por interposto BCE, face aos políticos que temos, nada me incomodava ver um holandês a gerir a economia, um general francês a chefe do Estado Maior e um suíço a governar o Banco de Portugal. Claro que preferia que os capatazes não fossem espanhóis, sobretudo castelhanos, mas até isso já seria pedir muito. Quando muito, poderemos sempre dizer que, talvez, com os chineses fosse ainda mais complicado.                 Carlos Chaves: Caríssimo Fernando Figueiredo, muito, obrigado por este lúcido e realista testemunho que aqui nos trouxe! 37 militares Portugueses em 90.000!!!!!!!!!!! Isto já não é assobiar para o lado, quem nos trouxe até aqui são criminosos de Lesa-Pátria!              Joaquim Almeida: S. M. O. (que, além do mais, podia ser aproveitado também como instrumento complementar da educação cívica dos e das jovens) nunca devia ter sido abolido mas deverá e poderá ser prescrito  de maneira a não prejudicar a vida civil dos convocados. Pode tornar-se um fermento de cidadania, tal como o articulista também refere, e fazer da necessidade virtude. (O velho SMO não tinha nem sombras de respeito  ou consideração  para com jovens a empreender uma vida profissional civil.                  Coxinho: Já pensaram que uma das vozes mais ajuizadas sobre o assunto foi precisamente a de Trump?                     José Luis Salema: Malhas que a abrilada teceu...                   bento guerra:  Com a provável eleição do Trump, vai ser necessário chegar aos 2 pct do Pib em Defesa. Eu apostaria no retorno do SMO, que constitui um bom período de equiparação democrática e até de formação patriótica, esse conceito que a "esquerda" abomina, Depois, havendo tantos chefes nas FA ,devemos atribuir-lhes mais "índios"                     Nokogiri: Pois... Mas Senhor Coronel, foram os militares que fizeram o 25 de Abril e graças a Deus foram alguns militares que fizeram o 25 de Novembro, os senhores deixaram a tropa ser infiltrada pelo PCP e pela Maçonaria, deixaram que os movimentos comunistas os humilhassem em África, abandalhar a disciplina, mesmo com as forças militares especiais todos voluntários, especialmente os fuzileiros por obra do careca comunista que já foi para o diabo e agora quer o Sr. tropa e SMO? Entendi-te! Há coronéis e generais a mais sem função, Portugal e a Europa, como bem disse Trump, têm de se chegar à frente e gastar, menos em eólicas que nada produzem e mais militares profissionais, A Alemanha tem de ser livre dos ditames dos tratados feitos pelos 4, ente eles um Estado sempre vencido, a França e a URSS de Estaline que os aliados deixaram avançar até Berlim.                 John Doe: Na Marinha, há alguns pontos positivos mas realmente o estado a que chegaram as F.A. portuguesas é desanimador: nem efectivos, nem material. Só colóquios de "ideologia de género", só conversas de chacha no Dia da Defesa, e no resto é como o autor disse: Exército sem munições nem material e ainda a querer "encostar" 20 dos 34 Leopard 2 - para que é que os compraram se era para encostar? - Força aérea sem pilotos, com F-16 não modernizados e sem qualquer capacidade de defesa anti-aérea contra misseis e drones, e Marinha ainda no papel pois pelo menos metade das unidades estão paradas por falta de manutenção. E nem politicos, nem partidos, nem tira-selfies de Belém parecem preocupados com isso.              Tim do Á: Muito bem. A Europa tem andado a dormir. Encostada aos EUA.

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