Assim desaparece uma das mais válidas escritas
que me habituei a ler com tanto prazer neste lúcido Jornal OBSERVADOR. Do
coração, lamento.
Obrigado
Uma das lições que os leitores me
ensinaram foi que, entre o ruído mediático, há uma ampla maioria de pessoas
disponível para ler/ ouvir e que respeita a complexidade dos desafios sociais e
políticos.
ALEXANDRE HOMEM CRISTO
OBSERVADOR, 22 fev. 2024, 00:2019
Hoje é o meu último dia como
colunista do Observador. O primeiro foi num
distante 19 de Maio de 2014, também o dia de lançamento do jornal. Recordo o
entusiasmo com que então aceitei o convite para ser uma pequena parte de um
projecto jornalístico inovador e arrojado. Desde então, o Observador trilhou
o seu caminho de sucessos e, para mim, foi um privilégio ter feito parte da
viagem. A 3 meses de se assinalar o 10.º aniversário do Observador, saio
orgulhoso e agradecido por esta também ter sido a minha casa durante (quase)
uma década.
Nos últimos anos, assistiu-se a
uma acelerada degradação do debate público. A tendência é internacional — o ar
do nosso tempo revelou-se inflamável e permeável a ressentimentos que
fragmentam o tecido social. Por isso, o trabalho de quem está nos jornais ficou
(ainda) mais difícil, inclusive para quem comenta actualidade e escreve opinião
semanalmente. Não é só a responsabilidade de desconstruir discursos simplistas
ou de contribuir com um argumento novo e pertinente para a torrente de
discussões. É, também, resistir à tentação da polarização, apontar às
evidências, convencer que os factos importam e valem mais do que narrativas,
mostrar que entre o tudo e o nada subsistem caminhos possíveis. É, sobretudo,
trazer exigência argumentativa para o debate, mas fazê-lo sob a serenidade e o
bom-senso que contribuem para o diálogo democrático, infelizmente cada vez mais
sujeito a histerismos. Uma das lições que os leitores me ensinaram nestes anos
foi que, entre o ruído mediático, há uma ampla maioria de pessoas disponível
para ler/ ouvir e que respeita a complexidade dos desafios sociais e políticos.
Por essa razão, começo por lhes
agradecer a eles: obrigado a todos os leitores que me acompanharam. Os que me
leram regularmente e os que me leram por acidente, os que concordaram comigo e
os que discordaram ferozmente, os que elogiaram e os que criticaram, os que
tive o privilégio de contactar e os que permaneceram silenciosamente anónimos.
Encarei sempre o respeito por quem me lia como um dever reforçado de expor
ideias e argumentos de forma séria, sustentada e construtiva. Não tenho a
pretensão de ter sido sempre bem-sucedido — o calor do debate por vezes também
nos queima e aceito que tenha a minha quota de artigos falhados —, mas espero
que os leitores não se sintam defraudados.
Agradeço a todos os autores
convidados com quem interagi e cujos textos foram publicados no jornal,
fossem “Ensaios do Observador” ou artigos de
opinião na coluna sobre Educação “Caderno de Apontamentos”, duas iniciativas do
jornal para as quais contribuí. Os Ensaios provaram que havia leitores
interessados em artigos de profundidade sobre políticas públicas, carregados de
dados estatísticos e comparativos internacionais. O “Caderno de Apontamentos”
foi a montra da pluralidade de olhares sobre a Educação, com quase 300 artigos
de convidados publicados semanalmente desde 2017. Ambos enriquecem o debate
público.
Agradeço, por fim, a toda a
equipa do Observador — da administração, da redacção do
jornal, da rádio ou dos bastidores onde se mete a máquina a funcionar. Estou
especialmente grato a três pessoas. Ao Rui Ramos, a quem devo o convite para
ser colunista. Ao José Manuel Fernandes, pela liberdade que sempre assegurou a
quem escreve no Observador. E ao Miguel Pinheiro, pela confiança e pelo
diálogo que fomos construindo ao longo dos anos.
Obrigado. Longa vida ao Observador. Vemo-nos
por aí.
tados 1
COMENTÁRIOS (de 20)
JOHN MARTINS: Interrompe-se a muita válida
contribuição ao Observador; abrem-se novos horizontes. Estou certo. Boa sorte para o futuro.
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