A Alemanha já tem mais experiência, por
isso se previne, e a França também. Nunca se sabe com que ocultas intenções, é
certo, que as ânsias do poder são uma constante em várias partes do globo, como
se tem visto, e disso os germânicos já deram provas competentes (a França também)
e talvez não se importem de continuar a dar. A gente o que desejava, era que
houvesse um deus castigador pendente sobre o homem da Rússia. Por cá, povo lusíada,
não sabemos como vamos estar na crise, sem tropa de apoio, nem mesmo fandanga
que preste. Felizmente não nos faltam pedras, por esses montes, para a defesa
no Campo, e, na Cidade, temos as das calçadas, para irmanação com a Palestina
dos nossos arroubos atacantes e ajudarmos assim na defesa contra o ataque russo.
Uma guerra com a Rússia já não é
"inimaginável". Mas à Europa ainda faltam soldados, armas
e "confiança"
Agressividade russa e possível
afastamento dos EUA da NATO (sobretudo com Trump) pairam sobre a Europa. As
declarações catastrofistas sucedem-se. Serão realistas? E a UE tem capacidade
para reagir?
OBSERVADOR, 06
fev. 2024, 23:2183
Índice
“A NATO está morta”, disse Trump. E se ele for
novamente Presidente?
O “ponto de viragem” histórico da Alemanha
França oferece o seu poder de “chantagem nuclear”
Junto à fronteira, falta “confiança” em Berlim e Paris
O maior exercício militar da
História da NATO desde o fim da Guerra Fria. É isso
que está a acontecer numa área que vai dos Bálticos à Polónia, passando pela
Alemanha, desde o início deste mês e até ao final de março. Ao todo, 90 mil soldados participarão na Steadfast Defender, a
operação que contará com unidades dos 31 Estados-membros da Aliança Atlântica,
a que se junta a Suécia — ainda à
espera da luz verde final por parte da Hungria para se tornar membro pleno do
grupo.
Do outro lado desta “guerra imaginada” está aquele que é o mais provável inimigo
em caso de confronto real: a Rússia, a liderar uma coligação de países a que a
NATO deu o nome de “Occasus”, num cenário em que a nação liderada por Vladimir
Putin decide ir além da Ucrânia e invadir território da União Europeia (UE).
É “a reconstrução de um músculo que
não era exercido há três décadas”, nota ao Observador Rafael Loss, investigador
do think tank Conselho Europeu para as Relações Internacionais (ECFR na sigla
original). “Organizar e conduzir operações de larga escala é um esforço
extremamente complexo. No meio de uma crise, toda a gente — soldados,
comandantes, líderes — precisam de saber como fazer o seu trabalho e isto exige
treino.”
Um treino que é, neste momento, mais
necessário do que nunca, avisa Christos Katsioulis, diretor do organismo alemão
Friedrich-Ebert-Stiftung: “Há décadas que não vivemos uma situação tão
arriscada na Europa.” E a NATO, diz, é o instrumento possível para “sinalizar a
Moscovo” que os europeus estão alerta e para acalmar os países do leste da
Europa, que fazem fronteira com a Rússia.
Líderes europeus alertam para
possibilidade de ataque russo. Previsão realista ou estratégia política?
A
escalada bélica tem sido acompanhada na retórica. Ao longo
das últimas semanas, vários líderes políticos e militares por toda a Europa se
têm desdobrado em alertas para o maior risco de uma guerra em solo da União.
O Almirante Rob Bauer, da NATO, declara que “a paz não é um dado adquirido”. A
primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, diz que a Europa tem entre três a cinco anos para
se preparar para um ataque vindo do leste. O
principal responsável militar da Roménia, Gheorghiță Vlad, afirma que se
Putin vencer na Ucrânia, a Moldávia será o
próximo alvo militar do Kremlin.
E os alertas não chegam só dos países
mais a leste. Em Estocolmo, o ministro da Proteção Civil é taxativo: “Pode haver uma guerra na Suécia”. E
Boris Pistorius, actual ministro da Defesa alemão, também faz soar os tambores:
“Podemos estar a enfrentar perigos no final desta década”, diz. “Temos cinco a oito anos para recuperar, relativamente às
Forças Armadas, à indústria e à sociedade.”
▲ O
risco de um ataque a um país da UE por parte de Vladimir Putin tem sido
apontado por vários líderes europeus GETTY IMAGES
A guerra na Ucrânia, que decorre
desde 2022, mudou todo o enquadramento mental dos europeus, nota a
investigadora em política de segurança europeia Minna Ålander: “A Rússia usou os dois anos de guerra de
forma eficiente em termos de criar uma economia de guerra e produção de
armamento”, diz a especialista do Instituto Finlandês de Assuntos
Internacionais. “Já não parece
inimaginável que a Rússia se sinta empoderada para atacar a NATO, tendo em
conta como o seu ataque à Ucrânia também se baseou numa má avaliação.”
Ionela Ciolan, do Wilfried Martens
Centre for European Studies, dá um exemplo prático: “O Kremlin está a planear alocar 6% do seu PIB à
Defesa em 2024 e aumentar o número de soldados para 1,3 milhões, o que é
sinal de que se está a preparar para uma guerra prolongada.” E o risco para a Europa parece ser independente do resultado da guerra na
Ucrânia, acrescenta Rafael Loss: “Uma
vitória insuflaria Putin; uma derrota pode torná-lo ainda mais temerário.”
Apesar de essa ser uma possibilidade,
Christos Katsioulis, contudo, considera que as lideranças europeias deveriam
estar mais focadas em discutir o apoio à Ucrânia do que um possível ataque
russo à UE. A principal razão para esta sucessão de avisos
catastróficos, diz, está mais relacionada com uma pressão política para
tentar aumentar os orçamentos militares: “Muitos países europeus, a
Alemanha entre eles, vão enfrentar em breve um debate a que podemos chamar
‘Armas ou Manteiga’. Ou seja: em tempos de pouca riqueza, ou se financia mais a
Defesa ou as áreas sociais. Estes avisos são um instrumento para aumentar os
gastos na Defesa, sugerindo que um ataque russo pode estar iminente.”
“Só agora é que a Europa
Ocidental está a começar a perceber que os dividendos de paz do pós-Guerra Fria
podem bem ter sido uma anomalia histórica e não um novo estado permanente.” Minna
Ålander, especialista em segurança europeia
Seja um ataque iminente ou uma possibilidade mais distante, a
verdade é que o debate sobre como os países europeus devem montar a sua Defesa
começa a impor-se em Bruxelas e em capitais europeias como Berlim e Paris,
deixando de ser um exclusivo de Polónia, Roménia e Bálticos. Com o início da invasão da Ucrânia, a
grande maioria dos países europeus reagiram rapidamente: impuseram sanções à
Rússia, tentaram substituir a energia vinda do país e reforçaram os orçamentos
militares.
Actualmente, as previsões indicam que, em 2024, 19 dos 31
Estados-membros da NATO atingirão o objetivo propagado há uma década de 2% do
PIB em gastos com a Defesa. Em 2026, esse número deverá chegar aos 24.
Ionela Ciolan, que estuda a NATO, diz que, tendo em conta as circunstâncias
atuais, os 2% já não devem ser encarados pelos países “como um ponto de
chegada, mas antes como um ponto de partida”.
Líderes como Emmanuel Macron — que há
muito defende a necessidade de uma “autonomia estratégica” por parte da Europa
— e Olaf Scholz — que anunciou uma viragem total da política externa alemã na
sequência da guerra, a Zeitenwende — têm sublinhado que esses
aumentos, por si só, não chegam. Esse é um discurso que, diz Minna Ålander, já
é familiar para os finlandeses e para polacos, estónios, lituanos e letões e
que está agora a alastrar-se: “Só agora é que a Europa Ocidental está a começar
a perceber que os dividendos de paz do pós-Guerra Fria podem bem ter sido uma
anomalia histórica e não um novo estado permanente.”
“A NATO está morta”, disse Trump. E se ele for
novamente Presidente?
O aviso mais taxativo dos últimos tempos
veio precisamente do coração da Europa, directamente de Bruxelas: Manfred
Weber, líder do Partido Popular Europeu, afirmou, numa entrevista ao Politico no final de janeiro, que a
Europa tem de estar preparada para a possibilidade de vir a enfrentar uma
guerra sem o apoio dos Estados Unidos: “Como político europeu, quando olho
para o ano que aí vem, a primeira coisa que me vem à cabeça é Trump”, disse,
referindo-se à possibilidade de o antigo Presidente norte-americano voltar a
ser eleito. “Queremos a
NATO, mas também temos de ser suficientemente fortes para nos defendermos sem
ela ou em tempos de Trump.”
As eleições norte-americanas de novembro
trazem de novo à tona as memórias de quando Donald Trump ameaçou não cumprir
o Artigo 5.º do Tratado da NATO (que sentencia
que um ataque a um aliado é um ataque a todos), por considerar que os europeus deveriam contribuir mais para a sua
própria Defesa. O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry
Breton, recordou no mês passado uma conversa entre Trump e a presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em 2020: “Se a Europa for atacada, nunca viremos em vosso auxílio. E, já
agora, a NATO está morta e nós vamos sair dela”, terá dito Trump.
▲ A NATO foi um dos
temas discutidos nesta cimeira do G7, que opôs Trump a vários líderes mundiais GETTY IMAGES
O impacto de uma retirada
norte-americana da Aliança Atlântica na Europa seria imenso: só neste momento,
há 100 mil soldados norte-americanos em território europeu, de prontidão.
Os planos de prontidão da NATO prevêem que mais se juntassem em caso de ataque
a um país europeu.
Oficialmente, Trump é actualmente vago sobre este tema. “Devemos completar o processo que
iniciámos durante a minha presidência de rever o sentido e a missão da NATO”, pode ler-se no site da campanha do antigo
Presidente. Mas a maioria dos
conselheiros que durante o primeiro mandato de Trump fizeram força para que o
Presidente não abandonasse a Aliança já não estão com ele, nota a colunista Anne Applebaum.
“Os danos que ele causou no primeiro mandato são reparáveis”, disse-lhe o
antigo conselheiro John Bolton. “Os
danos do segundo serão irreparáveis.”
Mas os especialistas ouvidos pelo Observador consideram que os
europeus devem pensar em assegurar a sua Defesa sem contar com os
norte-americanos mesmo que Trump não seja reeleito. “O Congresso
está a tentar adoptar medidas preventivas para que um futuro Presidente não
possa sair unilateralmente da NATO e não creio que acontecesse de imediato se
ele fosse reeleito. Mas ele poderia à mesma infligir grandes danos”, reconhece
Ålander. Mas “o risco de
os EUA se tornaram mais isolacionistas vai para lá do regresso dele, por causa
da dinâmica interna do Partido Republicano”, a que se soma a multiplicidade de
focos de tensão mundiais, como o Médio Oriente e o Indo-Pacífico.
Rafael Loss também considera que há o
risco de “uma simples declaração ou
tweet” de Trump minarem a NATO, o que poderia levar Putin “a decidir testar a
unidade da Aliança numa situação dessas”. Mas o analista concorda que os riscos vão além do ex-Presidente: “Mesmo com
um Presidente pró-europeu na Casa Branca, os EUA vão continuar a ver a China
como a principal ameaça e a deslocar mais recursos e atenção para o
Indo-Pacífico. De uma forma ou de outra, os países europeus da NATO têm de
assumir a responsabilidade de defender o seu próprio continente.”
O “ponto de viragem” histórico da
Alemanha
Olaf Scholz anunciou-a como um Zeitenwende: o ponto de viragem
de uma época. Foi assim que, no ano passado, o chanceler alemão
descreveu a nova política de Defesa da Alemanha, começando por garantir o compromisso de
2% do PIB e um investimento extra de 100 mil milhões de euros para adquirir
armamento.
A par da sua mudança na política externa, na sequência da guerra na
Ucrânia, é todo um programa novo face
à postura até aí adotada pelo país na sequência da II Guerra Mundial. Como descreveu o Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, a
Alemanha transformou três dos seus pilares de política externa: é o fim da “diplomacia
primeiro”, do “nunca mais à guerra” e, por fim, do “não avançar sozinho”.
Christos Katsioulis, que dirige uma ONG
alemã, não tem dúvidas em admitir que esta é “uma enorme mudança”: “Os
gastos com a Defesa aumentaram e o reforço do Bundeswehr [Exército alemão]
começaram, devagar, mas metodicamente; o governo alemão é o maior apoiante da
Ucrânia, não apenas financeiramente, mas com armamento — o que era impensável
há três anos; e há uma nova linguagem, com o ministro da Defesa a dizer que o
país tem de estar ‘preparado para a guerra’.”
A mudança, contudo, é lenta. “Com a Alemanha a fornecer armas à
Ucrânia, não tem sido capaz de substituir os seus próprios stocks”,
nota Minna Ålander. “Há incertezas
sobre o financiamento futuro, para quando o fundo especial terminar. E o
sentimento de urgência começa a desvanecer, razão pela qual o ministro da
Defesa tem usado uma linguagem mais provocatória, para alertar os alemães.”
O apoio
popular a um aumento na Defesa é fulcral, particularmente numa fase em
que, como relembrou Katsioulis, muitos podem preferir alocar esses fundos em
apoio social e em que o actual governo é muito impopular. As sondagens
notam que 69% dos alemães são favoráveis ao
aumento do orçamento da Defesa para 2% do PIB, por um lado; por outro,
71% dizem-se contra a
ideia de a Alemanha assumir um papel de liderança militar na Europa.
▲ O ministro da Defesa alemão,
Boris Pistorius, diz que há a possibilidade de uma guerra daqui entre
"cinco a oito anos" GETTY
IMAGES
A todos estes constrangimentos
junta-se o facto de que gastar mais não significa automaticamente melhores
resultados, como lembra Katsoulis: “O que é preciso não são necessariamente
mais gastos, são gastos mais inteligentes”. Isto porque os países europeus
enfrentam as enormes diferenças em termos de equipamento entre si, o que
aumenta o risco de “duplicação” e “falta de operacionalização”. Um levantamento da Fundação para os Estudos Progressitas Europeus nota,
por exemplo, que, entre os países que são simultaneamente Estados-membros da
UE e da NATO (que são 23), há “12 tipos diferentes de tanques, 16 tipos
diferentes de aeronaves de combate, 15 modelos diferentes de aeronaves de
transporte e 12 tipos diferentes de submarinos”.
A
isto junta-se o problema da possível falta de soldados em caso de um conflito
armado — já que a maioria dos países abandonou o serviço militar obrigatório —
e de material. “Se rebentar aqui uma guerra, ao fim de poucas
horas temos de atirar pedras, porque
já não temos munições”, avisou um antigo general belga, Marc Thys, recentemente.
Ideia reforçada por Patrick Sensburg, responsável oficial pelo
treino de reservistas na Alemanha: “No outro dia, os reservistas fizeram o
exercício de montar um posto de controlo. Um deles contou-me depois que parecia
o parque de estacionamento do Lidl, porque tiveram de usar os carros privados
deles. Vladimir Putin pode ter ideias estúpidas ao ver que só um em cada dez
dos nossos reservistas tem uma arma.”
França oferece o seu poder de “chantagem nuclear”
E se a Alemanha continua hesitante em
assumir um lugar de liderança na área da Defesa europeia, a França parece preparada. Há anos
que Emmanuel Macron tem alertado para essa necessidade, tendo dito em tempos
que a NATO estava em “morte cerebral”. Em 2020, chegou a relembrar que o seu país é o único da UE (desde o
Brexit) que tem armas nucleares e ofereceu-se para discutir um modelo em que
estas pudessem ser colocadas ao serviço de toda a UE.
Agora, Manfred Weber resgata essa proposta, dizendo que é tempo
de internacionalizar a “force de frappe”: “Devíamos aceitar a oferta de Macron e pensar como podemos incorporar
o armamento nuclear da França nas estruturas europeias.”
A ideia tem o apoio dos aliados mais
improváveis, como Joschka Fischer, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros alemão
no governo de Gerhard Schröder e membro dos Verdes: “O mundo mudou, Putin
também usa a chantagem nuclear”, justificou-se numa entrevista em novembro passado ao Die Zeit. Na Alemanha,
a ideia começa a ser ponderada, como confirmou um diplomata do país ao mesmo jornal.
▲ Emmanuel
Macron sugeriu discutir uma partilha do armamento nuclear francês com o resto
da Europa
POOL/AFP VIA GETTY IMAGES
Isso poderia ser colocado em prática de
duas formas, resume Ionela Ciolan: com a criação de uma agência europeia para
gerir o armamento nuclear ou através de acordos bilaterais entre França (e
Reino Unido) com outros países europeus. Mas nem todos os especialistas ouvidos
pelo Observador concordam que esta seria uma ideia útil: “Nem a França
nem o Reino Unido conseguem substituir o guarda-chuva nuclear dos Estados
Unidos”, avisa Rafael Loss. “E também suspeito que os países europeus que
assinaram o Tratado de Não-Proliferação — Áustria, Irlanda e Malta —
rejeitariam.”
Katsoulis, da Friedrich-Ebert-Stiftung,
é ainda mais taxativo: “Para mim, este
é um exemplo claro de como esta discussão não é tanto para melhorar a situação,
mas para os líderes se fazerem ouvir”, lamenta, acrescentando que tem
“hesitações” relativamente ao armamento nuclear. “Quem iria ser responsável por carregar no botão? A ideia do
armamento nuclear não é a de o usar, é a de o ter para dissuasão. Mas isto só
funciona se houver uma cadeira de comando clara em caso de ataque”, afirma,
destacando que dificilmente a França “abdicaria da sua soberania sobre este
tipo de armas”.
Além disso, acrescenta o investigador,
“a UE defende uma ordem internacional baseada em regras. Mesmo que esta esteja
a colapsar, a não-proliferação [de armamento nuclear] é um dos pilares desta
ordem. Vamos começar nós a quebrar as regras?”
Junto à fronteira, falta “confiança” em Berlim e Paris
Com Alemanha e França sem trajectórias
claras nesta matéria, sobre Bruxelas para tentar indicar um rumo, mas até aí há
limitações. Apesar da criação de instrumentos como o Compasso Estratégico (que
define uma estratégia ao nível das relações externas da União), a coordenação
de gastos militares (actualmente a ser discutida) e a criação de uma Força de
Destacamento Rápido comum, a verdade é que a União continua a ter dificuldades
em ditar o rumo na área da Defesa quando tem de conjugar as vontades de 27
Estados-membros (alguns não fazendo parte da NATO) e todas as decisões de
política externa têm de ser tomadas por unanimidade.
Perante a ascensão de uma Rússia com
ímpetos imperialistas, países como a Polónia, os Bálticos, a Roménia e até a
Finlândia assumiram lugar de destaque — e não são os únicos, com os Países
Baixos a oferecerem F-16 à Ucrânia, por exemplo. Estamos a assistir, diz Ionela
Ciolan, a “uma mudança do eixo geopolítico da Europa para a Europa Central
e de Leste”. “Numa mudança face à História recente, uma região que era
tradicionalmente vista como beneficiária da segurança de outros demonstrou a
sua capacidade de se transformar em fornecedora de segurança”, resume.
“Não
acredito que os países do centro e leste da Europa tenham o mesmo nível de
confiança em Berlim ou Paris que têm nos EUA”. Christos
Katsioulis, director da Friedrich-Ebert-Stiftung
Só que o centro do poder político e económico na UE ainda continua
em duas capitais principais: Berlim e Paris. “Houve
alguma desilusão [por parte destes países] com a lentidão da reacção inicial da
Alemanha e os esforços iniciais de mediação com a Rússia de Macron”,
reconhece Ålander, que vive num desses países que faz fronteira com a Rússia
de Putin. “A situação
melhorou entretanto, mas continua a haver a sensação de que a Alemanha e a
França não sentem a mesma urgência que os países que vivem perto da Rússia.”
Christos Katsioulis concorda: “Não acredito que os países do centro e leste da
Europa tenham o mesmo nível de confiança em Berlim ou Paris que têm nos EUA”.
Porque, independentemente de orçamentos, armamento e número de
soldados disponíveis, qualquer resposta europeia a um possível ataque russo
assenta sobretudo no mesmo princípio que regula a acção da NATO: a de que os
aliados responderão imediatamente. “Não podemos planear uma Defesa
conjunta se não confiarmos uns nos outros”, resume o investigador. “E uma
confiança estável e a longo-prazo precisa de ser construída e merecida.”
*Artigo
actualizado às 12h do dia 7 de fevereiro. Ionela Ciolan trabalha actualmente no
Wilfried Martens Centre for European Studies e não no European Policy Center
UNIÃO
EUROPEIA EUROPA MUNDO GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA RÚSSIA NATO ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA ALEMANHA FRANÇA
Nenhum comentário:
Postar um comentário