De forças armadas. Nós cá, é a soco, tal como o Damasozinho, em ameaça
de promessa, com os Palma Cavalões da nossa igualha. Outras vezes pode ser também
à trolha, de ainda mais efeito prático. E no segredo das casas, refiram-se as
cenas conjugais, com mortes à mistura, comprovativas da nossa discrição na
valentia. Não, não precisamos. Haverá sempre quem nos defenda, lá de fora, em caso de generalização inesperada de conflito.
Para a Defesa nem ao menos uma promessa política?
Menos votos dará trazer para a opinião
pública, como outros países europeus já o fazem, a discussão sobre o regresso
do Serviço Militar Obrigatório, que hoje envolve questões complexas variadas.
FERNANDO
FIGUEIREDO Coronel reformado
OBSERVADOR, 01
fev. 2024, 00:159
Bem pode, no Mundo, como o conhecemos,
acontecer uma inversão geomagnética que as lideranças políticas em Portugal
pouco ou nada se preocuparão com o assunto. Continuará a ser garantido que,
mesmo com este possível acontecimento, o planeta não será vítima de uma
extinção em massa ou de uma catástrofe natural e, portanto, a seu tempo alguém
irá resolver os devastadores efeitos que possa ter na tecnologia. O mesmo
acontece com as ameaças internas e externas nas questões da segurança e defesa
da soberania portuguesa. Se existem, e são muitas, alguém irá decidir o que
fazer, ou talvez não, mas isso também pouco importa. Portugal continua a ser
considerado como o sétimo país mais seguro do mundo, o quarto na União
Europeia, segundo a última edição do Global Peace Index e, como tal,
daí não resulta preocupação para a governação.
Atente-se, antes de mais, no País à
nossa volta, onde o que agora acontece é o somatório de más decisões políticas
ou mesmo da falta delas. Não se trata de juízos de valor ou estudos académicos,
mas, sim, factos reais, demonstrados e dramáticos. Desde logo, o número dos
militares ao serviço das FFAA, na ordem dos 20 mil, muito abaixo dos 30.840
autorizados pelo D.L. 6/2022, de 07 de Janeiro, quantitativos já de si bastante
reduzidos. Os partidos, os políticos e a sociedade em geral não podem alhear-se
deste assunto e todos, sobretudo os primeiros, devem colocar o mesmo na agenda
da campanha e mais ainda nas primeiras prioridades da governação futura. A
falta de efetivos, os pedidos de abate ao QP de oficiais, as questões do
estatuto e da condição militar, da gestão de carreiras, do apoio sanitário e
complementar, da integração no sistema da Segurança Social são, em tudo, os
elementos mais que suficientes para potenciar um cada vez maior e crescente clima
geral de insatisfação, desmotivação e de injustiça relativa nos militares e
capaz de, no curto prazo, comprometer de forma significativa a prontidão
operacional das FFAA e, até, o cumprimento da sua missão ao serviço do País e
dos portugueses.
Acresce que o governo socialista, agora
demissionário, com a satisfação da revindicação da Polícia Judiciária na
atribuição do suplemento de missão aos trabalhadores das carreiras especiais e
das carreiras subsistentes, pelo exercício de funções em condições de risco,
insalubridade e penosidade, tido como um investimento na valorização das
carreiras, com o objetivo de reforçar os seus meios de combate às diversas
formas de criminalidade, o que é laudável, abriu a caixa de Pandora para as
carreiras de igual categoria. Repare-se que o anúncio da ministra da Justiça, a
título de exemplo, de que os trabalhadores da carreira de investigação criminal
passarão a auferir um valor mensal de 996,94€ de suplemento de missão, o que
representa um acréscimo de 518,86€, face ao valor anteriormente auferido a
título de suplemento de risco, nem é passível sequer de comparação, a não ser
pelo ridículo, com o anúncio faustoso da ministra da Defesa do aumento da
componente fixa do suplemento de condição militar em 70 euros, passando de 30
para 100 euros. A previsível reação das polícias, também eles merecedores de
igual reconhecimento e valorização, a que se somam os militares da GNR, os
guardas prisionais e todas as demais instituições ligadas à segurança interna,
não acontece (ainda) nas FFAA, não acontecerá de igual forma por força da
condição militar, mas é uma ameaça interna, pois criou as condições objetivas
para aparecerem “movimentos inorgânicos” nas Forças Armadas. A vacuidade do
Ministério da Defesa, o silêncio do Comandante Supremo das FFAA e a absoluta
inexistência do Estado Maior General das FFAA, todos sem uma palavra que seja
aos militares não augura bom resultado. As Associações Militares atentas aos
desabafos dos militares nos quarteis já começaram a dar nota crítica e imagina-se
que estejam à espera da resposta governamental às revindicações das Forças de
Segurança, mas também os generais já deram o mote do estado da arte através do
recente comunicado do Grupo de Reflexão Estratégica Independente.
Os militares aceitam a renúncia a
direitos, liberdades e garantias que a CRP atribui a todos os cidadãos, assumem
a obrigação de dar a vida pela Pátria, na defesa de Portugal e dos portugueses,
reconhecem a necessidade da total e permanente disponibilidade para o
desempenho de missões operacionais, quer em ambiente real, quer em treino e
exercícios, com elevado risco, exigem de si próprios uma profunda capacidade
técnica, física e psicológica que os ajude a combater também o afastamento
familiar, a companhia dos amigos e as agruras de uma vida penosa, mas lidam mal
com a injustiça, por força de tudo isto que abdicam em prol do País e da
Bandeira que ostentam no ombro esquerdo. E, nesta altura de campanha eleitoral,
todos, homem ou mulher, do soldado ao general, certamente se questionam do
porquê de ainda nenhum, nem um sequer líder partidário se referiu à Defesa e às
suas FFAA. A razão é simples, não dá votos!
Menos votos ainda dará trazer para a
opinião pública, como outros países europeus já o fazem, a discussão sobre o
regresso do Serviço Militar Obrigatório, que hoje envolve questões complexas
variadas, como as implicações financeiras do mesmo, a natureza das ameaças, a
mudança de mentalidades ou a sua implementação igualitária e justa. A criação
de uma reserva de defesa, crucial para mobilizações rápidas e a resposta a
imprevistos ou mesmo, os intangíveis desse serviço como a coesão social,
permitindo que jovens de diferentes origens sociais, económicas, culturais e de
ambos os sexos, vivenciem experiências comuns, o que contribui para a
construção de uma identidade nacional, a aquisição de competências que serão
valiosas nas suas vidas civis, incluindo camaradagem, liderança, habilidades
técnicas e físicas, a par de enfatizar a disciplina, a responsabilidade pessoal
e a resiliência, a redução das desigualdades sociais onde o rico e o pobre são
colocados em iguais formas de servir a Pátria, podem ser importantes para o
País, mas não são para os partidos nem para os políticos. A direita não tem a
coragem de trazer o assunto a palco e a esquerda, sobretudo a que defende a
nossa saída da NATO, não quer perder o eleitorado que ainda lhes resta. É uma
discussão cara, mas será que os nossos políticos já pensaram quanto custa a
liberdade? A certeza de que “não é soberano quem quer, é soberano quem pode”
não está apenas vinculada à vontade, mas também à capacidade de exercer o poder
efetivo, não é apenas uma questão de desejo, mas sim a capacidade real de
Portugal ser livre no Mundo.
Desde a II Guerra Mundial que se assiste
na Europa ao desejo generalizado de evitar futuros conflitos e promover a paz,
a UE foi concebida para promover a colaboração entre os países membros,
reduzindo as tensões e as razões para manter grandes forças armadas, a presença
de forças militares dos EUA nalguns países europeus e a garantia de segurança
oferecida pela NATO permitiram uma redução das forças armadas, a perceção das
ameaças à segurança mudou com o colapso da União Soviética em 1991 e a ênfase
passou para as soluções diplomáticas para resolver disputas internacionais.
Entretanto em 2022, este equilíbrio acabou. A guerra entre Rússia e Ucrânia fez
ressurgir o temor de uma nova Guerra Mundial. A isto juntou-se a guerra de
Israel contra o Hamas, a instabilidade provocada pelos Houtis no Mar Vermelho,
o conflito Azerbaijão x Armênia em Nagorno-Karabakh, a tensão entre Taiwan e a
China, a provocação permanente nas Coreias e nem a guerra da Síria ou a guerra
civil no Iémen terminaram, tudo isto num Mundo onde ainda existem 13.080 armas
nucleares, das quais 90% pertencem a dois países, a Rússia e os Estados Unidos.
As guerras que se desenvolvem em escala local, mais especificamente na Ucrânia,
podem ganhar novos desenvolvimentos e escalar rapidamente, passando a incluir
assim outros países europeus e dos demais continentes.
O almirante Rob Bauer, presidente do
Comité Militar da NATO, experiente militar, já desafiou tanto os governos
quanto os civis para se prepararem para conflitos contundentes e para a
perspetiva de serem recrutados para uma guerra que exigirá uma mudança total
nas suas vidas nos próximos 20 anos. “Temos de perceber que não é um dado
adquirido que estamos em paz. E é por isso que nós (forças NATO) temos planos,
é por isso que nos estamos a preparar para um conflito com a Rússia”, disse
Bauer aos jornalistas após uma reunião dos chefes de defesa da NATO em
Bruxelas. “Precisamos que os intervenientes públicos e privados mudem a sua
mentalidade de uma era em que tudo era planeável, previsível, controlável e
centrado na eficiência, para uma era em que tudo pode acontecer a qualquer
momento. Uma era em que precisamos esperar o inesperado”, alertou Bauer,
acrescentando que “é preciso ser capaz de ter que se recorrer a uma base
industrial que seja capaz de produzir armas e munições com rapidez suficiente
para poder continuar um conflito, se estivermos nele”. Estas declarações
aconteceram num contexto do anúncio do exercício militar Steadfast Defender
2024, a maior simulação de guerra organizada pela NATO desde o fim da Guerra
Fria, tendo em vista a defesa da Europa. Foram mobilizados 90.000 soldados,
envolvendo forças dos 31 países membros da OTAN, além da Suécia, candidata a
membro, com Portugal a participar com 37 militares. Sim, leram bem e nem vale a
pena, por vergonha alheia, comentar mais nada!
O anúncio deste exercício NATO surge
depois de a Alemanha ter revelado que as forças de Putin estão a preparar-se
para um ataque à NATO em 2025, com o Ministro da Defesa da Alemanha, Boris
Pistorius, a enfatizar a necessidade de “fortalecer rapidamente a nossa capacidade
de defesa dada a urgência da situação de ameaça.” Os citados planos revelam em
detalhe o que poderia ser o caminho para uma Terceira Guerra Mundial, com Putin
usando a Bielorrússia como plataforma de lançamento para uma invasão – como fez
em Fevereiro de 2022 para a sua guerra com a Ucrânia. O general Patrick
Sanders, chefe do exército britânico, avisou os cidadãos do Reino Unido para
estarem preparados para uma guerra à escala dos grandes conflitos do século XX
– e que eles próprios poderão ter de se mobilizar. Joe Biden, presidente dos
EUA, tem o hábito de fazer referência ao espectro de outra guerra mundial e
várias vezes já afirmou que os EUA “estão a tentar evitar a Terceira Guerra
Mundial”.
Perante as ameaças internas atrás
referidas e em face das gravosas ameaças externas, o que faz a ainda ministra
da Defesa? Pavoneia-se em mais uma edição do Dia da Defesa Nacional e
vangloria-se de que 25% dos jovens participantes se mostraram disponíveis para
participar na defesa do País. O facto de 75% não estarem para aí virados não
lhe diz nada! Perante os sinais dos políticos europeus o que fazem os nossos
políticos em campanha sobre a Defesa? Diga-me o leitor, porque não vi sinal
algum de preocupação nessa matéria.
Para além da fulcral questão dos efectivos,
a Lei de Programação Militar aprovada já no meio da guerra da Ucrânia não
responde às novas realidades que se vivem no Mundo e é forçoso que o novo
governo que saia das eleições de 10 de Março esteja preparado para actuar
rapidamente sobre essas graves limitações das FFAA. A última resolução do
Conselho de Ministros aponta para que dos 34 carros de combate existentes na
Brigada Mecanizada apenas 14 irão ser recuperados, no Exército estamos sem
capacidade de defesa aérea, na Força Aérea sem pilotos, na Marinha só um terço
dos principais meios de combate (fragatas, corvetas e submarinos) estão
disponíveis, e assim mais depressa Lisboa será russa que Olivença será nossa.
Os políticos portugueses continuam a assobiar para o ar e, católicos ou não,
todos parecem confiar mais na oração à Nª Srª de Fátima do que na proteção dos
nossos valorosos Soldados de Portugal. Os portugueses que se preocupam com a
Defesa devem estar curiosos com os programas dos partidos nesta área, mas se
forem tão pensadas como têm sido as palavras que em campanha têm proferido os
nossos políticos em defesa das nossas FFAA, bem merecem o nosso voto!
FORÇAS ARMADAS DEFESA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS
Francisco Almeida: O senhor coronel está cheio de
razão mas Portugal já não é o que foi. Não pretendo generalizar mas sempre me
considerei um português que, por acaso, nasceu na Europa e estou há quase 50
anos a ser governado por europeus que, por acaso, quando não por desprazer,
nasceram em Portugal. Esta constatação não exclui os pais do regime, Mário
Soares e Sá Carneiro. Nem Cunhal, se a Rússia for considerada Europa. Acabar com o SMO foi disparate;
acabar com as escolas de marinheiros da Armada foi disparate; acabar com os
estaleiros navais, foi disparate, etc., etc.. Implementar uma política de
imigração e leis de aquisição de nacionalidade à papa Francisco (todos, todos,
todos) foi muito mais que imprudência. O conjunto de tudo, foi crime.
Matou um país, hoje um cadáver adiado que ainda não percebeu que já morreu
apenas porque os vampiros e abutres que lhe comem os restos, impedem a visão do
local onde já se encontra. Reitero que não quero generalizar mas, vendo jovens licenciados a emigrar
por dificuldade de arranjar casa e emprego, melhor compreenderei jovens a
emigrar para se furtarem a qualquer SMO. E, se pessoalmente já interiorizei que
o futuro material vai ser decidido por banqueiros de Frankfurt, por interposto
BCE, face aos políticos que temos, nada me incomodava ver um holandês a gerir a
economia, um general francês a chefe do Estado Maior e um suíço a governar o
Banco de Portugal. Claro que preferia que os capatazes não fossem espanhóis,
sobretudo castelhanos, mas até isso já seria pedir muito. Quando muito,
poderemos sempre dizer que, talvez, com os chineses fosse ainda mais
complicado.
Carlos Chaves: Caríssimo Fernando Figueiredo, muito, obrigado por este lúcido e
realista testemunho que aqui nos trouxe! 37 militares Portugueses em 90.000!!!!!!!!!!! Isto já não é assobiar para o
lado, quem nos trouxe até aqui são criminosos de Lesa-Pátria! Joaquim Almeida: S. M. O. (que, além do mais,
podia ser aproveitado também como instrumento complementar da educação cívica
dos e das jovens) nunca devia ter sido abolido mas deverá e poderá ser
prescrito de maneira a não prejudicar a vida civil dos convocados. Pode
tornar-se um fermento de cidadania, tal como o articulista também refere, e
fazer da necessidade virtude. (O velho SMO não tinha nem sombras de
respeito ou consideração para com jovens a empreender uma vida
profissional civil. Coxinho: Já pensaram que uma das vozes
mais ajuizadas sobre o assunto foi precisamente a de Trump? José Luis Salema: Malhas que a abrilada teceu... bento guerra: Com a provável eleição do Trump, vai ser necessário chegar aos 2 pct do Pib
em Defesa. Eu apostaria no retorno do SMO, que constitui um bom período de
equiparação democrática e até de formação patriótica, esse conceito que a
"esquerda" abomina, Depois, havendo tantos chefes nas FA ,devemos
atribuir-lhes mais "índios" Nokogiri: Pois... Mas Senhor Coronel, foram os
militares que fizeram o 25 de Abril e graças a Deus foram alguns militares que
fizeram o 25 de Novembro, os senhores deixaram a tropa ser infiltrada pelo PCP
e pela Maçonaria, deixaram que os movimentos comunistas os humilhassem em
África, abandalhar a disciplina, mesmo com as forças militares especiais todos
voluntários, especialmente os fuzileiros por obra do careca comunista que já
foi para o diabo e agora quer o Sr. tropa e SMO? Entendi-te! Há coronéis e
generais a mais sem função, Portugal e a Europa, como bem disse Trump, têm de
se chegar à frente e gastar, menos em eólicas que nada produzem e mais
militares profissionais, A Alemanha tem de ser livre dos ditames dos tratados
feitos pelos 4, ente eles um Estado sempre vencido, a França e a URSS de
Estaline que os aliados deixaram avançar até Berlim. John Doe: Na Marinha, há alguns pontos
positivos mas realmente o estado a que chegaram as F.A. portuguesas é
desanimador: nem efectivos, nem material. Só colóquios de "ideologia de género",
só conversas de chacha no Dia da Defesa, e no resto é como o autor disse:
Exército sem munições nem material e ainda a querer "encostar" 20 dos
34 Leopard 2 - para que é que os compraram se era para encostar? - Força aérea
sem pilotos, com F-16 não modernizados e sem qualquer capacidade de defesa
anti-aérea contra misseis e drones, e Marinha ainda no papel pois pelo menos
metade das unidades estão paradas por falta de manutenção. E nem politicos, nem
partidos, nem tira-selfies de Belém parecem preocupados com isso. Tim do Á: Muito bem. A Europa tem
andado a dormir. Encostada aos EUA.
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