Apesar de toda essa injustiça, já
visível no tempo de Colbert e Mazarino segundo a dialogação de cinismo entre ambos,
a respeito da exploração imposta ao povo trabalhador pela Coroa parasita, segundo
refere o Dr. Salles, com a picardia de sempre, relembro a fábula “LA MORT ET LE
BÛCHERON” de La Fontaine, para
demonstrar quanto a vida, mesmo sendo recheada das dificuldades impostas pelos
da mais valia governativa, através dos impostos que agravam os vencimentos, é
sempre apetecível – ou apetecida - embora chamemos a morte em desespero.
Un pauvre bûcheron, tout couvert de ramée,
Sous le faix du fagot aussi bien que des ans,
Gémissant et courbé, marchait à pas pesants,
Et tâchait de gagner sa chaumine enfumée.
Enfin, n’en pouvant plus d’effort et de douleur,
Il met bas son fagot, il songe à son malheur.
Quel plaisir a-t-il eu depuis qu’il est au
monde ?
En est-il un plus pauvre en la machine ronde ?
Point de pain quelquefois, et jamais de repos :
Sa femme, ses enfants, les soldats, les impôts,
Le créancier, et la corvée,
Lui font d’un malheureux la peinture achevée.
Il appelle la Mort. Elle vient sans tarder,
Lui demande ce qu’il faut faire.
C’est, dit-il, afin de m’aider
À recharger ce bois ; tu ne tarderas guère.
Le trépas
vient tout guérir ;
Mais ne bougeons d’où nous sommes :
Plutôt souffrir que mourir,
C’est la devise des hommes.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.02.24
Diálogo entre Colbert e
Mazarino durante o reinado do Luís XIV
• Colbert: Para
encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é
possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que
é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…
• Mazarino: Se se é
um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar
à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o
Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o
fazem!
• Colbert: Ah
sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que
havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
• Mazarino: Criam-se outros.
• Colbert: Mas já
não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
• Mazarino: Sim, é impossível.
• Colbert: E
então os ricos?
• Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam
mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
• Colbert: Então como havemos de fazer?
• Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma
quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham
sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre
mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o
que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.
in Le Diable Rouge, de
(Traduzido do original francês
por Henrique Salles da Fonseca)
COMENTÁRIOS:
Nenhum comentário:
Postar um comentário